Poética

Poética Ana Cristina Cesar




Resenhas - Poética


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Cinara... 21/05/2021

A escola tem uma biblioteca. Uma escadinha de metal para alcançar mais alto, onde chove e não faz sol. Lá tem pó. A biblioteca tem dois tempos alternantes. Janelões emperrados. Tempo de silêncio espremido cômico leitor. Frinchas e vento encanado encenando cagando para as letras. Tempo de oncinhos fifecos, alunelhos, bundinhas rápidas e tranças. A biblioteca não é moderna. Na estante velha não tem romance incertos, só certos. Bolor. Calor. Lombo lombada, lambida, relida. Eu quero aquele livro que dá tesão, não,?"

Se eu consegui achar sentindo em 25% foi muito! (Estou sendo otimista na porcentagem!) Mas as coisas que "acho" que entendi gostei.

"Falta em Machado a menção a peidos. Peido incessantemente. Peidos presos oprimem."

Nunca imaginei ler numa frase algo que relacionasse as palavras Machado de Assis e peido. Eu realmente não sei do que achar sobre isso. Se não for o Machado de Assis alguém me corrija. Mas se for, Ana não falta nada de peidos em Machado! Graças que não têm!

Sei que poesia é algo bem pessoal, mas como as pessoas fazem pra entender um pensamento que só o poeta tinha na cabeça? Pra mim fica muito desconectado, fragmentado. Você lê achando que ela está querendo falar da brisa da noite, mas daí aparece um peido, o que te garante que não? ??

Posso escrever...

"Fogos-fátuos de dia, cantam minha dor da alegria de acordar." - Total minha autoria ?? Podem achar que não gosto de acordar ao lerem isso, mas na real não consigo dormir por muito tempo ????

Como se entende a poesia de alguém? Sem que esse alguém explique?
Então mesmo gostando de certos fragmentos, não foi pra mim.

Acho incrível a nota dele ser bem alta! Como as pessoas entendem??? Comooo????
Mariafariak 29/04/2023minha estante
O bom da poesia, é que como usam para se expressar, quando lemos e a pessoa não explica, vai da sua interpretação
Por isso(na maioria das vezes) cada um tem uma interpretação diferente, e isso que é o legap


Michele Soares 16/07/2023minha estante
Spoiler: não entendem. É impossível entender tudo, a graça de Ana (e da boa literatura) é escapar, ser escorregadia. Eu tive meus altos e baixos também, mas terminei o livro mais gostando que desgostando!




joaoggur 05/12/2023

Mergulho em um naufragado navio.
?Nós estamos em plena decadência. Eu e você estamos em plena decadência. A nossa relação está em plena decadência. Quando duas pessoas chegam a se dizer isso tranquilamente, é sinal de terra à vista. Nem tudo é um naufrágio na vida. Mas um dia eu ainda me afogo no álcool.?

Todas as vezes que ando por Copacabana, penso em Ana Cristina César. Penso na habilidade que seus olhos tinham de observar uma realidade fora de nossos alcances, quase como uma dimensão nova.

E, mesmo sendo claro que sua poesia é sinônimo de originalidade e psicodelismo, admito que não consegui me identificar com sua escrita (uma tarefa que acho, particularmente, difícil). Entendo sua relevância para a ?Geração Mimeógrafo?, tal como seu retrato de uma legião de poetas cariocas; e isto não faz me simpatizar.
A originalidade, muitas vezes, se torna monótona; o ato de lermos páginas e páginas e nada entendermos só atrapalha a obra (o não entendimento pode ser muito benéfico a uma obra; o que, neste caso, não acontece).

A edição é farta, com uma pluralidade de manuscritos da autora e inúmeros ensaios sobre a supracitada (que, por serem assinados por amigos pessoais de Ana, é de se admitir que eles colocam sobre seus ombros uma genialidade um pouco difícil de ser observada).

Em suma, creio que vá do gosto de cada um; poesia é sempre uma degustação.
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Léia Viana 03/03/2014

“Por afrontamento do desejo / insisto na maldade de escrever / mas não sei se a deusa sobe à superfície / ou apenas me castiga com seus uivos...”
Eu sempre tive muita vontade de ler Ana Cristina Cesar, ou, Ana Cristina C., mas, a dificuldade de encontrar seus livros, especialmente “A teus pés”, aumentava ainda mais minha curiosidade e minha vontade de ler, não somente a esta obra, mas a todos os outros escritos por ela. Pesquisava pela internet, em alguns sites e blogs literários, mas o que havia por lá era muito pouco para saciar a minha vontade de saber um pouco mais.

Sou apaixonada por poesias, desde que me conheço por gente, descobri nos poemas a magia, o enquadramento do mundo e de nossos sentimentos.

“Preciso voltar e olhar de novo aqueles dois quartos vazios.”

Fui avisada desta publicação pelo atendente de uma livraria que frequento. É claro que não podia deixar de ter a oportunidade de ler todas as suas obras publicadas. A minha alegria foi ainda maior ao perceber que, além disso, havia muito mais de Ana C. naquele livro. Em um único volume, havia além de posfácio e cronologia, desenhos e rascunhos feitos por ela que se revelaria em um belo presente a todos os leitores e fãs.

“é preciso fazer o inventário / do que restou / e do que levaram / apesar da grande comoção que ata / parece que ata mãos e pés / e nem desata”

A sensação durante a leitura foi a de que a vida doía em Ana C., era como se fosse, o tempo todo, um soco bem no meio do estômago, que lhe roupava o ar e desnorteava os sentidos “Os poemas são para nós uma ferida.”, difícil ficar indiferente a seus escritos e sair ileso do que se lê. É o retrato de uma época que não se passa, é a vida, é o amor, é apenas a beleza, a alegria, a tristeza e a dor e agonia de viver em palavras, versos, poemas.

“Tarde aprendi
Bom mesmo
É dar a alma
como lavada.”

Adorei a capa, o seu colorido que é a cara das décadas de 70 / 80, o título e a cor de suas folhas, delicadamente amareladas, como se quisesse passar a sensação de que o tempo havia passado. Tudo muito carinhosamente caprichado, sem perder a autenticidade da época em que foram escritos. Entretanto, são poemas, frases, cartas, fragmentos de textos, desenhos, que, passe o tempo que passar, jamais deixará de ser atuais.

“Não, a poesia não pode esperar.”

Leitura recomendada!


site: http://caminhodasborboletas74.arteblog.com.br/1095435/Poetica-Ana-Cristina-Cesar/#addcomment
Renata CCS 01/04/2014minha estante
Adoro poesia e não conhecia esta escritora. Parece-me uma leitura fascinante pela sua bela resenha!




pinksuricato 28/06/2022

aventura bruta (em versos)
"Poética" é um livro de 500 páginas do qual não consegui largar enquanto lia. Mesmo na minha terceira leitura de Ao Teus Pés, me vi enfeitiçada pela poesia de Ana Cristina César. A partir de "Ineditos e Dispersos", me encontrei completamente entregue a essa poética que diz tanto, mesmo sem dizer nada.

"Um poema exige pouco e muito: olhos abertos e entre tantas outras coisas, paciência e imaginação.", diz Silviano Santiago em um dos textos presentes ao final do livro, intitulado "singular e anônimo". Talvez esteja aí o segredo, o pulo do gato para engatar nessa leitura que tantos rotulam como dificil e complicada: imaginar. Em outro momento do texto, Silviano complementa essa idéia: "Você endossa uma leitura quando dela se apropria, atestando a sua qualidade e fidelidade ao original, assumindo a propriedade dela".

Ler Ana C. é como espiar o diário de alguém, conferir correspondencias destinadas a outra pessoa, e encontrar enigmas misturados a relatos de situações cotidianas. É se apropriando do texto e se utilizando da imaginação que é possível ligar os pontos, percebendo o humor e a franqueza de cada poema.

Sou fã de Ana Cristina César e a cada leitura de seus poemas descubro coisas novas. Detalhes escondidos ou referências perdidas na minha memória. "Poética", coletanêa de seus trabalhos lançados em vida e póstumos, talvez não seja a melhor porta de entrada para um leitor novo - o número de paginas e a quantidade de poemas talvez seja um pouco intimidador à primeira vista e, nesse caso, recomendo ler, antes de tudo, o livro "Ao Teus Pés". No entanto, para aqueles que, assim como eu, nutrem uma grande admiração pelo trabalho da poeta há algum tempo, esse livro será um verdadeiro tesouro.

site: https://pipocaflamejante.tumblr.com/
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João Henrique 23/05/2021

Decolagem Lancinante - baque de fuzil
a teus pés [1982]. Com a minúsculo mesmo. Livre de forma e regra. ?Decolagem lancinante - baque de fuzil?. Íntimo e fragmentado, assim como Luvas de Pelica - [1980] - meu favorito - e Cenas de Abril [1979]. A porta marginal-não-marginal.

Li seu texto de cabo a rabo, necessidade voraz, feroz. Li como se estivesse por perto, ensaiando para mim, me convidando para seu mundo. Ainda me pego daydreaming suas metáforas... ?Era noite e uma luva de angústia me afagava o pescoço? ou ?Noite de Natal. Estou bonita que é um desperdício. Não sinto nada. Não sinto nada, mamãe?.

Eu não esperava esse deep dive tão intenso! Eu não esperava me acostumar com seu verso livre e irregular, essa intimidade fingida. Não esperava, em suas palavras, atingir o ?bliss?.

Um sidenote: sou contra a publicação dos textos que a autora explicitamente nunca quis publicar. Acho que Ana C. sabia exatamente a poesia que queria deixar; breve, íntima, pungente y livre, livre, livre.

Um, dois muitos, versos sublinhados:

?Cada noite que desce sobre uma espera vã traz-me à boca um gosto de vinagre, aos ouvidos um som qualquer que ensurdeça. Ninguém se disse adeus, e na ausência de luz alguém está morrendo sozinho. Cada vez que não morremos parece-me que demos mais um passo para trás, progredimos no sentido inverso, chegamos, pois que nos levantamos para prosseguir.?
@bookytimes 24/05/2021minha estante
boa resenha! Vou deixar na lista




Felps / @felpssevero 29/08/2019

Chegar ao final de um livro de 500 páginas, fechá-lo e admitir "Ok, eu não entendi bulhufas".

Faz poucos anos que comecei a ler poesia regularmente, então acho que ainda não tenho maturidade literária pra apreciar um livro como esse. Foi um trabalho de Hércules chegar ao fim, depois de cinco meses sofridos de leitura.
Nanda 08/09/2019minha estante

Pena que não gostou.
Talvez goste depois um tempo. Certas leituras
são boas ou não em determinados
momentos da vida. :)


Luisa Cruz 09/08/2020minha estante
Concordo.


Cinara... 21/05/2021minha estante
Cinco meses pra mim teria sido uma tortura, tentei engolir rápido igual remedio ruim? tampei o nariz e fui embora... eu não me imagino por tanto tempo carregando esse livro. Você foi forte!?




Melissa Padilha 25/05/2014

Sou uma leitora assídua de romances e de poesias, aprendi a "ler" poesias, depois de muito tempo que me tornei leitora, antes elas pareciam todas muito enigmáticas para mim. Descobri a poesia através de Pablo Neruda, foi minha porta de entrada e por isso sempre digo que ele é meu poeta favorito.

Final do ano passado a Companhia das Letras lançou Poética de Ana Cristina César, confesso que não conhecia bem essa poeta brasileira, logo que o livro saiu tive recomendações fortíssimas de colegas que me disseram que se eu gostasse de poesia deveria ler Ana C.

Ana Cristina César poeta carioca, nascida em 2 de junho de 1952, faleceu em 1983 depois de um suicídio. Ana C. faz parte de uma geração de poetas e escritores que são conhecidos como "geração marginal" ou "geração mimeografo". Ambas as denominações estão ligadas com o fato desta geração ter criticado as formas e processos editoriais de sua época, obviamente intimamente ligada com uma geração que contestava muitas coisas, principalmente a estrutura política e cultural vigente durante o período. Grande parte da "geração mimeográfo", eram assim chamados por imprimirem suas produções de forma artesanal e fora do sistema editorial ¹.

A verdade é que a poesia de Ana Cristina César, traz referências fortes a uma contracultura que se estabeleceu em meados de 1970, porém com uma escrita bastante particular, inclusive para seus contemporâneos "marginais"². Ana C. fala sobre o cotidiano, sobre temas corriqueiros, um tanto ácidos para a época em que foram escritos, como por exemplo, sexo.

Ana C. não é uma poeta fácil de ser lida, sua poesia eu diria, precisa ser digerida de forma lenta e gradual. Principalmente por ser tratar de um cotidiano bastante íntimo nos seus textos, muitas vezes a sua poesia é tida quase como autobiográfica, porém não é esse o intuito da escritora, ou pelo menos não só esse. A poesia nos parece próxima por se tratar do dia a dia, de situações próximas e corriqueiras ao mesmo tempo que brinca com as palavras, se insinua para o leitor de modo a provoca-lo, tanto com textos aparentemente herméticos, quanto com o seu tom habitual de contestação própria de sua época e de sua poesia.

Não tenho pretensões neste texto de analisar ou discutir a obra de Ana C., nem ao menos de fazer proposições que estão fora do escopo deste blog, digo apenas que a leitura desta obra foi para mim, como que uma abertura de portas para um tipo de poesia/prosa ou mesmo literatura, completamente diferente da minha zona de conforto. Foi necessário algum tempo, muitas conversas e algumas leituras para me situar e me acostumar com as poesias. Com toda certeza não absorvi tudo aquilo que Ana Cristina pode me proporcionar, bom mas assim é a poesia que a cada nova leitura nos abre novas portas e visões.

Entender Ana C. é muita pretensão, talvez sentir sua obra seja uma classificação melhor, a suposta despretensão de seus textos, ou mesmo esse tom de cotidiano, pode fazer pensar que essa é uma autora que revela, não ela não revela, ela tranca a sete chaves seu texto com suas palavras e é obra de você leitor achar cada chave e ir descobrindo essa poeta única brasileira.


estou atrás
do despojamento mais inteiro
da simplicidade mais erma
da palavra mais recém-nascida
do inteiro mais despojado
do ermo mais simples
do nascimento a mais da palavra


Se permita transgredir ao ler Ana C. assim como ela mesmo transgrediu a poesia de seu tempo.

Nesta edição estão compiladas todas as obras de Ana Cristina César, toda a sua produção está presente porém, na sequência em que foi lançada pela autora e alguns livros póstumos, Cenas de Abril (1979), Correspondência Completa (1979), Luvas de Pelica (1980), A teus pés (1982), Inéditos e Dispersos (1985), Antigos e Soltos: poemas e prosas da pasta rosa (2008) e Visita à Oficina, uma compilação de textos inéditos encontrados nos materiais de Ana C. Além disso, o livro conta um excelentes posfácio e apêndice com mais informações e materiais sobre a autora. Para quem gosta de poesia, ou para quem gosta de Ana Cristina, está é uma edição de ouro, que não deve ficar fora da estante, além de ser extremamente bem cuidada e com excelente diagramação.

site: http://decoisasporai.blogspot.com.br/2014/04/poetica-de-ana-cristina-cesar.html
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petite-luana 02/04/2016

"Amor, isto não é um livro, sou eu que você segura e sou eu que te seguro"
Ana Cristina Cesar nasceu em 2 de junho de 1952 no Rio de Janeiro, faleceu em 1983 ao se jogar do 8a. andar do apartamento de seus pais. Ela faz parte de um movimento literário brasileiro que ganhou vida em meados da década de 70 e estendido aos inícios dos anos 80, ao lado de outros poetas e escritores, Ana Cristina Cesar faz parte da chamada "geração mimeógrafo" (também denominado movimento sensual e na poesia como "geração marginal"), são resquícios de uma geração marcada pela contracultura e pela ditadura militar no Brasil, essa geração criticava a situação política e cultural do Brasil, bem como os processos editoriais existentes na época, e exatamente por isso, elaboravam e distribuíam eles mesmos os seus livros. Entender esse ambiente é importante para compreender um pouco mais da autora, que trazia muito próxima a ela essa voz que ia de encontro ao poder vigente.

Ana Cristina Cesar possui uma escrita muito confessional, transitando entre gêneros literários que a desnudam diante do leitor, como o diário e a carta, e construindo uma poesia que namora a prosa e a métrica. Toda sua sua poesia é marcada pela apreensão do momento enquanto ele ocorre, talvez exatamente por isso seja por vezes tão fragmentada, como se o escrito fosse o pensamento ainda sem ordem, não a fala organizada. Não é fácil falar de Ana Cristina Cesar, sua escrita é de sabor muito íntimo, costurados entre um eu lírico e um agente real, por vezes, Ana se mostra e se esconde, como em uma brincadeira de sombras, onde quem assiste participa ora dizendo o que vê pura e simplesmente ora se vendo na sombra do outro. Ana Cristina Cesar traz na poesia uma vida que é escrita enquanto é vivida e traz o leitor ali para o seu lado, cúmplice de tudo, o poema não existe sem essa interlocução; me parece que toda a sua obra é um "não deixar morrer" entre a voz que escreve e a que lê, um diálogo. Acredito que definir a obra de Ana Cristina Cesar é limitar os enormes braços que podem alcançar diferentes públicos, tocar diferentes cantos da existência muito intima de cada um. Sinto que a obra de Ana Cristina Cesar é para ser lida como quem escreve uma carta a outro (ou um diário?) buscando falar a si mesmo. Uma sugestão para quem não se conecta tão de imediato com o trabalho dela, é começar, talvez, por "Ao teus pés" e/ou "Inéditos e dispersos", que traz uma obra menos voltada pra si mesma e que dialoga mais com quem lê, bem, ao menos foi como se deu a minha experiência ao ler toda poética de Ana Cristina Cesar.

obs: vou compartilhar aqui nos comentários o meu "histórico de leitura" a cada livro da coletânea, talvez seja interessante para mais alguém, para podermos trocar informações e olhares sobre a obra.

site: petite-luana.blogspot.com
petite-luana 02/04/2016minha estante
* "Cenas de Abril" (1979), primeiro livro da Ana Cristina Cesar. Gostei especialmente de "recuperação da adolescência"; "primeira lição"; ?nestas circunstâncias o beija-flor vem sempre aos milhares?; "16 de junho"; "21 de fevereiro". Os outros, em maioria, não me tocaram ou tive dificuldade em compreender, me pareceram um tanto confusos e muito íntimos, de assuntos escritos muito para si mesma e que não foi possível estabelecer conexão eu e a leitura.

* "Correspondência Completa" (1979), em que a autora assina como Ana Cristina C.; A personagem Julia escreve uma longa carta a alguém querido não nomeado, a carta tem ares de diário, fala do cotidiano, suas dores e conclusões, se inicia com "my dear", o destinatário talvez seja ela mesma, uma confissão a seu alter ego, de Ana Cristina Cesar para Ana Cristina C., ou talvez a correspondência sem destinatário específico seja para todos que a leem ou para ninguém.

* "Luvas de Pelica" (1980) em que novamente a autora assina como Ana Cristina C.; é um texto híbrido, algo entre o esboço de um romance, um misto de poema e prosa, diário e carta melancólica. Ela parafraseia Walt Whitman, dizendo que isso não é um livro, mas ela mesma que o leitor tem em mãos e o que faz com que ela também tenha em suas mãos, o leitor; pra mim, isso define a experiência de leitura da poética de Ana Cristina Cesar, uma via de duas mãos entra a poeta e o leitor.

* "A teus pés" (1982), em que Ana Cristina Cesar volta a assinar com os três nomes, também na escrita ela busca se alongar, os poemas se tornam mais extensos e também os senti mais pesados. Em uma lista de preferidos, marco quase todos: a prosa poética de abertura; "sete chaves"; "inverno europeu"; "noite carioca"; "marfim"; "mocidade independente"; "cartilha de cura"; "atrás dos olhos da menina séria"; "duas antigas" I e II; "vacilo da vocação"; "cabeceira"; "o homem público n.1 (antologia)"; "pour mémoire"; "samba-canção"; "lá fora"; "sábado de aleluia"; "fogo do final".

* "Inéditos e dispersos", lançado após a morte de Ana Cristina Cesar, que ocorreu em 1983. A obra foi organizada por Armando Freitas Filho, grande amigo da autora, reúne textos que vão dos anos de 1961 até 1983, estes textos estavam guardados em quatro caixas de papelão que, por ordem da própria Ana Cristina, foram deixadas na casa de Armando pelos pais dela. O que mais me tocou: "esvoaça... esvoaça..."; "chove"; "quando chegar"; "quartetos"; "ciúmes"; "onze horas"; "soneto"; "fagulha"; "toalha branca"; "ante-sonho"; "nó"; "fevereiro"; "vista"; "arte-manhas de um gasto gato"; "gota a gota"; "carta de paris"; "poesia"; "back again"; "o que vejo daqui"; "ulysses"; "como chapeuzinho"; "o anjo que registra" I e II; "contagem regressiva"; "fama e fortuna"; E os escritos sem título escritos em: 4.2.69; 5.2.69; 11.2.69; 2.10.72; 10.1.82; 20.7.83; 23.7.83; 16.10.83;"

* "Antigos e soltos", que tem como codinome "pasta rosa" por serem textos deixados por Ana Cristina Cesar dentro de uma pasta rosa em seu armário, a pasta foi guardada pela mãe da autora que mais tarde doou a pasta para o Instituto Moreira Salles, foi organizado para publicação por Viviana Bosi. Os poemas que compõem o livro são majoritariamente dos anos 70, a autora titulou esse apanhado de prosa/poesia como "prontos mas rejeitados", provavelmente foram rejeitados do livro Cenas de Abril, que saiu em 1979.

* O sétimo livro indicado na coletânea é "Livro", um conto estendido que foi para a Ana Cristina Cesar um exercício de prosa, uma tentativa de escrever um romance.

* Na sequência, no final dessa coletânea "Poética" é apresentado "visita à oficina", um reunião de trabalhos de Ana Cristina Cesar pesquisados no arquivo no Instituto Moreira Sales por Mario Marovatto. No livro, é feito a transcrição e é também apresentado fac-símiles. São textos inéditos (alguns exercícios de escrita outros quase dados como prontos) que ficaram na oficina de Ana. Gostei em especial de: "quase"; "holocausto"; "por que sou uma pessoa, e uma só?"; "un signal d'arrêt"; "meios de transporte". Por fim, segue-se o "apêndice", com diversos textos de apoio e textos de pessoas íntimas a Ana, nos quais eles falam sobre ela e sua obra.




oursapphism 03/01/2021

Ler Ana Cristina César é sempre uma mistura de sensações para mim. Porque em seus poemas ela às vezes traz a melancolia, a falta e a solidão, mas também tem a sensualidade, o erótico, os poemas de amor. E, claro, também são muitos aqueles poemas que a gente lê e relê e não entende nada.
Acho que, no fim das contas, ler Ana Cristina César é sempre uma aventura, um prazer, mas também é difícil, é um desafio. Acima de tudo, é conseguir se identificar mesmo sem entender. E nesse livro, com tantos escritos dela reunidos, nós podemos mergulhar na poeta incrível que ela era e o sentimento que eu tenho ao chegar no final é de um vazio. Um vazio e uma vontade de que todos também leiam.
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Ma 10/07/2022

perca-se
não sei dizer ao certo o impacto que esta leitura causou em mim, por ora, o mais provável seja inquietação. poeta contraditória que sou, sabendo que não é preciso entender, mas, por vezes, com a necessidade de tal - não uma explicação ensossa ou rebuscada demais, seria mais algo como um fio condutor - me surpreendi tentando encontrar um caminho que fizesse sentido.

mas, talvez esteja aí o grande mistério: para Ana Cristina Cesar me parece que isso era algo desimportante e, talvez justamente por isso sua poesia se destacou nos anos 70/80 e chamou a atenção de tanta gente "grande" do setor literário da época.

muitas referências me enxerguei outras nem desconfio, uma cacofonia poética e ao mesmo tempo polifônica? em cada releitura é certo que nunca será o mesmo. ora aparentemente frios, ora bem intrigantes.

é isso, não há placa que indique o caminho, na verdade, penso mesmo que talvez seja um (des) caminho.

perca-se.
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Ronaldo Thomé 07/05/2023

Sobre Ratos Quentes e Navios No Espaço
Impressionante! Em definitivo, a melhor leitura de 2023 até agora!

Ana Cristina César é um divisor de águas da nossa literatura. Surgida na década de 70, infelizmente faleceu muito jovem, com poucas obras lançadas (apesar de inúmeros escritos póstumos).

A autora é simplesmente deslumbrante no seu estilo, que é muito único na nossa poesia nacional. Ana C. escreve de forma que muitos de seus poemas parecem uma fotografia, em que um único momento é descrito em detalhes na mente da autora. No entanto, ela vai muito além disso: muitos de seus textos parecem não ter uma lógica específica, o que faz com que você procure por si mesmo um sentido para o que está lendo.

Por exemplo: em muitos desses poemas, Ana Cristina inicia uma construção de um momento, uma ideia, um pensamento qualquer. Mas ela não segue essa linha e, então, ela mescla vários elementos simbólicos que dão inúmeras direções possíveis para seus textos. É um recurso que você percebe estar presente em inúmeros autores atuais. Porém, NENHUM deles atingiu o que essa poeta consegue, aqui. Ela vaga de acordo com seu pensamento, o que acaba gerando um trabalho surreal, ainda que ela não seja uma poeta surrealista.

Pode ser um imenso desafio para quem não está acostumado. No entanto (este talvez seja meu caso), se você já estiver acostumado com a poesia típica do século 20, em especial os beatniks e autores do surrealismo, com certeza vai se amarrar (acho que a autora certamente escreveria isso) nos símbolos, nas muitas mudanças de tom e de sentido que ela aplica em suas histórias (aqui, no sentido de que uma poesia também pode contar uma história).

Definitivamente, escritores como Caio Fernando Abreu e Ana mereceram o sucesso que tiveram. Nada na Literatura nacional até hoje se parece com essa geração.

Indicado para: quem quer conhecer a fonte seminal de grande parte da nossa poesia brasileira (mesmo que indiretamente).

Nota: merece muito mais que 10!

Dica: leia ouvindo o clássico "Hot Rats", de Frank Zappa. A ironia anárquica do gênio da música vai fazer você viajar lendo esses versos\o/
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Augusto 12/09/2016

aventura
bruta
(em versos)
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Biblioteca Álvaro Guerra 10/03/2020

Ana Cristina Cesar deixou em sua breve passagem pela literatura brasileira do século XX uma marca indelével. Tornou-se um dos mais importantes representantes da poesia marginal que florescia na década de 1970, justamente pela singularidade que a distanciava das “leis do grupo”. Criou uma dicção muito própria, que conjugava a prosa e a poesia, o pop e a alta literatura.

Empreste esse livro na biblioteca pública.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788535923629
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scarduelli 16/10/2023

??4.0
Peguei um livro na biblioteca da escola que achei que parecia carente de leitores, e depois de verificar com a bibliotecária, nos últimos 9 anos que este livro esteve na biblioteca, eu fui a única pessoa a lê-lo, mas espero que não a última.
No começo achei bastante confuso mas conforme as páginas foram se passando comecei a entender mais sobre o que estava sendo retratado.
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