Poética

Poética Ana Cristina Cesar




Resenhas - Poética


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Felps / @felpssevero 29/08/2019

Chegar ao final de um livro de 500 páginas, fechá-lo e admitir "Ok, eu não entendi bulhufas".

Faz poucos anos que comecei a ler poesia regularmente, então acho que ainda não tenho maturidade literária pra apreciar um livro como esse. Foi um trabalho de Hércules chegar ao fim, depois de cinco meses sofridos de leitura.
Nanda 08/09/2019minha estante

Pena que não gostou.
Talvez goste depois um tempo. Certas leituras
são boas ou não em determinados
momentos da vida. :)


Luisa Cruz 09/08/2020minha estante
Concordo.


Cinara... 21/05/2021minha estante
Cinco meses pra mim teria sido uma tortura, tentei engolir rápido igual remedio ruim? tampei o nariz e fui embora... eu não me imagino por tanto tempo carregando esse livro. Você foi forte!?




Cinara... 21/05/2021

A escola tem uma biblioteca. Uma escadinha de metal para alcançar mais alto, onde chove e não faz sol. Lá tem pó. A biblioteca tem dois tempos alternantes. Janelões emperrados. Tempo de silêncio espremido cômico leitor. Frinchas e vento encanado encenando cagando para as letras. Tempo de oncinhos fifecos, alunelhos, bundinhas rápidas e tranças. A biblioteca não é moderna. Na estante velha não tem romance incertos, só certos. Bolor. Calor. Lombo lombada, lambida, relida. Eu quero aquele livro que dá tesão, não,?"

Se eu consegui achar sentindo em 25% foi muito! (Estou sendo otimista na porcentagem!) Mas as coisas que "acho" que entendi gostei.

"Falta em Machado a menção a peidos. Peido incessantemente. Peidos presos oprimem."

Nunca imaginei ler numa frase algo que relacionasse as palavras Machado de Assis e peido. Eu realmente não sei do que achar sobre isso. Se não for o Machado de Assis alguém me corrija. Mas se for, Ana não falta nada de peidos em Machado! Graças que não têm!

Sei que poesia é algo bem pessoal, mas como as pessoas fazem pra entender um pensamento que só o poeta tinha na cabeça? Pra mim fica muito desconectado, fragmentado. Você lê achando que ela está querendo falar da brisa da noite, mas daí aparece um peido, o que te garante que não? ??

Posso escrever...

"Fogos-fátuos de dia, cantam minha dor da alegria de acordar." - Total minha autoria ?? Podem achar que não gosto de acordar ao lerem isso, mas na real não consigo dormir por muito tempo ????

Como se entende a poesia de alguém? Sem que esse alguém explique?
Então mesmo gostando de certos fragmentos, não foi pra mim.

Acho incrível a nota dele ser bem alta! Como as pessoas entendem??? Comooo????
Mariafariak 29/04/2023minha estante
O bom da poesia, é que como usam para se expressar, quando lemos e a pessoa não explica, vai da sua interpretação
Por isso(na maioria das vezes) cada um tem uma interpretação diferente, e isso que é o legap


Michele Soares 16/07/2023minha estante
Spoiler: não entendem. É impossível entender tudo, a graça de Ana (e da boa literatura) é escapar, ser escorregadia. Eu tive meus altos e baixos também, mas terminei o livro mais gostando que desgostando!




Léia Viana 03/03/2014

“Por afrontamento do desejo / insisto na maldade de escrever / mas não sei se a deusa sobe à superfície / ou apenas me castiga com seus uivos...”
Eu sempre tive muita vontade de ler Ana Cristina Cesar, ou, Ana Cristina C., mas, a dificuldade de encontrar seus livros, especialmente “A teus pés”, aumentava ainda mais minha curiosidade e minha vontade de ler, não somente a esta obra, mas a todos os outros escritos por ela. Pesquisava pela internet, em alguns sites e blogs literários, mas o que havia por lá era muito pouco para saciar a minha vontade de saber um pouco mais.

Sou apaixonada por poesias, desde que me conheço por gente, descobri nos poemas a magia, o enquadramento do mundo e de nossos sentimentos.

“Preciso voltar e olhar de novo aqueles dois quartos vazios.”

Fui avisada desta publicação pelo atendente de uma livraria que frequento. É claro que não podia deixar de ter a oportunidade de ler todas as suas obras publicadas. A minha alegria foi ainda maior ao perceber que, além disso, havia muito mais de Ana C. naquele livro. Em um único volume, havia além de posfácio e cronologia, desenhos e rascunhos feitos por ela que se revelaria em um belo presente a todos os leitores e fãs.

“é preciso fazer o inventário / do que restou / e do que levaram / apesar da grande comoção que ata / parece que ata mãos e pés / e nem desata”

A sensação durante a leitura foi a de que a vida doía em Ana C., era como se fosse, o tempo todo, um soco bem no meio do estômago, que lhe roupava o ar e desnorteava os sentidos “Os poemas são para nós uma ferida.”, difícil ficar indiferente a seus escritos e sair ileso do que se lê. É o retrato de uma época que não se passa, é a vida, é o amor, é apenas a beleza, a alegria, a tristeza e a dor e agonia de viver em palavras, versos, poemas.

“Tarde aprendi
Bom mesmo
É dar a alma
como lavada.”

Adorei a capa, o seu colorido que é a cara das décadas de 70 / 80, o título e a cor de suas folhas, delicadamente amareladas, como se quisesse passar a sensação de que o tempo havia passado. Tudo muito carinhosamente caprichado, sem perder a autenticidade da época em que foram escritos. Entretanto, são poemas, frases, cartas, fragmentos de textos, desenhos, que, passe o tempo que passar, jamais deixará de ser atuais.

“Não, a poesia não pode esperar.”

Leitura recomendada!


site: http://caminhodasborboletas74.arteblog.com.br/1095435/Poetica-Ana-Cristina-Cesar/#addcomment
Renata CCS 01/04/2014minha estante
Adoro poesia e não conhecia esta escritora. Parece-me uma leitura fascinante pela sua bela resenha!




petite-luana 02/04/2016

"Amor, isto não é um livro, sou eu que você segura e sou eu que te seguro"
Ana Cristina Cesar nasceu em 2 de junho de 1952 no Rio de Janeiro, faleceu em 1983 ao se jogar do 8a. andar do apartamento de seus pais. Ela faz parte de um movimento literário brasileiro que ganhou vida em meados da década de 70 e estendido aos inícios dos anos 80, ao lado de outros poetas e escritores, Ana Cristina Cesar faz parte da chamada "geração mimeógrafo" (também denominado movimento sensual e na poesia como "geração marginal"), são resquícios de uma geração marcada pela contracultura e pela ditadura militar no Brasil, essa geração criticava a situação política e cultural do Brasil, bem como os processos editoriais existentes na época, e exatamente por isso, elaboravam e distribuíam eles mesmos os seus livros. Entender esse ambiente é importante para compreender um pouco mais da autora, que trazia muito próxima a ela essa voz que ia de encontro ao poder vigente.

Ana Cristina Cesar possui uma escrita muito confessional, transitando entre gêneros literários que a desnudam diante do leitor, como o diário e a carta, e construindo uma poesia que namora a prosa e a métrica. Toda sua sua poesia é marcada pela apreensão do momento enquanto ele ocorre, talvez exatamente por isso seja por vezes tão fragmentada, como se o escrito fosse o pensamento ainda sem ordem, não a fala organizada. Não é fácil falar de Ana Cristina Cesar, sua escrita é de sabor muito íntimo, costurados entre um eu lírico e um agente real, por vezes, Ana se mostra e se esconde, como em uma brincadeira de sombras, onde quem assiste participa ora dizendo o que vê pura e simplesmente ora se vendo na sombra do outro. Ana Cristina Cesar traz na poesia uma vida que é escrita enquanto é vivida e traz o leitor ali para o seu lado, cúmplice de tudo, o poema não existe sem essa interlocução; me parece que toda a sua obra é um "não deixar morrer" entre a voz que escreve e a que lê, um diálogo. Acredito que definir a obra de Ana Cristina Cesar é limitar os enormes braços que podem alcançar diferentes públicos, tocar diferentes cantos da existência muito intima de cada um. Sinto que a obra de Ana Cristina Cesar é para ser lida como quem escreve uma carta a outro (ou um diário?) buscando falar a si mesmo. Uma sugestão para quem não se conecta tão de imediato com o trabalho dela, é começar, talvez, por "Ao teus pés" e/ou "Inéditos e dispersos", que traz uma obra menos voltada pra si mesma e que dialoga mais com quem lê, bem, ao menos foi como se deu a minha experiência ao ler toda poética de Ana Cristina Cesar.

obs: vou compartilhar aqui nos comentários o meu "histórico de leitura" a cada livro da coletânea, talvez seja interessante para mais alguém, para podermos trocar informações e olhares sobre a obra.

site: petite-luana.blogspot.com
petite-luana 02/04/2016minha estante
* "Cenas de Abril" (1979), primeiro livro da Ana Cristina Cesar. Gostei especialmente de "recuperação da adolescência"; "primeira lição"; ?nestas circunstâncias o beija-flor vem sempre aos milhares?; "16 de junho"; "21 de fevereiro". Os outros, em maioria, não me tocaram ou tive dificuldade em compreender, me pareceram um tanto confusos e muito íntimos, de assuntos escritos muito para si mesma e que não foi possível estabelecer conexão eu e a leitura.

* "Correspondência Completa" (1979), em que a autora assina como Ana Cristina C.; A personagem Julia escreve uma longa carta a alguém querido não nomeado, a carta tem ares de diário, fala do cotidiano, suas dores e conclusões, se inicia com "my dear", o destinatário talvez seja ela mesma, uma confissão a seu alter ego, de Ana Cristina Cesar para Ana Cristina C., ou talvez a correspondência sem destinatário específico seja para todos que a leem ou para ninguém.

* "Luvas de Pelica" (1980) em que novamente a autora assina como Ana Cristina C.; é um texto híbrido, algo entre o esboço de um romance, um misto de poema e prosa, diário e carta melancólica. Ela parafraseia Walt Whitman, dizendo que isso não é um livro, mas ela mesma que o leitor tem em mãos e o que faz com que ela também tenha em suas mãos, o leitor; pra mim, isso define a experiência de leitura da poética de Ana Cristina Cesar, uma via de duas mãos entra a poeta e o leitor.

* "A teus pés" (1982), em que Ana Cristina Cesar volta a assinar com os três nomes, também na escrita ela busca se alongar, os poemas se tornam mais extensos e também os senti mais pesados. Em uma lista de preferidos, marco quase todos: a prosa poética de abertura; "sete chaves"; "inverno europeu"; "noite carioca"; "marfim"; "mocidade independente"; "cartilha de cura"; "atrás dos olhos da menina séria"; "duas antigas" I e II; "vacilo da vocação"; "cabeceira"; "o homem público n.1 (antologia)"; "pour mémoire"; "samba-canção"; "lá fora"; "sábado de aleluia"; "fogo do final".

* "Inéditos e dispersos", lançado após a morte de Ana Cristina Cesar, que ocorreu em 1983. A obra foi organizada por Armando Freitas Filho, grande amigo da autora, reúne textos que vão dos anos de 1961 até 1983, estes textos estavam guardados em quatro caixas de papelão que, por ordem da própria Ana Cristina, foram deixadas na casa de Armando pelos pais dela. O que mais me tocou: "esvoaça... esvoaça..."; "chove"; "quando chegar"; "quartetos"; "ciúmes"; "onze horas"; "soneto"; "fagulha"; "toalha branca"; "ante-sonho"; "nó"; "fevereiro"; "vista"; "arte-manhas de um gasto gato"; "gota a gota"; "carta de paris"; "poesia"; "back again"; "o que vejo daqui"; "ulysses"; "como chapeuzinho"; "o anjo que registra" I e II; "contagem regressiva"; "fama e fortuna"; E os escritos sem título escritos em: 4.2.69; 5.2.69; 11.2.69; 2.10.72; 10.1.82; 20.7.83; 23.7.83; 16.10.83;"

* "Antigos e soltos", que tem como codinome "pasta rosa" por serem textos deixados por Ana Cristina Cesar dentro de uma pasta rosa em seu armário, a pasta foi guardada pela mãe da autora que mais tarde doou a pasta para o Instituto Moreira Salles, foi organizado para publicação por Viviana Bosi. Os poemas que compõem o livro são majoritariamente dos anos 70, a autora titulou esse apanhado de prosa/poesia como "prontos mas rejeitados", provavelmente foram rejeitados do livro Cenas de Abril, que saiu em 1979.

* O sétimo livro indicado na coletânea é "Livro", um conto estendido que foi para a Ana Cristina Cesar um exercício de prosa, uma tentativa de escrever um romance.

* Na sequência, no final dessa coletânea "Poética" é apresentado "visita à oficina", um reunião de trabalhos de Ana Cristina Cesar pesquisados no arquivo no Instituto Moreira Sales por Mario Marovatto. No livro, é feito a transcrição e é também apresentado fac-símiles. São textos inéditos (alguns exercícios de escrita outros quase dados como prontos) que ficaram na oficina de Ana. Gostei em especial de: "quase"; "holocausto"; "por que sou uma pessoa, e uma só?"; "un signal d'arrêt"; "meios de transporte". Por fim, segue-se o "apêndice", com diversos textos de apoio e textos de pessoas íntimas a Ana, nos quais eles falam sobre ela e sua obra.




João Henrique 23/05/2021

Decolagem Lancinante - baque de fuzil
a teus pés [1982]. Com a minúsculo mesmo. Livre de forma e regra. ?Decolagem lancinante - baque de fuzil?. Íntimo e fragmentado, assim como Luvas de Pelica - [1980] - meu favorito - e Cenas de Abril [1979]. A porta marginal-não-marginal.

Li seu texto de cabo a rabo, necessidade voraz, feroz. Li como se estivesse por perto, ensaiando para mim, me convidando para seu mundo. Ainda me pego daydreaming suas metáforas... ?Era noite e uma luva de angústia me afagava o pescoço? ou ?Noite de Natal. Estou bonita que é um desperdício. Não sinto nada. Não sinto nada, mamãe?.

Eu não esperava esse deep dive tão intenso! Eu não esperava me acostumar com seu verso livre e irregular, essa intimidade fingida. Não esperava, em suas palavras, atingir o ?bliss?.

Um sidenote: sou contra a publicação dos textos que a autora explicitamente nunca quis publicar. Acho que Ana C. sabia exatamente a poesia que queria deixar; breve, íntima, pungente y livre, livre, livre.

Um, dois muitos, versos sublinhados:

?Cada noite que desce sobre uma espera vã traz-me à boca um gosto de vinagre, aos ouvidos um som qualquer que ensurdeça. Ninguém se disse adeus, e na ausência de luz alguém está morrendo sozinho. Cada vez que não morremos parece-me que demos mais um passo para trás, progredimos no sentido inverso, chegamos, pois que nos levantamos para prosseguir.?
@bookytimes 24/05/2021minha estante
boa resenha! Vou deixar na lista




Mila F. @delivroemlivro_ 03/02/2014

Só pra quem gosta de poesia
Este livro contempla as publicações de livros e também inéditos. Temos: Cenas de Abril, Correspondência Completa, Luvas de Pelica, A Teus Pés: prosa/poesia, Inéditos e dispersos: poesia/prosa, Antigos e Soltos: poemas e prosas da pasta rosa, Visita à Oficina.
Poética em uma palavra é: Lindo. Tempos as poesias e prosas de uma escritora que marcou a história da literatura brasileira e que cultivou uma forma peculiar de escrever, poesias/prosas que retratam o singular comum, cenas cotidianas e pensamentos fugazes ou não, Ana C. fala descaradamente de sentimentos pulsantes que não são vistos, mas sentidos, fala do âmago da alma.
Sua forma de escrever que muitas vezes parece um devaneio desordenado, mostra cenas e lapsos de vida, vida que vem acompanhada de morte, porque viver é estar a um passo de morrer. Vida comum, embebidas de comportamentos amorosos, tensos e raivosos.
A poesia/prosa de Ana C. é completamente atraente para os que se dispõem a ler e reler várias vezes, muitas vezes não conseguimos chegar ao âmago do que está dito se não nos propusermos a reler o que está escrito, repito: uma escrita singular.
Só posso dizer que foi uma surpresa boa conhecer a obra de Ana Cristina Cesar, pois até então não tinha lido nada da escritora, mas a li com carinho e muitas coisas ficaram, sobretudo uma vontade imensurável de falar da poesia de voz feminina, fazer um estudo da obra de Ana C. talvez eu encare o desafio!
Quero falar um pouco sobre o trabalho estético maravilhoso que a Companhia das Letras realizou em Poética, o livro tem ilustrações da própria Ana C., tem ilustração de páginas escritas manualmente por Ana e as letras do livro não são da cor padrão de todos os livros: pretas; elas são azuis!
Para finalizar, não sei se a poesia/prosa de Ana C. é para qualquer tido de leitor, possivelmente muitos irão gostar, mas uma boa quantidade de pessoas não irá. Acredito que Ana C. deve ser lido principalmente por quem gosta de poesia, mas não qualquer principiante na arte da sensibilidade em versos...


site: http://www.delivroemlivro.blogspot.com.br/
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Melissa Padilha 25/05/2014

Sou uma leitora assídua de romances e de poesias, aprendi a "ler" poesias, depois de muito tempo que me tornei leitora, antes elas pareciam todas muito enigmáticas para mim. Descobri a poesia através de Pablo Neruda, foi minha porta de entrada e por isso sempre digo que ele é meu poeta favorito.

Final do ano passado a Companhia das Letras lançou Poética de Ana Cristina César, confesso que não conhecia bem essa poeta brasileira, logo que o livro saiu tive recomendações fortíssimas de colegas que me disseram que se eu gostasse de poesia deveria ler Ana C.

Ana Cristina César poeta carioca, nascida em 2 de junho de 1952, faleceu em 1983 depois de um suicídio. Ana C. faz parte de uma geração de poetas e escritores que são conhecidos como "geração marginal" ou "geração mimeografo". Ambas as denominações estão ligadas com o fato desta geração ter criticado as formas e processos editoriais de sua época, obviamente intimamente ligada com uma geração que contestava muitas coisas, principalmente a estrutura política e cultural vigente durante o período. Grande parte da "geração mimeográfo", eram assim chamados por imprimirem suas produções de forma artesanal e fora do sistema editorial ¹.

A verdade é que a poesia de Ana Cristina César, traz referências fortes a uma contracultura que se estabeleceu em meados de 1970, porém com uma escrita bastante particular, inclusive para seus contemporâneos "marginais"². Ana C. fala sobre o cotidiano, sobre temas corriqueiros, um tanto ácidos para a época em que foram escritos, como por exemplo, sexo.

Ana C. não é uma poeta fácil de ser lida, sua poesia eu diria, precisa ser digerida de forma lenta e gradual. Principalmente por ser tratar de um cotidiano bastante íntimo nos seus textos, muitas vezes a sua poesia é tida quase como autobiográfica, porém não é esse o intuito da escritora, ou pelo menos não só esse. A poesia nos parece próxima por se tratar do dia a dia, de situações próximas e corriqueiras ao mesmo tempo que brinca com as palavras, se insinua para o leitor de modo a provoca-lo, tanto com textos aparentemente herméticos, quanto com o seu tom habitual de contestação própria de sua época e de sua poesia.

Não tenho pretensões neste texto de analisar ou discutir a obra de Ana C., nem ao menos de fazer proposições que estão fora do escopo deste blog, digo apenas que a leitura desta obra foi para mim, como que uma abertura de portas para um tipo de poesia/prosa ou mesmo literatura, completamente diferente da minha zona de conforto. Foi necessário algum tempo, muitas conversas e algumas leituras para me situar e me acostumar com as poesias. Com toda certeza não absorvi tudo aquilo que Ana Cristina pode me proporcionar, bom mas assim é a poesia que a cada nova leitura nos abre novas portas e visões.

Entender Ana C. é muita pretensão, talvez sentir sua obra seja uma classificação melhor, a suposta despretensão de seus textos, ou mesmo esse tom de cotidiano, pode fazer pensar que essa é uma autora que revela, não ela não revela, ela tranca a sete chaves seu texto com suas palavras e é obra de você leitor achar cada chave e ir descobrindo essa poeta única brasileira.


estou atrás
do despojamento mais inteiro
da simplicidade mais erma
da palavra mais recém-nascida
do inteiro mais despojado
do ermo mais simples
do nascimento a mais da palavra


Se permita transgredir ao ler Ana C. assim como ela mesmo transgrediu a poesia de seu tempo.

Nesta edição estão compiladas todas as obras de Ana Cristina César, toda a sua produção está presente porém, na sequência em que foi lançada pela autora e alguns livros póstumos, Cenas de Abril (1979), Correspondência Completa (1979), Luvas de Pelica (1980), A teus pés (1982), Inéditos e Dispersos (1985), Antigos e Soltos: poemas e prosas da pasta rosa (2008) e Visita à Oficina, uma compilação de textos inéditos encontrados nos materiais de Ana C. Além disso, o livro conta um excelentes posfácio e apêndice com mais informações e materiais sobre a autora. Para quem gosta de poesia, ou para quem gosta de Ana Cristina, está é uma edição de ouro, que não deve ficar fora da estante, além de ser extremamente bem cuidada e com excelente diagramação.

site: http://decoisasporai.blogspot.com.br/2014/04/poetica-de-ana-cristina-cesar.html
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Adriana Scarpin 19/04/2016

Artimanhas de um gato gasto
"Não sei desenhar gato.
Não sei escrever gato.
Não sei gatografia
Nem a linguagem felina das suas artimanhas
Nem as artimanhas felinas da sua não-linguagem
Nem o que o dito gato pensa do hipopótamo (não o de Eliot)
Eliot e os gatos de Eliot (Practical Cats)
Os que não sei
e nunca escreverei na tua cama.
O hipopótamo e suas hipopotas ameaçam gato (que não é hopogato)
Antes hiponímico.
Coisa com peso e forma de peso
e o nome do gato?
J. Alfred Prufrock? J. Pinto Fernandes?
o nome do gato é nome de estação de trem
o inverno dentro dos bares
a necessidade quente de tê-lo
onde vamos diariamente fingindo nomear
eu o gato e a grafia de minhas garras:
toma: lê o que eu escrevo em teu rosto
a parte que em ti é minha é gato
leio onde te tenho gato
e a gatografia que nunca sei
aprendi na marca no meu rosto
aprendi nas garras que tomei
e me tornei parte e tua gata a
saltar sobre montanhas como um gato
e deixar arco-irisado esse meu salto
saltar nem ao menos sabendo que desenho
e escrita esperam gato
saltar felinamente sobre o nome de gato
ameaçado
ameaçado o nome de GATO
ameaçado o nome de GASTO
ameaçado de morrer na gastura de meu nome
repito e me auto-ameaço:
não sei desenhar gato
não sei escrever gato
não sei gatografia
Nem"
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isa.dantas 17/05/2016

Ler Ana Cristina Cesar é difícil, é intenso, é incrível! Uma autora que merece ser lida e relida muitas vezes!
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Na Literatura Selvagem 25/08/2016

a Poética de Ana Cristina Cesar...
Sempre me deleito ao revisitar a obra de poetas que admiro, e com Ana Cristina Cesar - ou Ana C. - não seria diferente... A Editora Companhia das Letras trouxe aos seus leitores uma obra que se trata de um compilado de sua obra marginal. E é esse livro que tenho agora em mãos, e com grande deleite trago as impressões dele a vocês, leitores do blog...

Armando Freitas Filho, também poeta e amigo de Ana C. nos fala na apresentação sobre os paradoxos que permeiam os versos da autora. Ela traz pudor e ousadia numa mesma frase, é singular e anônima, é escrita que interpela a si mesma e a quem a lê.

"Preciso voltar e olhar de novo aqueles dois quartos vazios."

Cenas de Abril foi publicado em 1979 e é a primeira obra que Poética nos apresenta. Há textos em verso e textos em prosa, mas ambos os tipos nos revelam a genialidade marginal e despretensiosa de Ana na construção de seus devaneios... Ela se permite encaixar no leitor e nós nos encaixamos nas palavras dela... Correspondência Completa também é de 1979; é um texto denso e com toques de melancolia.

leia mais em

site: http://torporniilista.blogspot.com.br/2016/08/a-poetica-de-ana-cristina-cesar.html
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gablues 15/03/2024

"Fica difícil fazer literatura tendo Gil como leitor. Ele lê para desvendar mistérios e faz perguntas capciosas, pensando que cada verso oculta sintomas, segredos biográficos. Não perdoa o hermetismo. Não se confessa os próprios sentimentos. Já Mary me lê toda como literatura pura, e não entende as referências diretas."

Acho que, de primeira, é importante mencionar que talvez eu não tenha lido esse livro de maneira adequada (caso isso exista). Peguei ele numa biblioteca e sinto que isso me fez ter pressa demais ao lê-lo.
O que mais me surpreende na Ana é a sua capacidade de continuar inovadora apesar da passagem do tempo; são poucos os autores de vanguarda que conseguem se manter transgressores independentemente da época em que sejam lidos, Ana tem essa habilidade.
Minhas partes favoritas do livro são as que mostram os manuscritos e os escritos datilografados, com todas as suas revisões e anotações, alguns com parágrafos inteiros apagados. É nessas partes que se percebe que, apesar de ter um estilo irônico, chocante e debochado; uma escrita que por vezes parece apenas uma brincadeira, há aqui uma grande preocupação técnica e estética.
Gosto da constante quebra de expectativa que é ler Ana, é uma experiência irracional, chocante, incoerente e impossível de se capturar por inteiro; tudo aqui te instiga ao maximo.
É uma pena que uma escritora tão interessante e única tenha nos deixado tão cedo, só de ler as crônicas aqui presentes dá para se ter um gosto do que seria um romance escrito por Ana C. Mas também é importante comemorar sua existência e que ela, com sua efêmera passagem, tenha conseguido traçar uma ruptura definitiva no modo de construir poesia.
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Adriano.Santos 15/10/2017

Fundamentadora
se faltou em algum momento um ponto de apoio entre Whitman/Dickinson e o presente então ela fez a ponte magistralmente
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Viick 14/12/2019

Eu encontrei a Ana C. dois anos atrás, li, não entendi nada, pensei patricinha pedante destinada a patricinhas pedantes, mas eu reli e reli, e reli, e hoje eu gosto bastante do jeito dela de escrever, da forma mais do que do conteúdo, porque sim, ela é uma patricinha limitada a sua realidade de patricinha, porém genial na forma.
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Biblioteca Álvaro Guerra 10/03/2020

Ana Cristina Cesar deixou em sua breve passagem pela literatura brasileira do século XX uma marca indelével. Tornou-se um dos mais importantes representantes da poesia marginal que florescia na década de 1970, justamente pela singularidade que a distanciava das “leis do grupo”. Criou uma dicção muito própria, que conjugava a prosa e a poesia, o pop e a alta literatura.

Empreste esse livro na biblioteca pública.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788535923629
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