LAPLACE 07/03/2016O Mordomo da Casa Branca - Wil Haygood34 anos. 8 presidentes. 1 mordomo. Eugene Allen nasceu em uma grande fazenda, em Scottsville, Virgínia, nos Estados Unidos, e cresceu trabalhando como empregado doméstico para uma família branca, que lhe ensinou os serviços de cozinha. Aí se iniciava sua jornada para se tornar o mordomo mais famoso da casa mais poderosa do mundo.
Entretanto, o emprego no lugar que pode ser almejado por muitos não seria uma tarefa fácil. Os Estados Unidos enfrentava um grande problema de segregação racial, e ele, como afrodescendente, assistia do palco principal, sem poder pronunciar uma palavra, as medidas tomadas que beneficiariam, ou não, o seu povo. Incluindo a decisão de um presidente que mandou o seu filho para a guerra do Vietnã.
Contudo, Eugene não foi um simples mordomo. Embora fizesse parte do grupo de pessoas que não eram reconhecidas como tais, sua dedicação e profissionalismo o destacaram perante seus patrões, e ele chegou até a ser convidado, pela esposa do presidente Reagan, para um jantar de Estado na Casa Branca.
Mesmo com tanto reconhecimento, os feitos e conquistas do mordomo mais famoso dos Estados Unidos caíram no esquecimento, até que o jornalista Wil Haygood escreveu o artigo sobre sua história, que resultaria em uma corrida para tentativa da produção de um filme contando a história de Eugene que, nessa época, torcia pela vitória do primeiro presidente negro na disputa presidencial norte-americana.
Quer saber o que acontece? Então corre para ler o livro!
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Conheci a história do Eugene através da fantástica adaptação cinematográfica de sua vida, estrelada pelos talentosos atores Forrest Whitaker e Oprah Winfrey nos papéis principais, além de um grande elenco que compunha a produção.
Wil Haygood nos conta nessa obra de não-ficção todo esse processo, desde quando ele conheceu o Eugene, à sua história e a confecção do longa, que, assim como a vida do protagonista, teve inúmeros altos e baixos. Quem só assiste ao filme não tem ideia das adversidades que uma equipe cinematográfica enfrenta para realizar seu trabalho. E os problemas que O Mordomo da Casa Branca teve pelo caminho não foram poucos.
É contagiante o empenho de todos os envolvidos na produção da película, a dedicação que tiveram em ver essa importante parte da história norte-americana contada para superarem dificuldades como falta de orçamento e até morte de pessoas essenciais para a realização desse sonho.
Como vemos no livro, há diferenças entre a adaptação e a história real, como o fato do Eugene e Helene só terem tido um filho, e este não participou da luta dos negros para terem seus direitos reconhecidos, como vemos na película, entretanto a participação de seu único filho na guerra do Vietnã foi verídica.
E ler esse relato do que o protagonista passou enquanto trabalhou como mordomo nos faz pensar como parecemos meras marionetes diante dos poderosos do mundo. Trabalhando diretamente com os presidentes dos Estados Unidos, Eugene ouvia e via diariamente as decisões que os líderes de seu país tomavam, e assim estava a par dos relatórios da guerra em que seu filho estava envolvido, e precisava absorver tudo calado, como um fantasma.
E a desconsideração dos presidentes para com ele e os demais funcionários da Casa Branca era assustadora. Alguns líderes foram muito bons, os reconheciam como pessoas e gostavam deles, mas outros os tratavam como se fossem parte da decoração da sala, e abordavam assuntos sobre os negros, desprezando-os e tudo mais, como se eles não estivessem em pé logo ao lado.
Mesmo assim, Eugene agia profissionalmente, dava o seu melhor, e a atenção e carinho que ele tinha para com a família dos presidentes — principalmente aqueles que o reconheciam como ser humano — é lindo, como quando ele organizou uma festa para os filhos do presidente Kennedy no dia posterior ao seu assassinato, para que as crianças e a viúva se sentissem melhores.
Fico muito feliz que o jornalista Wil Haygood e as produtoras Laura Ziskin e Lee Daniels tenham tido a brilhante ideia e lutaram com todas as suas forças para apresentarem Eugene Allen ao mundo, ele foi um homem sem igual, e a história norte-americana não seria a mesma sem a sua participação.