O rei se inclina e mata

O rei se inclina e mata Herta Müller




Resenhas - O rei se inclina e mata


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Eduardo 01/07/2014

Os cruéis anos de Müller
Se um ensaio é o tipo de texto que não lhe agrada, peço que reveja seus hábitos de leitura. O Rei se inclina e mata é um relato auto-biográfico de singular beleza e extrema profundidade sobre a vida da escritora Herta Müller.

Poucos são os escritores que conseguem tirar da dor, textos tão belos quanto esta autora. Sua escrita é marcada pela intensidade poética que te faz prender o fôlego a cada frase construída, assim como o texto em sua totalidade marca o leitor. A autora afirma que utiliza a poética em seus textos, pois acredita na necessidade das frases dizerem mais do que o apenas as palavras que as contém.

Desde sua infância, a escritora mostra sinais de ser uma criança com um olhar diferente para o mundo. A atenção dela se volta para o ignorado detalhe que marca o cotidiano. Ela preenche a superfície rasa do ordinário humano, com a poesia de suas palavras e nos faz querer olhar a vida em seus detalhes mais significativos.

Não hou sequer um momento onde possa dizer "esta parte é regular", tudo é excepcional. Houve momentos em que minha respiração ficava alterada e outros em que a garganta arranhava e a sensação de tristeza da Herta refletia em mim com brutalidade, mas sem perder a condição de belo de sua escrita. Uma leitura imprescindível para qualquer geração.
Eduardo 01/07/2014minha estante
Entrevista de Herta Müller, para quem deseja saber um pouco mais sobre a autora: http://oglobo.globo.com/cultura/herta-muller-fala-dos-livros-que-lanca-no-brasil-7570300




Aline | @42.books 09/01/2021

O simbolismo das palavras e a potência de um discurso
"Quando aconteceram, os fatos jamais teriam suportado as palavras com as quais seriam escritos mais tarde"
Herta Muller fala sobre vida e obra, por meio das simbologias e sentimentos contidos em palavras que ressignificou durante a vida. 'O rei inclina e mata' é um passeio liguístico pelo âmago de sua vida, sob olhar único que a autora tem de si e de sua escrita. É um retrato de quem sofreu as violências da ditadura romana e deixou seu legado pelas palavras fortes e cirúrgicas que publicou, nunca esquecendo da força contida também na ausência dessas. É um soco no estômago, mas uma experiência importante.
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regifreitas 27/09/2020

O REI SE INCLINA E MATA (Der könig verneigt sich und tötet, 2003), de Herta Müller; tradução Rosvitha Friesen Blume.

Ganhadora do Nobel de Literatura em 2009, Herta Müller é romena de nascimento, mas vive na Alemanha desde 1987. Contudo, a língua materna da autora é o alemão, visto que na região rural onde viveu sua infância e boa parte da juventude, era essa a língua predominante. Sua própria família fazia parte de uma minoria alemã que residia na Romênia.

Pelo que pude verificar sobre a autora, logo após a sua premiação com o Nobel, são presenças constantes na sua escrita: o tom memorialísticos, além da crítica ao regime totalitário sob o qual viveu boa parte da sua vida. Regime esse representado principalmente pelo ditador Nicolau Ceausescu, que ocupou a presidência da Romênia entre 1974-1989.

Em O REI SE INCLINA E MATA temos uma coletânea de ensaios, que tratam basicamente sobre a escrita, a relação da autora com as palavras e com a linguagem. A luta contra o sistema e a perseguição a que foi submetida repetidas vezes pela polícia política do regime, também aparecem em alguns desses textos - a linguagem vista também como instrumento de poder, tortura e repressão. A escrita de Müller é bem particular e subjetiva, as metáforas utilizadas pela autora nem sempre são acessíveis em um primeiro momento. Demorei bastante para me habituar ao seu estilo. Alguns ensaios tiveram que ser lidos mais de uma vez. Não são textos que se entregam facilmente, entretanto não se constituem em algo inapreensível.

Apesar das dificuldades, fiquei com vontade de ler outras coisas dela. Principalmente sua ficção. Descobrir como ela trata essas questões dentro da sua literatura.
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Pandora 02/07/2017

Não há palavras para tudo...
"Não é verdade que há palavras para tudo. Também não é verdade que sempre se pensa em palavras. Até hoje há muitas coisas que não penso em palavras, não as encontrei, não no alemão do vilarejo, não no alemão citadinho, não no romeno, não no alemão oriental ou ocidental. E em nenhum livro. Os meandros interiores não coincidem com a linguagem, eles nos levam a lugares onde as palavras não podem permanecer. Muitas vezes é o decisivo, sobre o que não se pode dizer mais nada, e o impulso de falar a respeito é bem-sucedido porque ele passa ao longe. A crença de que falar destrincha os emaranhados só conheço do ocidente. Falar não concerta nem a vida no milharal e nem aquela sobre o asfalto. Também só conheço do ocidente a crença de que não se pode suportar o que não tem sentido." (Herta Müller)

A citação acima foi tirada do ensaio "Em cada língua estão fincados outros olhos" contido no livro "O rei se inclina e mata" da autora romena Herta Müller.

Particularmente acredito no poder das palavras e na capacidade que elas possuem de nos ajudarem a digerir a vida, mas lendo as palavras da Herta não posso deixar de concordar, refletir e reajustar minha percepção do mundo e das possibilidades da linguagem verbal.

Existem sentimentos inominados, situações indescritíveis, camadas de realidade sobre as quais dificilmente é possível palavras contar. Há ocasiões nas quais as palavras caem como pedras de um barranco e a alegria ou ador se tornam indizíveis. Não por acaso existem coisas comunicadas com o olhar, o abraço, o sorriso, o choro e mesmo com o silêncio.

Particularmente tenho dificuldades de lidar com o silêncio, a lacuna, a falta de palavras. Aceitar o indizível tem sido uma das aventuras da vida. Ainda estou aprendendo a compreender o não dito, as coisas só sentidas, o pressentimento, o incomodo, as sensações presas no ar, nas entrelinhas, nos espaços da comunicação e considera-las reais.

A parte isso, preciso ainda dizer: para quem gosta de prosa poética, de encarar reflexões profundas e verdadeiras sobre a experiência de ser e estar nesse mundo, a romena Herta Muller é uma excelente pedida. Sua escrita é muito influencia pela experiencia de viver sob a ditadura comunista na Romênia, então o sofrimento e trauma está muito em pauta nos seus livros, mas não só isso. Fugindo do formato dramalhão ela tende a aprofundar suas reflexões mais e mais e nos leva a ponderar sobre a existência humana que tendem a passar despercebidos.

Minha primeira experiencia a autora foi com o livro "O compromisso" e foi amor a primeira linha. Fiquei encantada como a forma como Herta contou a história de uma mulher comum que tem o compromisso de prestar depoimento a policia secreta. Ela sai as oito da manhã para um compromisso as 10 e durante o caminho nos conta de forma não linear a história da sua vida. Sou uma grande fã de conversas em ônibus e coisas do tipo, lendo o livro me sentir em uma conversa dessas.

Uma das minhas metas de vida é ler o máximo possível de Herta Müller. Ela é uma autora a ser desbravada mais e mais.

site: http://elfpandora.blogspot.com.br/2017/06/nao-ha-palavras-para-tudo.html
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Isabela 01/11/2020

Não é verdade que há palavras para tudo
Essa foi uma leitura bem devagar para mim. Demorei a embalar no ritmo da autora até entender que é um livro para ser lido sem pressa mesmo. É uma autobiografia, é sobre a repressão da ditadura mas acima de tudo, é um livro sobre as palavras e tudo o que elas nos trazem. É através das palavras que entendemos o mundo e a forma como nos expressamos diz muito sobre nossa sociedade, cultura e história. E quando elas nos faltam, é porque ainda tem experiências e sensações que são grandes demais para caber.
Afinal, como ela coloca: ?Quando na vida nada mais está em ordem, as palavras também despencam?

Único ponto que me incomodou um pouco foi a falta de pausas dentro dos capítulos, que são muito longos. Pelo ritmo de escrita continuo, fica difícil achar um ponto para parar e retomar sem ter que reler os últimos trechos. Feita essa ressalva sobre a estrutura, achei muito bom!
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Aguinaldo 06/10/2014

o rei se inclina e mata
O leitor deve estar sereno, preferencialmente até de bom humor ao ler um livro de Herta Müller, pois ela sabe nos incomodar, sabe nos cobrar atenção, sempre arrastando-nos em uma espiral de indagações. As hipocrisias e meias verdades ditas pelos homens não merecem perdão em seus textos. Ela fala do medo, da dor e da morte. Ela sempre parte explicitamente de sua experiência nos anos da ditadura de Ceausescu na Romênia, mas no final entendemos que é o homo sapiens sapiens contemporâneo, nós mesmos; é sobre a experiência humana atemporal que ela se preocupa, investiga e escreve. Em "O rei se inclina e mata" encontramos nove ensaios relativamente curtos (coisa de vinte páginas, quando muito). Em "Em cada língua estão fincados outros olhos" ela reflete sobre o tempo de aprendizado de uma língua; da força do silêncio na conversação entre indivíduos em contraposição ao ruído provocado por vozes que competem entre si; dos sons e significados das palavras que aprendemos. O texto que dá nome ao livro, "O rei se inclina e mata" dá conta de um processo expressivo utilizado por ela: a construção de poemas através da colagem de palavras recortadas de jornais e revistas. Através dessas colagens ela lembra dos mortos, nega poder ao rei/ditador de plantão, descobre em si a origem de todos os medos. Em "A flor vermelha e a vara" ela descreve sua experiência como professora em uma escola de séries iniciais (para crianças de 6 ou 7 anos). Herta se surpreende com a percepção de como mesmo em pessoas tão jovens a capacidade de destruição de um poder absoluto, opressor, já havia operado, já havia se consolidado. Os jovens são capazes de emular o comportamento autoritário sem esforço, mais perfeitamente que as pessoas mais velhas. Nestes três, assim como em cada um dos demais, Herta Müller desnuda facetas da lógica perversa de um grupo que se apropria do estado e o transforma numa ferramenta de dominação, pilhagem, sadismo e imbecilização em grande escala. Mesmo nos textos que descrevem os anos vividos na Alemanha ela consegue alertar para o risco de esquecermos depressa demais, perdoarmos por descuido um crime, uma traição, uma violência (que sempre continua, pois para muitos é natural que um homem oprima e destrua um outro homem). O texto que mais gostei é "O olhar estranho ou a vida é um peido na lanterna". Ela explica como desenvolveu o que chama de "o olhar estranho". Não se trata de um recurso literário bobo ou - como alguns escritores e jornalistas afirmam - uma espécie de ofício que distingue escritores e jornalistas das pessoas comuns, ou mesmo - como alguns artistas preferem - uma peculiaridade da arte, da sensibilidade artística, mas sim uma forma individual e necessária de monitorar, rastrear e contrapor-se ao autoritarismo (além de explicar o estilo literário dela, a forma que ela encontrou para se expressar literariamente). Nestes tempos onde os projetos canalhas de poder dos governantes de plantão e as aspirações da sociedade brasileira mostram-se inapelavelmente dissociados, contaminados por corrupção e mentiras, a leitura dos textos de Herta Müller, por mais custosa que seja, é um descanso na loucura, vale bem mais que só o pouco de saúde que prometeu o mestre Guimarães Rosa.
[início: 27/08/2014 - fim: 03/09/2014]
"O rei se inclina e mata", Herta Müller, tradução de Rosvitha Friesen Blume, São Paulo: editora Globo (coleção Biblioteca Azul / Prêmio Nobel de Literatura), 1a. edição 92014), brochura 14x21 cm., 213 págs., ISBN: 978-85-250-5397-8 [edição original: Der König verneigt sich und tötet (München: Carl Hanser Verlag) 2003]
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Andreia Santana 15/03/2017

A canção do exílio de Herta Müller
O rei se inclina e mata reúne ensaios autobiográficos da escritora, poetisa, ensaísta e Nobel de Literatura Herta Müller, ambientados na infância e juventude da autora, na Romênia de Nicolae Ceauşescu (que dirigiu o país de 1965 até 1989, ano de sua morte). Oriunda de uma família de origem alemã, Herta nasceu e cresceu em um vilarejo do interior romeno, em 1953, e deixou o país como exilada, em meados dos anos 1980.

Os textos sobre sua infância revelam uma poesia cheia de dor, delicadeza e do exorcismo de uma educação rígida e de uma vida sob permanente vigilância. Os alemães, derrotados na II Guerra e pagando pelos pecados de Adolf Hitler, mesmo que fossem só colonos semi-alfabetizados e simples lavradores, eram minoria em um país comunista, e por isso sofriam retaliações.

Ao se mudar para a capital, para estudar, Herta viveu anos de perseguições e prisões sem justificativa, interrogatórios intermináveis, tinha escutas instaladas em sua casa para vigiá-la e perdeu vários amigos para o regime. As versões oficiais eram sempre de que eles se suicidaram, embora todo mundo soubesse que não resistiram à tortura.

A leitura desse livro, embora angustiante, além de mostrar a luta por sobrevivência e liberdade da escritora, também serve como uma boa aula de história.

site: https://mardehistorias.wordpress.com/
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doc leão 31/08/2017

Um livro denso repleto de vida
É um livro autobiográfico em que a autora descreve momentos de sua infância e traça paralelos com episódios traumáticos que sofreu durante a ditadura romena imposta por Nicolae Ceausescu. Há trechos no livro que são de profunda reflexão sobre a vida, com a rara particularidade de que a autora deixa claro que muito desse refletir esta ligado a experiências reais vividas por ela (quero dizer com isso que a narrativa tem cor e substância). Poucas vezes vi escritores conseguirem mesclar tão bem universo subjetivo com o universo material, e, nesse livro, esse aspecto talvez seja sua maior característica. É uma obra para ser lida e para tomar inúmeras notas. Sugiro ler em E-book porque fica mais fácil assinalar e copiar as muitas passagens de elevado teor literário. De 0 a 10 dei 8,5
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Lana 20/02/2023

Palavras e significados
Nas primeiras 50 páginas eu já soube: essa coletânea de ensaios autobiográficos entraria para meus favoritos.
Vi muita beleza na simplicidade com que Herta Müller nos conduz pelos seus pensamentos. Suas lembranças dão pesos e sentidos diferentes às palavras. Uma sensação de não-pertencimento é constante nos ensaios, e isso aproxima o leitor de uma forma íntima que me parece quase invasiva. Herta tem palavras de significados próprios, e divide conosco como quem partilha o travesseiro.
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