Livro das Mil e Uma Noites

Livro das Mil e Uma Noites Mamede Mustafa Jarouche




Resenhas - Livro das Mil e Uma Noites


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Alex 30/01/2023

Uma resenha incompleta
Não posso fazer uma resenha justa da obra, afinal li apenas 20% do todo. Faltam 4 volumes.

Mas falarei desse, e da primeira impressão:

Primeiro, não há uma trama, a trama é, infinitos cliffhangers, exaustivos, uma espécie de Inception da literatura universal.

Segundo, se vc gosta de anedotas e fábulas e, ler 1001 noites com esse objetivo, será um prato cheio.

Terceiro, é absolutamente imperioso que vc abstraia a repetição infinita de termos, trechos, parágrafos inteiros.

Se for com essas 3 dicas em mente, pode até ser uma Leitura construtiva e interessante. Eu não diria divertida, porque simplesmente cansa.

Recomendo? Não sei.

Só me manterei na leitura, porque essa é uma obra muito citada, em inúmeras obras e inúmeros autores.
GiSB 30/01/2023minha estante
Cara, não vou nem tentar ler. Primeiro, livro em diversos volumes, depois, porque o livro é chato e repetitivo. Não é pra mim.


Alex 31/01/2023minha estante
É, pela sua estante, as Fábulas de Esopo ou de Lá Fontaine são uma melhor opção. Esse aqui é triste. Interminável e tem esse lance da repetição.


GiSB 31/01/2023minha estante
Já li as fábulas de esopo. Pretendo reler num futuro distante, pois já não me lembro de mais nada. Iniciei a leitura das fábulas do la Fontaine e achei chato pra caramba, então larguei o livro e deixei na biblioteca de minhas filhas. Não sei devo retomar a leitura nem em um futuro distante. Simplesmente não gostei do estilo do autor.


GiSB 31/01/2023minha estante
Nenhuma das duas leituras relatei aqui no skoob, uma porque pretendo reler e a outra porque não quero nem mais saber dela.


Alex 31/01/2023minha estante
Tentarei ler os dois, num futuro distante também. ?


Regis 04/02/2023minha estante
Gostou tão pouco assim? Eu dei muitas risadas desse livro e suas histórias insólitas. Também achei repetitivo, mas gostei um pouquinho mais que você. ?


Regis 04/02/2023minha estante
Para mim que gosto de anedotas e fábulas esse livro foi um prato cheio. Rsrsrs
Me diverti muito.?


Alex 04/02/2023minha estante
Eu achei bem chato pela repetição. Mas reconheço seu valor pela cultura e pelas anedotas.


Regis 04/02/2023minha estante
Reconheço que tem muita repetição e isso é chato, mas me diverti com as histórias e gostei muito de conhecer essa obra tão falada.




Marcio 21/07/2022

Contos com fantasia
Uma leitura atrativa e suave que nos conduz para a próxima "noite"; neste primeiro volume já fica a vontade de ler os próximos.
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Filipo.Ludema 12/11/2022

Fica com quem amas e deixa que fale,
Fica com quem amas e deixa que fale,
o invejoso, que à paixão nunca fez bem.
Deus misericordioso não criou nada mais belo
do que dois amantes deitados num só colchão,
nele abraçados, sobre eles as jóias da benção,
nele abraçados, pulsos e braços entrelaçados!
Quando os corações se habituam à paixão,
as pessoas deixam as conversas banais.
Se a tua sorte te fizer desejar alguém,
vai atrás dele e procura-o onde estiver!
Ó tu, que censuras a paixão dos apaixonados,
acaso poderias consertar corações dilacerados?
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Nalí 12/12/2012

Mil e Uma Noites (1)
Nas primeiras 200 páginas as histórias são dinâmicas e muito empolgantes, até começar a que Jafar conta ao califa, sobre Samsuddin, Nuruddin e Badruddin. Só ela ocupa 60 páginas, é desnecessariamente longa e pouco interessante... ficou penosa a esta altura. Se eu fosse Sahriyar, cortava pelo menos um dedinho de Sahrazad!
Jeffer 03/09/2012minha estante
ô maldade!


Manini 29/09/2012minha estante
Engraçado.


Caroline 19/12/2012minha estante
Cheguei nessa parte agora, pensei que era só uma impressão minha e que ia melhorar. Até folheie as páginas até o final, mas isso só me deixou mais apreensiva, pois as últimas histórias são muito mais longas que as demais.


Rafael 08/04/2013minha estante
KAUWHDKUAWHDKUAHWKDUHAWKUDHAWKUDHAW


Soliguetti 30/01/2017minha estante
Poxa, eu não achei... A história mais demorada foi a das três irmãs, mas como tem toda uma estrutura de história dentro de outra história, fica longe de se tornar massante. Já estou ansioso pela continuação! :D




DeaGomes 18/07/2022

Superou minhas expectativas
As histórias da Sharazade nos prende, agora entendo o pq do sultão não conseguir matá-la, não dá vontade de parar de ler até saber como será o desfecho das histórias. Uma vai se entrelaçando na outra, por isso, não aconselho ficar muitos dias sem retomar a leitura, isso pode dificultar o entendimento e te fazer perder o "fio da meada".
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Tiago.Guedes 24/07/2023

Encantador
Uma leitura obrigatória, um mergulho na cultura árabe com suas histórias já conhecidas por muitos.
Ler as histórias contadas por Scheherazad ao Sultão, tudo para poder salvar todas as mulheres traz a magia e a bravura desta mulher que com seus talentos entreter com maravilhosas histórias por longas 1001 noites.
Cada história é tão fantástica quanto a outra, fazendo o leitor se sentir imerso a cada história e mergulhado nas noites árabes.
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sraflanner 18/07/2017

De início, algumas considerações: ganhei num amigo secreto uma tradução em português da versão francesa (de Galland) do século XVI; essa que é a mais replicada e popular das versões. Num dia, depois de iniciar o livro (na quinta, sexta noite), pesquisando mais sobre a obra, descobri essa ser uma edição modelada aos moldes franceses (cof cof, conservadores) da época... o que me decepcionou bastante por não se tratar, necessariamente da obra, mas um retratozinho infiel ao original.
Buscando por uma melhor leitura, encontrei uma entrevista recente com o tradutor da novíssima edição (e primeira) traduzida direto do árabe ao português: Mamede Jarouche; acabei levando em consideração muito do dito e percebi ter domínio do que diz. Procurei por essa edição numa biblioteca e (amém jesus) acabei encontrando todos os volumes.
No prefácio, o tradutor faz considerações importantes (ouso dizer: necessárias) a respeito da obra e à tradução de Galland (que não tem lá uma visão muito positiva).
Na retomada, recomecei o livro e já percebi diferenças antes do enredo central ser constituído. Mais precisamente, meu primeiro susto foi na descrição do flagra de adultérios da esposa de Shăriār.
Mais pra frente, reparei que essa edição é mais crua e descritiva em relação à francesa; detalhes a respeito das cenas sexuais, palavras mais sujas e descrições muito violentas não são, diferente da versão anterior, omitidas (o que dá um teor diferente à visão que se tem da obra escrita, de fato).
Além do mais, para maior demérito da versão de Galland, as poesias, aqui transcritas, foram simplesmente ignoradas. Versos belíssimos como: "Vejo seus vestígios e me derreto de saudades,
vertendo copiosas lágrimas onde eles ficavam.
Peço a quem sofreu com a sua perda
que me conceda a graça de os devolver" foram escondidos dos falantes de português (não fluentes em árabe rsrs) por séculos.
De exemplo para comparar, (o mais berrante) temos, lá pela vigésima nona noite uma anedota erótica longuíssima a respeito das três irmãs e o mercador, numa noite dionisíaco de todos bêbados (#descubra). Essa edição de Jarouche nos repassa por completo (inclusive, o que achei engraçado, transcrevendo nas notas de rodapé os palavrões utilizados pras genitálias); a edição do Galland simplesmente nos diz que, depois de uma noite regada a vinho, e parari-parará, "os ditos jocosos não ficaram de fora." : / ...aqui vemos que Jarouche dá um choque enorme de fidelidade à obra sem preocupar-se com leitores sensíveis (o que é ótimo!, eu quero é a literatura!) e visa, plenamente, a leitura do original em outro idioma. Os apaixonados pelas líteras e por história terão, com certeza, uma melhor experiência com essa tradução.
A respeito do livro, a história é fantástica! Assim como na leitura d'A Divina Comédia de Dante, a gente passa por um processo louco de aversão ao cético quando se lê. Não achamos ridículas as aparições de gigantes, demônios e maldições (em alguns momentos, até desejamos) e simplesmente fluímos naturalmente na leitura e vibramos com os finais felizes (pois são exímios em sua criatividade e reviravoltas).
As histórias são macrohistórias dentro de outras (o que é maravilhoso: quando menos se espera, temos alguém contando uma história com, em algum momento, alguém contando uma história, é num inception infinito), o que agrega caráter criativo, perfeccionista e textual, ao livro.
Pena, de verdade, é a autoria (por possíveis obras semelhantes) de uma maravilha dessas não ter sobrevivido ao tempo.
Num geral, é um retrato belíssimo de uma sociedade tão enigmática à nossa visão ocidental, O Livro das Mil e uma Noites, depois de quase mil anos rascunhado, continua instigante e delicado a temas tão presentes na nossa sociedade: ódio, amor, desejo, vingança, assassinato, justiça e misticismo.
Finalizando, é uma obra madura, complexa, bela e fantástica. Mais um nome da obra textual que, apesar de não constar tanto nas listas de literatura fundamental, serve para construir o bom leitor. Sem hesitar, dou cinco estrelas.

PS: A história d'As Três Maçãs é a melhor.
Stephanie 25/09/2017minha estante
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23/07/2021

O Livro das Mil e uma noites, clássico da literatura árabe, persa. egípcia, etc, é talvez a narrativa mais leve e deliciosa de se ler da Literatura Universal. Por meio da narração da rainha Sherazade, acompanhamos centenas de contos e fábulas populares das culturas acima.

A duração de cada peça varia em quantidade de noites, de modo que, todos juntos, contabilizam as 1001 noites. Antes das telenovelas aparecerem nas televisões e o romance folhetinesco nos jornais, mil anos antes, nesta obra, cada narrativa era interrompida num momento de tensão, para ser prosseguida na noite seguinte, gerando suspense e expectativa no leitor.

É um calhamaço enorme, divididos em volumes. O tamanho, no entanto, não deve assustar ao leitor, haja vista a simplicidade e leveza de tais narrativas, além dos aspectos fantásticos surreais, que contribuirão para mantê-lo vidrado no livro.

A tradução do brasileiro Mamede Mustafá Jarouche é excelente. Ele traduziu literalmente os textos originais, sem cortar ou censurar nenhuma parte, como os tradutores dos séculos passados, por razões moralistas, faziam. A edição também é cheia de notas de rodapé e introduções a poética da obra para melhor compreensão e apreciação da obra. Seu prêmio literário de tradução foi justamente ganho.
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Lucas1429 26/01/2023

Imperioso
Apesar de suas repetições, que podem enjoar e deixar o livro prolixo, as histórias são surpreendentes e tu tem a oportunidade de se aprofundar em um universo com culturas muito diferentes (ou talvez nem tanto) da nossa cultura ocidental.

Contos rápidos se intercalam com contos mais densos, histórias que trazem histórias que contém mais histórias. É uma baita aventura, não a toa que o Sultão tem poupado a Sherazade noite após noite.

A mulher é tão boa em contar história que virou jornalista e apresentava jornal no SBT...
A propósito, uma coisa que falta na história, neste primeiro volume, é aprofundar mais na relação da mesma com o Sultão, o que talvez possa ser trazido nos próximos volumes, veremos...
Aryana 27/01/2023minha estante
Eu tive notícia, ó amigo venturoso, de que o alfaiate disse ao rei da China: o barbeiro disse ao grupo: o califa disse a mim e eu estou dizendo a vc: de que Sherazade ainda há de nos contemplar com mais histórias imperiosas, incríveis e insólitas.


Lucas1429 31/01/2023minha estante
Não há graça senão em Deus altíssimo, e caso tenha tempo, ó amiga, espero que possa trazer histórias ainda mais insólitas e incríveis no segundo volume




Leandro.Pereira 14/01/2022

Ramo Sírio
Está obra para mim é um tesouro. Eu decidi ler as Mil e uma noites após ter Lido o Conde de Monte Cristo (Edmond Dantes utiliza ,em um de seus disfarces , o nome de "Simbad, o Marujo"). Por sorte já me deparei com está tradução direta do árabe pelo Mamede Mustafá Jarouche. Li então até o Volume 3 e agora decidi reler estes livros e seus volumes posteriores (4 e 5). O volume 1 nós traz até a noite de número 170.
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Gabalis 21/12/2021

Uma das jóias da literatura de todos os tempos
Levei um mês, mas finalmente terminei de ler As Mil e Uma Noites. Foi uma jornada muito curiosa e divertida. Esta foi a minha segunda tentativa de lê-lo. A primeira foi há cerca de 10 anos mas não consegui passar das primeiras páginas. Acho que não estava à altura do texto. Desta vez foi e tenho muito o que falar, espero que consiga dar uma ideia geral da coisa toda e como foi proveitoso. A própria história de publicação e difusão do texto é uma aventura à parte . Esta vai ser uma postagem longa, vou tentar não bagunçar muito.

O livro é chamado As Mil e Uma Noites, mas por muito tempo ele teve apenas cerca de 300 noites. Essas histórias "centrais" da Noites estavam circulando aparentemente desde o século oitavo, talvez sejam ainda mais antigas que isso. Com o passar do tempo, o título serviu como uma espécie de profecia auto-realizável,pois as pessoas começaram a desejar que o conteúdo batesse com o título, e então escribas de todo o mundo árabe começaram a inserir histórias de outros livros em uma tentativa de completá-lo. Isso continuou por centenas de anos, cada escriba criando sua própria coleção de Noites. Versões de escribas egípcios têm mais histórias sobre reis e cidades egípcias, por exemplo. Os que estavam em Bagdá geralmente tentavam incluir histórias sobre o califado Abássida e assim por diante. No século 18, o livro chamou a atenção de um estudioso chamado Antoine Galland, que o traduziu de um manuscrito sírio, que são as histórias centrais, originais das Noites, e fez sua própria seleção de manuscritos egípcios. Pegou também alguns contos de um contador de histórias maronita que conheceu em Paris chamado Hanna Diab. Curiosamente, duas das histórias mais famosas que conhecemos, Aladim e Ali Babá e os 40 Ladrões, são de Diab e não são encontradas em nenhum manuscrito. Galland publicou sua versão em 12 volumes de 1704 a 1717 e logo se tornou uma espécie de versão “canônica” da obra. Estou escrevendo aqui apenas uma versão curtíssima da história por trás do texto, na verdade, cada manuscrito tem uma longa e complexa história e uma trilha de papel por trás dele.

Agora, quanto as próprias histórias, como você esperaria de um livro que resulta de séculos de compilações, sem um objetivo específico a não ser tentar obter histórias suficientes para chegar a 1001 noites, a coisa toda é uma belíssima barafunda e as histórias oscilam de qualidade, tamanho, tema e gênero. A primeira coisa que me surpreendeu foi quantas histórias não têm nenhum elemento fantástico. Se você é como eu, a primeira coisa que pensa quando pensa sobre as Mil e Uma Noites são os gênios, ogros e lâmpadas mágicas (apenas uma), espadas mágicas (não há nenhuma!), anéis mágicos (uns poucos) e assim por diante. Foi curioso notar que muitas histórias não tem nada disso. Muitos contos são longos ensaios cômicos. Existem muitas histórias que são simplesmente engraçadas. Também há muitas histórias de sabedoria, com provérbios, piadas curtas e assim por diante.Quanto mais fundo você vai no livro, mais claro fica a costura dos escribas, escolhendo essas histórias onde quer que pudessem encontrar e inseri-las no livro. Não esperando o caos que este livro é, mas de alguma forma funciona a seu favor. Depois de passar pelo ramo Sírio, você nunca sabe o que vai encontrar pelo caminho.

Falando em não saber o que você vai encontrar, vou falar um pouco sobre os heróis das Mil e Uma Noites, porque eles foram o maior obstáculo da minha leitura. Esses homens e mulheres não são, em sua maioria, o tipo de pessoa que você gostaria de ter no seu círculo de amizades. Para ser franco, muitos desses heróis são uns completos desgraçados. Eles não são honestos, não são bons, muitas vezes nem são neutros. Muitos deles são ainda piores do que os antigos heróis gregos, como Hércules. Se você já leu algo sobre Hércules, sabe que o chamamos de herói, não por ser uma boa figura. Na verdade, ele é um assassino e estuprador. Ele é um herói porque é um semideus capaz de grandes feitos. Já alguém como o Super-Homem é um herói porque é capaz de grandes feitos, mas também é uma figura cristã. A figura elevada e abnegada de Cristo. O personagem principal na maioria dos contos das Noites são horríveis. Digamos apenas que sua bússola moral os levaria a acabar na prisão hoje em dia.

Esses personagens têm a tendência de serem extremamente cruéis com seus servos. Eles matam, repreendem, mutilam e estupram e não pensam muito no assunto. Para ilustrar isso, recordo o que é um típico príncipe das Noites, acho que seu nome é Sayf, Barzad ou outra coisa (aliás, digo logo que vai ser comum esquecer os nomes dessa gente toda, há centenas de personagens e os nomes são todos complicados e pouco mencionado. São ditos uma vez e no resto da história eles são chamados por profissão ou posto. O príncipe, o comerciante, o porteiro e assim por diante.) De qualquer forma, este personagem, príncipe típico dessas narrativas, fica muito bêbado uma noite, observa uma escrava passando e decide fazer sexo com ela. Ela tenta fugir, mas aquele a domina e quando ela se recusa, ele estupra e acidentalmente a mata. Quando ele vê o sangue jorrar, a sobriedade volta um pouco e percebe que aquela serva é na verdade a concubina favorita do sultão, seu pai. Quando o príncipe percebe isso, foge do palácio e se esconde no deserto, numa caverna, lamentando o destino que Deus lhe deu. Ele arrepende-se, mas não porque matou uma pessoa de forma cruel, não porque ele é um estuprador sem escrúpulos. Não, ele lamenta porque matou uma das favoritas do sultão e agora está fugindo.

Isso não é incomum. Frequentemente, você verá os protagonistas desses contos mostrando o pior que a humanidade tem a oferecer e, muitas vezes, eles conseguem alcançar finais felizes. Acho isso fascinante e é apenas a ponta do iceberg. O comportamento e a moralidade de muitos desses personagens realmente me desafiaram num nível pessoal. Podia sentir minha mente tentando colocá-los em categorias pré-fabricadas de heróis ou qualquer coisa similar, mas eles se recusaram a ser classificados de acordo com esses padrões da fantasia moderna. Não digo que esses personagens sejam anti-heróis ou mesmo vilões. Eles não são as pessoas charmosas e, em última instância, redimíveis que você vê hoje em dia na fantasia. Refletindo sobre isso, apenas li sem mais nenhuma pretensão, e a leitura se tornou ainda mais fascinante. Você nunca sabe o que esses desgraçados e loucos vão fazer. São como adolescentes selvagens e cruéis.Sabe quando você lê Tolkien e clones de Tolkien e já sabe exatamente o que um personagem será? Eles são claros para você porque você e o escritor compartilham os mesmos padrões de moralidade na maioria das vezes. Você sabe como um anti-herói reage, você sabe como um herói reage. Você sabe tudo sobre o vilão antes mesmo dele estar lá.

Você provavelmente conhece o conselho do velho sábio antes que ele o diga. Não nas Noites. O velho pode aconselhar o comerciante a enganar o vizir, o vizir pode aconselhar o sultão a jogar o homem inocente no poço para evitar que sua honra seja manchada. Eles são rudes, cruéis e fascinantes. Um sujeito age de maneira heróica e corajosa num primeiro momento, mas quando percebe que a maré se volta contra ele, se joga no chão e chora como uma criança, batendo em seu peito com grande tristeza. É diferente do que você está acostumado. Consegue imaginar Aragorn arrancando os cabelos e chorando como uma criança na frente dos portões de Mordor? Este é o tipo de coisa que acontece nas Noites. Muitas vezes esses personagens se encontram em grandes aventuras, eventos lendários pelos quais só heróis seriam capazes de suportar, mas aqui o protagonista é só uma pessoa comum que está ali por acidente ou destino. Muitas vezes os personagens principais são vítimas de forças além de seu controle. É um mundo fatalista e por isso os personagens mesmos são extremamente fatalistas.

Frequentemente, você os ouvirá dizer “Não há poderio nem força senão em Deus altíssimo e poderoso”, o que é algo que você diz quando as coisas estão além do seu controle. Os povos das Noites se encontrarão em tais situações o tempo todo. Muitas vezes eles são salvos por acidente, coincidência ou sorte, Os eventos que ocorrem nas Noites realmente expressam toda a força da predeterminação e do fatalismo. Se você já leu Lovecraft, provavelmente tem alguma ideia do que estou falando. Em Lovecraft, a humanidade nada mais é do que uma coisa pequena e sem esperança em um universo muito terrível, antigo e misterioso. Nas noites você tem uma compreensão muito mais profunda disso. Nas noites, o universo tem um plano e esse plano vai contra todas as criaturas. Os homens não tem poder sobre nada. Você é impotente contra o ladrão que o mata. O ladrão é impotente contra o soldado mameluco, que o mata durante o sono. O mameluco é impotente contra o sultão que lhe corta a cabeça. O Sultão é impotente contra o Anjo da Morte, que vem e leva todos os seus herdeiros masculinos e a si mesmo. Eles são todos arrastados pelas mãos do destino e não há nada que eles possam fazer a não ser chorar e chorar muito. Existe uma quantidade extraordinária de lágrimas neste livro. Atrevo-me a dizer que é um horror muito mais eficaz do que o de Lovecraft, que parece ingênuo por comparação. Lovecraft é uma coisa imediata, você olha para a abominação e enlouquece. Nas noites, a abominação devora você lentamente e faz você assistir enquanto ela apodrece lentamente tudo o que você ama. Não é de se admirar que os personagens continuem se jogando à mercê de Deus o tempo todo.

Enfim, o medo é uma presença constante. Os momentos de medo superam em muito os momentos de coragem, compreensivelmente. Este é outro aspecto muito interessante de várias dessas histórias. O mundo está além do seu controle, o mundo e os homens e demônios são cruéis, é muito raro que as figuras povoando as Noites andem sem medo de alguma coisa. Não há defesa contra o destino. Várias histórias você vê homens tentando evitar um acontecimento apenas para ver como seus esforços são insignificantes. É em vão. Um rei é informado por geomantes que sua filha será sua perdição. Ele constrói um palácio para ela bem longe, no meio do deserto. O destino acontece e ela realmente é sua perdição. Outro rei é informado pelos profetas que seu filho vai morrer ainda jovem pelas mãos de um homem de tal e tal reino. Tentando evitar esse fado, ele constrói um cofre subterrâneo no meio de uma ilha abandonada e esquecida. Mesmo assim, o filho acaba morrendo pelas mãos daquele tal homem de tal reino. E o fulano nem queria matá-lo, foi apenas um acidente. Acidente escrito há muito tempo como destino. O destino e a sorte favorecem os bravos em muitas histórias no ocidente. Porém nas noites não é incomum que o destino acabe por não favorecer pessoa alguma. Mesmo quando a história acaba com um final feliz, o narrador não tarda em nos avisar sobre a morte. ''E assim viveram todos, usufruindo da hospitalidade do rei, até que lhes adveio o destruidor dos prazeres e a morte os atingiu a todos.''

O mundo é um lugar mágico e seus mistérios o colocam além do seu controle. Você cospe uma semente, ela atinge e mata o filho de um poderoso gênio, que quer vingança. Três velhos que passam encantam o gênio com contos estranhos e ele acaba por lhe perdoar. É quase uma lógica de conto de fadas, mas não exatamente. Acontece que sua morte ou salvação depende do destino e a você só resta torcer para que esse ainda não seja o seu dia. Nem mesmo os próprios demônios estão além do fado. Muitas vezes eles são vítimas dessas forças da mesma maneira que são os humanos.

Para cada aspecto que mencionei aqui, haverá histórias que vão contra isso. Existem personagens heróicos que resolvem situações, existem homens e mulheres que se apegam à sua coragem e prevalecem contra todas as coisas, etc. Como eu disse, são muitas histórias. Aliás devo mencionar rapidamente uma ou duas coisas sobre isso. A quantidade de histórias e o quão mal organizadas elas são. Você provavelmente sabe que as Noites estão todas dentro de uma narrativa moldura. Esse é o personagem que todo mundo conhece. Sheherazade, a filha do sábio vizir, que todas as noites conta uma história espantosa ao marido, o rei Shahryar. Até aí tudo bem, mas ela não é a única contando as histórias. Frequentemente, ela está contando a história de um comerciante que está contando uma história para outra pessoa. Essa linha de narrador narrando o que outro narrador narra facilmente embaraça.Às vezes, Scheherazade está contando a história de um comerciante contando a história de um rei contando a história de um carregador, contando uma história sobre suas aventuras no mar. Você vai se perder em algum momento e é uma sensação estranha afundar em todos aqueles contadores de histórias e seus contos. É um alívio quase físico quando você consegue chegar do outro lado.

O processo de atravessar as Mil e Uma Noites é longo e labiríntico. Um dos motivos por que estou escrevendo essa postagem é porque no final de julho desse ano saiu o último volume da tradução direta do árabe pelo estudioso Mamede Mustafá Jarouche. Embora ele tenha ganhado vários prêmios por conta dos seus esforços, eu acredito que não tenha sido o suficiente. Na minha opinião esse é um dos maiores eventos literários da história moderna da língua portuguesa e poder ler essa tradução, que aliás tem várias histórias inéditas que nunca foram traduzidas em nenhuma outra língua, é uma das jóias que recebem aqueles que sabem ler português. Os cinco volumes somados têm cerca de 2500 páginas de histórias.

Às vezes você ficará entediado, às vezes vai perceber que está lendo uma história que tem os mesmos tipos de uma história que você já leu 800 páginas atrás, de qualquer modo, são excelentes e interessantes 2500 páginas. Existe uma despretensão nessas histórias que as tornam extremamente cativantes e os seres fantásticos, as tramóias, as lágrimas e ofadário que empurra o mundo faz com que esses volumes sejam uma espécie de mina de jóias da novelística. Você nunca sabe o que vai te chamar a atenção ou que tipo de evento vai testemunhar. Se você estiver cogitando em ler alguma fantasia clone do Tolkien de trocentas páginas, tente As Mil e Uma Noites no lugar. Acho que vale a pena.
Ingrid 22/08/2022minha estante
Que resenha maravilhosa, adorei, me animou pra ler essa obra. Parabéns!




Poly 23/01/2021

170 dias no mundo árabe medieval
170 noites ao lado de Sherazade ouvindo suas histórias insólitas e assombrosas para sua irmã e o rei.

Cerca de 36 contos que se costuram uns nos outros, sempre deixando um gostinho de quero saber mais, no fim da noite para que o rei a deixasse viver.

Para nós que já crescemos na era em que os contos de fadas são adaptados para serem histórias pra família, o tanto de sexo e violência em um livro do gênero espanta, mas não é nada do que já não ouvimos em qualquer história sobre os contos originais europeus.

É muito bom conhecer a história desse povo medieval árabe e sua cultura. Ao fim do livro é como se eu pudesse ter experimentado as comidas e perfumes falados.
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Luísa Coquemala 02/09/2017

A moldura de As mil e uma noites, acredito, é conhecida de todos: Xariar é um rei muito poderoso e, certo dia, recebe a visita de seu irmão. Este está desolado pois, antes de partir em visita ao irmão, descobre que sua esposa o estava traindo com o escravo. Em um acesso de ira, mata ambos e, então, parte. Certo dia, Xariar diz ao irmão que partirá em uma viagem de alguns dias e o irmão fica no castelo.

Contudo, o irmão descobre que a esposa de Xariar também o está traindo (e também com um escravo!). Logo se vê menos desafortunado: afinal, se o irmão, tão mais poderoso que ele, também é vítima de infortúnios, o que ele poderia exigir do destino? Xariar retorna de viagem e, depois de alguns acontecimentos, a verdade acaba sendo revelada a ele. Xariar também mata sua mulher e, a partir disso, ele e o irmão partem em uma viagem. O objetivo é simples: Xariar quer encontrar, ao redor do mundo, alguém que seja mais infeliz do que ele (nos termos aqui tratados, alguém que, tendo mais poderes, também seja logrado).

Não demora muito tempo e os irmãos se encontram com uma mulher. Essa mulher é prisioneira de um gênio. Contudo, quando o gênio dorme, ela se vê livre e o trai de maneira costumeira. Xariar é o centésimo homem com quem ela dorme, aliás. Xariar encontra, então, o que buscava. O gênio, ser poderoso e sobrenatural, também pode ser vítima de traição. Quem está livre dos infortúnios do destino? A lição, contudo, não é das melhores para o poderoso rei. Quando retorna a seu reino, resolve executar uma espécie de vingança particular: todas as noites vai se casar com uma moça e, ao raiar do dia, a mesma mulher será morta. Todas as noites alguém morre.

Eis, então, que surge nossa conhecida figura: Sahrazad. Filha do conselheiro do rei, Sahrazad, mulher instruída e muito sagaz, vai ao pai e diz que quer casar com o rei. Teoricamente, seria morte na certa. O pai de Sahrazad fica transtornado diante do fato da própria filha se ver tão próxima do abatedouro particular do rei. Depois de muita insistência, contudo, ele cede e lá vai a filha.

E é aí que a mágica começa.

Sahrazad tinha um plano. Passaria a primeira noite junto ao rei e, logo depois, sua irmã, Dinazard, entraria no quarto e pediria para Sahrazad contar uma história. Toda a cultura acumulada por Sahrazad nos livros é usada, agora, para envolver o rei e impedir que outras mulheres sejam mortas por causa dos desgostos do soberano. Começam as mil e uma noites (apesar de, em regra, a tradição não seja composta de mil e uma noites bonitinhas e ordenadinhas; afinal, são histórias que percorreram muitos povos por muito tempo).

Em As mil e uma noites, as histórias contadas têm uma função primordial: a de exemplaridade. Ou seja, as histórias são contadas para ensinar, passar alguma mensagem a quem ouve. (Aqui, o interessante é que encontramos o aristotélico, horaciano e eterno conceito de uma história que se presta a divertir e instruir ao mesmo tempo - conceito que vai chegar até a constituição do romance moderno no século XVIII, onde, ironicamente, uma das premissas era romper com as regras clássicas). Assim, podemos compreender o fato de que Sahrazad não está contando histórias a Xariar por acaso. Sahrazad quer ensinar Xariar, quer que ele entenda algo que não foi capaz de entender com seus próprios olhos, quando testemunhou o gênio sendo traído por sua prisioneira.

Uma das histórias mais famosas de todos os tempos já nos transmite algo que seria perseguido depois de muito tempo: a literatura, a arte de contar as histórias, tem importância primordial na constituição de nossos julgamentos e pontos de vista. De nossa construção como humanos. Uma coisa é você testemunhar um acontecimento específico. Outra, muito diferente, é uma história ser apresentada a você com outro ponto de vista, a partir da narração de outrem. Uma das melhores maneiras de treinar a emparia, a meu ver.

Mas, enfim, voltemos a Sarahzad. As noites passam e o rei tão decidido começa a titubear. São passagens breves e repetitivas - apenas algumas linhas depois do fim de cada uma das noites. Mas linhas que dizem muito quando olhadas atentamente. A partir daí, é notável que o rei, antes tão firme em sua resolução, agora fiz que vai matar Sahrazah "apenas depois do fim de x história". E como há a recorrência de história dentro de histórias, poderíamos entender a demora do rei. Contudo, em dado momento, pela primeira vez o fim de uma história coincide com o fim de uma noite (que, antes, sempre haviam terminado em suspense). O rei não mara Sahrazad, no entanto. Quer deixá-la viva mais uma noite, para o começo de outra história. O rei está mudando, algo está acontecendo.

Um mundo se desvela neste decorrer. Aprendemos um pouco sobre uma cultura tão rica e tão longínqua.

Através de tantas histórias, algo é notável: a recorrência dos personagens em falar do destino. Estão todos sujeitos aos desígnios de Alá e ao que chamam de destino, acaso. Ele pode ser bom, mas, muitas vezes, pode se cruel, árduo, difícil de aceitar.

Talvez isso seja As mil e uma noites, no fim das contas, talvez esse seja o grande aprendizado de Xariar, que acaba por manter Sahrazad viva (algo mudou, com certeza, em sua mente!). Entender que coisas ruins acontecem e que não há como ter controle sobre isso - por mais que possamos escolher algumas também, por vezes. Aprender que, por mais poderoso que se seja, o sofrimento pode chegar - e o causador do sofrimento pode ser alguém com menos bens do que você.

Entender, por fim, que, apesar das coisas negativas acontecerem, resta aprender algo com elas. Tirar algo de frutífero da experiência e ter consciência para mudar, enveredar outros caminhos, saber perdoar e, então, encarar o mundo de outra maneira. As mil e umas noites não deixa de ser a história (cruel, é verdade) de um rei que aprende a arte da empatia e, por conta disso, poupa a vida.

As mil e uma noites é, acima de qualquer coisa, uma história sobre a vida, sobre o entendimento da vida.

Entender o destino, aceitar os caminhos que se apresentam. Resiliência. Maktub.
Lorena 09/01/2018minha estante
Adorei a resenha! Fiquei com vontade de ler :)




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