O Livro das Crianças

O Livro das Crianças A. S. Byatt




Resenhas - O Livro das Crianças


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Daniel 21/01/2014

Do Final da Era Vitoriana à Primeira Guerra
Eu tinha uma enorme expectativa sobre este livro de A. S. Byatt – um romance que acompanha a vida de vários personagens do final de Era Vitoriana até o final da Primeira Guerra Mundial.

São 670 páginas que são lidas sem muito esforço, mas que, por outro lado, também não prendem muito a atenção, não dão aquela vontade irresistível de continuar lendo sem parar. E este é o problema: um livro tão volumoso assim, para valer a pena, tem que ser MUITO bom. E este é apenas bom.

São tantos personagens que é preciso fazer um roteiro para não ficar perdido sobre “quem era quem” em tantas páginas. E fica difícil o leitor se afeiçoar ou se identificar no meio desta multidão, eles acabam todos parecendo uma coisa só.

Em proporção ao extenso número de páginas, há muito pouca ação. São descritos detalhadamente festas de solstício de verão, palestras sobre arte, uma excursão à exposição Universal em Paris, uma viagem à Alemanha, um teatro de marionetes, etc., sempre com a maior fidelidade histórica possível - e isso é uma das coisas mais admiráveis do romance. E ainda há os contos escritos pela personagem principal, Olive Wellwood, que não me empolgaram muito.

Personagens reais, históricos, se misturam com os fictícios, e estes discutem fatos que estavam acontecendo no decorrer da narrativa – como o julgamento e prisão de Oscar Wilde, a estreia da peça “Peter Pan”, o movimento sufragista...
As vezes há tanta informação histórica que parece que a gente está lendo um enciclopédia.

A concepção do romance achei genial. A execução dele, mesmo com toda cuidadosa pesquisa histórica, deixou um pouco a desejar. O que tive na maior parte do tempo foi aquela sensação de estar meio perdido dentro de um museu, mesmo que este esteja cheio de coisas interessantes.


Segue a lista de personagens para quem quiser arriscar (sem spam):


- Os Wellwoods de Kent:
. Olive Wellwood, escritora de livros infantis
. Violeta Grimwith, a irmã de Olive, cuida da casa de Olive
. Humphry Wellwood, marido de Olive, trabalha no Banco da Inglaterra
Filhos de Olive e Humphry:
. Tom Wellwood
. Dorothy Wellwood
. Phyllis Wellwood
. Hedda Wellwood
. Florian Wellwood
. Robin Wellwood
. Harry Wellwood

- Os Wellwoods de Londres:
. Basil Wellwood, irmão de Humphrey
. Katharina Wildvogel Wellwood, esposa de Basil
. Charles / Karl Wellwood, filho de Basil
. Griselda Wellwood, filha de Basil

- No Museu Victoria e Albert
. Prosper Caim Keeper: especialista do Kensington Museum
. Julian Caim, filho de Prosper
. Florence Caim, filha de Prosper

- Na Casa de Compra em Dungeness:
. Bento Fludd, um artista e mestre oleiro
. Seraphita (Sarah-Jane) Fludd, esposa de Fludd
. Geraint Fludd, filho
. Imogen Fludd, filha, que é ajudada por Prosper Caim
. Pomona Fludd, outra filha
. Philip Warren, fugitivo das fábricas, aprendiz de Bento
. Elsie Warren, irmã de Phillip
. Ann, filha de Elsie

- Vizinhos em Kent
. Vasily Tartarinov, um anarquista russo refugiado
. Elena, sua esposa
. Andrei e Dmitri, seus filhos
. Leslie e Etta Skinner, fabianos e acadêmicos
. Arthur Dobbin, aprendiz de Bento Fludd
. Frank Mallet, pastor local
. Augusto Steyning, diretor de teatro e dramaturgo
. Patty Dace, participa de comitês, ajuda carentes
. Herbert Methley, sedutor, dá palestras
. Phoebe Methley, amante de Herbert
. Marion Oakeshott, viúva, "amiga" de Humphrey
. Robin Oakeshott, filho de Marion

- Os alemães :
. Anselm Stern, um mestre de marionetes
. Angela Stern, sua esposa
. Wolfgang Stern, seu filho
. Leon Stern, filho caçula

- Os Tutores:
. Toby Youlgreave, amigo de Humphrey e Olive
. Joachim Susskind, jovem alemão, tutor de Tom e Charles/Karl

- Personagens históricos:
. JM Barrie autor de Peter Pan
. Rupert Brooke, belo poeta que morreu na Primeira Guerra Mundial
. William Morris, obras mencionadas
. Bernard Palissy o mais especializado de oleiros
. Oscar Wilde, sua prisão é comentada pelos personagens
. Edward Carpenter, ativista naturalista
. George Merrill, companheiro de Carpenter
. Emma Goldman, anarquista e ativista político
. Marie Stopes, pioneira em planejamento familiar

Arsenio Meira 21/01/2014minha estante
Isso, de fato, pesa. A caudalosa lista de personagens (similar a alguns dos romances do Forsyth) ilustra bem o que você escreveu. Estava em dúvida a respeito da aquisição deste romance, esperando suas conclusões. Agora, já não sei mais.


Flávio 23/01/2014minha estante
O que arruinou a obra foi justamente essa sensação que você descreveu tão bem: a gente sente "estar meio perdido dentro de um museu, mesmo que este esteja cheio de coisas interessantes."


Graci 22/04/2014minha estante
Eu ganhei o livro e vou começar a ler ,foi bom ter esta lista de personagens e esta pré visão de um outro leitor!!Valeu


Mi Hummel 25/12/2014minha estante
Oi, Daniel. Comecei a ler. E posso dizer, sem medo de ser premeditada, que você descreveu bem a sensação que estou tendo. Muita informação histórica, muitos personagens e pouca ação. As descrições do autor são maravilhosas, mas entediam um pouco. Compartilho com você a ideia de que se trata de um livro bom, mas não MUITO BOM. Eu esperava que a coisa fosse melhorar mais à frente, mas pela sua resenha, vejo que será assim até o final. Uma narrativa cujo maior mérito é o seu valor histórico.


Daniel 18/03/2015minha estante
Mi, eu espero, ao escrever resenhas e comentários, ajudar a quem está lendo. ou a quem pretende ler. ter uma ideia do que vai encontrar pela frente. Nada pior do que a gente se encher de expectativa com um livro e se decepcionar. Obrigado por comentar




Leonardy.Negrini 29/04/2022

O Livro das Crianças que crescem e fazem outras Crianças
Antonia Susan Drabble Byatt nasceu na Inglaterra, em 1936, estudando literatura inglesa e norte-americana nas universidades de Cambridge, Oxford e no Bryn Mawr College. Internacionalmente conhecida e considerada uma das 50 maiores escritoras britânicas pós-1945. Hoje está com 85 anos.
O Livro das Crianças se dedica a relatar os percalços, ascensão social e conflitos na Europa no final do século XIX e início do século XX, centrando-se em três ou quatro núcleos familiares. A família Wellwodd, a família Cain e a família Fludd e seus agregados. Não é literatura fácil e três personagens se destacam rapidamente: Olive Wellwood, Tom Wellwood e Philip Warren.
Os desafios, o cenário social, as violências domésticas e familiares, os abusos e especialmente os dramas familiares dão contornos difíceis ao leitor pouco acostumado a este tipo de literatura. Certas passagens dão nós no estômago e na alma.
Da lista de Boxall (1001 livros pra ler antes de morrer) é o último da lista. Realmente merece a indicação.
#literatura #lerévida #asbyatt #olivrodascrianças #décimooitavodoano
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Mi Hummel 03/01/2015

A Trama Gótica de Todefright
" O que me interessa, na verdade, são todos os aspectos nos quais os contos de fadas não são mitos. A maneira como há inúmeras versões, centenas, da mesma história singular, digamos, Cinderela ou Catskin, e elas são todas as mesmas e todas diferentes. Elas seguem algumas regras e eu gostaria de saber quais são.
(...) Não acho que as histórias verdadeiras sejam de assustar. Acho que você aceita as regras." pag. 530

Este trecho do diálogo entre Griselda Wellwood e Julian acena para a atmosfera do livro. Você aceita as regras e se submete a leitura. Não foi um início fácil. Muitos nomes, muitos dados...Se há um grande mérito na obra é esse dom da autora em caracterizar tão bem as passagens de época. Depois, você vai analisando os trechos, pois creio que " O Livro das Crianças" não é uma dessas obras que se lê uma vez só. Possivelmente, nesta primeira leitura, deixei muitas coisas para trás.

A família Wellwood e as personagens ao seu entorno, ao meu ver, são arquétipos presentes nos Contos de Fadas. Aquela parte em que os contos não são mitos, conforme ilustra Griselda. Há uma atmosfera gótica na história. Uma certa pitada sombria, com seres fantásticos e bonecos articulados. Em certos momentos, me fez lembrar " O Labirinto do Fauno", com suas criaturas bizarras e uma menina sobrevivendo à nova realidade familiar.

E, de fato, percebemos que é essa a ideia da autora. Misturando W.Shakespeare com a realidade crua dos eventos reais. Mais uma vez, mostrando que, não há conto que não nasça da realidade ou, simplesmente, da fuga dela como no caso de "Tom subterrâneo", uma espécie de conto bem mais soturno que Peter Pan.
Destaque para a família Fludd...Uma alegoria bastante clara para " Barba Azul", com direito até mesmo à uma porta trancada e mulheres dilaceradas.

Aliás, até mesmo o título " O Livro das Crianças" é uma alusão para onde Olive busca sua inspiração...Pelo menos, eu penso assim. Devo dizer que achei interessante a ideia de cada uma das crianças ter um livro com a sua história particular e abre-se portas para a questão: até que ponto Olive poderia apropriar-se delas? Creio que ela mesma foi o rato responsável por roer a sombra de Tom...Ou, por que não dizer, a sua alma.

Deve-se dizer que, mesmo as crianças, não funcionam como crianças. E, imagino que seja pelo fato de que o conceito de infância só surja mais tarde. As crianças eram consideradas pequenos adultos. Isso cria uma dinâmica um tanto diferente durante a história. A família Wellwood em si só tem vínculos intrincados que se vai descobrindo a medida que a narrativa toma fôlego.

O que se pode dizer desta obra é que o leitor precisa ter paciência para explorar as pistas e tal como João e Maria ir jogando as migalhas para não se perder. Embora, inevitavelmente, o único fim seja nas garras da bruxa. E, bem, uma hora todos temos de enfrentar nossos terrores e sair deles transformados.
Daniel 05/01/2022minha estante
Ótima análise! Eu acabei trocando ou doando este livro, nao lembro bem, mas tive vontade de reler alguns trechos




Julia 03/06/2021

Finalmente terminei esse livro kkk
Até pouco mais da metade ele é lento e beira o maçante, com muito detalhamento e muitos nomes que se confundem em parentescos e relações (que vc descobre mais na frente que são realmente confusas).
Mas quando as crianças começam a amadurecer, da pra entender o uso desse detalhamento pra mostrar como o mundo mudou do período vitoriano pro eduardiano até a primeira grande guerra, como toda a fantasia que era cultuada, toda a inocência e toda a expectativa e esperança tiveram a guerra como um fim.

Enfim, é uma leitura lenta, nem sempre boa mas que gostei olhando como um todo.
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