A Imortalidade

A Imortalidade Milan Kundera




Resenhas - A imortalidade


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Bruno Pinto 26/02/2013

Achava A Insustentável Leveza do Ser uma obra prima, mas Kundera me surpreendeu. Em A Imortalidade o autor se distingue ainda mais pelo seu estilo próprio de escrita, misturando fatos históricos, ficção e realidade - quando entra em seu próprio livro para comentá-lo - é genial!
A liberdade de estilo reflete-se em liberdade de conteúdo: dirige seu romance num caminho pelo qual pode discorrer filosoficamente sobre temas inúmeros e, desta forma, convida o leitor a embarcar em seus pensamentos. Como ele mesmo explicita no livro, sem a "tensão dramática" que "transforma tudo, mesmo as mais bela páginas, mesmo as cenas e as observações mais surpreendentes, numa simples etapa que leva ao desfecho final, onde se concentra o sentido de tudo que precede". Isso liberta o leitor: se gosta da leitura lê, senão desiste e pronto, não fica preso ao apelo curioso de saber o fim.
Carlos Patricio 24/07/2015minha estante
Resenha sensacional, Bruno!




Fabio Shiva 02/11/2023

A ruptura da quarta parede literária dissolve a fronteira entre a morte e a imortalidade
No dia 12 de julho de 2023 recebi a notícia da morte do escritor tcheco Milan Kundera no dia anterior, aos 94 anos. Como uma silenciosa (e talvez um tanto irônica, o que seria bem ao gosto do próprio Kundera) homenagem a esse grande escritor, decidir iniciar na mesma hora a leitura do livro dele que ainda restava em minha estante sem ser lido: “A Imortalidade”.

Apaixonei-me por Milan Kundera ao ler “Risíveis Amores” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2020/12/risiveis-amores-milan-kundera.html). E a paixão virou um amor reverente depois que li sua obra mais conhecida (e provavelmente prima): “A Insustentável Leveza do Ser” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2022/07/o-insuperavel-deleite-de-ler-uma-obra.html).

“A Imortalidade” é o romance seguinte, publicado sete anos depois de “A Insustentável Leveza do Ser”, como uma sequência e um aprofundamento de seus principais temas e obsessões. Lendo esse livro, pude entender um pouco melhor a grande proeza de Milan Kundera, que só posso descrever como a ruptura da quarta parede literária. Esse conceito de “quarta parede” é mais utilizado no cinema e no teatro, como uma divisória imaginária entre a história que está sendo contada e o público para quem está sendo contada. Fisicamente essa quarta parede é bem visível como a fronteira entre a tela do cinema ou o palco do teatro e a plateia, e equivale a uma distinção entre o que é ficção e o que é realidade.

Pois bem, penso que Kundera faz o equivalente literário a uma ruptura da quarta parede, recurso utilizado tanto no cinema quanto no teatro (quando, por exemplo, um ator se dirige diretamente à câmera ou à plateia). E Kundera faz isso de modo magistral, criando seus personagens às vistas do leitor, explicando suas motivações e objetivos. Isso ele já fez em “A Insustentável Leveza do Ser”, obtendo um resultado fabuloso. Em “A Imortalidade”, o autor leva esse recurso até o seu limite, intrometendo-se ele mesmo na história e interagindo com os personagens. Muito interessante é o principal interlocutor de Kundera, o professor Avenarius, um personagem exótico ao ponto do inverossímil. E é justamente esse personagem que conversa com o autor da história, gerando um efeito no mínimo lisérgico:

“– E qual será o título do seu romance?
– A insustentável leveza do ser.
– Mas esse título já está tomado.
– Sim. Por mim! Mas na época me enganei de título. Ele deveria pertencer ao romance que estou escrevendo agora.”

Evidentemente as intenções de Kundera são bem mais profundas que fazer um mero jogo de cena. Para quem ama literatura, é um deleite a sua exposição das ideias por detrás de “A Imortalidade”:

“Hoje em dia as pessoas vão em cima de tudo que foi escrito para transformar em filme, em drama de televisão ou em desenho animado. Já que o essencial no romance é aquilo que não pode ser dito senão por um romance, em toda adaptação só fica o que não é essencial. Quem quer que seja suficientemente louco para hoje ainda escrever romances, deve, se quiser protegê-los com segurança, escrevê-los de maneira que não possam ser adaptados, em outras palavras, que não possam ser contados.”

E continua o autor:

“Lamento que quase todos os romances escritos até hoje obedeçam demais à regra da unidade da ação. Isto é, que estejam fundamentados apenas numa sequência causal de ações e acontecimentos. Esses romances parecem uma rua estreita, ao longo da qual os personagens são perseguidos com chicotadas. A tensão dramática é a verdadeira maldição do romance, porque transforma tudo, mesmo as mais belas páginas, mesmo as cenas e as observações mais surpreendentes, numa simples etapa que leva ao desfecho final, onde se concentra o sentido de tudo que precede. Devorado pelo fogo de sua própria tensão, o romance se consome como um monte de palha.”

Achei especialmente divertida a conversa entre Kundera e Avenarius sobre as coincidências, criando uma curiosa classificação:

1) Coincidência muda – coincidência de acontecimentos que não faz nenhum sentido:
“No momento preciso em que o professor Avenarius mergulha [na piscina] (...), no parque público de Chicago uma folha morta cai de um castanheiro.”

2) Coincidência púntica – não tem nenhum sentido especial, mas é como duas melodias em contraponto:
“O professor Avenarius mergulhou na piscina no momento preciso em que Agnes, em algum lugar nos Alpes, punha seu carro na estrada.”

3) Coincidência geradora de histórias – especialmente cara aos romancistas:
“O professor Avenarius enfiou-se no metrô em Montparnasse no momento exato em que lá estava uma bela mulher segurando uma lata vermelha de pedir esmolas.”

E como sempre, em se tratando de Milan Kundera, até aqui falei apenas de alguns elementos secundários de seu livro. Para não deixar a resenha longa em demasia, encerro com algumas das muitas reflexões trazidas pelo livro, com as quais não necessariamente concordamos, mas cujo brilho não podemos deixar de admirar:

“A armadilha do ódio é que ele nos prende muito intimamente ao adversário.”

“Pode ser que seja necessário que a morte exista. Mas ela não poderia ser inventada de outra maneira? É realmente necessário deixar atrás de si restos mortais que temos de enterrar ou queimar? Tudo isso é abominável!”

“Contamos com a imortalidade, e esquecemos de contar com a morte.”

“Foi uma sorte enorme que as guerras tenham sido feitas pelos homens. Se as mulheres tivessem feito a guerra, teriam sido tão persistentes na sua crueldade que não sobraria nenhum ser humano sobre o planeta.”

“Por definição, o sentimento surge em nós à nossa revelia e muitas vezes com o nosso corpo se defendendo. Do momento que queremos experimentá-lo (assim que decidimos experimentá-lo, como Dom Quixote decidiu amar Dulcineia), o sentimento não é mais sentimento, mas imitação de sentimento, sua exibição.”

“Penso, logo existo é uma afirmação de um intelectual que subestima as dores de dente. Sinto, logo existo é uma verdade de alcance muito mais amplo e que concerne a todo ser vivo. Meu eu não se distingue essencialmente do seu eu pelo pensamento. Muitas pessoas, poucas ideias: pensamos todos mais ou menos a mesma coisa, transmitindo, pedindo emprestado, roubando nossas ideias um do outro. Mas se alguém pisa no meu pé, só eu sinto a dor.”

“Caminho: tira de terra sobre a qual se anda a pé. A estrada diferencia-se do caminho não só porque a percorremos de carro, mas porque é uma simples linha ligando um ponto a outro. A estrada em si não faz nenhum sentido; só têm sentido os dois pontos ligados por ela. O caminho é uma homenagem ao espaço. Cada trecho do caminho tem um sentido próprio e nos convida a parar. A estrada é uma triunfal desvalorização do espaço, espaço que hoje em dia não é mais do que um entrave aos movimentos do homem, uma perda de tempo.”

Milan Kundera está morto. Viva Milan Kundera!

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2023/11/a-ruptura-da-quarta-parede-literaria.html



site: https://www.instagram.com/fabioshivaprosaepoesia/
JurúMontalvao 02/11/2023minha estante
?????
Fábio, vc espreme com tanta gentileza os ângulos das suas experiências com os livros q eu fico sempre esperançosa (iludida tvz seja a palavra) de tbm obter esse mesmo sumo qnd for minha vez de ler rsrsrs ?
já tinha a "A Insustentável Leveza do Ser" na minha lista e vou add esse aqui tbm, gracias?


Fabio Shiva 02/11/2023minha estante
ô querida, gratidão pela generosidade de seu comentário e por essa energia boa! Depois de ler comente o que achou, ok?


Uedison Pereira 17/01/2024minha estante
Milan não é todo leitor que o entende. Mas é dos meus favoritos pela poética e o eu lírico de seus textos.




Henrique Fendrich 29/10/2021

Sempre me impressiona como o Kundera consegue escrever "fácil" e, ao mesmo tempo, dar profundos mergulhos existenciais. Faz isso com tal naturalidade que é como se o próprio leitor se sentisse "mais inteligente" ao refletir sobre os temas filosóficos que ele propõe. Quando ele se propõe a "dissecar" a vida de algum gênio (no caso desse livro, Goethe), também consegue nos aproximar dessas grandes mentes, como se, no fundo, elas não fossem tão diferentes da nossa, todas, afinal, sujeitas ao amor e sujeitas à morte.

A primeira parte desse livro, chamada "O rosto", quando a personagem Agnes é apresentada, é uma das minhas coisas favoritas entre todas as que já li do Kundera e acho que funciona inclusive de forma isolada do restante do livro. Ele criou uma personagem muito interessante e a colocou em uma trama familiar e existencial bastante envolvente, acrescentando ainda as suas habituais reflexões e disso tudo saiu um resultando que no mínimo se chama de lindo.

Mas o Kundera não é daqueles que escrevem romances de história linear, então nas outras partes ele insere subtramas, ele insere a si mesmo como personagem, ele promove um ensaio sobre a vida amorosa de Goethe e Betina, ele promove um improvável diálogo entre Goethe e Hemingway depois de mortos, e o mais fantástico é que tudo isso concorre para um sentido único, como se tudo fosse apenas as diferentes abordagens de um mesmo mote.

Veio então a sexta parte do livro. Na quinta parte, o próprio Kundera anuncia o que está por vir, diz que um novo personagem surgirá em seu romance e depois desaparecerá sem deixar traço, não é a causa de nada e não produz nenhum efeito, mas é precisamente isso o que lhe agrada, será um romance no romance e "a história erótica mais triste que já escrevi".

Havia, portanto, os motivos "técnicos" e de estilo, além de outros, de natureza filosófica, que justificavam a inclusão dessa parte no livro, mas foi precisamente esse o momento em que o livro me desagradou, porque eu realmente preferia que a unidade do livro tivesse se mantido até o fim. Ademais, a própria "história erótica mais triste" não me comoveu nem um pouco. Foi apenas essa parte, portanto, que impediu que eu desse 5 estrelas para o livro.

Agnes, de toda forma, é uma personagem excepcional, e a sua irmã Laura também é instigante, além de Paulo e o próprio radialista Bernardo, que à certa altura desaparece da trama. Esse núcleo, somado ao universo de Goethe, me agradou bastante. A incursão do tal professor Avenarius não foi muito do meu agrado também, mas ainda fazia parte do mesmo jogo, ao contrário de Rubens, o personagem isolado da tal sexta parte.

Feita as contas, contudo, esse é no minimo o terceiro livro do Kundera do qual gostei mais do que a "A insustentável leveza do ser".
Maria 31/10/2021minha estante
Mudei de ideia. Quero ler. :P




Zé - #lerateondepuder 01/02/2020

Imortalidade
A Imortalidade é, por assim dizer, um romance um tanto quanto complexo, profundo não por palavras rebuscadas, mas pela abordagem de diversos temas, principalmente filosóficos, que seu escritor procura apresentar, sendo descrita de forma não linear, indo e voltando às histórias de seus personagens. Desgostoso por sua obra de 1983 tornar-se uma aclamada adaptação para o cinema (dirigido por Philip Kaufman, 1988), Milan escreve um livro que dificilmente será visto em alguma tela de cinema, composto por sete partes, onde o autor descreve alguns personagens, bem como a vida de Johann Wolfgang von Goethe e seu relacionamento com Bettina Brentano, referenciando a imortalidade das pessoas. Por incrível que pareça, Kundera ainda consegue a proeza de criar em algumas partes, diálogos post mortem que Goethe terá com o venerado escritor americano Ernest Miller Hemingway, elencando a imortalidade de cada qual.
Quanto aos personagens, em linhas gerais, teremos: Agnes, protagonista, formada em matemática, mas que trabalha com informática e é casada com Paul, tendo uma filha, Brigite; Paul, advogado, despedido de um programa de rádio, casado com Agnes e, depois de morte desta, com a sua irmã, Laura; Laura, irmã de Agnes, formada em música, separada, tem como amante, Bernardo, 10 anos mais moço, mas vai acabar a trama com Paul, após a morte solitária de Agnes, em um acidente; Brigite, filha de Paul e Agnes, jovem que tem grande intimidade, principalmente com o pai, irá sair de casa com o casamento de Laura e Paul, mas regressando com uma filha, após ser abandonada pelo namorado; Bernardo, amante mais moço de Laura que trabalha em uma rádio; Professor Avenarius, personagem com quem o narrador parece conversar sobre o tempo presente e sobre o desenvolvimento do livro; e Rubens, pintor de excelentes caricaturas, quando jovem, mas frustrado por não conseguir cursar a universidade de Belas Artes.
Na primeira parte, a personagem Agnes é inserida na trama, com o narrador justificando que a idealizou, baseando-se em uma idosa em que repara nadando em uma academia de ginástica. Era casada e mãe de uma filha, atarefada pelo trabalho, usando o sábado para realizar tarefas que não conseguia durante a semana, dentre estas ir à sauna e conversar com amigas, ouvindo as coisas do cotidiano. Ao sair da sauna, lembrou-se da infância e da conversa com seu pai sobre Deus, que nos tinha criado como um programa de computador implacável, nos deixando ao bel prazer, como que abandonados.
A segunda parte começa com a descrição de um momento cotidiano histórico com personagens ligados a Goethe. Um casal jovem que se hospeda em sua casa e uma mulher jovem que se insinua para um Goethe de mais de sessenta anos, trazendo ciúmes à sua esposa, uma vez que essa jovem tem muito mais tempo de vida que a mulher do escritor, ou seja, tem mais mortalidade. Segue com a história de Bettina e Goethe, ressaltando a questão intrínseca da morte e da imortalidade, destacando que Bettina gostava disso em Goethe. Essa história deve se basear nas cartas verídicas que Bettina Brentano trocou com Goethe. É aqui que Goethe faz suas reflexões sobre sua imortalidade. Pouco depois, aparece sua relação com Beethoven e, finalmente uma conversa sua com Ernest Hemingway, claro que ambos já mortos, criticando como foram tratadas suas respectivas imortalidades, muito por conta de suas obras.
Já a terceira parte retoma à Agnes, tocando na questão do gesto de despedida que ela havia desistido de fazer, para não se parecer com a secretaria de seu pai. Só que agora, ela escreve sua irmã mais nova Laura, observando esse gesto em Agnes. Fala de Laura, sua irmã mais nova que se apaixona por seu marido Paul, mas acaba se casando, porém, não pode ter filhos. Agnes tinha uma vida muito boa, mas Laura tinha uma vida nem tão boa, o que fez com que a Agnes cuidasse de Laura. As diferenças entre a sexualidade das irmãs são comentadas nessa parte. Laura é totalmente sexual, mas Agnes, nem tanto. Fala, também, da pretensa relação de Laura, mais velha, com Bernardo Bertrhand. Destaca alguns tópicos para comentar e refletir, como a IMAGOLOGIA, a questão da imagem que substitui o conjunto de ideias, nem sempre representa a realidade dos fatos.
Seguindo com a quarta parte, começa o julgamento de Goethe, com o testemunho de três personalidades. O narrador irá descrever que o amor de Bettina foi falso, por ter sido imposto a Goethe. Assim, tenta descrever o sentido do amor, segundo Bettina, uma virtude suprema. Cita o homo sentimentalis, um ser que valoriza os sentimentos, desenvolvido na história da civilização europeia, tão racional, e descreve o amor do coração e alma dos Cristãos. Conta a horrível morte de Agnes e como Paul fica fragilizado, recebendo de Laura um apoio incondicional.
Começa a quinta parte, citando Agnes que lia poemas de Rimbaud e continua falando sobre a teoria do acaso, pois não existe uma lógica no destino das pessoas. Conversa com o Professor Avenarius, sobre a intenção de não deixar que seu livro se transformasse um uma adaptação para filme e que este livro deveria se chamar Insustentável Leveza do Ser. Termina, voltando à morte de Agnes no hospital sem revelar o motivo, tendo Paul e Brigite chegado 15 minutos depois de seu falecimento.
A sexta parte começa o personagem Rubens, com o narrador descrevendo como é um horóscopo e qual sua relevância para nossa vida limitada. Fala sobre o tempo, o relógio que percorre o círculo e volta a posição anterior, como se fosse o eterno retorno. Vai contando que as pessoas como Rubens passam por fases e que ele vive naquele momento, o período da verdade obscena. É uma passagem bem erotizada de Rubens e suas amantes referenciadas apenas pela letra inicial do nome.
A sétima parte finaliza com a conversa com o Professor Avenarius sobre apostas de sair com celebridades. Depois, junta-se um certo Paul e conversam sobre sinfonias, aparecendo Laura e Brigitte, que volta para casa depois de ser abandonada pelo namorado com um filho. E acaba o romance, como se o narrador tivesse tido conversas com seus personagens, esclarecendo que o narrador, na verdade, não era Kundera, mas mais um dos personagens fictícios.
Foi um desafio descrever uma obra que tem tão poucas resenhas e, neste caso, a intenção foi a de comentar a história com um pouco mais de detalhes, até mesmo para elucidar a quantidade de aspectos tão díspares tratados neste romance. Esta edição resenhada trata-se da tradução de Teresa Bulhões e Anna Andrada, da Editora Nova Fronteira, RJ, de 1990 de 262 páginas. Ela pode ser encontrada para ser baixada em LelivrosLove, disponível em: http://lelivros.love/book/baixar-livro-a-imortalidade-milan-kundera-em-pdf-epub-e-mobi/, acesso em: 01 fev. 2020.
Por fim, a Imortalidade que Kundera aborda é aquela que deixamos depois de nossa morte ou nossas histórias talvez contadas pelas pessoas que ficam. O autor classifica que a preocupação com a própria imagem é a incorrigível imaturidade do homem e que você pode até mesmo dar fim à sua vida, mas nunca a sua imortalidade. Foi por este livro que entendi uma das interpretações do título A Insustentável Leveza do Ser. Significa que o ser, as pessoas, podem assumir ou alternar diversos papéis, uma vez que estes não se sustentam. São, muitas vezes, leves demais.
Paz e Bem!

site: https://lerateondepuder.blogspot.com/2020/02/a-imortalidade.html
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Mariana Orico 24/07/2020

Uma obra completa!
Já tinho lido Kundera uma vez e tinha me apaixonado. Dessa vez não foi diferente. O autor brinca com o texto com uma facilidade incrível, cheio de beleza e poesia não só fala sobre a imortalidade como traz referência a inúmeros artistas como Goethe, Hemingway, Heiddeger, Agatha Christie, Orwell, Dalí entre outros e várias obras imortalizadas também. Não bastando, cita ainda obras suas e se utiliza da metalinguagem.

A construção dos personagens é incrível, assim como a história do artista Goethe intercalando com as histórias fictícias. Só o final que acabou não sendo o tanto que fora o resto do livro. Mesmo assim, muito bom!

Acho que nunca destaquei tanto um livro como esse! heehehehe
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lotrings 19/08/2023

Como odiei esse livro mds parecia uma eternidade que nao acabava mais acho que nunca mais leio algum livro do kundera
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moacircaetano 08/11/2023

Ótimo livro.
Já se vão talvez 35 anos que li A Insustentável Leveza do Ser e Risíveis Amores, portanto as lembrancas desses livros são pouco mais que apenas uma bruma, e a leitura de A Imortalidade me faz querer retornar a ler meus antigos exemplares.
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Michel 09/05/2020

O eterno desejo de ser inesquecível em nós...
Considerei difícil classificar ou resenhar este livro, porque no instante em que sua trama causa determinada impressão, logo esta é desconstruída mais adiante. E isso não significa nenhum estorvo, mas sim, uma inusitada condução narrativa, que segundo as palavras do próprio Milan Kundera: “a única razão de um romance é dizer o que somente o romance pode dizer”.

Ao que parece, o autor se viu descontente com a adaptação de uma de suas obras mais aclamada, A Insustentável leveza do Ser. Sendo assim, Kundera quis desenvolver um livro que fosse nada menos que um texto impossível de ser adaptado.

A IMORTALIDADE é um livro um pouco complexo, mas não por ter uma linguagem difícil ou sofisticada, pelo contrário, Milan Kundera escreve de forma acessível. O problema é que o autor narra perspectivas distintas para mostrar um mesmo tema; esmiúça aspectos de diferentes personagens em tempos distintos inseridos na obra. Condensa tudo para chegar ao escopo que intitula a obra: a imortalidade que habita em cada um de nós.

A narrativa intromete-se pouco no que tange aproximar a pessoalidade do autor – que no caso aqui é também a personagem que narra a história, ou pelo menos houve a tentativa de confundir o leitor com tal sugestão – Milan Kundera simplesmente discorre sobre quem somos do ponto de vista situacional dentro da vida de cada um de seus narrados, deixando por conta do leitor qualquer forma de julgamento. Contudo, sacralizando a máxima desejante enraizada no ser humano desde que o mundo é mundo: o anseio de ser inesquecível.

Num universo atemporal, a trama divide seu espaço de importância entre diversas personagens; Agnes é a protagonista que desperta no autor a inspiração para a narrativa, um breve gesto e está criado o encanto que faz o criador querer contar uma história. Dispersando os universos, deparamo-nos com o famoso escritor Goethe envolto numa relação tempestuosa com a jovem e bela Bettina; temos Laura, a irmã de Agnes, mulher depressiva cuja mente vive desenvolvendo meios de tirar a própria vida; ainda há passagens em que acompanhamos a aparição de personagens ilustres como Beethoven, Napoleão Bonaparte e até diálogos entre o já citado Goethe e Ernest Hemingway.

O livro não é linear, seus capítulos pareceram-me independentes, não sendo necessário que sejam lidos na ordem em que estão inseridos. Os diálogos são caprichados e merecem o devido cuidado do leitor para frear em certos instantes. Do contrário, corre-se o risco de que seu conteúdo filosófico seja perdido.

Esse método de capítulos individuais e diversos personagens dividindo o espaço do livro pode ter seu lado bom no aspecto de discorrer determinado tema sob situações e ações distintas. No entanto, há o inevitável problema com algumas partes que são mais agradáveis do que outras, assim como podemos considerar personagens carismáticos e outros nem tanto. Quando nosso favorito desaparece por muito tempo das páginas, consequentemente o livro perde em prestígio.

A IMORTALIDADE é um livro sofisticado como um todo. Incerto quanto ao público alvo, mas apreciadíssimo pela maioria das opiniões que encontrei pela internet, seja de leitores comuns ou de críticos literários. O tipo de obra que precisa de tempo para ser digerida, que carece releituras, de conteúdo inesgotável e acessível, mas que pode incomodar leitores desavisados que desconhecem o estilo singular de seu autor.

site: outras resenhas no blog: https://dimensaoreluzente.blogspot.com/
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Jeni 05/05/2021

"A imortalidade e o peso da existência."
Em A Imortalidade de Milan Kundera somos confrontados com a futilidade das coisas pequenas, mesquinhas e inúteis. As fugas do cotidiano representam a busca da imortalidade.
Os personagens parecem perdidos nas suas existenciais, como que deslocados no tempo e no espaço. Lutam para que a sua memória permaneça entre os vivos depois da sua morte.
Penso tratar-se de uma abordagem existencialista da vida.
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Isis.Borges 07/07/2022

Reflexões sobre a imortalidade
Kundera é fora da curva, suas reflexões são tão boas e apresentadas de um jeito tão despretensioso, que enquanto rimos das situações que ele coloca os personagens refletimos sobre a realidade do que está por trás.
Cheio de altos e baixos, em alguns momentos fica semelhante a um ensaio e desfoca totalmente das histórias dos personagens, isso deixou um pouco cansativo, mas eu amei o final, em que tudo se encaixa.
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Ricardo 03/02/2024

Histórias cruzadas, realidade e ficção misturados, vários personagens conectados, sem linearidade e com muitos insights filosóficos. Uma sensação de seguirmos um fluxo de consciência de Kundera, com muitos parênteses e digressões.

A imortalidade tratada no livro não é a do corpo, ou mesmo da alma, mas a da memória, daquilo que o morto, tendo sido ele ordinário ou extraordinário, deixa nos corações e mentes de conhecidos ou desconhecidos. Uma imortalidade, portanto, não como antítese da morte, mas como dependente dela.

Um livro muito interessante e que, inevitavelmente, nos faz refletir sobre as pessoas, sobre o tempo, sobre a vida.
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psykloz 17/01/2016

Uma história acontece na mente do narrador e ele a conta, baseado em inspirações da própria realidade. Casos de morte e imortalidade: atemporalidade. O significado da vida, a importância e o papel que cada pessoa teria em vida e pós-vida. É possível escolher não ser imortal? Seu rastro deixado no tempo. Suas marcas. Tanto capricho para ser bem lembrado e, por fim, ir-se sem o controle sobre o que será reverberado de você após seu corpo não mais habitar este mundo. Lembrar-se-iam de todos os aspectos negativos a seu respeito sem que você esteja aqui para se posicionar? Não há o que se fazer a respeito disso.

Interessante o constatar das diferenças entre as pessoas ao mesmo tempo iguais. Contraposições que se complementam. Seus contos são de complexos pessoais a respeito da vida, de suas fases. Narra a visão que as pessoas têm uma das outras. A relatividade dos problemas (os reais problemas?). Uma fantástica filosofia sobre o estar vivo e sobre o que é a vida. Os significados, o amor, a paixão. Aceitar algumas definições e convicções. Viver melhor em conformidade. Sobre os acasos, as coincidências e seus tipos.

O livro é uma sequência de anedotas que se complementam a fim de explicar, em partes, o que acontece com fragmentos da vida e da morte; de como tudo funciona ou de para que serve tal coisa, tal gesto. A maneira como, no fim, tudo acaba estando relacionado entre si. Os acontecimentos, as falas, como se todos participassem de um imenso telefone sem fio.

O personagem percebe que, apesar de ter querido viver com intensidade, nada mais fez do que colecionar momentos com pessoas as quais ele não se recorda. Flashes de momentos sem detalhes, sem rostos. A teoria do riso. O retrato do riso. Os encontros e acasos da vida. No fim, todos os personagens faziam parte da mesma história, sem tal intenção. A conclusão foi a de que não fugimos do que nos incomoda no mundo, apenas aprendemos a enxergá-lo de um ponto de vista cômico.

Senti-me confortável com a leitura, pois muito me identifiquei com a escrita. Seria da forma como eu colocaria minhas próprias ideias se fosse eu a escrever um livro. Muitos pensamentos foram também pensamentos que eu tenho, na minha realidade.
Jéssica 27/02/2017minha estante
Sempre tão lúcida!




Carol 09/08/2022

puro suco de existencialismo. milan mexe de maneira ousada nos recursos narrativos. penso que todas as histórias começaram do macro (por exemplo, o gesto na parte I), para o micro (individualidade de Agnes, sua vida pessoal etc). talvez esse seja mesmo o movimento que a filosofia moderna ocidental esteja fazendo, e milan acompanhou isso não só narrativamente falando como também nas próprias reflexões existenciais presentes no livro.

um elogio também à sinestesia que ele consegue com suas descrições, é sensacional.

porém, algumas coisitas no livro são meio problemáticas... é bem caricato do que um homem europeu liberal pensa à respeito do mundo e das coisas, já não superestimo.

por sinal me cansa toda vez que leio um autor homem que tenta montar uma personalidade feminina. e olha que é 1990, ali na porta. é sempre aquilo de "oh mulheres, seres tão complexos, de caráter duvidoso".

de maneira bem superficial apontei o que considerei pontos positivos e negativos na minha leitura. mas milan trouxe uma visão que antes não possuía: a de que vivemos em torno de inúmeras imortalidades, e que a grande glória do homem é alcançá-la.
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R4 16/03/2015

A imortalidade da vida comum
Escolhi A Imortalidade, de Milan Kundera, pela Companhia das Letras para resenhar porque já conhecia outras obras do autor e já havia resenhado A festa da Insignificância. A cada vez que me deparo com um livro de Kundera, sinto uma certa barreira inicial ou uma dificuldade diferente. Porque propõe uma narrativa diferente, em que os personagens se misturam com o narrador, o ficcional se mistura com o "real".

A imortalidade conta a história do escritor que, sentado em um clube, observa uma senhora de sessenta anos saindo da piscina e fazendo um gesto jovial. Essa cena faz surgir na cabeça do escritor o romance em torno da personagem, Agnès, que costumava fazer esse gesto quando jovem. Portanto, este romance percorrerá a história de Agnès que sente o luto pela morte do pai e tenta se refugiar na Suíça. Ela é casada com Paul e tem uma filha chamada Brigitte. Outra figura importante nessa história é Laura, sua irmã mais nova que sempre tenta imitá-la.

É nessas duas personagens que está uma oposição do romance: a razão e a paixão. Agnès e Laura. O controle emocional e o drama são as oposições de duas irmãs. Laura usa óculos escuros para que pensem que ela tem chorado muito, enquanto Agnès se envergonha dos sentimentos:

"Quando seu pai morreu, Agnès teve que organizar o enterro.(...) essa música era horrivelmente triste e Agnès temia não conseguir reter as lágrimas durante a cerimônia. Considerando inadmissível chorar em público,pôs no seu aparelho de som uma gravação do 'Adágio' e a escutou. (...) Mas, quando soou pela outava ou nona vez na sala, o poder da música enfraqueceu e na décima terceira audição Agnès ficou tão comovida como se tocassem diante dela o hino nacional da Paraguai.". pp.229

A "imortalidade" é discutida em forma de filosofia através de dois personagens ilustres, Goethe e Ernest Hemingway. Os dois famosos escritores surgem em alguns capítulos no meio do romance para conversar, ironicamente, depois de mortos, sobre a fama e a imortalidade que envaidece, mas incomoda. As questões de imortalidade se tornam ainda mais contrastantes quando se pensa em autores famosos em oposição à Agnès, que teve uma vida absolutamente convencional e anônima. Mas o conceito é pertinente, porque uma dicotomia de vida-morte surge no romance do começo ao fim. Alguns personagens morrem - e, às vezes, a morte é anunciada logo no início - como no caso de Agnès, que morre em um acidente de carro quando tenta evitar um estranho suicídio.

Ainda mais interessante é que no livro, o autor se transforma em personagem e passa a interagir com algum deles em determinados momentos. Os personagens surgem na vida do narrador-escritor enquanto ele escreve o livro dentro do romance. Isso faz com que A imortalidade seja um romance dentro de um romance.

Assim como os outros romances de Milan Kudera, esse livro se dispõe a muita filosofia e desdobramentos do tema central, neste caso, a imortalidade frente a personagens com uma vida comum. Eu realmente gostei da escrita pouco convencional e elaborada de Kundera e, ainda que A Insustentável Leveza do Ser continue a ser o romance mais arrebatador, achei A Imortalidade bastante relevante dentre sua obra.

Eu já havia dito na outra resenha, adorei esse tipo de edição em capa dura e fico muito feliz por ter mais um livro do escritor com essa edição. Espero que a Companhia das Letras decida reeditar outras obras do Kundera, especialmente A Insustentável Leveza do Ser, para fazer parte dessa coleção. Preciso muito reler esse romance!
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Magasoares 23/06/2020

A essência do ser humano.
O homem pode pôr fim à sua vida.
Mas não pode pôr fim à sua Imortalidade (..) Moral da estória: nós só somos aquilo que deixamos, se você deixa amor, será amado eternamente, se deixa ódio, será odiado.
Recomendo.
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