petite-luana 02/04/2016minha estante* "Cenas de Abril" (1979), primeiro livro da Ana Cristina Cesar. Gostei especialmente de "recuperação da adolescência"; "primeira lição"; ?nestas circunstâncias o beija-flor vem sempre aos milhares?; "16 de junho"; "21 de fevereiro". Os outros, em maioria, não me tocaram ou tive dificuldade em compreender, me pareceram um tanto confusos e muito íntimos, de assuntos escritos muito para si mesma e que não foi possível estabelecer conexão eu e a leitura.
* "Correspondência Completa" (1979), em que a autora assina como Ana Cristina C.; A personagem Julia escreve uma longa carta a alguém querido não nomeado, a carta tem ares de diário, fala do cotidiano, suas dores e conclusões, se inicia com "my dear", o destinatário talvez seja ela mesma, uma confissão a seu alter ego, de Ana Cristina Cesar para Ana Cristina C., ou talvez a correspondência sem destinatário específico seja para todos que a leem ou para ninguém.
* "Luvas de Pelica" (1980) em que novamente a autora assina como Ana Cristina C.; é um texto híbrido, algo entre o esboço de um romance, um misto de poema e prosa, diário e carta melancólica. Ela parafraseia Walt Whitman, dizendo que isso não é um livro, mas ela mesma que o leitor tem em mãos e o que faz com que ela também tenha em suas mãos, o leitor; pra mim, isso define a experiência de leitura da poética de Ana Cristina Cesar, uma via de duas mãos entra a poeta e o leitor.
* "A teus pés" (1982), em que Ana Cristina Cesar volta a assinar com os três nomes, também na escrita ela busca se alongar, os poemas se tornam mais extensos e também os senti mais pesados. Em uma lista de preferidos, marco quase todos: a prosa poética de abertura; "sete chaves"; "inverno europeu"; "noite carioca"; "marfim"; "mocidade independente"; "cartilha de cura"; "atrás dos olhos da menina séria"; "duas antigas" I e II; "vacilo da vocação"; "cabeceira"; "o homem público n.1 (antologia)"; "pour mémoire"; "samba-canção"; "lá fora"; "sábado de aleluia"; "fogo do final".
* "Inéditos e dispersos", lançado após a morte de Ana Cristina Cesar, que ocorreu em 1983. A obra foi organizada por Armando Freitas Filho, grande amigo da autora, reúne textos que vão dos anos de 1961 até 1983, estes textos estavam guardados em quatro caixas de papelão que, por ordem da própria Ana Cristina, foram deixadas na casa de Armando pelos pais dela. O que mais me tocou: "esvoaça... esvoaça..."; "chove"; "quando chegar"; "quartetos"; "ciúmes"; "onze horas"; "soneto"; "fagulha"; "toalha branca"; "ante-sonho"; "nó"; "fevereiro"; "vista"; "arte-manhas de um gasto gato"; "gota a gota"; "carta de paris"; "poesia"; "back again"; "o que vejo daqui"; "ulysses"; "como chapeuzinho"; "o anjo que registra" I e II; "contagem regressiva"; "fama e fortuna"; E os escritos sem título escritos em: 4.2.69; 5.2.69; 11.2.69; 2.10.72; 10.1.82; 20.7.83; 23.7.83; 16.10.83;"
* "Antigos e soltos", que tem como codinome "pasta rosa" por serem textos deixados por Ana Cristina Cesar dentro de uma pasta rosa em seu armário, a pasta foi guardada pela mãe da autora que mais tarde doou a pasta para o Instituto Moreira Salles, foi organizado para publicação por Viviana Bosi. Os poemas que compõem o livro são majoritariamente dos anos 70, a autora titulou esse apanhado de prosa/poesia como "prontos mas rejeitados", provavelmente foram rejeitados do livro Cenas de Abril, que saiu em 1979.
* O sétimo livro indicado na coletânea é "Livro", um conto estendido que foi para a Ana Cristina Cesar um exercício de prosa, uma tentativa de escrever um romance.
* Na sequência, no final dessa coletânea "Poética" é apresentado "visita à oficina", um reunião de trabalhos de Ana Cristina Cesar pesquisados no arquivo no Instituto Moreira Sales por Mario Marovatto. No livro, é feito a transcrição e é também apresentado fac-símiles. São textos inéditos (alguns exercícios de escrita outros quase dados como prontos) que ficaram na oficina de Ana. Gostei em especial de: "quase"; "holocausto"; "por que sou uma pessoa, e uma só?"; "un signal d'arrêt"; "meios de transporte". Por fim, segue-se o "apêndice", com diversos textos de apoio e textos de pessoas íntimas a Ana, nos quais eles falam sobre ela e sua obra.