spoiler visualizarMaria.Conceicao 19/05/2020
O Queijo e os vermes
Achei o livro o queijo e os vermes muito bom. É engraçado ouvir o que pensa Menochio, ele é uma figura e tanto. Nossa... e se parece comigo, no começo me ensinou tanto. Sobre sua visão, mesmo, sobre Deus... Não sabemos de onde vem, mas num momento de grande crise e aperto, a hegemonia católica o alcança. Não tem espaço pra inculturação, não tem espaço pra tolerância w troca cultural. Menochio era cristão, tinha críticas agudas e corretas sobre o cristianismo, mas ele já era um convertido. Possuia suas próprias ideias sobre quem era Cristo, mas pra Paulo, Pedro, João, Santo Agostinho e São Francisco também. Porque Deus, não está engessado no passado. Age e se atualiza no presente por meio da vida de cada crente. Ter as suas próprias ideias sobre Deus é bom, porque demonstra que se tem uma experiência pessoal com Cristo que todo Cristão deve ter. E Menochio, que lia muito e por isso tinha ideias demais, era uma pessoa assim, que pregava a tolerância com relação a outras religiões e até com relação às heresias. Finda morto, não porque suas ideias foram condenadas por Deus, mas porque se encontrou com pessoas que estavam sedentas por poder e donheiro e outras porque eram medrosas demais para se desapegarem de um tradicionalismo engessador. O Deus de Menochio, segundo Ginzburg, era definido segundo uma religiosidade materialista (no sentido de ser definido e fazer sentido a partir do que estava ao redor de Menochio, daquilo que ele podia tocar e ver, daí vem a teoria do queijo e dos vermes) advindo da cultura oral que conservava uma cosmovisão pagã, que mesmo que dominada, ainda sobrevivia no campo. A condenação de Menochio, que tem interferência até mesmo papal, é sobre o silenciamento de ideias, de uma visão diferente, de uma vivência cristã diferente, que desafia, questiona e crítica a hierarquia eclesial e a forma hegemônica de ser cristão no século XVI. Que pena e que dor. Não estavam preparados para ouvir e acolher o que a mente singular e brilhante de Domenico Scandella tinha a dizer... mais de 500 anos depois em 18 de maio de 2020, eu me sinto um pouco Menochio e me preocupo em não ser compreendida, tenho medo de ser silenciada.