JP_Felix 26/07/2022
Uma bela tragédia
Após sentir uma forte inclinação de escrever haicais, me veio o sentimento de que muitas vezes não temos de fato o entendimento de uma tragédia se não vermos uma dramatização dela.
Nunca antes me sensibilizei tanto com a tragédia que foi o bombardeiro contra o Japão, mas aqui, em menos de 500 palavras, me veio o ímpeto de o lamentar as vidas perdidas e as vidas posteriormente destruídas nesse evento tão terrível da história humana.
De uma certa forma, apesar de tudo, é uma história que demonstra uma beleza na esperança e no amor de uma forma inversa aos clichês de romance. Sim, há algumas conveniências e o romance acaba sendo bem de novela, mas não ouso criticar a beleza por trás das mensagens e dos sentimentos fortes e marcantes aqui apresentados.
Há duas linhas narrativas, a de Kazuo, um garoto Holandês em 1945, e a de Emilian, nos dias atuais, e é uma boa dinâmica ver como as duas linhas se cruzam de forma natural e orgânica, onde o passado cada vez mais nos faz ver as ações dos personagens no presente. Não obstante à seriedade e peso dramático do passado, a trama de Emilian é bastante envolvente e cativante, não apenas algo complementar ao passado.
Por vezes o livro parece esteriotipar demais algumas coisas, o que prejudica um pouco alguns trechos. Sim, é um marco gigantesco na história do Japão, mas a todo instante parece que a vida de todos os japoneses se baseia em lamentar os acontecimentos de mais de 60 anos. Certo, Mei, por questões familiares, é bem justificada, mas em alguns momentos parece ser pouco orgânica a ideia de todos terem a mesma reação ao tema de qualquer menção à energia nuclear.
A história de Kazuo, trágica e triste, é marcada pelo momento da explosão em Nagazaki, e isso decorre a trama inteira até o fim, mas, tal qual o peso colossal do papel com o haicai que ele carrega, toda a situação é bem construída e nunca fica repetitiva ou monótona, igualmente a investigação no presente, que apenas se mostra mais bem construída e orgânica.
Um livro lido e trágico, com uma história de amor e dor, e me faltam palavras para comentar, mesmo já tendo falado tanto.