Nossos ossos

Nossos ossos Marcelino Freire




Resenhas - Nossos Ossos


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Cristian Monteiro 09/08/2023

A experiência do autor com contos influencia muito a concepção dessa obra: Rápido, fluído e envolvente, a experiência, quase como um sopro de vida.

Sem nunca perder o ritmo o autor vai narrando a jornada de um homem lidando com a melancolia, alternando entre o passado como um jovem apaixonado e o presente, onde ele estipula que deve levar o corpo de um garoto de programa para sua terra natal.
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Valdeck2007 26/01/2014

Nossos Ossos ou Partida sem Volta
Drama humano, comovente, de um retirante nordestino que busca, em São Paulo, (sobre)viver na distância, física e emocional, que transforma seu peito num terreno tão árido quanto as terras de sua origem. É a partida de um, a partida de outro, o afastamento que cada pessoa pode sofrer, naturalmente ou forçada pelas circunstâncias da vida.

Nossos Ossos não apenas conta a história de um dramaturgo que atravessa o Brasil com o corpo de um garoto de programa com quem havia trepado. É muito mais que uma viagem fúnebre. Na trajetória com o defunto, o próprio narrador viaja de volta à sua terra natal, Recife, em busca das águas do Capibaribe, que tantas vezes lhe chamaram a Pernambuco e das quais ele fugiu por anos a fio, na corrida em busca de um amor, um corpo vivo.

Após anos de lutas para se firmar no sudeste e de buscas pelo amor, descobre ser portador do vírus HIV. Depois, se vê abalado com a morte de um michê com o qual ele saía pra pagar por sexo, e, quem sabe, por algumas migalhas de sentimento. O morto desperta em Heleno emoções que estavam adormecidas.

Como forma de compensar a si mesmo, sua solidão e a saudade da família, Heleno descobre o endereço dos pais de Cícero e leva o corpo do garoto de programa para ser enterrado com glórias no interior de pernambucano. Este ato, talvez, lhe redima da autocomiseração, pelo fato de estar longe da própria família. É como se ele se resgatasse a si mesmo de um destino semelhante ao de Cícero. As honras no velório e enterro seriam, por via transversa, um resgate, um prêmio, pela vida difícil, sofrida, que ambos (Cícero e Heleno), cada um a seu turno, tiveram na passagem pela Terra. Se não há retorno, que a partida seja – para outro estado ou para a vida eterna – triunfante, diferente, com os louros merecidos.

Um enterro digno, velado pela família do falecido seria a coroação do dramaturgo. Se não pôde salvar da morte o seu personagem, ao menos lhe daria uma partida teatral, com cenário, figurino, trilha sonora e o último cerrar das cortinas. Pagar pelo funeral de um conhecido seria como se redimir das culpas de acreditar no amor, da vida fingida que aprendeu no teatro, da busca por sexo nos corpos sarados expostos nas praias e praças. Paga a dívida, paga, também, talvez, a culpa.

site: http://www.galinhapulando.com/visualizar.php?idt=4665596
Geovanne 24/03/2022minha estante
Adorei seu comentário sobre o livro! Meus parabéns!!!!!




Charlene.Ximenes 09/08/2018

Nossas dores
A obra do Marcelino Freire, autor contemporâneo brasileiro, traz uma prosa poética que bagunça e incomoda o leitor. Já li alguns de seus livros e gosto muito das sensações que seus textos me trazem. Freire é pernambucano (precisamos ler mais autores nordestinos), já ganhou o prêmio Jabuti e o Machado de Assis (da Fundação da Biblioteca Nacional). A obra já foi traduzida para o francês e espanhol.

"Nossos ossos" é a primeira novela de Marcelino, que já havia se consagrado como contista. É importante destacar a arte da capa que é de Lourenço Mutarelli. O tom autobiográfico é evidente ao longo da narrativa, que reflete a trajetória de Heleno, um sertanejo pernambucano que se firma em São Paulo como dramaturgo e acaba entrando em crise ao saber que um dos seus amantes foi assassinado. Uma característica peculiar é que os episódios da narrativa são alternados com relação ao cadáver do amante e às memórias da infância de Heleno até sua chegada em São Paulo.

Angustia, dor, fragilidade, as relações que remetem à vida nas ruas bem como tensões constantes no que toca às relações humanas estão presentes na novela.
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Dhiego Morais 20/09/2017

Nossos Ossos
Desenterrei essa resenha, uma das primeiras que escrevi, há três anos. É possível que não esteja tão boa, mas achei útil publicá-la. Enjoy!

Está aí um autor nacional que eu desconhecia; vencedor de um Jabuti em 2006 por Contos Negreiros e que até o meu celular (no corretor automático) conhece! (Que loucura! Onde eu estava para desconhecer isso?!).
Foi durante o programa Viagem Literária (um programa do Estado de São Paulo que visa aproximar os autores do público, levando-os às bibliotecas, em eventos gratuitos) que eu decidi escrever esta resenha, enquanto pensava cá, no meio do bate-papo, a respeito de “Nossos Ossos”, primeiro romance desse autor nascido em Sertânia (PE).
“Nossos Ossos” é um romance que muitas vezes me lembrou da forma de uma crônica. Uma crônica mais longa que o usual. Narrado em primeira pessoa, o livro nos apresenta a figura curiosa de Heleno, um homem que dedicou quase toda a vida à escrita de textos adaptados para o teatro, principalmente.
“O caixa também sabe de mim, olá, como estamos, ele igualmente quer garantir se está tudo em ordem, é uma grande soma em dinheiro, nem eu imaginaria que tivesse esse montante em conta, uma existência dedicada aos palcos, a primeira peça que escrevi faz quase trinta anos.” [página 15-16]
O livro inteiro é narrado desta forma, meio discorrida e com as falas e pensamentos da personagem inseridos bem entre os parágrafos, como uma mãe apressada contando os fatos para o seu filho. Bem característico da oralidade nordestina.
Pois bem, falando em nordestino: a personagem principal, Heleno, é um homem de meia idade, pernambucano, dramaturgo reconhecido por seu trabalho, caçula de uma família de nove filhos (Marcelino também é o caçula entre nove filhos de sua mãe), artista da família, e detentor de uma melancolia interessante, que não irrita, mas permite que o leitor se inteire sobre as sensações dele, enquanto narrador.
Nossos Ossos é uma odisseia brasileira onde a temática do êxodo rural está presente como plano de fundo, e onde as questões sociais e do dia-a-dia (sexo, homossexualidade, prostituição, crime) também atribuem o seu tempero a mais.
Heleno é um recém-chegado à São Paulo: sonhador em busca de sucesso e reconhecimento, junto pelo desejo em encontrar Carlos, é recepcionado pelo abandono do mesmo. É necessário se virar como pode. Desta forma, Heleno de Gusmão prossegue com a vida na metrópole, aproveitando e experimentando de tudo, sem pudor ou remorso, desde o sexo sem compromisso com prostitutos até as mais variadas expressões da vida noturna. Mais tarde acaba conhecendo Cícero – o Boy —, e é aí que a história realmente engrena.
“Eu amei de tudo e vou continuar amando.” (contracapa).
Logo no início do livro somos confrontados, junto a Heleno, com a morte brutal de Cícero. A odisseia começa então, com Heleno buscando a todo custo, sem medir esforços e gastos, encontrar a família do Boy, bem como descobrir mais sobre o assassinato do michê. A tarefa de levar o caixão com o corpo é tida para Heleno como uma de suas maiores tarefas em vida.
Dos inferninhos e casas de prazer em São Paulo, até Poço do Boi, Pernambuco, Heleno nos encaminha melancolicamente pela sua história, quase um teatro encenado em vida,, enquanto Marcelino Freire não poupa de sua estilística incomum ao unir frases e falas-pensamentos, caminhamos pela empreitada do nordestino. Há uma conexão muito forte entre as páginas do livro.
Não há um apelo sexual entre as linhas de seu livro, mas uma naturalidade incrivelmente cômoda nisso em suas personagens. E é este trabalho com as ideias, de modo tão real, coligado aos inúmeros jogos com palavras, que transfere a Marcelino Freire uma astúcia deliciosa ao leitor.
Uma parte interessante do livro se encontra em... bem, todos os capítulos! Sim, não é brincadeira. Refiro-me aos títulos dos capítulos, que citam sempre alguma parte do corpo humano (ligamentos, pés, mãos, músculos, etc.), e que, juntas, montam um esqueleto! Daí vem parte do título do livro ser Nossos Ossos. É claro que, a infância de Heleno, quando ele encontrava fósseis dos mais variados animais (inclusive de humanos!) também possuem um toque cá ou lá.
“Nossos Ossos” é dividido em duas partes: Parte Um e Parte Outro (mais jogos de palavras! Quem curte essa característica pode conferir “EraOdito”, também de Marcelino Freire. É bem interessante!). Enquanto leitor, muitos podem questionar se a obra é autobiográfica. Bom, de acordo com o próprio autor, existem sim passagens que beiram a semelhança com a sua história, mas, entretanto, o romance é praticamente ficcional.
Ouso dizer que, apesar de literatura fantástica não estar entre o leque de Marcelino, “Nossos Ossos” possui uma jogada magistral em seu final (não direi porque será spoiler! Haha) que beira o fantástico.
Por fim, se você procura um livro peculiar, que aborde todas estas questões do cotidiano, presentes entre as sombras da noite das cidades; um livro com uma pitada fantástica no finalzinho; bem, insisto para que você dê uma chance a “Nossos Ossos”, afinal...
“Nossos Ossos encontram os vossos.” (página 127).
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Silvio 09/02/2020

Uma excelente leitura, recomendo! A literatura brasileira de qualidade ainda existe e resiste.
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Tony 28/11/2022

É uma história bem sensível e que conversa com o íntimo do leitor a sua maneira. Acredito que quanto mais experiência acerca de estilos de escrita você tiver, melhor será sua leitura. Para mim foi um pouco confuso já que não possuo essa experiência e me perdi na mistura de uma escrita teatral, poética, não linear e meio saramaguiana. Mas ainda assim pude mergulhar nessa história que evidencia uma realidade dura no amor, na busca de melhoria de vida e nas conexões com suas raízes de Heleno (o protagonista), numa narrativa tão dramática quanta a própria realidade.
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Arthur B. Senra 23/11/2020

Palavras em movimento acompanham um protagonista em deslocamentos.
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Zilda Peixoto 01/02/2014

Por que ler Nossos Ossos?

Porque o autor é nada mais nada menos do que o gênio das palavras. Vencedor do prêmio Jabuti em 2006 com o livro Contos Negreiros lançado pela Record. Aquele tipo de escritor que arquiteta minuciosamente cada pedacinho da narrativa, que seduz e hipnotiza com sua escrita rítmica e melancólica. Um cara esquisito e desbocado que toca na ferida e sabe descrever como poucos sobre questões polêmicas? São tantas as qualidades de Marcelino como escritor que eu seria capaz de enumerá-las num livro. O fato é que toda vez que leio suas obras eu me sinto meio que fora do eixo.

Nossos Ossos conta a história de Heleno de Gusmão, dramaturgo de meia idade, natural de Sertânia, uma pequena cidade do interior de Pernambuco. Heleno é o caçula de uma família de nove filhos e que se destaca desde a infância como o artista da família. Heleno sai de Sertânia rumo à São Paulo em busca de Carlos, o seu grande amor.

Recém-chegado à São Paulo, Heleno tenta se virar como pode, se arranjando como tantos imigrantes que chegam à cidade grande com a promessa de melhorar de vida.
Longe de Carlos, Heleno irá descobrir os prazeres da vida noturna que a cidade grande pode oferecer. Freguês assíduo de inferninhos e das esquinas do sexo fácil e barato Heleno encontrará conforto nos braços de Cícero, um garoto de programa que Heleno jura ser diferente dos outros.

Como de costume em suas narrativas, Marcelino Freire fala sobre questões tida como polêmicas, tais como o homossexualismo. Mas como ele costuma dizer em suas entrevistas ele gosta mesmo é de escrever sobre a vida e que não há nada de polêmico nisso. Por isso, se você ainda não teve a oportunidade de conhecer a maneira como o autor aborda o assunto esse é o momento.
Nossos Ossos segue a linha do romance policial, porém com suas particularidades. A começar por se caracterizar-se como uma “prosa longa”. É como se estivéssemos assistindo a um filme aonde são lançadas as imagens e suas falas correspondentes. A idealização de cada cenário até a caracterização dos personagens secundários.

A oralidade típica do nordestino está presente ao longo de toda narrativa. Assim como em seus contos Marcelino brinca com as rimas em seu primeiro romance, o autor transborda criatividade e poesia.

O jogo das palavras está presente a cada parágrafo demarcando sua importância dentro da narrativa. Não há nenhuma palavra solta. Tudo está conectado.
A primeira impressão que se tem é de que estamos lendo um dos seus contos. A linguagem é rápida, fluída, rítmica. E por esse motivo Nossos Ossos torna-se um romance tão diferenciado. A escrita poética é quase que hipnótica.

O mote do livro se dá a partir da morte de Cícero, o Boy, assim chamado por Heleno. Boy é encontrado brutalmente assassinado e caberá a Heleno despachar o corpo do rapaz para sua cidade natal.

A trama de Marcelino apresenta diversos personagens bem característicos da noite paulistana. Entre travestis, michês, atores, putas, policiais e tantos outros personagens Nossos Ossos chama atenção do leitor para cada tipo particular. Não há simplesmente um apelo sexual em relação aos seus personagens e, sim um olhar diferenciado sobre cada um. Alguns são mais explorados propositalmente, como por exemplo, a travesti Estrela que não mede esforços para conseguir a tão sonhada prótese nos seios.

A trajetória de Heleno até Poço do Boi, cidade do interior de Pernambuco é quase que uma odisseia. É o momento do resgate do personagem central com sua própria alma.

O livro é dividido em duas partes: Parte Um, Parte Outro. Nota-se o jogo de palavras mais uma vez presente para confrontar o leitor. Quem conhece um pouquinho da história de Marcelino provavelmente irá se perguntar até que ponto Nossos Ossos é ficção. Pois são inúmeras as “coincidências” que unem criador(Marcelino) x criatura(Heleno). Como o próprio autor revelou Nossos Ossos não se trata de um livro autobiográfico e sim, um livro autopornográfico, já que o autor assim como seu personagem já praticaram muitas sacanagens em comum. Ta aí mais um motivo pra se esbaldar com as histórias de Marcelino Freire. Sempre tão espirituoso... aff!

De fato Marcelino cria uma narrativa fora dos padrões estilísticos. Com toda sua agilidade e perspicácia Marcelino conduz o leitor a uma experiência surreal.

Nossos Ossos descreve a vida de um personagem que sai de sua terra natal rumo à cidade grande em busca de um grande sonho: a realização e o reconhecimento profissional. Desde o início da narrativa esta visão relativamente utópica é apresentada. O êxodo rural aqui mais uma vez é discutido e apresentado assim como acontece na vida real.

O final do livro é surpreendente e deixa o gostinho de quero mais. A edição do livro está espetacular. Mais uma vez a editora Record dá um show. Capa linda, fonte agradável e revisão impecável.

Se você está à procura de algo realmente diferente, impactante e que lhe tire da tal zona de conforto, definitivamente pare de fazer tudo o que você está fazendo e busque, compre, pegue emprestado, que seja! Mas LEIA Nossos Ossos. Vocês não irão se arrepender! Mas se eu não consegui te convencer não tem problema, minha consciência tá tranquila.

Marcelino Freire é vida. O resto é conversa fiada.

site: http://www.cacholaliteraria.com.br/2014/02/resenha-nossos-ossos-marcelino-freire.html
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Ernane 05/03/2014

Nossos Ossos, uma dramaturgia lírica de Heleno "o heroi"
Nossos Ossos do escritor pernambucano Marcelino Freire é um verdadeiro relato poético da vida das lembranças dos escorregões e acertos. Um reencontro com a infância e com os pais sentados no oitão da casa.
O até então espetacular contista Marcelino Freire nunca se arriscou em uma prosa mais longa, mas nesse primeiro romance ele nos leva para uma atuação belíssima de um morto. O romance não perde a característica imediatista que Marcelino já carrega em seus contos.
O ponto é que o livro conta a peleja de um dramaturgo que atende por nome Heleno que tem como promessa levar um corpo de um jovem para sua família no interior do interior. O corpo vai de São Paulo para outro lugar que não precisava nem ter nome para saber onde fica. E enquanto não descobrimos os mistérios que contornam o pobre garoto morto o nosso heroi vai juntando fêmures e tíbias para conseguir decifrar aquilo que não tem cifras ou partituras.
O boy que tanto trabalhou para tentar vencer em São Paulo agora estirado morto com o rosto dormido. Heleno narra de forma quase policial os crimes os punhais que sustentam o cordel da prosa que nos dá e nos tira.
O livro é todo feito sobre paixão e ossos não sabemos de inicio os seus interesses, mas sabemos que é no fim que aquele corpo vai descansar e o heroi que tanto viu as cortinas longas do teatro abrir e fechar diante dos grandes prédios de São Paulo lembra que dos ossos que ele e seus irmãos desenterravam na velha casa saíram muitos guerreiros de bacias grandes e de sonhos possíveis e foi de lá que Heleno tirou sua melhor peça uma interpretação convicta do teatro da vida.
O fim da atuação de um personagem que carrega como Hamlet o coração do pai dentro do peito. Este livro é uma quebra da quarta parede do teatro da vida.


site: http://diariovapor.blogspot.com.br/
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Jacqueline 08/10/2014

A vida é tão curta para ser pequena
Nossos ossos, vencedor do prêmio literário de 2014 da Biblioteca Nacional, é o primeiro romance de Marcelino Freire. Mistura extratos biográficos e ficção de uma forma econômica, triste e honesta. Conta a história de Heleno, um dramaturgo migrante de Pernambuco que vem para São Paulo, um tanto por conta do teatro e quanto mais por causa de um namorado.

Dividido em duas partes, nomeadas de forma original Parte um e Parte Outro o livro fala dessas perdas dessas partidas e de como elas nos constituem.

As referências à terra de origem e ao ofício de escritor/dramaturgo transbordam e costuram a trajetória de Heleno.
A respeito da primeira não faltam alusões a brincadeiras de infância de juntar ossos de origem de vários animais, inclusive humanos, ou a marcas que a Geografia imprime: O sol deixava tudo do mesmo tamanho, deus, enguia, cotovia, formiga, moço, coruja, velho, estátuas de arquiteto, arames, andaimes...

A respeito do oficio de escritor, a relação de reflexão e refração que a escrita de ficção trava com a realidade objetiva e com nossa subjetividade e seu potencial elaborativo aparecem de forma quase visceral:

Mesmo quando escrevi o meu teatro, é da falta de vida que ele se alimenta, meus textos, dramáticos, só foram possíveis porque estão impregnados desta minha morte, um autor só é autor, digamos, quando é vítima de um crime, de um atentado, um desprezo, um exílio, um corte, um esquecimento

"Eu escrevo para dar vida de e novo as pessoas que amei"

Por vezes, as duas motivações se interpenetram:

Minha dramaturgia veio daí, hoje eu entendo, desses falecimentos construí meus personagens errantes, desgraçados mas confiantes, touros brabos, povo que se põe ereto e ressuscitado, uma galeria teimosa de almas que moram entre a graça e a desgraça

Os títulos dos capítulos fazem referências aos ossos e a partes do corpo humano, como se a história contada fosse literalmente de constituição e degeneração de um homem. Os capítulos curtos, a escrita econômica, a narrativa presente intercalada com a do passado ajudam a configurar a transitoriedade da vida.
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Mari 03/02/2015

Nossos ossos é um livro pra sentir devagar. É breve, mas a leitura, ritmada, rimada, exige alguma paciência pra bem sorver sua cadência. É teatral, tragédia tão brasileira de um nordestino levado pela esperança (e pelo amor) à fera paulicéia, esmigalhado de sonhos, pra urdir seu talento artístico alimentado de faltas e desesperanças. Tecido com esmero, a montagem de uma peça própria nos títulos dos capítulos é uma obra à parte. Para ser lido com vagar, apreciado, descoberto, prêmio para o leitor atento, de coração aberto.
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@varaomichel 26/04/2016

Eu não gosto de falar mal de livros, porque parto do pressuposto de que sempre haverá alguém pra gostar de qualquer livro. Mas, a sensação que eu tive lendo Nossos Ossos é que ele "entregava" a história sem desenvolvê-la. É como se eu estivesse lendo um esqueleto (perdoem o trocadilho) de um livro que estava ainda por ser escrito. Li alguns contos do Marcelino e, olha, acho muito melhores do que o Romance. Vale começar por eles o conto "Vestido Longo" é de uma poesia impactante.
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Gladston Mamede 12/11/2017

Literatura brasileira contemporânea, com pontuação muito estranha, difícil de se acostumar, no início, mas um recurso poético que, para ele, pareceu necessário. Algumas partes interessantes, algumas muito interessantes, outras completamente desinteressantes. Mas, no final das contas, valeu a pena ler. Aviso aos homofóbicos: a história constrói-se em universo homoafetivo, o que pode incomodar a alguns. A mim não incomodou. Agora, aviso aos homoafetivos: há algumas passagens pesadas sobre o universo gay. Bem pesadas. Levei um susto grande. Ou é ficção ou é barra, viu? Vale a pena ler.
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