Sarah 10/07/2020
Carisma de Hitler?
Minha primeira consideração: mal escrito, ou mal traduzido(?) ou com muitos erros de digitação(?).
Com relação ao tema “carisma” de Hitler, o livro compõe mais uma narrativa que – na minha opinião - superestima o poder de persuasão do Führer. Vale aqui parafrasear Marilena Chaui “Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão `as ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; (...); se dar a cada um de nós e `a nossa sociedade os meios conscientes de si e de suas ações numa pratica que deseja que a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capezes”. Não é por acaso que ema 10 de maio de 1933, foram queimadas em praça pública, em várias cidades da Alemanha, as obras de escritores alemães inconvenientes ao regime. Em 1934, a "lista negra" incluía mais de três mil obras proibidas pelos nazistas. Por sorte, a obra de Nietsche foi tão deturpada pelo Nazismo (tendo como principal articuladora a irmã de Nietsche, Elisabeth, antissemita convicta) tendo assim sobrevivido ao banimento, nem tanta sorte a obra de Darwin foi altamente deturpada.
Hitler admira tanto Napoleão que em espanta não ter lido “O Príncipe – Maquiavel” as explicações para o sucesso inicial e posterior fracasso estão explicitas:
“qualquer que seja o poder que um príncipe tenha por meio de seu exército, ele sempre precisará do favor dos provinciais para entrar numa província.” – Quando Hitler inicia a expansão do Terceiro Reich através da justificativa de corrigir as injustiças do Tratado de Versalhes, os primeiros territórios a serem adquiridos, ou melhor, retomados foram: Renânia – Platinado; leste da Prússia, Áustria (terra natal de Hitler), Danzig;(...).
“ao conquistar territórios com idiomas, costumes e leis diferentes, é preciso ter sorte e habilidade para conservá-los.” – Nesse ponto o regime nazista falha sequencialmente, primeiro porque não tinha poder militar para manter os territórios anexados e segundo porque o regime imposto era tão severo que os habitantes de territórios invadidos fariam tudo retornar ao poder anterior, aliás, os próprios alemães se veem face ao enigma de como eliminar Hitler no final da Guerra.
“Donde se chega à conclusão de que os homens devem ser aconchegados ou eliminados, pois podem se vingar de pequenas ofensas, mas não das graves, porque a ofensa causada a um homem deve ser feita de maneira a não temer a sua vingança.” A entrada da Alemanha na URSS é tão terrível, pois assola a população russa na fome, na miséria – cercos de Stalingrado e Leningrado – que quando os Russos invadem o território alemão, toda a população alemã sente, como infelizmente é o caso relatado no livro da cidade Nemmersdorf (1944), faltou o livro contar que os cidadãos alemães tinham tanto medo dos russos que muitas famílias cometeram suicídio coletivo.
Existem mais paralelos, no entanto, escolho fechar com esse “Falha: aquele que permite a outro tornar-se poderoso, pois essa potência é conseguida por meio da esperteza ou da força, e esses dois meios são suspeitos para quem se tornou poderoso.”. No entanto, o livro deixa bem claro que o forte de Hitler não é seu senso de estratégia, mas sim, sua personalidade que não aceitava intransigência.
Talvez para a humanidade processar tantas atrocidades registradas, seja necessário desumanizar Hitler e o apropriar de uma mystique fantasiosa. Para mim o problema central do regime nazista era que a maior parte dos envolvidos não eram pervertidos, nem sádicos, mas eram terrivelmente normais. Inclusive, o livro fala em como seus subordinados manipulavam Hitler prometendo coisas que não cumpririam, adotando técnicas de escrita em seus memorandos.