Ronaldo 19/07/2014
BRILHANTE, MAS SEM O TOQUE MÁGICO DE SIDNEY SHELDON
Minhas reações ao livro foram das mais variadas. Interesse, surpresa, indignação, tédio, confusão.
A primeira parte é primorosa. Não dá para se sentir indiferente ao drama que se desenrola nas primeiras páginas, dá vontade de entrar na história e fazer algo pelo personagem injustiçado.
Depois de finalizada essa situação, nos é apresentada a heroína do livro e é aí que as coisas esfriam. Pois Alexia é uma pedra de gelo. Fria, manipuladora, egoísta, gananciosa, insensível são apenas alguns dos adjetivos que definem a protagonista. E é aí que eu encontrei uma grande falha de Tilly: ela não tem a mesma capacidade de Sheldon em criar personagens ambíguos. Por Noelle, Jill Castle, Kate, Lucia Carmine, nós nos apaixonamos e também nos chocamos com suas atitudes. Eram personagens com um lado cruel, vingativo, mas também eram humanas, eram vítimas de alguma injustiça. Já com as personagens dos livros de Tilly, não há essa dubiedade. Quando li seus livros anteriores, senti que faltava algo e ao conhecer Alexia De Vere me dei conta de que o que os outros livros careciam era de personagens apaixonantes. As protagonistas de A Senhora do Jogo, Anjo da Escuridão e Sombras de um Verão não despertaram minha empatia. A única com quem simpatizei foi a Grace de Depois da Escuridão, talvez por ser uma vítima que reage e tenta provar sua inocência. Mas no caso da Grace, também não havia ambiguidade. Ela era somente a mocinha da história, sem um lado perverso.
Voltando ao livro em questão, a segunda parte é bastante arrastada, não dá para saber aonde todos aqueles fatos vão terminar. É tudo muito desconexo e somente a partir da página 235 é que o livro toma forma. Daí em diante não dá para parar de ler.
Nesses momentos o livro nos remete um pouco a Anjo da Escuridão, com tanto mistério que chega a dar angústia. Vão surgindo cada vez mais perguntas e todo mundo parece suspeito. Algumas questões do início do livro vão se resolvendo e alguns personagens saindo de cena, tornando a trama cada vez mais absorvente, pois tudo vai se focando num único núcleo e o ritmo dispersivo que há no início desaparece, dando lugar a uma sequência de revelações perturbadoras.
Analisando o livro como um todo, a trama é brilhante, mas foi mal contada. Faltaram personagens carismáticos, para que torcêssemos por eles. Também senti muito pouco do estilo de Sidney Sheldon e tenho minhas dúvidas se esse livro realmente foi bolado por ele. Até porque este já é o 4º volume e é difícil acreditar que ele, sendo tão disciplinado, deixou tantas obras inacabadas.
Acredito que já está na hora de Tilly se desvincular do nome de Sheldon e seguir seu próprio caminho. Acho-a uma boa escritora e acredito que o compromisso em tentar copiar o estilo de outra pessoa está comprometendo sua liberdade de criação.