Bia 18/10/2015Resenha publicada no blog Pequenos VíciosQuando iniciamos a leitura de um livro, sempre esperamos algo. E é difícil apontar o que esperava de “Um Cântico do Silêncio”. Mas consigo dizer o que não esperava deste livro:
Eu não esperava me comover tanto, muito menos amar tanto o enredo. Não esperava ainda ficar tão presa ao enredo e ainda aprender com os personagens.
O livro estava há algum tempo em minha estante virtual. Eu sou fã do autor, mas a correria acabou fazendo com que fosse deixando a leitura de lado.
Então, mais ou menos na primeira semana do mês, senti um chamado estranho para esse livro, e resolvi atender.
Renato é um homem que se encontra num momento muito difícil de sua vida. Perdera sua esposa e filho, e não aceitava o fato. Acabou vendo no álcool a força que precisava para se manter vivo. Literalmente de mal com a vida, afastou de si todas as pessoas possíveis que poderiam ajudá-lo a superar.
Lucia é uma menina de dez anos de idade. Sem pais, mora em um orfanato cristão, onde é cuidada por freiras. A vida não foi nada gentil com essa garota. É muda, sofre com os maus tratos de uma “madre” do local e ainda por cima, também sofre com a rejeição das outras crianças pelo fato de ter uma deficiência.
Ao chegar no ápice do alcoolismo, Renato quase perde sua vida ao sofrer uma forte intoxicação. Internado, recebe a visita inesperada da desconhecida menina. O orfanato tinha um acesso secreto que dava ao hospital, e quando a menina testemunhou os “pesadelos” de Renato, sentiu uma certa familiaridade, já que também os tinha todas as noites.
Uma aproximação tão incomum, partida de uma criança, que gerou, claro, a rejeição de um homem que procurava a morte com seus próprios atos.
Porém, algo em Lucia faz com que Renato se sinta vivo como há tempos não sentia. E uma história maravilhosa e ao mesmo tempo sofrida, se inicia.
"Encontrava, pela primeira vez, a menina que mudaria sua vida." - posição 166
O Samuel se sai muito bem em todas as suas obras. É difícil encontrarmos clichês ou algo em comum dentro de seus trabalhos. Eu nunca sei o que esperar quando começo a ler um livro seu. Mas percebi, após essa leitura, uma característica do autor. Seja em quaisquer gênero, ele consegue mexer com nossas opiniões. Ele consegue apontar os defeitos gritantes da sociedade ao mesmo tempo em que cria personagens que nos cativa.
No livro ele criou personagens divinos, que nos encantam logo de cara. Mas também criou monstros. E não estou falando de sobrenatural. São personagens fictícios, porém que conhecemos muito bem. Vivem passando nos noticiários, e seus rostos nojentos sempre estampam uma pequena lacuna nos sites de notícias.
E é um grito para as lambanças que ocorrem em meio as pessoas que deveriam proteger. O autor te obriga a enxergar a realidade em meio a ficção.
Isso com certeza foi comum a todos os leitores da obra. O que foi exclusivo a mim nessa leitura foi a abordagem ao tema adoção.
É chato misturar nossa vida pessoal em uma resenha, porque você leitor quer saber sobre a obra e não sobre quem conta a respeito para vocês. Mas preciso compartilhar meu sentimento.
Tenho uma doença que causa infertilidade. E a cada dia estou chegando a conclusão que é praticamente impossível que eu engravide. Na semana da leitura, estava cogitando possibilidades de retirada do útero com meu médico, e então, minhas amigas e alguns familiares, abordaram o tema. A partir daí, ouvi tantas coisas horrorosas a respeito, que praticamente descartei a ideia. E então conheci a história de Lucia.
"É uma decisão da qual você não pode se arrepender. Não dá para voltar atrás." - posição 1180.
Tive vontade de adentrar o livro e pegar essa criança pra mim. A história despertou um sentimento em mim que desconhecia. Parece que meu instinto escolheu esse livro para me mostrar algo. Pode não ter nada a ver com o enredo, aliás não quero que pensem que é um livro de autoajuda, ou um drama meloso. Longe disso. O autor é prático, e tenho certeza que sua intenção não era despertar tal sentimento no leitor.
E chegamos ao ponto. Um autor nunca será capaz de saber os tipos de sentimentos que irá despertar em seus leitores. E um leitor do Samuel Cardeal pode nunca saber qual sua intenção ao escrever uma obra.
Só por esse fato tão pessoal o livro já se tornou favorito. Somado aos demais fatores, tais como, enredo instigante; personagens muito bem elaborados; diagramação perfeita por mais que seja um livro independente; se tornou uma das minhas melhores leituras do ano.
Mais que recomendado, para todos os públicos.
site:
http://www.pequenosvicios.com.br/2015/10/um-cantico-de-silencio-samuel-cardeal.html