Larissa3225 19/02/2022Final EsperançosoEis que finalmente terminei a trilogia MaddAddão. E estou muito satisfeita!
Depois da junção das narrativas de Jimmy, Ren e Toby, no livro anterior, aqui, em MaddAddão, acompanhamos a vida dos três junto dos Crakers e dos Maddaddamitas restantes, enquanto eles precisam lidar com a ameaça oferecida pelos Painballers.
E esse é o ponto alto do livro. Ver a interação entre os humanos e os Crakers é maravilhoso. Algumas interações são divertidas, enquanto outras são assustadoras. Porém, a forma como elas são criadas e descritas mostram, de uma forma muito real, as dificuldades de convivência entre as duas espécies que, por mais que sejam parecidas, são muito diferentes fisica e culturalmente.
Outra interação interessante de acompanhar é aquela entre as pessoas e os porcões. É bizarro, mas muito legal, ir percebendo aos poucos como os porcões também têm uma cultura e rituais próprios. E por mais inusitado que possa ser, no fim das contas, o estabelecimento de um acordo entre os porcões e as pessoas faz sentido.
Mais um ponto alto do livro (e da série como um todo) é a construção das religiões. Nos livros anteriores, já haviam aparecido os Jardineiros de Deus, além de uma ou outra referência a Crake e Oryx serem divindades para os Crakers. Já em MaddAddão, vemos um aprofundamento dessa religião dos Crakers. Vemos como eles têm várias dúvidas existenciais sobre quem eles são, de onde vieram, por que eles estão ali, e como essa "religião" deles vai crescendo, se expandindo (para o desgosto de Crake), e todo o trabalho de Jimmy e Toby para adaptar a realidade na forma de narrativas compreensíveis para os Crakers. Mas também somos introduzidos à Igreja do PetrOleum, que é uma maluquice só. Mas uma maluquice incrível. Foi muito interessante saber mais sobre a infância do Adão Um (e do Zeb) e da criação deles dentro dessa Igreja. É curioso ver como a Igreja do PetrOleum e os Jardineiros de Deus são quase completos opostos.
Porém, a melhor parte, o melhor personagem, é o Blackbeard. Eu terminei o livro apaixonada por ele. É muito gostoso ver a interação dele e da Toby. Meio que uma interação de mãe e filho. E ele passa uma vibe muito criança sapeca, que é curiosa ao mesmo tempo que tem medo das coisas. A relação dos dois e como eles se conectam através da escrita e da leitura, é algo muito legal de acompanhar, principalmente sendo leitor. E quando, no final, começam alguns capítulos dele, eu surtei. E faz todo sentido ele ser a pessoa que vai contar e registrar as histórias, substituindo a Toby e o Jimmy. E quando ele diz que vai ser pai no fim? Eu chorei. Melhor personagem.
Porém, isso nos leva aos problemas que tive com o livro. Por mais que, no geral, a história do Zeb fosse interessante, ela me desanimava. Toda vez que começava um capítulo dele, me dava uma vontade de parar de ler. Não sei se foi o senso de humor do personagem ou o narrador do audiobook, só sei que não rolou para mim. Outra coisa que me desagradou, foi a forma como a Ren e a Toby foram escritas nesse livro. Em O Ano do Dilúvio, elas eram incríveis. Fodonas. As duas sobrevivendo sozinhas, comendo o pão que o diabo amassou, donas das próprias vidas. Nesse livro, a Toby passa tempo demais com ciúmes do Zeb. Eu achei bonitinho eles juntos, até shipei, mas a paranoia e ciúmes dela pareceram muito deslocados. Já a Ren virou uma grande mimada, uma chata. Correndo atrás do Jimmy, num vai não vai com o outro menino. O Jimmy também podia ter aparecido mais. E por fim, o ritmo do livro deixa um pouco a desejar. O meio dele é bastante lento. Mas nos últimos 20% a coisa engrena de novo. Com certeza, foi o que mais sofri para ler. Não sei dizer se foi por conta das minhas questões com a tradução e a mudança para o audiobook em inglês ou se por questões da própria narrativa.
Contudo, independente dos problemas, é uma conclusão muito boa para a série. Apesar de não ser perfeito nem o meu favorito, todas as adições de história de fundo e construção de mundo que são apresentadas são incríveis e temos as histórias de origem de vários personagens apresentados no livro anterior. MaddAddão consegue amarrar a história de forma convincente e cria um final extremamente esperançoso. Foi um prazer explorar esse mundo e conhecer esses personagens. É uma história que muitas vezes nos assusta e nos choca. Mas, em outros tantos momentos, nos acolhe. E, para a minha surpresa, eu amei esse final feliz. Não é um final utópico em que tudo são flores, mas um em que o bem fica em maior evidência que o mal. E às vezes precisamos de histórias assim.