Manuela 25/04/2014Sobre a vida, por Munro.Algo me chamou a atenção logo que vi o livro. Algo nessas pessoas captadas em pleno voo. Acrobacias no ar, para em seguida jorrar água. Quem sabe, vida?
Mais uma vez essa é uma primeira experimentação, uma primeira leitura da autora, Alice Munro, vencedora do Nobel de Literatura em 2013. Curiosamente, a única cuja escrita é exclusivamente de contos.
Os contos de "Vida Querida" se passam em diferentes períodos de tempo e regiões do Canadá. Por vezes, é o narrador personagem que nos conta a história, e nelas, há uma introspecção quase palpável. Noutras, o conto é narrado em terceira pessoa, como alguém que observa a cena, que compreende os quereres, ou não, dos personagens.
Por sua vez os personagens possuem aquilo que é peculiar no ser humano, qualidades e defeitos que se expõem. Nenhuma história é fechada, com um ponto final. Contrariamente, as narrativas pedem uma participação mais ativa do leitor e sugestiona a quem as acompanha, uma postura de indagação, uma vontade, quiçá, de imaginar o que viria depois. Essa coisa da vida.
O livro se divide em duas partes. Na primeira, contos sobre diferentes temas, possuem voz uníssona: solidão. De um modo ou de outro, os personagens registrados por Munro, traduzem uma melancolia, por vezes, extenuantes. Há passagens belíssimas no texto, há trechos impossíveis de registrar, há frações que talvez fiquem para sempre.
Na segunda, quatro contos compõe Finale. E talvez não sejam contos, pois, em si, possuem a pretensão de registrar passagens pessoais. História da própria Munro, pedaços de sua infância, de sua rotina, o íntimo.
O livro é lindo. Mas eu sei que isso não explica. Então só cabem aos interessados o ler. Para mim, vale a pena.
"Escrever esta carta é como colocar um bilhete numa garrafa -
E torcer
Que chegue ao Japão"
(Que chegue ao Japão, p. 18)