MaddAddam

MaddAddam Margaret Atwood




Resenhas - MaddAddam


2 encontrados | exibindo 1 a 2


Larissa3225 19/02/2022

Final Esperançoso
Eis que finalmente terminei a trilogia MaddAddão. E estou muito satisfeita!

Depois da junção das narrativas de Jimmy, Ren e Toby, no livro anterior, aqui, em MaddAddão, acompanhamos a vida dos três junto dos Crakers e dos Maddaddamitas restantes, enquanto eles precisam lidar com a ameaça oferecida pelos Painballers.

E esse é o ponto alto do livro. Ver a interação entre os humanos e os Crakers é maravilhoso. Algumas interações são divertidas, enquanto outras são assustadoras. Porém, a forma como elas são criadas e descritas mostram, de uma forma muito real, as dificuldades de convivência entre as duas espécies que, por mais que sejam parecidas, são muito diferentes fisica e culturalmente.
Outra interação interessante de acompanhar é aquela entre as pessoas e os porcões. É bizarro, mas muito legal, ir percebendo aos poucos como os porcões também têm uma cultura e rituais próprios. E por mais inusitado que possa ser, no fim das contas, o estabelecimento de um acordo entre os porcões e as pessoas faz sentido.
Mais um ponto alto do livro (e da série como um todo) é a construção das religiões. Nos livros anteriores, já haviam aparecido os Jardineiros de Deus, além de uma ou outra referência a Crake e Oryx serem divindades para os Crakers. Já em MaddAddão, vemos um aprofundamento dessa religião dos Crakers. Vemos como eles têm várias dúvidas existenciais sobre quem eles são, de onde vieram, por que eles estão ali, e como essa "religião" deles vai crescendo, se expandindo (para o desgosto de Crake), e todo o trabalho de Jimmy e Toby para adaptar a realidade na forma de narrativas compreensíveis para os Crakers. Mas também somos introduzidos à Igreja do PetrOleum, que é uma maluquice só. Mas uma maluquice incrível. Foi muito interessante saber mais sobre a infância do Adão Um (e do Zeb) e da criação deles dentro dessa Igreja. É curioso ver como a Igreja do PetrOleum e os Jardineiros de Deus são quase completos opostos.

Porém, a melhor parte, o melhor personagem, é o Blackbeard. Eu terminei o livro apaixonada por ele. É muito gostoso ver a interação dele e da Toby. Meio que uma interação de mãe e filho. E ele passa uma vibe muito criança sapeca, que é curiosa ao mesmo tempo que tem medo das coisas. A relação dos dois e como eles se conectam através da escrita e da leitura, é algo muito legal de acompanhar, principalmente sendo leitor. E quando, no final, começam alguns capítulos dele, eu surtei. E faz todo sentido ele ser a pessoa que vai contar e registrar as histórias, substituindo a Toby e o Jimmy. E quando ele diz que vai ser pai no fim? Eu chorei. Melhor personagem.

Porém, isso nos leva aos problemas que tive com o livro. Por mais que, no geral, a história do Zeb fosse interessante, ela me desanimava. Toda vez que começava um capítulo dele, me dava uma vontade de parar de ler. Não sei se foi o senso de humor do personagem ou o narrador do audiobook, só sei que não rolou para mim. Outra coisa que me desagradou, foi a forma como a Ren e a Toby foram escritas nesse livro. Em O Ano do Dilúvio, elas eram incríveis. Fodonas. As duas sobrevivendo sozinhas, comendo o pão que o diabo amassou, donas das próprias vidas. Nesse livro, a Toby passa tempo demais com ciúmes do Zeb. Eu achei bonitinho eles juntos, até shipei, mas a paranoia e ciúmes dela pareceram muito deslocados. Já a Ren virou uma grande mimada, uma chata. Correndo atrás do Jimmy, num vai não vai com o outro menino. O Jimmy também podia ter aparecido mais. E por fim, o ritmo do livro deixa um pouco a desejar. O meio dele é bastante lento. Mas nos últimos 20% a coisa engrena de novo. Com certeza, foi o que mais sofri para ler. Não sei dizer se foi por conta das minhas questões com a tradução e a mudança para o audiobook em inglês ou se por questões da própria narrativa.

Contudo, independente dos problemas, é uma conclusão muito boa para a série. Apesar de não ser perfeito nem o meu favorito, todas as adições de história de fundo e construção de mundo que são apresentadas são incríveis e temos as histórias de origem de vários personagens apresentados no livro anterior. MaddAddão consegue amarrar a história de forma convincente e cria um final extremamente esperançoso. Foi um prazer explorar esse mundo e conhecer esses personagens. É uma história que muitas vezes nos assusta e nos choca. Mas, em outros tantos momentos, nos acolhe. E, para a minha surpresa, eu amei esse final feliz. Não é um final utópico em que tudo são flores, mas um em que o bem fica em maior evidência que o mal. E às vezes precisamos de histórias assim.
comentários(0)comente



Ruh Dias (Perplexidade e Silêncio) 06/02/2018

Sugestão de leitura
Embora os três livros estejam entrelaçados, as obras podem ser lidas separadamente, pois elas fazem sentido individualmente. Porém, ao ler os livros na ordem da trilogia, a experiência de leitura sobe um nível, pois o leitor se depara com as personagens principais dos outros livros mas, agora, em papel coadjuvante.

A premissa da trilogia é que toda a raça humana foi exterminada, propositalmente, devido a uma pandemia que derreteu os seres humanos. A pandemia foi possível através da inserção de componentes químicos específicos nas vitaminas e nos remédios contra impotência sexual, os dois medicamentos mais vendidos no mundo. Esta praga foi construída em laboratório com o objetivo de substituir os seres humanos por uma raça superior, chamada Crakes. Os Crakes foram nomeados a partir de seu criador, Crake, que dá o título do 1º volume, Oryx e Crake. Os Crakes são seres geneticamente construídos para não possuírem os defeitos físicos, morais e psicológicos dos seres humanos: eles não sentem medo, não são violentos, são amorais, ingênuos, possuem uma pele que repele insetos para evitar doenças de contágio, entre outras características.

No primeiro volume, a estória do extermínio da raça humana foi contada a partir do ponto-de-vista de Jimmy, amigo de Crake. No segundo volume, a perspectiva é de Ren e Toby, duas garotas que foram salvas pelos Jardineiros, um grupo/seita que acredita na salvação do homem, dos animais e das plantas. Elas, eventualmente, encontram Jimmy, ferido e à beira da morte, e o levam para os Jardineiros, onde ele poderá ser medicado e curado.


O terceiro volume começa imediatamente depois do término do segundo, retomando a estória do mesmo ponto. Ren e Toby resgatam sua amiga, Amanda, de uma armadilha feita por alguns bandidos que rondam a Terra após o extermínio. Elas também encontram Jimmy, que está quase morrendo por causa de uma infecção decorrente de um acidente (relatado no primeiro volume) e os Crakes, que cuidam de Jimmy e acham que ele é um enviado de Deus. Os Crakes acreditam que o Deus é Crake, o criador deles, e como Jimmy era amigo de Crake, eles o consideram uma espécie de profeta e o veneram.

Com a decadência mental e física de Jimmy, Toby o substitui como líder dos Crakes e, por isso, todas as noites, ela precisa contar as estórias que Jimmy contava a eles: sobre a criação do mundo, sobre o fim do caos e sobre as coisas que existem ao redor deles. Os Crakes não sabem nada - literalmente - e os trechos onde Toby precisa explicar o funcionamento de tudo são os melhores do livro. Estes trechos misturam poesia, humor e uma melancolia doce, por causa da imensa ingenuidade dos Crakes. Os momentos de humor ficam por conta do Foda-Se - Toby, um dia, solta este palavrão na presença dos Crakes e não consegue explicar o que significa; os Crakes acabam achando que Foda-se é um Deus, amigo de Crake. Assim, nos momentos de perigo, os Crakes chamam pelos poderes do Foda-Se.

Aqui, a voz narrativa se reveza entre Toby e Zeb, o líder dos Jardineiros. Nos momentos em que Zeb é o narrador, a estória volta ao passado e ele narra os eventos de sua vida desde a adolescência, ao lado de seu irmão adotivo Adão. Adão é o responsável por criar uma rede secreta de hackers que organiza diversos assassinatos de homens poderosos e maus, incluindo o pai de ambos, um reverendo. Zeb também conta como conheceu Glenn, que posteriormente se tornará o Crake que dizimará a raça humana. Entre eles, há uma série de personagens coadjuvantes também muito relevantes que tem o objetivo de proteger o abrigo secreto deles dos bandidos.

Dentre os Crakes, há um ritual de reprodução onde a fêmea, quando está ovulando, fica com o abdômen azul, o que sinaliza aos machos que ela está apta para uma relação sexual. Quatro machos fazem sexo com uma fêmea, que engravida e perpetua a raça dos Crakes. Amanda, uma das Jardineiras, está ovulando e os Crakes sentem o cheiro, encurralando-a e forçando-a ao ato sexual com quatro machos. Para os Crakes, eles fizeram uma gentileza; para Amanda, foi estupro. Amanda acaba engravidando dos Crakes o que propicia, ao final do livro (e da trilogia) a sensação de continuidade da estória: como serão os híbridos de humanos e Crakes? Será que Glenn/Crake previu que isso aconteceria? Será que os híbridos serão violentos como os humanos ou pacíficos como os Crakes? A idéia que Atwood dá é que o mundo será repopulado a partir dos Jardineiros, pois duas moças também estão grávidas de seus respectivos cônjuges.

Mas, para mim, a parte mais bonita da estória é o relacionamento entre Toby e o Crake Barba Negra. Barba Negra é um Crake criança, o que lhe confere uma personalidade ainda mais doce e inocente. Ele logo se vincula à Toby, pois ela é amável e carinhosa com ele. Barba Negra fica curioso com o diário de Toby, pois ele não entende o que é escrita, comunicação, palavras, caneta e papel. Aos poucos, Toby ensina Barba Negra a ler e a escrever e, ao final do livro, o leitor sabe o que está acontecendo através dos registros dele, que são meigos, equivocados e engraçados. Ele acabou se tornando minha personagem preferida de toda a trilogia, e fiquei feliz por Atwood ter dado mais destaque aos Crakes neste volume. Afinal, são eles e os Jardineiros que irão reconstruir a Terra.

A trilogia é incrível. Atwood não poupa violência em seus relatos, construindo uma narrativa densa, profunda e perturbadora em todos os volumes. Suas personagens são muito bem desenvolvidas e os elementos de ficção especulativa fazem muito sentido. É uma leitura que recomendo muitíssimo.


site: http://perplexidadesilencio.blogspot.com.br/2018/02/sugestao-de-leitura-madaddam-de.html
sylviord 04/06/2018minha estante
Vc sabe me dizer se tem esse livro em português?


Ruh Dias (Perplexidade e Silêncio) 04/06/2018minha estante
Não encontrei ele em PT, por isso acabei lendo em inglês.


sylviord 07/06/2018minha estante
Obrigado, dou meus pulos xD




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