O jogo da amarelinha

O jogo da amarelinha Julio Cortázar





Resenhas - O Jogo da Amarelinha


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PJ 03/02/2011

Deslumbramento
Existem três maneiras de se contar uma história sobre um incêndio. A primeira é falar sobre os mortos, os destroços, os desastres e as conseqüências; a segunda se remete a narrar exclusivamente o incêndio, como aconteceu, o que houve, narrando detalhe por detalhe, tornando o meio da história o seu inicio, isto é, no caos das labaredas; e a última é falar dos sobreviventes, dos que escapuliram pelas janelas, fugiram e do reencontro com os familiares.
Neste Livro, Cortázar demonstra o porquê que é reconhecido como o autor de um dos livros mais importantes do contemporâneo. Como leitores, também somos condicionados, por determinadas formas de se ler um livro, e ele vai além, mudando nossos hábitos. Fazendo-nos questionar porque eu li um livro de tal maneira. Põe em cheque o jeito pelo qual analisamos uma obra.
Sem falar na maneira como ele detalhe seus personagens, faz um paralelo duma simples brincadeira de criança, um jogo de amarelinha, criando uma metáfora congruente ao existencialismo de Sartre, uma visão pós-dostoievskiana da vida moderna.
A narrativa lembra os grandes clássicos franceses como o escritor celebre Marcel Proust ou Gustave Flaubert; entretanto, a crítica argentina, a maneira de ser enxengar a vida, a sociedade e a cultura, junto com o típico sarcasmo dos nossos hermanos estão intrínsecos no livro para nos lembrar de que estamos lendo um livro argentino.
não estaria dizendo besteira se chamasse este escritor de Gênio e a sua obra de excelente nível, não sendo uma "Obra Completa" (Moby Dick, Irmãos Karamazóv, Em busca do tempo perdido), mas de imprescindível leitura para todos que são apaixonados por livro, sobretudo livros de excelência.
Anderson Proenç 04/05/2011minha estante
Perfeita resenha!


Wander.Oliveira 19/01/2019minha estante
Perfeita resenha? Acho que alguém precisa "enxengar" melhor o texto. Como levar a sério uma resenha com esse tipo de erro ortográfico? Ah! O elogio dos ignorantes...


Leony 29/06/2019minha estante
Simples erro de digitação. A resenha está muito boa, parabéns.




Wagner47 07/01/2024

Do sim ao não, quantos talvezes?
E se a literatura fosse desconstruída bem na sua frente? O caos aqui está presente a todo momento, seja pelos pensamentos dos personagens, acontecimentos trágicos ou até mesmo no modo de leitura.

O livro é composto, basicamente, de duas partes: 56 capítulos imprescindíveis, que compõem todo o teor da obra, e inúmeros capítulos prescindíveis, servindo de complemento para o livro e que não são obrigatórios.
Em janeiro de 2023 optei por apenas ler os capítulos imprescindíveis, o que resultou em uma avaliação entre 3 e 3,5/5. Porém com a releitura mais a leitura dos prescindíveis ao final de 2023, cheguei a uma conclusão que transcende as páginas: a sensação de ter passado por uma experiência muito gratificante.

Descrita como um antirromace, acompanhamos uma história de amor entre o argentino Horacio Oliveira e a uruguaia Lucía, chamada constantemente de Maga.
Horacio e Maga andam isoladamente pelas ruas de Paris até se encontrarem, buscando um pelo outro de forma inesperada. Horacio traz Maga para junto de seu círculo de amigos boêmios, o Clube da Serpente, composto por indivíduos tão intelectuais quanto ele.
Quer dizer, não tão intelectuais assim.

Durante as reuniões do Clube não demoramos para perceber que a Maga é a que mais se aproxima do leitor, sendo difícil de acompanhar os pensamentos dos integrantes do Clube de Serpente. Vai ficando cada vez mais nítido o pedantismo do Clube quando ninguém está disposto a responder às indagações de Lucía e sim estender um assunto até que ela desista.

A história principal é dividida em duas partes, sendo a segunda ambientada na Argentina e o encontro de Horacio com Traveler, seu amigo de longa de data, acompanhado de sua esposa Talita.

Eu poderia tecer alguns incômodos que me fizeram descontar na nota (como divagações enormes ou passagens aparentemente fora do comum), mas acredito que elas também se encaixam no que fez reavaliar a obra com outros olhos e que pretendo compartilhar nesta resenha.

Como dito um pouco mais acima, o que mais me conquistou nessa obra não foi nem a história, mas a experiência literária que passei com ela. Os capítulos prescindíveis de fato são complementares, mas também são muito enriquecedores. Com passagens rápidas e trazendo fluidez ao leitor, viajamos a outras épocas, acompanhamos referências (e que muitas delas nem entendi) e também sabemos mais a respeito de outros personagens (como o fato de Ossip sempre falar sobre uma mãe diferente).
Mas além de complementos, os capítulos prescindíveis trazem descobertas. Morelli, um autor tão citado por Horacio e pelo Clube da Serpente, se faz muito mais presente do que descrito nos capítulos imprescindíveis.

Outra questão em que a experiência fala mais alto é o comportamento da leitura refletindo com o comportamento dos personagens ou de seu ambiente. Para conversas bem aleatórias temos personagens bêbados; discursos sem pé nem cabeça acontecem numa ala psiquiátrica; há a vontade de abandonar um capítulo junto de um personagem que sai de cena; ou uma descoberta iminente sobre uma tragédia acontecendo num ambiente escuro pela ausência de luz.
Aparentemente parece óbvio, mas você sente como o ritmo de leitura é influenciado por essa mudança de atmosfera.

Outro ponto interessante é o tabuleiro mostrando qual o caminho a ser seguido durante a leitura (apesar de que no final de cada capítulo tem o próximo identificado). Se seguirmos a ordem proposta pelo autor e pela edição, não leremos o capítulo 55 (que faz parte dos capítulos imprescindíveis). Cortazar destrói a literatura proposta por ele mesmo quando menos se espera.

É uma obra repleta de referências e eu recomendaria fortemente o uso do Google acompanhado da leitura (não o fiz, pois senti que passaria mais tempo pesquisando do que lendo). Outra recomendação é ler conforme solicitado pelo tabuleiro logo de início. A releitura me ajudou a relembrar de alguns nomes importantes que já eram abordados desde o início do livro, mas também senti que estaria ainda mais desnorteado se tivesse utilizado o caminho proposto inicialmente.

O livro pode ser lido de diferentes formas e acredito que qualquer uma delas traria um certo impacto. Ou talvez, assim como Horacio, eu esteja imaginando falsidades para me obrigar a gostar do livro, como se eu tivesse comprado toda ladainha do autor e dessa história de desconstrução da literatura.
Talvez seja paradoxal. Talvez seja uma mera construção em uma desconstrução, de um "ir e voltar" de páginas.
Não sei.
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Luiz Roberto Silva 26/11/2021

Cortázar e seu clássico.
É um livro difícil, não é fluido, o enredo é mínimo e bastante abstrato, por vezes pedante. Mas vale a pena ser lido, pois Cortázar é um dos melhores no trato com a palavra, suas descrições dos momentos entre o casal protagonista são de tirar o fôlego. O amor é tátil.

É praticamente um romance de fluxo de consciência cheio de convenções bem particulares.

O texto consiste em um enredo principal com 56 capítulos e 99 não obrigatórios. Capítulos curtos. Pode ser lido em ordem cronológica ou o leitor pode pular (como em uma amarelinha) os capítulos, como o próprio Cortázar sugere.

É um livro sobre estar à deriva no mundo sonhado (conceituado) e se descobrir à margem, passeando pela sarjeta. Horácio, o protagonista, busca um propósito para a sua vida, se considera um fracassado e atravessa seus dias acompanhado de seus amigos intelectuais do "Clube da Serpente” e da pobre Maga, sua amante uruguaia. Todos vivem em condições igualmente precárias.

É uma obra pretensiosa? É. Mas a arte é pretensiosa, sempre. O autor se dispôs a desafiar os conceitos e se tornou referência para outros escritores. O livro é como um jogo que parece guardar em caixas seus tesouros, algumas caixas estão vazias, outras cheias de ouro.
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Élida Lima 01/03/2009

O Jogo da Amarelinha - Capítulo 7
(Trecho do romance escrito por Julio Cortázar em 1963. Tradução de Fernando de Castro Ferro)

Toco a sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e desenha no seu rosto, e que por um acaso que não procuro compreender coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão desenha em você. Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água.

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Aline 16/12/2010minha estante
Wow!!


Junior 27/04/2011minha estante
"Essa é A MELHOR descrição de um beijo que já foi feita."
Porém, é um LIXO de "resenha".




Mariane 26/06/2021

Top demais
Que livro, senhores! Que livro! Esse é um daqueles livrões que vc termina e só consegue pensar UAU. O livro todo é muito diferente. A forma com que é escrito faz a gente pensar e ser um leitor ativo. Um exemplo é um capítulo onde temos 2 textos diferentes que são dados em linhas alternadas, é muito confuso, mas é muito bom! Outro exemplo é o próprio livro que pode ser lido de 2 formas, seguindo a ordem convencional dos capítulos ou uma lista onde os capítulos são alternados. Eu li na ordem convencional por praticidade, porém muita coisa teria feito mais sentido se eu tivesse lido da outra forma. Pretendo ler assim numa próxima. O livro é dividido em 3 partes, sendo a primeira Do lado de lá e fala sobre o período em que Horacio Oliveira mora em Paris com Maga, a segunda Do lado de cá fala sobre a volta de Oliveira a Argentina a procura de Maga e a última De outros lados, traz capítulos que são complementares e que o autor chama de capítulos prescindíveis. Na verdade esses capítulos são muito esclarecedores. Também é interessante a forma como o jogo da amarelinha vai aparecendo no meio da história, apresentando-se como um personagem. O livro é bem confuso em alguns momentos e as discussões filosóficas que surgem foram bem chatas pra mim, mas é impossível não reconhecer a grandeza desse livro. Vc já leu ou ouviu falar de O jogo da amarelinha?
Najara Claudino 26/06/2021minha estante
Aiiiiii ??! Tô doida para ler esse livro! Amei a resenha aaaa ?




Joao.Alessandre 24/12/2022

Brincadeira complexa
O Jogo da Amarelinha nos apresenta dois caminhos de leitura. Sugere uma opção caótica onde são necessários saltos ora aprofundando o "enredo-base",  ora intercalando momentos de metafísica ou rebeldia literária incompreensíveis num primeiro olhar. Em vários momentos nos desafia e provavelmente empurra muitos para o abandono da obra. Outra possibilidade é seguir os capítulos na sequência até o 56 - desta forma a história flui sem maiores turbulências e bem menos sofrida. A impressão global é de um verdadeiro quebra cabeça literário onde as peças encaixam após muitas tentativas, esforço resiliente e apreço por caminhos complexos espelhando o ser humano multifacetado e falível
Carolina.Gomes 31/12/2022minha estante
Vou ler c o grupo de leitura mas minha intuição diz q n vou gostar.


Joao.Alessandre 31/12/2022minha estante
Realmente é uma leitura desafiadora com passagens incompreensíveis, áridas (considerando minhas limitações...) intercaladas por momentos de rara beleza. Fiquei com uma sensação de saldo final positivo. Depois vc me passa sua impressão. Excelente 2023 Carolina!!!


Carolina.Gomes 31/12/2022minha estante
Obrigada, João! Pra vc, tb! ??




jota 03/07/2023

Leitura um tanto difícil; melhor conhecer Cortázar através de seus contos, alguns também insólitos, como as histórias desse volume
Lido entre 03 de junho e 02 de julho de 2023.

Presente em várias listas dos melhores romances do século XX, em que invariavelmente também se encontra o Ulysses (1922), de James Joyce, com quem o livro de Julio Cortazar (1914-1984) dialoga a sua maneira, O Jogo da Amarelinha (1963) tem leitura difícil mas um tanto menos complexa do que a do volume do escritor irlandês, embora seja ousado em sua estrutura e narrativa como é aquele. Cansado de ler e escrever romances tradicionais, como o próprio Cortazar confessa numa das várias cartas que escreveu a editores, amigos e alguns leitores (elas estão presentes nessa edição da Companhia das Letras) ele decidiu escrever, partir então, no final dos anos 1950, para um “contrarromance” ou anti-romance.

Cortazar escreve ao destinatário de sua carta de 3 de junho de 1963, Jean Bernabé: “Espero que as inovações “técnicas” do romance não o incomodem; o senhor não vai demorar em adivinhar (...) que esses aparentes caprichos têm por objetivo exasperar o leitor e transformá-lo numa espécie de frère ennemi, um cúmplice, um colaborador da obra.” Uma dessas inovações era que os capítulos podiam ser lidos fora da ordem sequencial, ainda que na primeira página do livro haja um guia para a leitura, um tabuleiro, que se inicia no capítulo 73 e termina no 131, caracterizando assim o volume como um “jogo de amarelinha”, onde em vez de pular casas do desenho riscado no chão para a brincadeira, capítulos é que vão ser pulados.

Quer dizer, Cortazar estava delegando ao leitor a capacidade de também “construir” o romance, como destacou a FSP na sua famosa lista de 2006 dos cem melhores romances do século XX, onde especialistas brasileiros em literatura colocaram seu romance no 41º. lugar (Ulysses ficou em 1º.). Dividido em três partes, uma delas passada em Paris, Do Lado de Lá, outra em Buenos Aires, Do Lado de Cá, e uma terceira, De Outros Lados, Capítulos Prescindíveis (que o leitor pode escolher ler ou não pois não são indispensáveis para o “entendimento” do jogo), o volume é exatamente um jogo literário que levou 4 anos para ser escrito – ou montado, talvez ficasse bem melhor dizer assim – em que o que parece importar mais é a estrutura da obra do que propriamente a história que ela nos conta.

O volume narra em 156 capítulos a história não convencional, caótica, surrealista mesmo, de um intelectual argentino exilado em Paris nos anos 1950, Horacio Oliveira, em meio a muitas audições de discos de jazz (especialmente swing) e blues e música erudita, bebida, tabaco e muita conversa sobre, além de musica, filosofia, cinema, literatura, arquitetura et cetera. De certo modo Oliveira busca reencontrar Maga (ou Lucía), uma uruguaia misteriosa, sua ex-amante e musa, que ele chega a ver em outra mulher depois de seu retorno a Buenos Aires, Talita, mulher de outro personagem argentino, Traveler (viajante). O livro, quer dizer, a história de Oliveira, tem dois finais diferentes ou parece ter, conforme a sequência de leituras que se faça, porque o terreno da amarelinha de Cortazar a se pisar não é lá nada muito firme, então o leitor pode ficar mais próximo do Inferno do que do Céu nesse jogo.

Assim como em Ulysses foi necessário o livro do tradutor Caetano W. Galindo, Sim, Eu Digo Sim: Um visita guiada ao Ulysses de James Joyce (Companhia das Letras, 2016), para entender alguma coisa daquele calhamaço, aqui também foram úteis – e sobretudo necessárias – as próprias cartas de Cortazar presentes na edição, A história de O Jogo da Amarelinha nas cartas de Julio Cortazar, assim como os textos de Haroldo de Campos, O jogo de amarelinha, A atualidade de O Jogo da Amarelinha, de Julio Ortega e O trompete de Deyá, de Mario Vargas Llosa. Para Campos, Cortazar está para a literatura hispano-americana assim como Guimarães Rosa está para a literatura em língua portuguesa. Para Llosa, "Nenhum outro escritor deu ao jogo a mesma dignidade literária. A obra do autor argentino abriu portas inéditas." Ainda que tenha certa poesia, palavras e frases surpreendentes, situações inusitadas e outras qualidades, para mim ela deu muito trabalho: foi um mês de leitura nem sempre agradável, porque o livro é sobretudo cerebral.

De todo modo, há um capítulo muito saboroso e até mesmo cômico, o 23º., a melhor coisa que encontrei no livro. É narrado de modo tradicional e trata do encontro, em uma noite chuvosa em Paris, entre Oliveira e uma pianista clássica, Berthe Trépat, bem mais velha do que ele. Para fugir da chuva e sem nada a fazer ele entra numa sala de concertos quase vazia e lá encontra essa mulher ridícula, frustrada e petulante, que enxerga numa sala com pouquíssimos ouvintes, mais de quatrocentas pessoas a assisti-la et cetera. Eles têm uma longa conversa (curiosíssima, por conta de Trépat) durante a caminhada de volta para o apartamento dela e ao final do encontro acusa Oliveira de assédio sexual, sem que nada tivesse havido entre os dois.

Bem, para finalizar, o melhor de Cortazar que li até agora foi mesmo a novela O Perseguidor (Cosac Naify, 2012) e vários contos espalhados pelos volumes A Autoestrada do Sul & outras histórias (L&PM, 2013), Fora de Hora (Nova Fronteira, 1985) e As Armas Secretas (José Olympio, 2001). O Jogo da Amarelinha foi um em que certamente Cortazar se divertiu muito mais ao escrever/montar o livro do que muitos leitores ao lê-lo. Faz parte (da literatura), e isso aqui também não é uma resenha, apenas alguns comentários pós leitura...
Paulo Sousa 15/07/2023minha estante
Tenho dois livros dele aqui. Este aí, e um em espanhol, inclusive, adquirido numa livraria bela rua de Buenos Aires num frio dia de um setembro memorável. Mas ainda não tive coragem e ânimo para enfrentar o escritor. Aliás, ultimamente nenhum deles ?.


jota 15/07/2023minha estante
Paulo: Cortázar em português já não é muito fácil... [O Perseguidor (Cosac Naify, 2012) é uma boa novela, sem invencionices, vale a pena, assim como vários contos espalhados por A Autoestrada do Sul & outras histórias (L&PM, 2013), Fora de Hora (Nova Fronteira, 1985) e As Armas Secretas (José Olympio, 2001)




vortexcultural 18/09/2014

O Jogo da Amarelinha - Julio Cortázar
Por Cristine

Há livros que marcam a sua geração. Há livros que se tornam marca dessa geração aos olhos das seguintes. E há livros que nascem para ser eternos. Este, como poucos, pertence às três categorias. Publicado nos já míticos anos 60, O jogo da amarelinha teve imediatamente uma recepção extraordinária nas mais variadas línguas e latitudes, Ari Roitman, que assina o prefácio da obra.

Com um prólogo assim, não é de se estranhar que leitores atuais entre os quais me incluo peguem a obra para ler com uma expectativa estratosférica. E isso é um de seus problemas. Todo o folclore criado ao redor do livro, incitam no leitor inúmeras ideias preconcebidas, indo da dificuldade da leitura ao deslumbramento com a obra. E iniciar a leitura com essa carga emocional acarreta basicamente dois sentimentos:

Frustração: o leitor, mesmo apreciando o texto, sente-se um pouco desiludido pois queria ter gostado mais do livro (parafraseando aqui Calebe, do blog Os Espanadores).

Logro: e esse mesmo leitor, sente-se enganado por tanta propaganda enganosa, com a certeza de que a obra foi valorizada em excesso, aclamada em excesso, analisada à exaustão; enfim, concluindo que não era aquilo tudo que falam por aí. Acrescente-se aí a ideia erroneamente disseminada de que a leitura não-linear sugerida pelo autor daria origem a uma história complemente diferente daquela resultante da leitura linear indo do capítulo 1 ao 56, sem ler os capítulos prescindíveis. Na verdade, é indiferente, dá na mesma ler de um jeito ou de outro, pois a história permanece a mesma, apenas com mais divagações filosóficas.

Há motivos para ser assim. E acredito que mesmo aqueles que deram a ela 5 estrelas no Goodreads concordem com o fato de que o livro ficou datado sob alguns aspectos. Não há como negar a criatividade estilística do autor. Contudo, há 50 anos certamente o impacto no leitor era exponencialmente maior que nos dias atuais. Nem mesmo o conceito inovador de seguir uma outra ordem de leitura dos capítulos deixou de ser novidade há muito tempo, desde o advento dos livros-jogo, uma febre nos anos 80, cujo melhor exemplo (IMHO) são os da coleção Give Yourself Goosebumps, de R.L.Stine, um spin-off dos Goosebumps regulars. Vale lembrar que, nestes, a sequência de leitura dos capítulos altera, sim, o rumo e o desfecho da história.

No romance, o leitor segue as andanças de Horácio Oliveira. A obra é dividida em três partes: Do lado de lá, Do lado de cá e De outros lados (Capítulos prescindíveis). Na primeira parte, ambientada em Paris (onde o livro foi escrito), acompanhamos o casal Horácio e Maga, e as reuniões com seus amigos, regadas com muita bebida, cigarros e jazz. Na segunda parte, Horácio está de volta a Argentina, onde reencontra um amigo, Traveler, e passa a conviver com ele e a esposa, Talita. A terceira parte é constituída pelos capítulos prescindíveis, aqueles que não fazem parte da leitura linear.

Mesmo lendo de forma direta, os capítulos oscilam entre eventos, digressões do protagonista e papos filosóficos entre os amigos, principalmente na primeira parte. Apesar de a segunda parte ter a cena que mais me chamou atenção depois do plot twist na primeira parte a cena da tábua, que sei que desagrada a muitos -, ela é bem mais insossa. Tem-se a impressão de que foi escrita às pressas e sem muito empenho por parte do autor. Não é o nonsense, nem o absurdo de algumas situações, tampouco a (quase) certeza de que o narrador não é confiável que incomodam, mas sim a nítida sensação de que há história de menos para tanto texto ou, em bom português, muita encheção de linguiça. O excesso de capítulos que não acrescentam nada à narrativa quase obriga o leitor a fazer uma leitura superficial, o que causa um certo desconforto e até um pouco de remorso: Eu deveria estar me dedicando mais.

Uma enorme quantidade de citações a autores, filósofos, músicos, e outros não chega a atrapalhar a fluidez da leitura caso o leitor não faça ideia do que se trata, mas deixa a impressão de que talvez a história pareceria mais interessante se quem lê-la souber do que se trata. Em outras leituras, eu eventualmente até paro a fim de procurar as referências. Mas, neste caso, são tantas que passaram batidas todas as que não fizeram sentido para mim. Possivelmente, muitas dessas referências eram assuntos da moda na época em que o livro foi escrito, sendo facilmente identificadas e contextualizadas pelos leitores de então.

Exceto pelos personagens principais, todos os outros parecem ser variações do mesmo. É quase impossível diferenciá-los, já que todos parecem ter a mesma voz narrativa. Se a intenção de Cortázar foi de construir personagens que deixassem o leitor incomodado por sua insipidez, sua falta de complexidade e sua chatice, seu objetivo foi atingido. É bastante tentador, quando conversam entre si, fazer uma leitura dinâmica até encontrar um parágrafo que volte a ser interessante. Em vários trechos, senti-me o próprio Charlie Brown em sala de aula, ouvindo sua professora: Uon uón, uon uón uon, uon. Nenhum deles consegue gerar muita identificação no leitor, pouco importando a este qual o destino dos personagens, o que certamente também dificulta a imersão na história.

Enfim, é inegável o valor da obra como experimento formal. Mas ter envelhecido mal atrapalha a apreciação dos leitores de hoje, além de sua fama de ser uma leitura difícil. Não é difícil, apenas perdeu seu poder de arrebatamento no passar dos anos.

site: http://www.vortexcultural.com.br/literatura/resenha-o-jogo-da-amarelinha-cortazar
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@livreirofabio 17/01/2015

Era amargo aceitar que se pode dançar na escuridão.
Horácio conhece as ruas de Paris. Horácio conhece as esquinas e becos de Paris; os mendigos de Paris. E tem amigos e amantes em Paris. Horácio não tem terra e tenta sombrear sua origem portenha. Cidadão do mundo que divaga e que prende-se entre dois pólos. Infinitos pontos de referência o trariam prazeres orgiásticos metafísicos guiados por Morelli.

O jogo da Amarelinha é difícil e vai se abrindo aos poucos em pequenas frestas com considerável dificuldade. Eu o li saltando o jogo, entre os capítulos "do lado de lá", "de cá" e os "de outros lados/prescindíveis" - respectivamente em Paris, Buenos Aires e uma mescla de citações e alguns capítulos extremamente chatos, aliás, esses capítulos quase levam a desistir da leitura, aqui se testa a perseverança. Em compensação há outros capítulos lindos, tão bem construídos que poderiam facilmente se destacar como contos isolados (por exemplo o que Horácio acompanha Mme. Berthe Trépat até em casa, desenhando uma Paris de submundo e chuva, linda), mas que ainda assim se encaixam perfeitamente na continuidade do livro.

Os personagens do Clube da Serpente parecem mais apagados e apesar de todas as discussões e inseguranças, não conseguem transmitir muito de seu debate ao leitor. A atração desse lado está em Maga/Lucía, é ela que se sobressai porque preserva autenticidade e dentro das circunstâncias é incrivelmente honesta. Pra cá, na Argentina, a honestidade se transfere para Traveler e Talita.

Parece que longe da efervescência e das possibilidades de Paris, e sem o clube, Horácio baixa a bola, parece que a convivência com o casal de amigos (Traveler e Talita) diminui a marcha embora aumente seu cinismo. Isso toma forma com o livro caminhando para o fim. Horácio se humaniza e Cortázar o despe de pedantismo, pelo menos em parte. Horácio
constata que as indagações caem quase sempre em inutilidade e histeria, e embora não dê sinal de abandoná-las, diminui a dose.

a.J.C. - d.J.C. E no fim não há céu. é no fim que se percebe que Cortázar não prometeu céu nenhum. A pedrinha sai fora do jogo, para no 6 ou no 4 ou sobe para o 7. Não há céu, não se alcança. Só a caminhada, essa é uma promessa que é cumprida. Cortázar desenha o tabuleiro e organiza a fila de um só. A esperança de chegar ao céu fica por conta de sua criatividade e equilíbrio.

"Para consolar-se, passava em revista as coisas boas de sua vida. Por exemplo, uma das boas coisas da sua vida tinha sido entrar, em certa manhã de 1940, no escritório do seu chefe, na Repartição dos Impostos Internos, com um copo de água na mão. Saíra despedido, enquanto o chefe absorvia com um mata-borrão a água que recebera no rosto." pg. 251.
Arsenio Meira 17/01/2015minha estante
Fábio, a resenha leva sua assinatura: sincronia, densidade e criatividade. Além do lembrete dado ao leitor, qual seja, com Cortázar, não há moleza. A gente tem que participar. Já li quase todos os contos do mestre Argentino. Logo, vou percorrer este jogo um tanto quanto penoso e recompensador. Abraços.




Bruno.Dellatorre 29/01/2023

Meu livro favorito
Sem muito mais o que dizer além disso. É uma verdadeira revolução (na literatura e na vida de quem lê). Destinado a ficar para sempre na cabeceira.
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Camila.Szabo 23/12/2021

Minha experiência
Não me cancelem, mas não gostei desse livro. Pra mim foi uma leitura super cansativa que não me despertou nada em especial. Os capítulos prescindíveis tem alguns interessantes, alguns chatérrimos e a maioria é totalmente descolada da história principal.
Nos imprescindíveis, alguns momentos me interessou a história de Horácio e Maga, mas depois acabei cansando também. A parte mais interessante pra mim foi imaginar o que foi o final de Horácio.
No entanto, gosto de ler livros clássicos para ter a minha própria opinião sobre eles. Leio por lazer, então nunca é tempo perdido.
P.S.: Lembrando que é a minha experiência, li em grupo e tiveram pessoas que acharam genial. Acho que tem muito a ver com o tipo de leitura, de assunto, de reflexão que interessa vc.
Ana Clara 24/12/2021minha estante
Me identifiquei com a sua experiência. Abandonei esse livro depois de alguns capítulos e lembro que pensei "muito fácil fazer um livro que se propõe diferentão quando todo capítulo é um monte de chatice desconexa". Isso faz uns dez anos, mas até hoje a vontade de dar uma nova chance é zero.


Camila.Szabo 26/12/2021minha estante
Pensei a mesma coisa de vc. Até que ponto é genial ou é apenas feito de qlq jeito... não me cativou nada.




@wesleisalgado 12/12/2021

Significação literária incompreensível para esse leitor.
Sinto uma preguiça enorme em escrever resenhas, fora as do desafio Skoob anual, dificilmente me aventuro em uma. Porém a obra aqui e sua relevância literária (incompreendida por mim) merece o tempo desprendido nessa escrita.

Foram 4 meses para ler o livro em sua totalidade, da maneira pretendida pelo escritor. Eu li uma primeira vez cronologicamente até o capítulo 56, e depois voltei na sequência proposta a tudo que já tinha lido anteriormente, mais os capítulos prescindíveis, acabando no 131.

A premissa é bem simples, anos 60, Oliveira, um latino boêmio pseudo-intelectual, passa seus dias em Paris junto com seus amigos e seu "interesse" amoroso, Maga. Após um trágico evento o mesmo se vê erradicado de volta a Argentina, onde encontra seu velho amigo Traveler e sua esposa Talita.

Talvez eu não tenha tanta inteligência para apreciar tudo ali escrito, todas as referências a jazz, literatura e a própria Paris (a personagem mais interesse no livro) me soaram muito pretensiosas. Igualmente pretenso é seu protagonista, Horacio é desprezível como todos os integrantes do seu clube, não havendo meio de eu sequer gostar dele, imagine me importar com ele. Nem sua história como Maga. Todos ali são um bando de vagabundos com mais de 30 anos, sem empregos porém intelectualizados.

A segunda parte da história, de volta a Argentina, é menos sofrível devido a Traveler e Talita, nem de perto insuportáveis como todo o núcleo de amigos parisienses do protagonista. Contudo, mesmo assim não consegui enxergar tamanha revolução literária provocada e provavelmente não lerei mais nada do Cortázar depois daqui.

Com certeza aquele edição maravilhosa e toda colorida da Companhia das Letras vai te seduzir, eu acabei lendo uma edição antiga vinda de uma troca pelo próprio Skoob. Entretanto, acho que um leitor mais incauto, deva se situar melhor sobre a obra (coisa que eu não fiz), antes de embarcar nela. Ou talvez eu careça realmente de intelecto suficiente para apreciar tudo escrito ali.

No canal de podcast da editora Cia da Letras , existe um episódio sobre o livro que ajuda a clarear alguns pontos, só procurar lá no Spotfy por O JOGO DA AMARELINHA.
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Giovanna.Gregorio 22/04/2021

Encontraria Maga?
Esse livro me pegou desde o primeiro momento e geralmente eu devoro livros que eu amo, mas é impossível devorar Cortázar, na verdade, nós é que somos devorados, talvez a grande experiência tenha sido a tentativa de não ser devorado por esse livro, é preciso estar atento o tempo todo, ele demanda, muita gente diz que o jogo da amarelinha é um personagem, para mim, o jogo é o próprio livro.

Aqui o leitor precisa existir. Uma história de amor fragmentada e o leitor incessantemente tentando juntar os cacos, passeando pelas mentalidades, se reconhecendo na Maga, na mediocridade do Horácio e na radicalidade do Cortázar, um belo processo de autoconhecimento.

Passeando entre "o lado de cá" e "o lado de lá" e encontrando sentido naquilo que é prescindível.
Eu terminei esse livro sentindo que estava o começando.
Alê | @alexandrejjr 22/04/2021minha estante
Como não ficar curioso sobre o livro depois desse texto? Fantástico!




gwasem 03/12/2022

Uma obra de arte. Neste livro Cortazar subverte a forma habitual do romance e nos convida a participar de sua construção, se assim desejarmos. O cerne da história pode ser lido sequencialmente até o capítulo 56. Podemos, também, seguir outra ordem, conforme sugerido numa tabela na primeira página ou da maneira que desejarmos, misturando os capítulos prescindíveis aos demais. Nesta outra ordem saltamos entre os capítulos.

A beleza do livro está justamente no fato de que a história de nossas vidas, aquela que é feita no dia-a-dia, não se trata, apenas, de uma linha contínua, mas um vai e vem entre nossas lembranças, experiências, encontros e desencontros. Um eterno construir e desconstruir, uma busca infindável. Assim como fez o mestre Argentino!
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Eduardo1304 13/02/2022

Amarelinha um jogo.
Um livro que cada um pode dar a sua própria versão. O Jogo da Amarelinha que Cortázar consegue maximizar as ambiguidades das relações. Seja no tecer de um exílio forçado da primeira parte ou na saudade que Horácio sente de Maga, na segunda, e que projeta em Talita, Cortázar reconstrói os contrapontos de um homem em fuga e, em algum sentido, distante de tudo, até mesmo de si.
É interessante pensar O Jogo da Amarelinha sob a perspectiva do isolamento. Alojado dos seus, Horácio se refugia no Clube da Serpente, uma espécie de sociedade que forma com outros párias e merdunchos em Paris. É durante as reuniões do grupo que se ouve jazz, discute-se Sartre e fala-se do mundo que despencava lá fora. E é em um desses encontros que o bebê de Maga morre, rompendo as relações dela com aquele mundo.
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