Os tambores de São Luis

Os tambores de São Luis Josué Montello
Josué Montello
Josué Montello




Resenhas - Os tambores de São Luis


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Eduardo 11/04/2012

Impressionante.
O escritor maranhense Josué Montello é um marco em nossa literatura. Lê-lo é viajar pelo Maranhão, ver suas paisagens, seus casarões, e, enfim, ver um Brasil se formando. Recomendo todos os seus livros, já lí mais de dez obras suas, que recomendarei por aqui posteriormente.
Kayquinho 12/09/2021minha estante
Esse livro marcou minha vida. Com toda certeza é um dos melhores que ja li, ou o melhor.




Elis 09/01/2022

Livro surpreendente
Josué Montello é um escritor maranhense fenomenal. Essa foi a primeira vez que tive contato com a escrita dele e me apaixonei. No livro "Os Tambores de São Luís", Josué Montello narra a história de Damião, escravo em uma fazenda lá de Turiaçu (interior do Maranhão). Ao decorrer da narrativa, o leitor encontra cenas de tirarem o fôlego, tanto por serem muito felizes, como por serem muito tristes. A trajetória de Damião é muito envolvente, e o leitor fica com sede de leitura. O final da história conta com uma reviravolta surpreende, de cair o queixo. Vale muito a pena embarcar nessa aventura.
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David Ariru 31/03/2016

Escrever é mais que talento
Um livro que demonstra, acima de tudo, um trabalho rigoroso. Tanto a estrutura do romance quanto seu conteúdo deixam claro que a qualidade do livro não se deu por acaso; ao contrário, é fruto de horas de pesquisa, escrita, correção, análise e dedicação. Para apontar algumas das características do livro que evidenciam esse engajamento, resolvi separá-las em duas categorias: características estruturais e características de conteúdo. Ocupo-me primeiramente das estruturais.
A narração do romance inicia no futuro. Damião, o personagem central, já velho, encontra-se a caminho de conhecer seu bisneto que está prestes a nascer. Porém, logo após o primeiro capítulo, somos remetidos ao passado; à infância de Damião. Alguns capítulos depois, a narrativa é retomada no tempo presente, onde Damião está a caminho da casa da neta que está prestes a dar à luz. Isso dá início à estrutura central do livro; uma anisocronia, onde a narrativa de um texto não segue uma ordem linear (isocronia), mas tem fatos futuros antecipados (prolepse) e/ou fatos passados revelados (analepse). Josué Montello utiliza esses recursos de forma primorosa, recuando, principalmente através das lembranças de Damião, aos fatos ocorridos no passado (analepse) e voltando, brevemente, ao tempo presente para falar de alguma reflexão atual de Damião ou de sua caminhada até o bisneto. Dessa forma, toda a história do livro pode ser contada em apenas uma noite, onde Damião vai caminhando e tendo recordações do passado. Este é um dos aspectos que faz deste livro, com mais de seiscentas páginas, uma leitura fluida e atraente.
Outro aspecto do romance que dá efeito similar, é o fato de suas centenas de páginas serem divididas em pequenos capítulos com, em média, 10 páginas. Um número que, para um leitor mediano, pode ser considerado passível de ser lido de uma só sentada; de uma só vez. Deparamo-nos, assim, com o efeito da unidade de impressão mencionado por Edgar Allan Poe em: A Filosofia da Composição. Edgar diz que ...o conjunto se vê privado, por sua extrema extensão, do vastamente importante elemento artístico, a totalidade, ou unidade de efeito.. Dividir o romance em pequenos capítulos se apresenta, então, como uma forma de driblar essa falha de impacto e unidade do texto, pois, no Tambores de São Luís, cada capítulo é dotado de Início, meio e fim, o que lhes confere uma unidade de expressão e impressão.
Há, ainda, um último elemento estrutural que ajuda a fazer com que muitos dos leitores deste livro não se sintam enfastiados. Trata-se de aplicar a anisocronia não só na estrutura central do texto, como já analisamos anteriormente, mas dentro de cada capítulo do romance. Josué reorganiza a estrutura básica de uma narrativa: início, meio e fim (1,2,3). Mas não para algo até bastante utilizado atualmente; digo, colocando o fim primeiro, voltar e contar o início da estória e depois, através do meio, elucidar o desfecho da narrativa (3,1,2,3). O que ele faz é ir além desse método já um tanto desgastado; colocando o meio primeiro, apresentando a estória de um ponto intermediário no futuro em relação ao último capítulo(prolepse), voltar ao passado e explicar como isso ocorreu(analepse) e, chegando ao ponto intermediário novamente, continuar a narração para um final ainda desconhecido de forma linear, a chamada isocronia. Desta forma, temos 3,1,2,3,4,5. Aproveita-se, assim, as principais vantagens dos dois tipos de estrutura temporal no mesmo capítulo: a anisocronia desperta o desejo do leitor por saber como um fato apresentado foi ocorrer (saber a causa do efeito) e a isocronia, o desejo de saber o que vai ocorrer a partir do que está sendo narrado (saber o efeito a partir da causa). É por isso que a narrativa apresenta mudanças bruscas, porém, que se mostram coerentes no decorrer do romance.
A ordenação especial que Josué dá ao livro só parece ser suprimida quando o conteúdo do capítulo, por si só, já é capaz de fazer a estória transcorrer de modo atraente e ritmado. Como, por exemplo, no capítulo onde Ana Rosa Ribeiro é julgada ou no capítulo após Policarpo tirar Damião da cadeia. Nesses casos, o conteúdo do capitulo é tão intenso e envolvente, que não é necessária uma estrutura especial para lê-los com entusiasmo.
Partindo para o conteúdo do livro, a riqueza e refinamento da obra continua em alto patamar. O romance é cheio de detalhes bem apresentados e possui uma quantidade imensa de personagens, o que cria de modo satisfatório o fundo histórico da obra. Em Os Tambores de São Luís, tanto os negros quanto os brancos são apresentados em todas as suas diversidades, não se limitando a arquétipos ou estereótipos. O autor se preocupou em transpassar no livro a época, o local e as pessoas de modo complexo. E, para mostrar negros e brancos em situações que aconteceram ou que, ao menos, eram possíveis na época, criou pelo menos um personagem para representa-las no romance. Por exemplo, para mostrar que haviam senhores desumanos com seus escravos, criou Ana Rosa (Que na verdade é baseada em um caso real- A baronesa de Grajaú); para mostrar que haviam negros que se davam bem com seus senhores, criou o Barão e outros; para os insubordinados, Julião; para os que lutavam contra o sistema, Genoveva, Para os mulatos, que viviam em situação delicada, Policarpo; para senhores que gostavam de seus escravos, Youle e outros; para brancos a favor da abolição, Doutor Celso; para negros forros e excepcionais que conseguiram subir na sociedade mesmo sofrendo constantemente por causa da cor, Damião. Assim por diante, a obra mostra, para cada situação, ou possibilidade de situação da época, personagens que vão desde brancos a favor da abolição, a um negro senhor de escravos, o que ajuda a compor um quadro mais crítico, complexo, realista e menos romantizado desse período. Para se afastar ainda mais do romantismo e apresentar um retrato mais cru da realidade, temos um desfecho no livro que deixa claro que, mesmo com a ascensão social do negro, merecida e conseguida com muito esforço, não se trata de um: felizes para sempre.
Quanto ao estilo do autor, Josué é simples e eficiente. Evita sentenças longas e complexas em favor de frases curtas e objetivas e, quando a quantidade de detalhes na oração exige, usa de muitas vírgulas para dividir bem a informação a ser passada ao leitor. Por exemplo: Na véspera, ao subir com a sua primeira carga de água, Damião deu com o Sapaúba à sua espera, junto do tanque, segurando pela rédea um jumento novo, com as cangalhas no lugar da sela. . Entretanto, isso não é motivo para dizer que seu estilo é simplório e bruto, pelo contrário, devemos ter em mente o que respondeu Nelson rodrigues ao ser subjugado por um crítico que disse que os diálogos de seus textos eram pobres; simples demais: Só eu sei o trabalho que me dá empobrecer os meus diálogos. A clareza e objetividade da escrita é algo trabalhoso e difícil de se alcançar; necessita, ao meu ver, principalmente de treino e uma boa ordenação de ideias.
Por fim, digo que há muito mais para analisarmos nessa obra fantástica. Porém, por alguns motivos, o que inclui minha falta de conhecimento, atenho-me apenas a esses aspectos específicos do romance, pois foram os que mais me chamaram a atenção, obrigando-me a olha-los mais de perto. Espero ter instigado alguns a atentarem a esses detalhes e a outros também.
Ariru
Tavares.JAnior 19/06/2019minha estante
Excelente




Bruno.Rafael 15/07/2021

Um livro regionalista que conta muito sobre a história do Brasil
Os tambores de São Luís conta a história de vida do ex-escravo Damião, um octogenário que está prestes a conhecer seu trineto. É através de sua caminhada entre sua casa e a de sua bisneta que ele relata a sua vida, através de pensamentos e ora ou outra voltando para o presente. Já aí podemos ver a criatividade no estilo da escrita de Josué Montello, que na maioria dos capítulos, brinca com o uso do tempo, mostrando um fato desconhecido que ocorre no ínicio do capítulo, e em seguida, voltando para o passado para justificar o início e partindo para um novo desenlace da narrativa no futuro. Parece confuso e até difícil de explicar, mas ele escreve de uma forma que esse método por ele aplicado se torne simples e instigante para a leitura. E ainda, sem palavras e expressões difíceis, tudo em uma linguagem simples e acessível. E por vezes, com muito humor, mas logo, entrando em um assunto sério, ele vai alternando entre esses momentos. O livro contém trechos que são memoráveis!

A história se passa, majoritariamente, no período colonial do Brasil, no estado do Maranhão, indo desde a revolta dos negros na Balaiada até os primeiros anos do período republicano, e isso sob os sons dos tambores da Casa das Minas de São Luís, daí o título do livro. Este é um livro que conta sobre a cultura, as comidas, as lendas, as paisagens, o ambiente (sempre ao som dos Bem-te-vis), entre tantas outras características que são típicas do Maranhão, o que torna esse livro bem regionalista, mas por outro lado, conta sobre eventos marcantes que ficaram marcados na história do Maranhão, como a Balaiada, e que ao mesmo tempo reverbera na própria história do Brasil. E outros eventos que são mais de cunho nacional, como as Leis do Ventre Livre e a dos Sexagenários, que o autor sabe incorporar muito bem no contexto regional, nos dando uma dinâmica desses eventos em um âmbito mais familiar, mais doméstico, o que é o contrário do que, no geral, os livros de história do Brasil fazem, dando um panorama mais amplo. E isso é muito interessante para quem é maranhense, porque vai conhecendo a história do seu lugar de origem, e também para quem é de outro estado, porque passa a conhecer a história do seu país sob uma ótica regional. E digo isso, porque Montello faz uma obra de ficção entremeada por vários fatos históricos e pessoas reais, que são exemplos, o julgamento da Baronesa de Grajaú que matou um de seus escravos a pancadas, a histórica rinha entre os bispos e os governantes do Maranhão, a conhecida história da Princesa Isabel e sua assinatura da Lei Áurea, e de pessoas, temos o escritor Sousândrade, a Baronesa já citada, alguns governantes... e essa mistura de fatos reais com a ficção deixa a obra riquíssima, fazendo dela uma obra de entretenimento e estudo histórico. Isso requer muita pesquisa e criatividade do autor, e não é fácil de fazer, mas Josué Montello o fez de maneira espetacular. Vale também o destaque da diversidade de personagens, saindo dos estereótipos clássicos de escravos e dos brancos. Em vários momentos, ele retrata isso muito bem, mostrando que há escravos que querem liberdade, enquanto outros querem continuar nas suas vidas com suas Sinhás, e brancos que metem as chicotadas, mas há também aqueles que lutam pela liberdade e são fraternos com a condição deles.

A história do livro não é apenas a de Damião, é também a saga de toda uma população, a dos escravos, e mais especificamente, a saga dos escravos maranhenses em um pouco mais de 600 páginas. É a história de luta contada através do sangue escorrendo depois das chicotadas, da fuga de quem não aguentava mais os castigos, da escolha da morte a ter que continuar a viver em desgraça. Morte, muitas mortes são contadas neste livro e elas são de uma importância grande para a narrativa. A história desse livro é também a história horrenda de todo o mal que o Brasil fez aos negros, sejam eles escravos, sejam eles já com suas cartas de alforria, e Damião viveu os dois lados, e soube que em qualquer tempo e em qualquer condição, não adiantava nada o quanto ele subisse em seu status socialmente, a pele preta dele estava sempre lá, a lhe dizer que não era seu conhecimento e suas habilidades excepcionais como ser humano que era visto primeiro, mas a sua pele e a condição de que como negro, não merecia o devido respeito e honra que lhe era de direito, pois em terra de branco, preto sempre seria preto, e devido a cor da sua pele, os brancos sempre lhe incumbiriam a condição de donos deles. As coisas melhoraram muito, depois de 1888, mas o pré-conceito ainda continua sendo preconceituoso.

Josué Montello, através de sua obra-prima, demonstrou estar no mesmo patamar dos grandes escritores maranhenses como Gonçalves Dias, Ferreira Gullar, Aluísio Azevedo, quiçá, entre um dos grandes escritores nacionais. As editoras poderiam dar mais atenção para esse autor esquecido e lançar edições de Os tambores de São Luís que sejam dignas dessa grande obra, para que novos leitores conheçam esse autor e seus livros. É um autor que foi capaz de retratar muito bem o Maranhão, particularmente São Luís, seu povo e sua cultura, mas também nosso Brasil e seu povo aguerrido, principalmente os negros, que foram a base do que nós conhecemos como país atualmente. Grande autor, grande obra!
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Edu Trindade 24/09/2009

Um grandioso e magnífico romance histórico, que faz lembrar outros mestres do gênero, como Erico Verissimo e Tolstoi. O livro é grande (mais de 600 páginas), mas sequer se sente o seu peso, tal a fluidez com que é contada a história de Damião, negro maranhense nascido escravo. História que se entrelaça com a de toda a população negra e, por que não dizer, de toda a população brasileira.
Rosa Santana 22/08/2010minha estante
Quem é o autor? Já ouvi muitos elogios a esse livro...




Iza 30/11/2010

Fantástico !!!
Grande saga do negro brasileiro, nas suas lutas, seus dramas e tragédias. Relata, através de Damião, a história da vinda do negro para o Brasil nos navios negreiros. Fala dos horrores da escravidão, das lutas dos negros pela independência, da abolição do cativeiro no final do Império, pela princesa Isabel, dos preconceitos sofridos.
A narrativa começa em 1915, numa noite em que está para nascer o trineto de Damião. Damião está com 80 anos, e a narrativa se faz em feed-back, com seus pais fugindo do cativeiro com os dois filhos: Damião e sua irmã. E tudo que se seguiu aí, a luta de Damião contra a escravidão, contra o horror e a humilhação de apanhar e ser humilhado aleatoriamente. Consegue ir para São Luís e tenta ser padre; não consegue devido ao preconceito das classes altas. Possui uma inteligência incomum, se esforça, lê muito, torna-se um homem culto.
Casa-se, tem um casal de filhos. A filha tem seus filhos, netos e bisnetos e lhe dá um trineto. O filho vai para os EUA, some no mundo.
Damião sofre todo tipo de preconceito em sua vida, fica sem trabalho, passa dificuldades, luta ativamente contra o cativeiro, tem muitos amigos importantes e todos o admiram. É o líder dos negros, sofre e se emociona com eles.

Um grande romance, que mais uma vez mostra o amor de Josué Montello por São Luís, sua terra natal, com citações de suas ruas, becos, casarões. E a casa das Minas, com seus tambores traduzindo os anseios, alegrias e tristezas dos negros escravos...
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Valéria Cristina 10/03/2023

Um dos melhores livros que li...
Em uma narrativa não linear, a história se passa em apenas uma noite, em São Luís, no Maranhão. Enquanto percorre a cidade, ao som dos tambores da Casa-Grande das Minas, em direção à casa de sua bisneta onde está para nascer seu trineto, Damião percorre também sua vida.

Ao relembrar o caminho vencido até ali, quando aos oitenta anos se prepara para receber mais uma criança, Damião nos desenha o retrato da sociedade maranhense do século XIX: escravocrata, racista e elitista. Desde sua infância na fazenda Boa Vista, a passagem pelo quilombo, a chegada ao seminário na Capital até sua maturidade atual, ele põe-nos em contato com a realidade dos escravizados: a bárbara situação de homens e mulheres de todas as idades submetidos a outros homens no jugo do cativeiro. A infâmia, a desumanidade, o sofrimento, os maus-tratos sem igual são as tônicas da vida desses seres que foram brutalmente degradados ao longo de três séculos.

À par disso, temos contato com a rica e ancestral cultura africana dos vodus que dançam ao som dos tambores, evocando as raízes de África que seus filhos são olvidam. As festas populares, com suas manifestações folclórica, também fazem parte desse quadro composto por Josué Montello.

Em seu caminho pela cidade, Damião descreve com minúcias a geografia da capital do Maranhão com suas praças, ruas, sobrados, portos, sua fauna e sua flora exuberantes, bem como seus habitantes. Misturadas a personagens fictícias, conhecemos figuras notáveis da época: Donana Jansen e Dona Ana Rosa Ribeiro, ambas cruéis senhoras de escravos; os poetas Gonçalves Dias, Sousândrade e diversos políticos dessa época do Brasil Imperial.
Ainda, acompanhamos alguns dos principais acontecimentos políticos daquele momento histórico. A promulgação da lei do ventre livre, da lei Feijó e da lei dos sexagenários, todas absolutamente ineficazes. Também seguimos a promulgação lei que aboliu a escravidão e caos que causou: pessoas, agora livres, despojadas de teto e comida, sem amparo nenhum pulularam nas ruas de São Luís, gerando uma enorme crise social. Após esse evento, vemos a Proclamação da República e os embates entre monarquistas e republicanos.

Ao longo de toda a narrativa, observamos os sentimentos que animam Damião, desde a impotência que o acomete diante da situação em que se encontram os negros no Maranhão, as tristezas pelas perdas e fracassos, as alegrias pelos ganhos e conquistas, os amores e os desamores, até a sobriedade, a placidez e a realização da velhice.

E nós, leitores, muitas vezes com lágrimas nos olhos e em contato com personagens inesquecíveis (Damião, Julião, Barão, Genoveva Pia, Padre Policarpo, Benigna, Santinha), nos perguntamos o tempo todo: como uma terra de paisagem tão exuberante pode abrigar tanto horror, tanta dor e injustiça? Como seres humanos puderam perpetrar tamanha crueldade contra outros seres humanos? Entendemos, também, porque o racismo estrutural se formou no país e ainda persiste.

Ao fim, refletimos que nunca é demais ler a respeito desse período nefasto da História, pois é preciso conhecê-la para jamais repeti-la.

Josué de Sousa Montello (São Luís, 21 de agosto de 1917 — Rio de Janeiro, 15 de março de 2006) foi um jornalista, professor, teatrólogo e escritor brasileiro. Trabalhou como diretor da Biblioteca Nacional, do Museu da República, e do Serviço Nacional de Teatro, escreveu para a revista Manchete e o Jornal do Brasil, além de trabalhar no governo do presidente Juscelino Kubitschek. Foi diretor do Museu Histórico Nacional de 1959 a 1967.
Entre suas obras destacam-se Os tambores de São Luís, de 1965, a trilogia composta pelas novelas Duas vezes perdida, de 1966, e Glorinha, de 1977, e pelo romance Perto da meia-noite, de 1985.
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><'',º> 07/01/2020

Os tambores de São Luís é a obra-prima romanesca de Josué Montello. É a crônica de uma época, sem deixar de ser obra de ficção; é um relato de ordem histórica, onde também avultam os sobradões de azulejos, os portais de pedra, os mirantes, os balcões sobre a calçada de cantaria, as sacadas de ferro, o velho casario, as ruas, as praças, os becos da cidade.

Fonte: Introdução de resenha postada pelo Passei Web disponível na íntegra em

site: www.passeiweb.com/estudos/livros/os_tambores_de_sao_luis
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Raphael 03/02/2022

Romance definitivo sobre a escravidão e o pós-escravidão
20º livro de 2021 ? Os Tambores de São Luís
Autor: Josué Montello
Edição Especial com o apoio da SECMA.
[Resenha atrasada]

Nota: 5,0/5,0 ? Estatura de clássico, o romance definitivo sobre a escravidão e o pós-escravidão

São Luís do Maranhão, 1915. É noite. Da Casa Grande das Minas, na Rua de São Pantaleão, ressoam os tambores rituais, ?graves, nervosos, compassados, guardando intacto o seu batuque primitivo?. A escravidão, formalmente, não existe há quase três décadas, embora as suas marcas sejam facilmente identificáveis ali mesmo, entre os circunstantes, muitos dos quais sentiram no dorso a violência do chicote e padeceram as agruras do cativeiro. Entre eles, enredado por uma aura de respeitabilidade, construída pelos longos anos de luta pelo fim deste crime social, encontramos um negro octagenário, que, no momento, enlevado pela cadência dos instrumentos, sente algo de indefinível, como que reintegrando-se ?ao mundo mágico de sua progênie africana?. Ecoa em sua alma o clamor da ancestralidade. É Damião, herói deste romance.

Ficamos sabendo, logo de início, que a trineta de Damião está para nascer a qualquer momento e que ele, deixando a Casa das Minas, tenciona ir ao seu encontro, deslocando-se à pé até o bairro da Gamboa, que dista dali algo em torno de dois quilômetros. Ao longo da noite e do romance, acompanharemos Damião ao longo desse trajeto, sempre acompanhados pelo ressoar evocativo dos tambores ancestrais, que nos conduzirá através de suas reminiscências, fazendo ressurgir diante dos nossos olhos toda a violência e injustiça de um Brasil escravocrata.

Assim tem início esta obra monumental de Josué Montello, um romance histórico de fôlego cuja narrativa épica dura o tempo de uma noite e a noite de um século, no trânsito permanente entre o passado e o presente, entre o sentido do agora e o mergulho na carne de um negro escravizado que ousou ascender socialmente. Neste mergulho, o leitor, atônito, verá passar diante dos seus olhos uma galeria de mais de 400 personagens, entre figuras inventadas e personalidades históricas ficcionalizadas.

Desdobrar-se-á, portanto, a saga de um negro que, tendo nascido na senzala de uma fazenda do interior maranhense, conheceu as agruras da escravatura, padecendo no tronco e na cafua; que experimentou a fuga e a resistência nos quilombos; que, uma vez capturado, viu o pai preferir ser estraçalhado pelas piranhas, misturando o seu sangue às águas de um rio, a retornar ao jugo do chicote; um negro que, a despeito do ódio e da crueldade que lhe votava o seu senhor, acabou sendo bafejado pela sorte ao conseguir se colocar sob a proteção da Igreja ? ou mais propriamente de um bispo ? o que lhe abriu caminho para a alforria e para uma relativa ascensão social através da cultura. Uma ascensão, frise-se, conquistada a duras penas, lutando contra uma sociedade furiosamente racista que tudo fazia por adestrá-lo, por subjugá-lo e, se não lograva fazê-lo, por humilhá-lo. A condição de Damião, a certa altura, faz-me lembrar a pena de Darcy Ribeiro, que deixou gravado em O Povo Brasileiro o seguinte trecho: ?Ascendendo à condição de trabalhador livre, antes ou depois da abolição, o negro se via jungido a novas formas de exploração que [?] só lhe permitiam integrar-se na sociedade [?] na condição de um subproletariado, compelido ao exercício de seu antigo papel, que continuava sendo principalmente o de animal de serviço.? Animal de serviço não chegou a ser... mas houve momentos em que muitos dos escravos de São Luís, por desafortunados que fossem, estavam em melhor situação que Damião, pois pelo menos tinham o que comer.

Sob a proteção do bispo e do Padre Tracajá, este um mulato, Damião estuda para ser padre. Destaca-se em todas as cadeiras do Seminário, converte-se em um aluno notável e a erudição adquirida lhe granjeia afetos e desafetos, na medida em que seu desenvolvimento notável colhe também o despeito de colegas e professores. Por fim, a Igreja corta-lhe as asas, impedindo a sua ordenação. Acabrunhado, não se rende Damião. Faz-se latinista e professor, mas paga um preço alto ao denunciar, da cátedra, diante de uma turma de alunos brancos, as injustiças da escravidão, com o sangue a queimar-lhe de indignação com a brutalidade do assassinato de uma negra que ousara acoitar escravos fugidos.

A trajetória de Damião, no entanto, está longe de ser linear. Consciencioso do crime perpetrado contra os negros, revolta-se. Humano, vacila e vivencia um perene conflito interno, ressentindo-se da acomodação a que sua situação privilegiada lhe convidava, quando a cultura auferida lhe impunha um dever moral: insurgir-se contra a ordem escravista e fazer algo pelos seus irmãos e irmãs que ainda padeciam a violência do cativeiro..

Para mim, em particular, enriqueceu muito a experiência de leitura ter podido ir a São Luís do Maranhão enquanto lia o romance, caminhar pelas mesmas ruas que Damião caminhou, observar os casarões que eram ao mesmo tempo testemunhas e cúmplices daquele Brasil escravocrata, contemplar as fachadas dos sobrados e olhar para os beirais enquanto apurava os ouvidos, à procura da ?bulha brejeira? dos bem-te-vis, tão destacada pelo narrador montelliano. E ter podido conhecer a Casa de Cultura Josué Montello, ouvir sobre a vida e a obra do escritor, conversar com pessoas que conviveram com ele, conhecer o seu processo de escrita ? e saber, por exemplo, que Montello costumava escrever sobre um mapa da cidade de São Luís, generoso no detalhar do trajeto percorrido pelo seu herói romanesco, indicando cada rua, cada beco, cada travessa, cada casarão, enquanto fazia emergir do romance a cidade secular. Montello, sem dúvida nenhuma, constrói um grande retrato de São Luís, digna moldura de uma narrativa que tem estatura de clássico da literatura brasileira, mas que infelizmente é em grande medida desconhecida.

Com apuro estético ? apesar de me ter causado algum incômodo o uso de artigo definido antes de nomes próprios, fora do contexto da oralidade, própria dos diálogos ? e sem adquirir um tom panfletário, ?Os Tambores de São Luís? se constitui também como um romance-denúncia. Diz sobre o povo que somos, sobre o negro na escravidão e no pós-escravidão, diz sobre o racismo.

E o final deste romance ? as duas últimas páginas, os últimos parágrafos... esse final, meus caros, consegue fazer com que um romance de que eu já vinha gostando muito, ao longo de toda a leitura, crescesse ainda mais. Sem sombra de dúvida, uma das melhores leituras de 2021.
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Dan 04/09/2019

"Eu sei que meu sangue é da mesma cor do sangue desses escravos" D. pedro
Primeiro dizer que essa obra é um painel cultural de toda são luis do maranhão.. desde os tambores do querebetã da casa das minas até os lampiões de gás que demarcam as ruas lucilando todo centro histórico.
Damião pode ser entendido como um resquício presente em todo cidadão ludovicense que muitas das vezes não sabe, mas como cidadão dessa terra, tem o vinculo do passado.

Toda saga tem intensidade, repleta de reviravoltas, opressão, preconceito, sangue violência; tudo pra ilustrar um sec xix de caos entre casta dominante e subordinados escravos. Josué compõe um enredo colocando personagens fictícios e reais para se relacionarem dando mais carisma para a história.
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Talita 26/11/2009

O livro conta a hístória de Damião rapaz negro e escravo fugitivo. Toda a sua infância feliz no Quilombo de seu pai Julião. Sua luta na fazenda de seu Lustosa, após a captura e a morte de seu pai. Sua tentativa de virar padre. E a recusa diante da cor de sua pele. Mas o livro traça também um panorama da escravidão no Brasil. A luta dos negros pela liberdade e os abusos dos fazendeiros.

Um livro muito bom para quem gosta de história que prende do começo ao fim. E no qual o leitor sofre junto com os personagens.


“Óia Damião: home nenhum tem direito de fazer de outro home seu escravo, só porque nasceu branco e o outro preto Qualquer um nasce e morre do mesmo jeito. A doença que dá no preto, dá no branco. A vida é igual pra todo mundo. Ninguém quer ser escravo, tudo quer ser livre. (P. 36)”.


“Eu não desejo que vocês se limitem a decorar o texto latino que está na lousa. O que desejo, do fundo da minha alma, é que meditem sobre a significação das palavras que acabaram de escrever. Vocês são moços, amanhã serão homens, e homens responsáveis. Precisam saber, desde agora, que vivemos num país de escravos. Eu próprio fui escravo, e vocês sabem disso. Se estou aqui, como professor e homem livre, devo mais a favor da sorte que aos merecimentos pessoais. E eu sou um entre milhões. Minha mãe morreu escrava, minha irmã e meus sobrinhos ainda são escravos. Meu pai se rebelou contra o cativeiro, foi morto diante de meus olhos, quando eu tinha a idade de vocês. A escravidão é um abuso: o homem não pode explorar o homem, mantendo outros homens cativos, só porque estes têm a pele negra. A maldição da cor é uma falsidade e uma estupidez. A circunstância de ter nascido com esta pele não exclui a minha condição de homem: sou um ser humano, como vocês; tenho alma, tenho consciência de meus direitos e deveres, e também, o sentimento de minha dignidade e de minha honra. O cativeiro é crime, e crime que se pratica para com outros homens. Não há o que justifique a escravidão.(p 376)”
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Katia 26/02/2012

Um dos melhores livros que já li! Através da saga de Damião, percorremos não só momentos históricos mas também a linda cidade de São Luís e seus costumes.
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Henrique Fendrich 29/10/2017

A escravidão e o problema do mal
Em meio à monumental reconstrução que Josué Montello promove do período escravocrata no Maranhão (e, pode-se dizer, também no Brasil) em “Os tambores de São Luís“, há uma renitente questão de fundo, sempre a assolar o pensamento do negro Damião, cuja história o livro acompanha: por que Deus permite o sofrimento dos negros em seus cativeiros?

Afinal, a imagem que cultivava de Deus, e com ele a sociedade em que estava inserido, era a de alguém que não apenas representava o bem e a justiça, mas que inclusive era capaz de intervir na Terra para auxiliar aqueles que sofressem por conta da maldade dos homens. E a cada dia, inclusive na própria pele, Damião sentia os efeitos dessa maldade, como se Deus inclusive a permitisse, já que nada também impedia. Teria a escravidão a anuência divina?

Certamente pensariam assim os proprietários de escravos, que não chegavam a ver nenhum tipo de contradição entre o cativeiro do negro e o conteúdo do Evangelho. É, afinal, com um ar compungido que o dr. Lustosa, cruel proprietário de Damião, assiste ao sermão do Bispo em sua fazenda. É segurando um terço entre as mãos que a sádica Ana Rosa Ribeiro, depois de matar friamente um dos seus escravos, acompanha um julgamento que não a condenará.

Esses proprietários não tinham, a apertar-lhes a consciência, tampouco a voz oficial da igreja, na figura dos sacerdotes. Todos os percalços da luta de Damião para se tornar padre evidenciam que a igreja estava mais preocupada em não causar escândalos (dessa maneira entendiam um padre negro) do que em pregar as palavras de Jesus (um homem que causou escândalos por onde andou). Envolvida em uma teia de relações com os poderes mundanos, a igreja escolhia salvaguardar o preconceito, a fim de não perder as benesses da elite local.

A salvação, para os negros, viria unicamente com a morte, no pós-vida. Damião, no entanto, considerava que a salvação era coisa para o aqui e o agora, e era nas vestes de um sacerdote que ele pretendia, no próprio púlpito, fazer a denúncia do crime dos brancos e conclamar os negros à revolta. A visão que fazia do cristianismo não podia conceber a exploração de uma raça por outra, e o passar dos anos, com a evolução do pensamento, viria a lhe dar razão.

Mas, ao seu tempo, quanta decepção enfrentou, vendo frustrados todos os seus movimentos para a libertação do negro! Era quando se questionava o que Deus poderia estar fazendo, já que não intervinha de uma forma direta. Era o velho problema do mal, de como um Deus bom lida com um mundo mal, que tanto tem incomodado teólogos ao longo dos séculos, sem que se tenha dado a ele uma resposta definitiva. E tampouco Damião pensa em uma saída.

Quem lhe apresenta uma alternativa original ao problema é o seu amigo Barão, velho escravo, já um tanto cínico, mas o mais metafísico dos personagens do livro. Sugere o Barão que o mundo, na verdade, foi criado pelo Diabo. Isso, por si só, já explicaria todo o mal do mundo. Deus teria vindo depois, e com ele a bondade e a justiça. Dessa maneira, aquilo que pode ser entendido como “bem” seria apenas uma louvável exceção em mundo originalmente mal.

O Barão faz até uma adaptação curiosa do episódio da queda do homem, quando Eva comeu o fruto da árvore proibida. Para ele, foi ali, depois de comer da árvore do conhecimento, que o ser humano se iluminou, adquiriu sabedoria para distinguir o bem do mal – e, assim, chegou até Deus. Nessa visão, o próprio demônio teria expulsado Adão e Eva do Paraíso. Esta não é uma teoria que encontre muitos adeptos em nossa realidade, e o próprio Barão não parecia a levar tão a sério assim, pois, ao fim, atribuía tudo à sua cabeça já caduca pela muita idade.

Damião apenas ouve e não chega a opinar sobre as ideias do seu amigo. Chegará um dia em que ele, tão desesperado de saídas para o problema da servidão, pensará que, se preciso for, os negros devem se unir inclusive contra Deus. Mas foi um desabafo, pois nunca deixou de acreditar que havia uma força ordenando o mundo e a quem injustiçados poderiam recorrer. E não via problemas em conciliar o Deus cristão com os ritos do candomblé e seus tambores.

Veio a liberdade, afinal, e veio não exatamente do jeito certo, trazendo problemas novos para os negros que foram libertos. Haverá um momento em que os próprios negros que apoiava se voltarão contra Damião. A realidade, afinal, nunca é simplista, nunca se sabe exatamente o que é o bem e o que o é mal – Eva, talvez, devesse ter dado mais algumas mordidas. E, no meio de uma realidade sempre caótica e multifacetada, até pode ser que Deus seja perdoado.

site: http://deusnaliteratura.wordpress.com
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Paula.Vieira 05/10/2018

Todos nós construímos sonhos ao longo da vida e não foi diferente com Damião, que apesar de escravo e com um futuro bastante limitado pela sua condição, conseguiu, com muito esforço e ajuda do destino, transcender as dificuldades e alcançar um status respeitoso diante de seus iguais e de muitos outros que eram concordante com suas ideias progressistas, as mesmas ideias as quais, defendendo-as, o fez regredir socialmente, saindo de um de um extremo e indo a outro.

Apesar de fictícia, a história aborda muitos temas verídicos, como o julgamento de Dona Ana Rosa Viana Ribeiro pelo assassinato do escravo Inocêncio, de 8 anos de idade; as consequências da Lei Áurea e o nascimento da República. Sem idealismos, o autor apresenta diversos pontos de vista acerca das mudanças político-sociais da época, além de retratar de forma plural as relações sociais que se estabeleciam entre senhores e escravos no período colonial-escravocrata unidos não apenas por relações de exploração, mas algumas vezes por amor, outras vezes por solidariedade e, ainda, com negros que sobrepujavam seus iguais depois de conseguir poder. Deste modo, a obra foge do conceito amplo de identidade cultural e entra nas particularidades do ser humano, com todos os sentimentos que só uma consciência que produz cultura e marca o tempo com sua escrita e costumes poderia criar.

"Tambores de São Luís" é imprevisível e realista na medida certa, com personagens com histórias distintas, mas igualmente atrativas, nos lançando num misto de sentimentos e nos colocando, por várias vezes, no lugar de impotência de seu protagonista. Enfim, uma obra essencial para apreciadores de uma boa leitura.

A vida é assim mesmo.
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