Jardim de histórias 26/01/2024
Manipulação, obsessão, loucura! Dias perfeitos!
Mais uma história impactante de Raphael Montes, e digo que ele nunca me decepciona. Um thriller psicológico, que se diga de passagem, um tema em que aprecio muito e, pelo visto, o jovem Raphael também devido à grandiosidade e naturalidade com que escreve.
Um livro muito fácil de se ler, envolvente, bem ritmado, onde o leitor se vê seduzido a avançar na leitura extremamente dinâmica de forma ininterrupta.
Aos leitores mais sensíveis, a trama ficcional, com um contexto bem psicológico, aborda cárcere privado, violência física e moral, conteúdo sexual, dando uma estrutura bem macabra, pesada e até sufocante em alguns momentos, altamente recomendado especificamente para os fãs do tema, em especiais fãs do autor. Em virtude desta temática, não o indico para qualquer um.
Introspecção, solidão, raiva, são as bases da formação intelectual que vão estruturar o desenvolvimento e condução da trama. Téo, estudante de Medicina, que no auge de sua exclusão social conhece a jovem Clarisse, uma universitária rebelde que vive fora da bolha e focada no desenvolvimento de um roteiro para o seu tão sonhado filme, conhece e encanta Téo, que por sua vez, nutre uma paixão platônica por Clarisse. Até aqui, temos um ingrediente para uma história de romance de sessão da tarde. Só que estamos no universo de Raphael Montes e, aqui, nem o bucólico clima de Teresópolis, região serrana e a beleza tropical da Ilha Grande, localizado na Costa Verde do Rio de Janeiro, será capaz de atenuar o clima tenso e obscuro deste thriller.
A reação em relação à rejeição, ou até mesmo aos excessos, desperta o que há de mais sórdido nas mentes doentias.
Raphael Montes disseca com profundidade o obscuro universo mental e é nesse lugar sombrio que habitam a manipulação, egocentrismo, a inexistência da empatia. Temas como esse já foram inúmeras vezes adaptados para romances desta natureza, mas que, de maneira muito sagaz, Raphael Montes é capaz de trazer de forma sensorial e de uma forma tão perturbadora, o universo mental da psicopatia.
Inicialmente, a obra se assemelha muito com The Collector ou o colecionador de 1963, obra-prima do autor John Fowles
O que leva a crer que o autor inglês tenha influenciado muitos autores, entre eles Raphael Montes. Aliás, O Colecionador é uma leitura obrigatória para quem é fã do tema, inclusive, já até fiz uma resenha do livro nesta plataforma. Porém, são obras distintas, onde Raphael Montes trouxe detalhadamente os efeitos do distúrbio mental em construção, muito bem retratado, afinal, no universo da loucura, o que deveria ser sordidez, na verdade, são dias perfeitos.