Fran 12/09/2012
O livro “É proibido: o que a Bíblia permite e a igreja proíbe” trata de um tema muito controverso nos círculos cristãos: comportamentos e expressões culturais que são tomados como verdades bíblicas e arduamente proibidos em algumas congregações.
Há como designar o que são roupas femininas e roupas masculinas biblicamente falando, levando em consideração que tudo é convenção cultural? O que as “irmãs” e “irmãos” devem usar no culto para não desagradar a Deus? Roupas masculinas na Palestina são totalmente diferentes de roupas consideradas masculinas no Brasil. O que diríamos então de algumas tribos de índios tradicionais que nem usam roupas?
Pois é, são algumas dessas questões que o autor, que é pastor, aborda, dentro de sua visão cristã, mas como ele mesmo tenta mostrar: desprendido de preconceitos pregados com ênfase pelas igrejas evangélicas.
Porém, na própria obra, que se apresenta como desmistificadora dos mitos criados em relação a proibições ou convenções, o referido autor sentencia em um trecho o seguinte: “Hoje o que designa uma calça masculina ou feminina pode ser a cor (no Brasil uma calça de cor rosa é sempre para mulher).”.
Uma calça cor de rosa é SEMPRE para mulher?
Certamente, este pastor/autor não conhece as bandas coloridas, de rapazes que trajam sim calças na cor rosa ou similares. Sua afirmação com tanta convicção faz com ele mesmo contribua com mais um mito cultural, que a sociedade faz questão de levar em frente, cor fulana para meninos e cor cicrana para meninas. Blergh! Mas vamos em frente...
E, claro, como não poderia deixar de ser, o ataque à diversidade sexual também está presente: “Sendo assim, quando Deus ordena que a mulher não se vista com roupas de homem, ele não está escolhendo certo tipo de roupa, mas apenas rechaçando o Travestismo”.
Ou seja, não importa aqui a questão da roupa, mas sim mostrar a ‘masculinidade’ ou ‘feminilidade’, senão Deus vai castigar os homens “efeminados” e as mulheres “masculinizadas”.
Nesse ponto do livro, pensei: devo mesmo continuar lendo esse livro até o fim? Pois vem a reflexão de Nietzsche à mente: “Há muitas verdades, e por essa razão não há verdade nenhuma”.
Tá, mesmo assim segui na aventura da leitura, visto que, como agnóstica que sou, sabia que encontraria ainda muitas coisas das quais discordaria.
Mas, apesar dos pesares foi possível terminar.
Em outros trechos o autor é feliz ao discorrer sobre as criações literárias e canções, que, entre muitos dos adeptos do evangelismo são consideradas “mundanas. Ele admite que há no cristianismo um aprendizado voltado para um espaço contido por regras e, desse modo, sem lugar para a alegria, levando em consideração que tudo aquilo considerado demasiado ‘mundano’ é severamente admoestado, em troca de uma religiosidade exacerbada que torna-se fechada e triste.
Se uma agnóstica conseguiu ler até o fim uma obra escrita por um pastor, acredito que você, cristão, poderá fazer bom proveito da leitura.
No fim de tudo é uma bela reflexão para todos, mas especialmente aqueles fanáticos religiosos que misturam cultura com religião e já não sabem mais quem é o que, implantando, assim, regras a serem seguidas cegamente, sem que seja possível discordar, usando para isto argumentos e interpretações falaciosas que segundo eles estão decretados na Bíblia sagrada.
Enjoy!