Ana Luiza 08/01/2014
Já estou indo comprar minha passagem para Londres...
“- Não adianta ansiarmos por uma época que já passou ou repudiar as diferentes etnias que aqui existem. Eu vim de fora, assim como vocês, e assim o país muda e se renova. Deixe a Inglaterra tremer, mudar e se tornar cada vez mais um país singular.” Pág. 202
É difícil falar sobre esse livro. Peguei “Deixe a Inglaterra Tremer” com boas expectativas, mas me deparei com algo completamente diferente do que esperava. E, nesse caso, a surpresa foi mais que boa. O livro é narrado em primeira pessoa por um jovem brasileiro que vai para Londres e conta suas experiências na terra da Rainha durante os quatro meses em que lá permanece entre os anos de 2009 e 2010. As informações sobre nosso narrador estão condessadas no texto. Em nenhum momento sabemos seu nome, mas descobrimos que ele é estudante de jornalismo, de 20 anos, que morou na Bélgica na infância, mas que depois voltou para o Brasil. A biografia do narrador é bem parecida com a do autor do livro, que também passou um período em Londres, por isso é difícil dizer o que seria realidade ou ficção, o que torna o livro ainda mais gostoso de ler.
“Foi muito bom saber que podia contar com outros brasileiros. Acabei descobrindo que o fato de sermos da mesma terra nos dá certa sensação de irmandade e pertencimento de um mesmo grupo. Isso me fez rever o conceito do depreciado ‘jeitinho brasileiro’.” Pág. 110
Identifiquei-me bastante com o protagonista tímido e melancólico que conhecemos no início do livro. A falta do nome permite uma identificação ainda mais fácil, mas confesso que demorei um pouquinho para gostar do narrador. Como disse, no início do livro, ele está bem melancólico, já que acabara de chegar em um país desconhecido e passar pelas primeiras dificuldades, como taxistas mal-humorados, dificuldades de se locomover e comunicar em um novo ambiente e um pouco da decepção com a escola de inglês, onde começa a fazer aulas, que não era exatamente o que ele esperava. Entretanto, conforme o narrador vai se engajando, ganhando confiança, fazendo amigos e superando os momentos ruins ao apreciar os momentos bons, ele acabou conquistando e até me fazendo torcer para que tudo desce certo para ele.
“Naquele momento me lembrei de Mrs. Dalloway. Eu, assim como Clarice Dalloway, em Londres, sozinho e entediado. A diferença é que ela era rica e dava festas, ao contrário de mim.” Pág. 47
A narrativa em primeira pessoa foi bem construída, e apesar de detalhista, é leve, objetiva e flui com rapidez. Os capítulos são pequenos e rápidos, o que torna a leitura do livro ágil, apesar do começo meio lento. Algo interessante sobre “Deixe a Inglaterra Tremer” é que o livro tem trilha sonora própria. Cada início de capítulo há um trecho de música de diversas bandas, a maioria de rock alternativo, cujas traduções estão em um índice no final da obra. Também há referências a músicas dentro da narrativa, assim como a livros, obras de arte, personalidades, história, etc.
Fiz a experiência e vale a pena escutar cada uma das músicas citadas em “Deixe a Inglaterra Tremer”, durante a leitura mesmo ou depois, é como se aprofundássemos ainda mais na mente do nosso narrador. Achei as músicas bem legais, cada uma delas combina perfeitamente com o livro e com os momentos que antecedem, apesar de que prefiro um rock mais pesado. As músicas que mais gostei foram London Hates You (The Kills), What The Water Gave Me (Florence and The Machine) e Campaign of Hate (The Libertines).
“Deixe a Inglaterra Tremer” é uma verdadeira viagem para Londres. A sensação é de estar vivenciando todas as experiências do narrador na nossa própria pele. Para quem sonha em conhecer a capital da Inglaterra, esse é o livro para você! Já para quem quer fazer intercâmbio, “Deixe a Inglaterra Tremer” é uma leitura obrigatória! Através do nosso protagonista é possível conhecer alguns problemas e dificuldades da vida em outro país, mas também muitas alegrias e oportunidades únicas que só acontecem nessas situações. O mais interessante é ver o intercâmbio entre as culturas, não só de brasileiros e londrinos, mas também de pessoas de todos os cantos do mundo. Os amantes de música também estarão em casa aqui, com os trechos de letras no início de cada capítulo. As aventuras do narrador de “Deixe a Inglaterra Tremer” me fizeram amar o livro, que virou favorito! Ao rever, pelos olhos do protagonista, lugares de Londres que visitei na viagem que fiz em 2012, mas também lugares que não pude visitar por causa do tempo corrido, fiquei ainda mais louca para voltar a Inglaterra, se tivesse dinheiro compraria minha passagem ainda para hoje! rs
Quanto a edição, não tenha reclamações. A diagramação estava simples e perfeita. As páginas amareladas e o tamanho e tipo da fonte ajudaram a deixar a leitura ainda mais confortável. A capa é simplesmente perfeita e a bandeira do Reino Unido + os fones de ouvido não poderiam combinar com mais nada a não ser “Deixe a Inglaterra Tremer”!
Agradeço imensamente ao autor e a editora por ter oportunidade de conhecer o livro e espero ver outras obras do Sávio em breve, fiquei curiosa por mais aventuras do autor.
“ (...) me dei conta de como era triste deixar Londres, e minha dor de estômago voltou a exteriorizar minha ansiedade. Senti que aqueles meses foram ao mesmo tempo doces e amargos, um período que havia passado muito rápido. Hoje, vejo a situação diferente. No momento ouço Gilberto Gil cantar: Hoje eu me sinto como se ter ido fosse necessário para voltar tanto mais vivo de vida mais vivida, dividida pra lá e pra cá.” Pág. 208
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