Fabio Pedreira 06/02/2020O fim da infânciaOs planetas sim, as estrelas jamais:
O fim da infância foi meu primeiro contato com Arthur C. Clarke. Eu sei, para quem gosta de ficção científica nunca ter lido ele nem Asimov (coisa que fiz junto com esse) chega a ser uma vergonha. Mas, felizmente esse “problema” foi resolvido e posso dizer que gostei bastante.
Esse livro é dividido em três partes:
Parte I
No auge da Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética brigavam para ver quem ia conseguir mandar o primeiro foguete para o espaço. Cada um dos lados preparavam suas próprias tecnologias e temiam que estivessem atrasados, porém, eles não contavam com o fato de que antes deles conseguirem ir para o espaço o “espaço” viesse até eles, pois, várias naves começaram a surgir nas principais capitais do planeta.
Ao contrário do que muita gente esperava os alienígenas não eram seres ruins, pelo contrário, eles ajudaram a acabar com praticamente todos os problemas enfrentados pela população. Alguns ainda resistiam, pois acreditavam que nós deveríamos seguir nosso próprio rumo, mas eles não ofereciam perigo real e a maioria aceitava as condições impostas pelos chamados Senhores Supremos.
A única coisa que realmente incomodava era o fato de que ninguém nunca viu nenhum deles, nem mesmo Rikki Stormgren, o único escolhido para servir de intermediário entre os Senhores Supremos e a humanidade. Isso dura pelo menos até os Senhores Supremos darem um prazo de 50 anos para aparecerem. E é sobre isso que se resume a primeira parte, uma análise dos rumos que a humanidade estava tomando, suas mudanças e a reflexão de como a humanidade lida com o desconhecido.
Parte II
Os Senhores Supremos finalmente se revelaram, e obviamente eu não vou contar como eles são porque seria spoiler, mas graças a preparação feita, a geração que os espera encontra-se mais preparada do que a anterior para lidar com essa revelação.
E como a própria sinopse conta, uma das poucas limitações impostas por eles é o fato de que os humanos não devem em hipótese alguma tentar alcançar o espaço. Logo, as tentativas de colonização de outros planetas e etc foram abandonadas. mas alguns apaixonados pelo espaço ainda sentem essa necessidade de viajar e é aí que um sujeito chamado Jan Rodricks quando vê uma oportunidade única, bola um plano para conseguir viajar através das estrelas.
A segunda parte é mais dinâmica que a primeira, e já mostra outras reflexões, inclusive uma bem interessante, onde apesar da utopia ser algo que muitos tentam alcançar, ela sofre de um mal incrível, e esse mal é o tédio. Além disso, podemos ver novos sinais de que o objetivo final dos Senhores Supremos ainda não foram revelados.
Parte III
Não posso falar muito dessa parte sem dar spoilers, afinal, já é a última parte do livro, mas é aqui que finalmente a humanidade conhece o seu destino, e também onde você passa a entender o título e o porquê do fim da infância. Os Senhores Supremos finalmente revelam suas verdadeiras intenções ali, mas se são boas ou ruins, só vocês lendo para saber.
O fim da infância é um excelente livro. Ele pode não ter um ritmo tão rápido, mas ele faz refletir muito sobre nosso lugar no espaço, como conduzimos as nossas vidas, onde podemos parar sozinhos, se seríamos capazes disso ou precisamos de alguém para nos conduzir? Além de coisas mais clássicas, como estamos realmente sozinhos no espaço? Somos mesmo a raça mais inteligente que existe? E muitas outras.
É um livro que agrada não só leitores de ficção científica, mas dos que gostam também de leituras que te façam pensar. Apesar do ritmo mais lento a escrita do autor é muito boa e não tem nada aqui sobre coisas complicadas de se entender como viagens no tempo e etc, apesar de uma breve explicação sobre uma teoria de Einstein. Qualquer um pode ler sem medo.
E em relação aos personagens, eu me identifiquei mais com uns do que com outros. Acredito que os da primeira parte e o Jan na segunda sejam os personagens mais fáceis de conseguir ter uma empatia, os outros acho que passam batidos, mas nem por isso não que dizer que não sejam desenvolvidos.
Recomendo essa leitura para todos os tipos de leitores. Pois com certeza pode mudar sua vida, se não mudar, pelo menos com certeza diverte.