O jogo da amarelinha

O jogo da amarelinha Julio Cortázar





Resenhas - O Jogo da Amarelinha


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Consuelo 22/04/2024

É difícil admitir não ter gostado de um clássico tão aclamado. Não critico, apenas questiono minha capacidade de compreensão. A maior parte do tempo me senti a Maga, rodeada por seus amigos pedantes e esnobes.
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Silvia Schiefler 16/04/2024

Um livro estranho...
Publicado em 1963, esse romance de Cortázar é considerado um dos títulos mais importantes e inovadores da língua espanhola e da literatura latino-americana. Em que pese os inúmeros prêmios recebidos o anti-romance de Cortázar não tem lugar na minha lista de preferidos.
?O Jogo da Amarelinha? serviu como um divisor de águas na carreira de Julio Cortázar. Até o lançamento desse título, o escritor argentino era famoso por seus contos fantásticos, os quais gosto muito, publicados nas revistas literárias, mas não havia obtido ainda um grande sucesso junto ao grande público.
Enfim, um clássico da literatura latino-americana e aclamado em muitos países.  Leitura concluída. Sem mais.
#leituras2024 #30/2024
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Mariana 14/03/2024

Primeira leitura pelo caminho convencional: do 1 ao 56. a segunda, de capítulos prescindíveis, vai ter que esperar. não achei fácil de digerir a filosofia e o pedantismo de alguns personagens nem na ordem linear, que dirá pulando amarelinha ? embora eu esteja curiosa
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Lusia.Nicolino 10/02/2024

Um clássico, mas sofri para ler
Esse livro quase se chamou Mandala, mas Cortázar entendeu que O Jogo da Amarelinha era um "título modesto e que qualquer um entende, e a mesma coisa; porque amarelinha é uma mandala dessacralizada", escreveu ele em carta ao cineasta Manuel Antín. É um clássico, era um gap na minha carreira de leitura, mas confesso: eu sofri para ler. Ele nasce de forma curiosa: em uma tarde quente de Buenos Aires, Cortázar viu pessoas tentando passar, de uma janela a outra, um pacote de erva-mate e pregos por uma tábua. E, a partir daí, escreveu um conto com Horácio, o protagonista, e o casal Talita e Traveler. Depois de quarenta páginas quis algo maior e deu um passado a Horácio, em que esteve exilado em Paris. Nesse momento são outras pessoas, um grupo de amigos que nem sempre se dão bem e muita conversa filosófica. Há uma espécie de guia de leitura porque é possível ler na ordem direta até o capítulo cinquenta e seis ou pular para capítulos indicados pelo próprio autor, em referência aos pulos da amarelinha, e com isso você avança ou recua, mas no fim entende a história toda. Pensando na amarelinha, eu não cheguei ao céu! Não me conectei com os personagens, há muitas referências, muitas expressões em outros idiomas, tropecei na pedrinha. Gostei quando terminei, mas a jornada foi sofrida, ainda que a tradução seja de Eric Nepomuceno, excelente tradutor, de quem gosto muito e que manteve o estilo espontâneo e fluente de Cortázar.

Quote: "...entrar na cintura delgada da ponte e me aproximar da Maga, que sorria sem surpresa, convencida, como eu, de que um encontro casual era a coisa menos casual em nossas vidas, e que as pessoas que marcam encontros exatos são as mesmas que precisam de papel pautado para escrever ou que apertam de baixo para cima o tubo da pasta de dentes."

site: https://www.facebook.com/lunicolinole https://www.instagram.com/lu_nicolino_le
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Laris 04/02/2024

Ler esse livro é realmente um jogo, tem horas que empacamos em um capítulo e outras avançamos rapidamente. não é possível falar muito sobre por conta da quebra narrativa que ele traz, de mostrar como a leitura é capaz de criar ambientes que nunca pensamos. um livro sobre a vida e nosso jogo diário de amarelinha.
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Regina 02/02/2024

O jogo da Amarelinha
Um romance bom, escrita fluida. O livro é diferente. Tem duas formas de ser lido. Ou corrido ou como eles sugerem, como um jogo de amarelinha, que vai pulando os capítulos. Gostei do luvro
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Wagner47 07/01/2024

Do sim ao não, quantos talvezes?
E se a literatura fosse desconstruída bem na sua frente? O caos aqui está presente a todo momento, seja pelos pensamentos dos personagens, acontecimentos trágicos ou até mesmo no modo de leitura.

O livro é composto, basicamente, de duas partes: 56 capítulos imprescindíveis, que compõem todo o teor da obra, e inúmeros capítulos prescindíveis, servindo de complemento para o livro e que não são obrigatórios.
Em janeiro de 2023 optei por apenas ler os capítulos imprescindíveis, o que resultou em uma avaliação entre 3 e 3,5/5. Porém com a releitura mais a leitura dos prescindíveis ao final de 2023, cheguei a uma conclusão que transcende as páginas: a sensação de ter passado por uma experiência muito gratificante.

Descrita como um antirromace, acompanhamos uma história de amor entre o argentino Horacio Oliveira e a uruguaia Lucía, chamada constantemente de Maga.
Horacio e Maga andam isoladamente pelas ruas de Paris até se encontrarem, buscando um pelo outro de forma inesperada. Horacio traz Maga para junto de seu círculo de amigos boêmios, o Clube da Serpente, composto por indivíduos tão intelectuais quanto ele.
Quer dizer, não tão intelectuais assim.

Durante as reuniões do Clube não demoramos para perceber que a Maga é a que mais se aproxima do leitor, sendo difícil de acompanhar os pensamentos dos integrantes do Clube de Serpente. Vai ficando cada vez mais nítido o pedantismo do Clube quando ninguém está disposto a responder às indagações de Lucía e sim estender um assunto até que ela desista.

A história principal é dividida em duas partes, sendo a segunda ambientada na Argentina e o encontro de Horacio com Traveler, seu amigo de longa de data, acompanhado de sua esposa Talita.

Eu poderia tecer alguns incômodos que me fizeram descontar na nota (como divagações enormes ou passagens aparentemente fora do comum), mas acredito que elas também se encaixam no que fez reavaliar a obra com outros olhos e que pretendo compartilhar nesta resenha.

Como dito um pouco mais acima, o que mais me conquistou nessa obra não foi nem a história, mas a experiência literária que passei com ela. Os capítulos prescindíveis de fato são complementares, mas também são muito enriquecedores. Com passagens rápidas e trazendo fluidez ao leitor, viajamos a outras épocas, acompanhamos referências (e que muitas delas nem entendi) e também sabemos mais a respeito de outros personagens (como o fato de Ossip sempre falar sobre uma mãe diferente).
Mas além de complementos, os capítulos prescindíveis trazem descobertas. Morelli, um autor tão citado por Horacio e pelo Clube da Serpente, se faz muito mais presente do que descrito nos capítulos imprescindíveis.

Outra questão em que a experiência fala mais alto é o comportamento da leitura refletindo com o comportamento dos personagens ou de seu ambiente. Para conversas bem aleatórias temos personagens bêbados; discursos sem pé nem cabeça acontecem numa ala psiquiátrica; há a vontade de abandonar um capítulo junto de um personagem que sai de cena; ou uma descoberta iminente sobre uma tragédia acontecendo num ambiente escuro pela ausência de luz.
Aparentemente parece óbvio, mas você sente como o ritmo de leitura é influenciado por essa mudança de atmosfera.

Outro ponto interessante é o tabuleiro mostrando qual o caminho a ser seguido durante a leitura (apesar de que no final de cada capítulo tem o próximo identificado). Se seguirmos a ordem proposta pelo autor e pela edição, não leremos o capítulo 55 (que faz parte dos capítulos imprescindíveis). Cortazar destrói a literatura proposta por ele mesmo quando menos se espera.

É uma obra repleta de referências e eu recomendaria fortemente o uso do Google acompanhado da leitura (não o fiz, pois senti que passaria mais tempo pesquisando do que lendo). Outra recomendação é ler conforme solicitado pelo tabuleiro logo de início. A releitura me ajudou a relembrar de alguns nomes importantes que já eram abordados desde o início do livro, mas também senti que estaria ainda mais desnorteado se tivesse utilizado o caminho proposto inicialmente.

O livro pode ser lido de diferentes formas e acredito que qualquer uma delas traria um certo impacto. Ou talvez, assim como Horacio, eu esteja imaginando falsidades para me obrigar a gostar do livro, como se eu tivesse comprado toda ladainha do autor e dessa história de desconstrução da literatura.
Talvez seja paradoxal. Talvez seja uma mera construção em uma desconstrução, de um "ir e voltar" de páginas.
Não sei.
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Camila Felicio 29/12/2023

"Andábamos sin buscarnos, pero ...
...sabiendo que andábamos para encontrarnos' - Com uma das frases mais replicadas e famosas encontradas em qualquer arte de rua argentina e utilizada em milhões de canções de rock do país, iniciamos a jornada da busca de Oliveira por Maga.
Em 2011 li a Rayuela ( O Jogo da Amarelinha) da maneira convencional e sem os capítulos extras e a experiência já tinha sido incrível. Em 2023 graças à leitura coletiva com meu novo amigo de leitura Gleidson, e usando o tabuleiro do Cortázar jogando a amarelinha, foi mais incrível ainda, discutimos um monte ao finalizar o livro, cada um com pontos de vista diversos posto que a obra é simplesmente sensacional e permite múltiplas visões.

A história separa-se em 3 partes: Do lado de lá (Paris), Do lado de cá (Argentina, província de Buenos Aires) e capítulos prescindíveis nos narra a história de Horacio Oliveira, um argentino que mora na França e conhece a uruguaia Lucía ( La Maga) e devido à sua arrogância a perde e passa o resto de seus dias em Paris buscando-a (ainda que simulando frieza e desdém) e finaliza abraçando a loucura total em Buenos Aires ao misturar sua história e drama com o casal Talita e Manú (Traveler) ,que fora a Argentina só conhece o Paraguai hahahahaha parecendo um apelido absurdo.

Na primeira parte sentimos a loucura cosmopolita da Paris pós guerra, no apogeu cultural e filosófico pós Camus, Proust e Beauvoir, em um clima noveau roman de Duras, com muito movimento, bares e cafés para discutir os porquês da existência humana ao som de Jazz.
Na segunda parte, temos o clima milonguero das terras pampeanas, muito tango, Gardel, melancolia e a intensidade argentina dando o tom da loucura total em que se enfia o protagonista.
Foi "no lado de cá" onde peguei a maioria das referências como boa neta de yorugua - uruguaio- A parte é cheia de recursos linguísticos como lunfardos e uso dos vesre -al revés- (a mania dos hermanos uruguaios e argentinos de inverter as ordens silábicas das palavras ,e como o Cortázar brinca com o vesre, al dope (al pedo) total!). As referências à Gardel são um deleite, referências escondidas ao Julio Sosa ( el varón del tango Cheee) me fizeram devorar o livro... Me senti quase escutando um tango de Cacho Castaña durante a leitura, a segunda parte é quase a canção "Cacho de Buenos Aires "- "Por esa puta costumbre de andar haciéndome el vivo, el que se las sabe todas y todas las ha vivido, el que tuvo mil amores llorando sobre su almohada..Por esa puta costumbre al final no tengo nada"

Voltando para a parte de construção, segundo meu grande guru Javi a história divide-se em 3, sendo 3 amarelinhas:
-A da forma, e o autor é rei nesta parte, mistura capítulos que seriam contos isolados, capítulos como o 7 que são poesias, e meu deus o que foi o capítulo 33 e o capítulo contendo duas histórias em uma, onde deveríamos pular linhas para entender o texto!
2- O Metafísico-Filosófico onde temos várias discussões e algumas bem absurdas sobre a existência humana, o ponto ápice fica durante a vigência do Club de la Serpiente e nos capítulos prescindíveis com Morelli (o alter ego de Cortázar que conversa com o leitor).
3- O linguístico onde o autor propõe um novo estilo de escrita, vocifera contra o lector-hembra, reorganiza a gramática, abusaaaa dos lunfardos e ataca muitos formalismos estilísticos!

Eu vou reler seguramente em breve, se na primeira parte (a francesa) me apeguei a forma, na segunda onde me senti mais em casa por conhecer bastante bem o povo castelhano dos pampas eu abracei a linguística e sei que cada experiência será distinta, e que não peguei metade das ideias loucas do Oliveira e cia.
Indicadíssimoo! E quem conseguir (a obra já exige um C1-C2 em espanhol) leia no original porque é diferente, principalmente se querem pegar as brincadeiras linguísticas desse gênio chamado Cortázar!
Gleidson 29/12/2023minha estante
Que resenha bem escrita, Camila! Foi uma experiência incrível ler esse livro com vc! Algumas coisas relacionadas com os costumes deles foi fundamental seu esclarecimento!


Gleidson 29/12/2023minha estante
Ahhh vc esqueceu do mate. ?


Camila Felicio 30/12/2023minha estante
Obrigadaaa vc!! Não mencionei o mate porque já o levo dentro do coração apesar do calor torturante kkkkkkkkkk


Gleidson 31/12/2023minha estante
O mate e o café. ?




Clarispectiana 17/12/2023

Não sei o que dizer sobre "O jogo da amarelinha", além de "livraço"!!!!.

Li seguindo os capítulos e pretendo fazer a releitura seguindo a amarelinha.

Estava aqui revisitando as minhas anotações e marcações no livro e que incrível é conversar e dialogar com esse objeto que é morto e tão vivo.

Livro esse me deixou cheia de dúvidas e indagações.
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mayara.marinheiromartinelli 06/10/2023

Eu poderia dar uma nota maior se eu tivesse entendido a obra, claro q com os apêndices eu consegui vislumbrar algumas partes do livro, mas sinto que apesar do modo incrível de contar a história, de alguns personagens cativantes como a Maga, Talita e Traveler, o modelo aqui apresentado ficou datado e sem sentido pra mim! Talvez eu ainda não tenha bagagem pra apreciar esse livro! Talvez se um romance seja tão difícil de ler ele não seja tão incrível assim já q não pode ser acessível pra todos! O mais interessante é que o livro não me causou nada, eu nem odiei e nem desgostei, eu só sou neutra, eu entendo a genialidade de Chamar ele de Jogo da Amarelinha, mas não entendo as escolhas e acontecimentos do livro. Um dia relerei pra ver se mudo de ideia!
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jota 03/07/2023

Leitura um tanto difícil; melhor conhecer Cortázar através de seus contos, alguns também insólitos, como as histórias desse volume
Lido entre 03 de junho e 02 de julho de 2023.

Presente em várias listas dos melhores romances do século XX, em que invariavelmente também se encontra o Ulysses (1922), de James Joyce, com quem o livro de Julio Cortazar (1914-1984) dialoga a sua maneira, O Jogo da Amarelinha (1963) tem leitura difícil mas um tanto menos complexa do que a do volume do escritor irlandês, embora seja ousado em sua estrutura e narrativa como é aquele. Cansado de ler e escrever romances tradicionais, como o próprio Cortazar confessa numa das várias cartas que escreveu a editores, amigos e alguns leitores (elas estão presentes nessa edição da Companhia das Letras) ele decidiu escrever, partir então, no final dos anos 1950, para um “contrarromance” ou anti-romance.

Cortazar escreve ao destinatário de sua carta de 3 de junho de 1963, Jean Bernabé: “Espero que as inovações “técnicas” do romance não o incomodem; o senhor não vai demorar em adivinhar (...) que esses aparentes caprichos têm por objetivo exasperar o leitor e transformá-lo numa espécie de frère ennemi, um cúmplice, um colaborador da obra.” Uma dessas inovações era que os capítulos podiam ser lidos fora da ordem sequencial, ainda que na primeira página do livro haja um guia para a leitura, um tabuleiro, que se inicia no capítulo 73 e termina no 131, caracterizando assim o volume como um “jogo de amarelinha”, onde em vez de pular casas do desenho riscado no chão para a brincadeira, capítulos é que vão ser pulados.

Quer dizer, Cortazar estava delegando ao leitor a capacidade de também “construir” o romance, como destacou a FSP na sua famosa lista de 2006 dos cem melhores romances do século XX, onde especialistas brasileiros em literatura colocaram seu romance no 41º. lugar (Ulysses ficou em 1º.). Dividido em três partes, uma delas passada em Paris, Do Lado de Lá, outra em Buenos Aires, Do Lado de Cá, e uma terceira, De Outros Lados, Capítulos Prescindíveis (que o leitor pode escolher ler ou não pois não são indispensáveis para o “entendimento” do jogo), o volume é exatamente um jogo literário que levou 4 anos para ser escrito – ou montado, talvez ficasse bem melhor dizer assim – em que o que parece importar mais é a estrutura da obra do que propriamente a história que ela nos conta.

O volume narra em 156 capítulos a história não convencional, caótica, surrealista mesmo, de um intelectual argentino exilado em Paris nos anos 1950, Horacio Oliveira, em meio a muitas audições de discos de jazz (especialmente swing) e blues e música erudita, bebida, tabaco e muita conversa sobre, além de musica, filosofia, cinema, literatura, arquitetura et cetera. De certo modo Oliveira busca reencontrar Maga (ou Lucía), uma uruguaia misteriosa, sua ex-amante e musa, que ele chega a ver em outra mulher depois de seu retorno a Buenos Aires, Talita, mulher de outro personagem argentino, Traveler (viajante). O livro, quer dizer, a história de Oliveira, tem dois finais diferentes ou parece ter, conforme a sequência de leituras que se faça, porque o terreno da amarelinha de Cortazar a se pisar não é lá nada muito firme, então o leitor pode ficar mais próximo do Inferno do que do Céu nesse jogo.

Assim como em Ulysses foi necessário o livro do tradutor Caetano W. Galindo, Sim, Eu Digo Sim: Um visita guiada ao Ulysses de James Joyce (Companhia das Letras, 2016), para entender alguma coisa daquele calhamaço, aqui também foram úteis – e sobretudo necessárias – as próprias cartas de Cortazar presentes na edição, A história de O Jogo da Amarelinha nas cartas de Julio Cortazar, assim como os textos de Haroldo de Campos, O jogo de amarelinha, A atualidade de O Jogo da Amarelinha, de Julio Ortega e O trompete de Deyá, de Mario Vargas Llosa. Para Campos, Cortazar está para a literatura hispano-americana assim como Guimarães Rosa está para a literatura em língua portuguesa. Para Llosa, "Nenhum outro escritor deu ao jogo a mesma dignidade literária. A obra do autor argentino abriu portas inéditas." Ainda que tenha certa poesia, palavras e frases surpreendentes, situações inusitadas e outras qualidades, para mim ela deu muito trabalho: foi um mês de leitura nem sempre agradável, porque o livro é sobretudo cerebral.

De todo modo, há um capítulo muito saboroso e até mesmo cômico, o 23º., a melhor coisa que encontrei no livro. É narrado de modo tradicional e trata do encontro, em uma noite chuvosa em Paris, entre Oliveira e uma pianista clássica, Berthe Trépat, bem mais velha do que ele. Para fugir da chuva e sem nada a fazer ele entra numa sala de concertos quase vazia e lá encontra essa mulher ridícula, frustrada e petulante, que enxerga numa sala com pouquíssimos ouvintes, mais de quatrocentas pessoas a assisti-la et cetera. Eles têm uma longa conversa (curiosíssima, por conta de Trépat) durante a caminhada de volta para o apartamento dela e ao final do encontro acusa Oliveira de assédio sexual, sem que nada tivesse havido entre os dois.

Bem, para finalizar, o melhor de Cortazar que li até agora foi mesmo a novela O Perseguidor (Cosac Naify, 2012) e vários contos espalhados pelos volumes A Autoestrada do Sul & outras histórias (L&PM, 2013), Fora de Hora (Nova Fronteira, 1985) e As Armas Secretas (José Olympio, 2001). O Jogo da Amarelinha foi um em que certamente Cortazar se divertiu muito mais ao escrever/montar o livro do que muitos leitores ao lê-lo. Faz parte (da literatura), e isso aqui também não é uma resenha, apenas alguns comentários pós leitura...
Paulo Sousa 15/07/2023minha estante
Tenho dois livros dele aqui. Este aí, e um em espanhol, inclusive, adquirido numa livraria bela rua de Buenos Aires num frio dia de um setembro memorável. Mas ainda não tive coragem e ânimo para enfrentar o escritor. Aliás, ultimamente nenhum deles ?.


jota 15/07/2023minha estante
Paulo: Cortázar em português já não é muito fácil... [O Perseguidor (Cosac Naify, 2012) é uma boa novela, sem invencionices, vale a pena, assim como vários contos espalhados por A Autoestrada do Sul & outras histórias (L&PM, 2013), Fora de Hora (Nova Fronteira, 1985) e As Armas Secretas (José Olympio, 2001)




Tigronna 05/06/2023

Trata-se de um livro 2 em 1: o primeiro corresponde a leitura consecutiva do capítulo 1 ao 56 e o segundo corresponde a ler todos os capítulos, porém numa ordem especificada pelo autor. Eu escolhi a primeira opção.
Dei 3 estrelas porque confesso que me senti muito confusa, principalmente na primeira parte, os parágrafos são muito grandes e o autor faz uso de muitas metáforas, se não ler com atenção, se perde fácil. Tirando isso a história é bonita, sobre um casal apaixonado, amante de música e artes em geral.
Eu vou dar um tempo, uns meses, e então voltarei a ler o livro, mas seguindo a ordem específica de capítulos e quem sabe essa opção me deixa menos confusa... daí eu volto contar pra vocês.
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Italo139 02/06/2023

Leiammm lennntamentee pq meu amigo você n vai entender nada de começo mais depois mais amar ess livro
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iamlivreads 20/05/2023

Hmmm
Leitura difícil, tem pedantismo admitido pelo próprio autor, tem coisa chata, tem besteira, mas é bom. Como historiadora eu pensei: aqui se trabalha questões sobre narrativas, perspectivas e como nós aceitamos algumas narrativas impostas de uma maneira condicionada. Como fã de literatura pensei: esse cara encheu meu saco com esse livro, mas pasmem esse era o objetivo.
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Lucas 14/05/2023

A desmontagem da literatura tradicional: a peculiar obra-prima de Julio Cortázar
O Jogo da Amarelinha (1963), do escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984) é possivelmente o único ou o maior "antiromance" da história da literatura. Sua assertividade dentro desse rótulo é tão impressionante que, no geral, a narrativa ou o que ela se propõe a contar fica num segundo plano em relação a sua peculiar (des) estrutura, falta de enredo e por vezes até ilógica num sentido minimamente concreto.

Mas é impossível não ignorar este fato: ao conceber um livro que pode ser lido de duas formas (a tradicional, iniciando na primeira página e a qual sugere ignorar os últimos 99 capítulos, chamados de "prescindíveis" ou a maneira mais peculiar, pulando e voltando por (quase) todos os capítulos seguindo uma ordem pelo autor proposta), Cortázar destrói um dos conceitos mais lógicos de um livro: a cronologia, que aqui é achincalhada de forma alucinada. As outras "agressões" a um romance tradicional são menos explícitas e ocorrem mais aos poucos. Filosofias misturadas a cigarros e referências de jazz, detalhes inescrupulosos da vida boêmia em Paris, preconceitos intelectuais, uma rebeldia adolescente que não leva a lugar algum, entre outros recortes misturados, tudo parece conferir um inevitável tom de "bagunça" nas idas e vindas da leitura via "pulos de amarelinha", a escolhida pelo autor da presente resenha nesse primeiro contato com a obra.

Numa tentativa possivelmente inútil de contextualizar O Jogo da Amarelinha, Cortázar apresenta ao leitor o personagem Horacio Oliveira, que assim como o autor, era argentino e vive em Paris, pelo menos naquilo que subentende-se como o início da obra. Dele, não se sabe muita coisa, a não ser a sua intelectualidade filosófica refinada (e arrogante em muitos momentos) e que ele nutre um sentimento de afeto por Maga, moça uruguaia por ele conhecida na capital francesa e com a qual desenvolve um relacionamento. Nesse "núcleo", Horacio trata relações com outros indivíduos através de um grupo de amigos que eles batizam de Clube da Serpente, que se reúne periodicamente para filosofar em meio a álcool e jazz (são incontáveis as referências a esse estilo musical, e quem não as conhece fatalmente ficará perdido).

Como o livro e sua "proposta" dão a entender, a "narrativa" não oferece muita coisa a mais, com exceção do sumiço de Maga assinalado logo no capítulo 1. A leitura salteada oferece uma troca de focos, saindo de Horacio e seus circundantes e indo para anotações de Morelli, que aparentemente é um escritor obscuro conhecido apenas pelo Clube da Serpente. Parte dos chamados capítulos prescindíveis são de autoria de Morelli e os personagens discutem muito a respeito do próprio ideal d'O Jogo da Amarelinha, da "anti-literatura" e do seu desapego a padrões literários, que se depreende do estilo de Morelli. Ou seja, têm-se um livro que fala de si próprio, uma grande mandala onde seus círculos são as idas, vindas e voltas propostas por Cortázar nos meandros de suas páginas (talvez venha daí a ideia inicial do autor para o título da obra, A Mandala). A partir de determinado ponto, entretanto, as páginas se tornam mais concretas: Horacio volta à sua terra-natal e lá reencontra o antigo amigo Manolo Traveler e sua esposa Talita. As filosofias eventualmente vazias de antes dão lugar a uma narrativa que se prende a Horacio, suas escolhas e o reflexo delas ao seu redor.

A marca registrada d'O Jogo da Amarelinha é a forma com que ele se monta, conforme já observado, então não cabem maiores revelações acerca desse seu formato e das descrições ficcionais que ele traz. Fica-se, assim, restrito a uma análise mais material, que apesar de não combinar com todo o tom que Cortázar legou às páginas da sua obra-prima, não é desnecessária, especialmente para leitores com uma mente mais teimosa e não tão inventiva, como este que aqui escreve.

A teimosia, aliás, é um artifício bem importante: provavelmente o leitor vai querer largar o livro depois de uns sete ou oito capítulos lidos. A narrativa, por mais que seja reconhecida previamente como vaga, parece vir de lugar nenhum e não leva a lugar algum. Nos momentos em que não há as tais filosofias, há Horacio e seu grupo de amigos parisienses que sintetizam bem a rebeldia adolescente, atemporalmente marcada por um senso crítico universal aliado à uma inutilidade de fazerem estes contextos idealizados se realizarem. As reflexões podem ser interessantes, mas revolta que os autores dessas reflexões sejam tão desocupados... Talvez seja a idade chegando, mas particularmente, poucas coisas são tão irritantes quanto um adolescente rebelde e que não faz nada de concreto na vida.

Essa questão da adolescência (pelo menos é com essa ideia que a temática é desenvolvida, pois possivelmente o círculo de Horacio em Paris não é composto por indivíduos nessa faixa etária) é o grande "teste de paciência" que a leitura requer, mas não é o único. Na verdade, é importante que o leitor tenha em mente que O Jogo da Amarelinha vem para dilacerar qualquer conceito de literatura. Ou seja, não há heróis, vilões ou mocinhos (as), tampouco reflexões filosóficas mais universais. Desse modo, um mesmo personagem pode despertar aversão, simpatia e indiferença, tudo num simples passar de capítulos.

Maga talvez seja a exceção, e mesmo assim ela não é alguém sem o revestimento abstrato de todo o livro. Ela é quem mais se identifica com o leitor comum: Maga se perde diante das filosofias dos amigos, questiona, por vezes é tratada com desdém pela sua "burrice", mas não deixa de ser quem é. Essa construção, associada à uma história de vida dilacerante (que não é totalmente contada, diga-se) torna inevitável a associação do leitor para com ela. E a importância dela para com a narrativa é significativa, já que aparentemente quando Maga não está fisicamente nas cenas, sua presença metafísica é mais forte.

Numa síntese, Cortázar quer mesmo que o seu leitor sinta essa aversão, saía da zona de conforto, deixe de ser o que ele mesmo chama de "leitor-fêmea", que lê um livro confortavelmente tomando uma xícara de chá. Ele quer um leitor que fique com sangue nos olhos, que diante das questões levantadas pelo livro não procure por respostas, mas por novas questões, numa espiral indefinível. É uma abordagem radical, portanto, mas não totalmente inválida, até porque esse inconformismo do leitor vai se reduzindo.

A vida de Horacio em Buenos Aires é o freio desse princípio de ódio. Ali, a narrativa torna-se mais concreta, menos filosófica e incrivelmente aleatória, centrada numa busca quase mística do protagonista da sua "musa", Maga. Traveler e Talita são os espelhos dessa dicotomia, uma nova versão dos protagonistas, e a mistura de Horacio na realidade do casal repercute em sua postura pensante dali em diante. E dessa mistura, Cortázar presenteia o leitor com um final bastante interessante (ainda mais com a presença dos capítulos prescindíveis), o que chega a ser surpreendente diante de um livro que tinha tudo para apresentar um desfecho bem mais vago.

O Jogo da Amarelinha é um livro desafiador, que não deseja fazer da sua leitura um ato de conforto. Recheado de pequenas "pegadinhas" (como o incrível capítulo 34, que mescla duas narrativas nas linhas ímpares e pares ou a sensacional relação do jogo da amarelinha propriamente dito com as agruras de Horacio), ele é um livro que obviamente possui um encanto bem restrito. Satisfatória ou não, encantadora ou desencantadora, a obra-prima de Julio Cortázar é um livro que merece ser lido, dada a sua proposta e condução audaciosas que geram uma experiência de leitura peculiarmente inigualável.
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