Abduzindolivros 26/02/2024
Envelheceu mal, mas é isso aí
?O Canto das Sereias? é um thriller com uma força policial e um psicólogo criminal investigando o assassinato de alguns homens, cujos cadáveres mutilados intrigam e enojam pela natureza violenta dos crimes.
A polícia reluta em admitir que há uma só mente por trás dos crimes do mesmo modo que reluta em aceitar a opinião profissional de Tony Hill, o psicólogo esquisitão que fala sozinho quando analisa as cenas de crime.
Assim, gente, é um livro que, ah, sei lá. Muito enrolado para ser um thriller, poucos personagens e uma autora com uma habilidade apenas ok de nos manter intrigados e desviar nossa atenção de quem é o possível assassino.
Até pouco antes da metade, eu ainda estava intrigada; porém, depois tudo começou a ficar muito previsível dentro de uma história que andava muito devagar. Houve uma tentativa de estabelecer um romance entre a policial Carol Jordan e o Tony Hill que, na minha opinião, ficou meio solto ali na história e só contribuiu para arrastar o trem.
O que mais segurou a revelação de quem era o assassino foi a burrice do corpo policial, porque eu tenho certeza que o leitor mata a charada bem cedo e depois fica se sentindo meio tapeado. Não há problema em matar a charada mais cedo, mas aí tem que ter algum tchan para prender a gente até o fim... E esse tchan faltou.
Tem um personagem inserido ali que nos enganou por um tempo. Eu cheguei a cogitar que ele era o assassino por causa de algumas pistas deixadas, mas o negócio foi outro. Aí no final eu me senti tapeada porque a autora apenas escondeu o assassino de um jeito bem... Putz. Não vou dizer aqui o que penso sobre isso, porque pode ser spoiler, mas consigo pensar em algumas formas de trabalhar melhor essa parte do enredo...
Não é um livro ruim, mas é datado, com reviravoltas que hoje em dia não fariam mais tanto sentido. Os pontos altos eram os capítulos narrados pelo assassino, contando as torturas realizadas em cada vítima. Eram capítulos mais dinâmicos e interessantes do que a investigação policial lenta, burra, cheia de preconceitos e focada na atração meia boca entre Carol e Tony.
Um ponto forte é que parte das pistas perseguidas pela polícia tinha a ver com os frequentadores de boates gays e, por isso, a autora aproveitou para abordar os preconceitos da polícia e a demora em ouvir alguns tipos de cidadãos que talvez considerem menos cidadãos que outros, entendem? Achei que a autora abordou o assunto com habilidade, mostrando os preconceitos sem que ela mesma soasse como preconceituosa.
E até a reviravolta final pode ser interpretada como uma crítica à ineficiência das instituições em lidar com questões psicológicas advindas do preconceito contra quem sofre homofobia ou transfobia.
Mesmo assim... Terminei achando o final bastante desconfortável. Achei meio paia. Me lembrou de algumas polêmicas envolvendo uma outra autora que, inclusive, escreveu um romance policial com um enredo semelhante...
Enfim, é isso, não é um livro ruim, entretém, maaaas não dá para ir com grandes expectativas.