Faz poucos meses que li e fiquei admirada com a história do primeiro volume desta trilogia e foi maravilhoso ter a continuação em mãos tão pouco tempo depois. A história criada por Teri Terry continua o resgate a elementos da distopia tradicional, revivendo o melhor tom e clima do gênero, trazendo mais uma vez uma história sombria e cruel, marcada por uma trama tensa, coalhada de segredos e ambiguidades.
Kyla está em choque pelo que fez, ainda não conseguiu entender como pode ter lembrado de sua vida antes de ter sido reiniciada. As memórias vão surgindo em flashes, desde cenas inteiras até sensações. A vida antes de ser pega pelos Lordeiros começa a ganhar sentido. Kyla deveria estar feliz com isso, mas há algo mais em sua memória, como se houvesse outra vida dentro dela, antes de ela ser Kyla, ela foi Chuva, mas e Lucy? A garota marcada como desaparecida aos dez anos no site ilegal? Kyla agora sabe que seu professor não é quem diz ser. Ela não sabe como Nico a encontrou, mas fica feliz em vê-lo, memórias dos dois no passado emergem, tudo desde o medo ao respeito por Nico. Kyla sabe que está se arriscando, mas precisa saber os planos de Nico para os Lordeiros e precisa saber como foi pega e reiniciada. Seus sonhos com o passado começam a ficar piores e a falta de resposta se torna sufocante. Nico está escondendo seus planos, os Lordeiros estão de olho em seus movimentos e em meio a tudo isso ainda tem Ben. Kyla não desistiu de encontrá-lo, e sua busca por ele pode ser mais perigosa do que imaginou. Kyla sabe que quer lutar como no passado contra os Lordeiros, a favor do R.U. Livre, mas algo está acontecendo com sua cabeça, ela sabe que tem mais emergindo da escuridão da sua memória e tem medo no quanto suas memórias vão afetar sua vida. Que segredos e mentiras estão enterrados dentro de si? Quem é confiável? Quem é o traidor que está entregando seus movimentos? Kyla quer ser livre e lutar, mas se vê presa em uma rede de mentiras e manipulações que pode fragmentar mais ainda o que ela é e o que ela acredita.
É a partir dessa premissa que a autora desenvolveu a trama desse segundo livro. Mais uma vez a narrativa de Teri Terry assume um tom pessoal sufocante, tornando a trama algo incrível, que marca e cativa o leitor logo nas primeiras páginas. O ritmo é fluido e o desenrolar acontece de forma cadenciada, interligando personagens e revelando uma trama construída com base nos personagens. Na história de Terry é impossível saber de onde virá a traição e quem tem mais camadas por baixo da fachada usada no dia a dia. A organização da sociedade ganha mais contornos e a autora acrescenta mais questões ambíguas a sua história, as conectando em torno da história de Kyla. As descrições são pontuais, criando uma ambientação que casa em tudo com o tom sombrio da história.
A medida que a trama avança torcemos por Kyla e tememos por ela. O crescimento da protagonista é nítido, mas também seu sofrimento passado e a confusão de suas memórias. Ao revelar pedaços de seu passado começamos a entender o sistema maléfico que é esse organizado pelo governo de seu país. A autora surpreende o leitor ao desenvolver o mundo de forma intrínseca com a história pessoal de Kyla, que desde cedo teve a vida alterada por causa do processo de reiniciação. A gama de personagens também cresceu, com personagens novos e antigos que levantam dúvidas e enriquecem a trama. Cam, o novo garoto da escola de Kyla, Coulson, o lordeiro que está observando Kyla e Nico, o líder do RU Livre são os que mais merecem destaque. Intrincando personagens e ligando pontas diferentes da trama a autora consegue uma história fascinante, com ação, muita tensão e um clima sombrio. Ainda chocada com o que a autora fez com Ben... O fim foi algo inesperado e bem-vindo. Uma reviravolta espetacular que deixa no ar muita expectativa.
Leitura rápida e deliciosa, instigante e que se desenrola com naturalidade. Teri Terry construiu um mundo realista, onde nem tudo é preto e branco. Não vilões e mocinhos, ambos os lados dividem a parcela de culpa pelo que o país é. Em ambos os lados há pessoas que são apenas ferramentas na mão de um poder maior. Terry é surpreendente. Nada de clichês por aqui, nem mesmo o tão repetido triângulo amoroso. Com seu tom sombrio e visceral a autora entrega uma história riquíssima, que deixa o leitor mergulhado em perguntas e prendendo a respiração torcendo por Kyla. A edição da (...)
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