Sérgio Magalhãe 05/06/2014
O Caçador surpreende em vários aspectos literários
Recebi há poucas semanas um exemplar, e devo dizer que depois de lidas as primeiras páginas, não consegui parar de pensar no enredo, e apressei a leitura o máximo possível, e trazer esta pequena análise para vocês. Espero que curtam, e entrem em contato, posteriormente, com o autor para saber mais sobre o livro. Bem, mas deixando de conversa fiada, vamos à trama e resenha da obra.
Romênia, começo do XIX. Adrian, um jovem na iminência de tornar-se adulto, vive em uma isolada cabana com seu avô, Bernard. Seus pais estão há alguns anos afastados, enquanto o velho companheiro o ensina tudo o que precisa para formar seu caráter. Certa noite um misterioso viajante os visita, trazendo uma carta do pai distante, nela, afirma que precisa da ajuda do filho que, segundo as lendas, é o poderoso caçador que surgirá para virar a guerra travada contra os seres das trevas. Chegou à hora de Adrian despertar para sua verdadeira missão. Consciente da urgência do pedido, Bernard revela a verdade ao jovem, segundo o avô, eles fazem parte de uma ordem de caçadores que há muitos anos combatem vampiros na Romênia. Dotados de poderes especiais, desenvolvidos graças à sua vocação sagrada, eles devem finalmente se unir à causa, e ir de encontro à luta que, a cada dia, se torna mais próxima do fim. Sabendo disso, Adrian vê as lendas tornarem-se realidade, acaba tornando-se aprendiz de um poderoso Lorde vampiro, e começa a despertar seus verdadeiros poderes, e virar o jogo contra os odiosos sugadores de sangue que dominam as terras onde vive.
Basicamente, esse é o resumo do enredo, sem revelar os demais acontecimentos importantes, claro. Devo confessar que a trama envolvendo vampiros foi uma grata surpresa para mim, pois, até ler sobre a aparição deles no próprio texto, a capa nem qualquer texto prévio do livro me apresentou esse fato. Embora, analisando depois, o próprio título dê uma pista bem evidente sobre a presença dos seres imortais. A estória de Adrian segue bem de perto a já tradicional Jornada do Herói, formulada por Joseph Campbell. Assim, temos o surgimento de um mito através de um jovem simples e sem maiores aspirações, inicialmente, que, levado á uma missão que mudará a sua história, e do mundo em que vive, enxerga uma mudança drástica e épica em sua existência. Porém, o que se destacou para mim em relação à aplicação da estrutura de teorizada por Campbell, foi a agilidade e imersão do enredo, levando em consideração o gênero do livro, bem enraizado juvenil (ou Young Adult, originalmente), e a linguagem utilizada pelo autor. Justamente a união desses elementos tornou, para mim, a trama tão atraente. Claro, lembre-se que deve ser levado em consideração o gênero do livro, e a forma como ele foi concebido, para perceber o bom nível dele em relação ao estilo pretendido. Por isso, enxergo a obra funcionando muito bem para o público alvo, no caso o juvenil, e podendo ser bem aceito entre leitores mais maduros, com muitas leituras internalizadas.
Ainda falando sobre o enredo, sem dúvida o que mais me surpreendeu no livro, não pude deixar de enxergar ao longo de toda a leitura, uma forte influencia dos jogos de RPG, e da fluidez e estilo do anime; elementos que o próprio autor afirmou terem muito poder em sua composição literária. Por isso, os vampiros de Victor Bulhões são bem mais próximos de Alucard, do anime Helsing, do que de Lestat, de Entrevista com um Vampiro. Também coerentes ao estilo, os caçadores, e ações, vislumbradas ao longo da estória são bem mais próximas de uma aventura de RPG do que de textos voltados ao horror vampiresco, como Drácula, de Bram Stoker, ou O Vampiro, de Polidori. Importante salientar aqui o fato de não estar fazendo uma comparação de qualidade, e enaltecimento de um em detrimento do outro, pelo contrário. Meu objetivo é tornar clara a necessidade de enxergar cada texto dentro da ótica de seu próprio estilo, e o público que pretende alcançar. Assim, compor um enredo com texto trabalhado como o de Stoker, por exemplo, tornaria O Caçador – As Trevas da Verdade, ineficiente dentro do gênero abordado – o que não é o caso.
Falando em vampiros, as lendas criadas pelo autor são bem interessantes, e tem potencial para crescerem muitos nos próximos volumes. O cerne da trama se concentra no conflito entre caçadores e vampiros, evocando lendas e personagens passados para justificar os poderes utilizados nas batalhas descritas. A narração em terceira pessoa (narrador observador) foi uma escolha acertada por parte do autor, levando novamente em consideração o gênero do livro, e a necessidade de aproximação do leitor com o protagonista, e com o cenário descrito ao longo do enredo. Dessa forma, mesmo os personagens coadjuvantes, mesmo não descritos em profundidade, cativam quem lê e imergem ainda mais na estória contada.
Claro que, em se tratando do primeiro livro do autor, existem pequenos erros, bem mais culpa da edição que da composição da trama, é verdade. São coisas pequenas, mas que repetidas em demasia incomodam mesmo quem não liga muito para incoerências linguísticas. Por exemplo, algo que me incomodou em alguns pontos foi a insistência em usar o conectivo “porém”, mesmo em curtos períodos do texto. Mas, como disse acima, isso é mais culpa da revisão que do autor. Também me incomodou as sequencias muito longas, usando vírgulas em demasia, quando o ponto final daria mais organização ao texto, e contribuiria para grafar melhor as ideias e dinamizar as cenas de ação. Em contraponto á esses pequenos pontos negativos, tão pequenos que não atrapalham de forma alguma a leitura, existem muitos elementos positivos, sendo um dos que mais gostei o diálogo, e a complementação de cena descrita após as frases – e que ajudam, e muito, para a visualização das expressões dos personagens.
Não poderia finalizar esta breve analise sem parabenizar o Selo Jovem pelo cuidado com a editoração do livro. Sem dúvida a capa é uma importante aliada para a adesão do livro, está linda demais, e passa bem o clima da estória. Faltou um texto mais elaborado na orelha, mas nada que tire os méritos do trabalho.
Ufa, acho que é isso tudo o que posso dizer, sem revelar mais sobre o enredo do livro. Resumindo minha análise acima, diria que O Caçador – As Trevas da Verdade (Selo Jovem) tem um ótimo potencial no mercado, dentro do gênero pretendido, isso levando em conta sua linguagem e concepção de estória e cenário. Parabenizo o autor Victor Bulhões pelo trabalho, desejo sucesso, e sem dúvida recomendo para todo mundo que desenha presentear alguém iniciando suas leituras, ou para si mesmo, um bom exemplar de obra do gênero juvenil nacional.
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