Denise 25/11/2013minha estanteDeuses de Dois Mundos me proporcionou algumas horas deliciosas nesse fim de semana. PJ foi especialmente feliz na elaboração de seu personagem principal, um cético jornalista da metrópole em contato com o mundo mágico das Divindades do Orum.
New não tem a menor pista do que está acontecendo com ele e muito menos daquilo que está por vir. Ignora que está sendo preparado para uma batalha.
A narrativa repleta de obstáculos que dificultam o caminho do protagonista, um não iniciado, nos lembra a realidade daquele que aguarda pacientemente para ser ?feito? na religião afro-brasileira (ou africana). Quando finalmente o aspirante a membro da casa passa pelos rituais de iniciação transformando-se em iaô, entende (muitas vezes apavorado) que seu trajeto apenas começou, passando a ocupar-se de compreender as sensações e vivências do mundo mágico. Desconhece grande parte dessa nova experiência. O que sabe é pouquíssimo. Sua necessidade urgente por conhecimento esbarra no constante bloqueio imposto pelos segredos guardados, pelos tabus e pela hierarquia muitas vezes mesquinha da casa.
Mas mesmo na sua ignorância é poderoso e respeitado, pois tem o sagrado poder de receber um Orixá no seu corpo, experimentando o transe. E isso não é para qualquer mortal, somente para os escolhidos.
Para ele, bem como para os iaôs dos terreiros de Candomblé ou dos templos da Tradição de Orixá, não há escolha. Trata-se de uma convocação, de um chamado do Orum para o cumprimento de uma missão.
No decorrer da narrativa, vemos New-Neo-Iaô, aquele que não foi iniciado mas já é um escolhido, desvendar os enigmas do seu problema mundano ao mesmo tempo em que passa a compreender a dinâmica do mundo mágico dos Orixás e das demais entidades do plano espiritual constituído também pelas Grandes Mães, Eguns e diversas outras.
Assim, os mitos e o mundo real se entrelaçam de forma harmoniosa e segura no decorrer do romance.
Para o nosso iaô do mundo moderno a instrução é uma questão de sobrevivência. Não há tempo para encanações. O mundo mágico é bizarro e truncado. E New não pode vacilar: deve agir, correr para evitar o caos, a catástrofe. É vital que cumpra as tarefas que lhe são colocadas sem sequer entendê-las. Deve aceitar esse mundo de estranhamento, de sustos e sobressaltos que o autor produz salpicado de passagens de ação e aventura.
Aguardo a continuidade dessa bela, integrante e apaixonante história, meu caro PJ Pereira. Ainda bem que ainda tenho dois livros pela frente, duas viagens que prometem algumas horas de boa literatura. Axé!