Maria - Blog Pétalas de Liberdade 20/06/2018Resenha para o blog Pétalas de Liberdade"- Um ditado indiano diz que: quanto mais se ama alguém, mais a gente quer matá-lo - declarou minha funcionária.
Pensei comigo: 'Nossa! Tenho que amar minha família'.
Pela enésima vez, meu celular tocou durante o expediente na minha lojinha de livros infantis. Primeiro foi minha filha adolescente Fee me preparando psicologicamente para a notícia de sua reprovação (infelizmente, em matemática, ela tinha o talento de um cão labrador).
Depois foi seu irmão caçula Max que me ligou para dizer que não poderia entrar em casa, porque tinha esquecido a chave outra vez (sera que existe Alzheimer em crianças?)." (Emma, página 9)
Assim começa o livro, nos apresentando a família Wünschmann. Emma, a mãe, tem uma livraria que não vai muito bem. Frank, o pai, passa tempo demais trabalhando. Fee, a filha adolescente, não consegue a atenção dos garotos. Pelo menos ela tem mais sorte do que Max, o caçula, que apesar de ser super inteligente, vive sendo perseguido por Jacqueline, a valentona da escola. A verdade é que a convivência da família não está muito boa, e Emma vê numa festa à fantasia a oportunidade de passarem um tempo juntos e se divertirem.
Emma se veste de vampira, Frank de Frankenstein, Fee de múmia e Max de lobisomem. Só que a festa se torna mais um motivo para as brigas da família, culminando com a aparição de uma bruxa que os amaldiçoa a se tornarem aquilo em que se fantasiaram. E agora, será que a família Wünschmann vai ficar como monstros para sempre? Ou haverá uma maneira de desfazer a maldição? Eles bem que vão tentar, com a ajuda de Cheyenne (uma senhora hippie que trabalha na livraria com Emma) e Jacqueline (que também não tem uma relação muito boa em casa). Mas para complicar um pouquinho mais as coisas, o conde Drácula parece estar muito interessado em Emma...
Escolhi "Uma família feliz" para ler em abril no meu desafio de desencalhar doze livros em 2018, no tema "livro com capa feia ou estranha", e já comecei a dar risadas na primeira página. É um livro com cenas muito engraçadas, mas também fala sobre assuntos sérios como a convivência em família. Os Wünschmann passam por problemas que muitas outras família também passam, como o excesso de trabalho de Frank ou a dificuldade de convivência entre os adolescentes e seus pais. Uma coisa que me chamou atenção, foi como Fee nem imaginava tudo de que sua mãe abriu mão por causa dela, como uma carreira que poderia ter sido de muito mais sucesso.
"O arrependimento é pior do que a velhice.
Perto disso, a incontinência urinária é uma verdadeira festa." (página 177, Cheyenne)
Além de todo o humor e dos problemas reais que o livro aborda, ainda temos a inserção de seres fantásticos, como a bruxa Baba Yaga, um golem, múmias, vampiros... E foi bom ver a história acontecendo com uma família alemã, fugindo um pouco daquela ambientação inglesa ou norte-americana que vejo com mais frequência. Essa foi uma leitura que me prendeu, que me fez dividar se a família voltaria ao normal ou se cada membro viveria sua existência como monstro em um lugar. É uma história sobre como muitas vezes a rotina vai destruindo os relacionamentos, e é também sobre o crescimento dos personagens e sua busca por serem pessoas melhores.
"Típico de mim. Pela primeira vez alguém me amava. De verdade. Sem que eu o tivesse hipnotizado. E tinha que ser precisamente uma múmia egípcia de três mil anos que usava sainha." (página 221, Fee)
A escrita do David Safier é bem fluida, há várias referências aos anos 80 e 70; a narração é dividida entre os personagens, e um detalhe interessante é que Frank como Frankenstein não era capaz de falar, então as partes narradas por ele vinham em desenhos, ilustrações bem simples mas que passavam bem as cenas. Ainda que possa parecer, acho que "Uma família feliz" não é um livro infantil, talvez indicado para leitores já na faixa etária dos adolescentes, visto que há menções bem superficiais à sexo, drogas e bebidas (como já disse, Cheyenne faz parte da geração hippie, por exemplo).
"Por que éramos incomodados na escola com os celenterados, os logaritmos e a construção de castelos medievais em vez de aprendermos sobre as mulheres extraordinárias que existiram no mundo? Assim, talvez eu tivesse tido alguma verdadeira inspiração e, para variar, aprendido algo útil na vida." (página 183, Fee)
A edição da Planeta tem uma capa que lembra a maldição dos personagens, páginas amareladas, boa revisão e diagramação com margens, espaçamento e letras de bom tamanho (mais para grande do que pequena).
Fica a minha recomendação para quem procura uma leitura divertida, que mistura fantasia com problemas do cotidiano. Me contem: já conheciam o livro ou o autor?
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http://petalasdeliberdade.blogspot.com/2018/06/resenha-livro-uma-familia-feliz-david.html