Curso de filosofia grega

Curso de filosofia grega John Victor Luce




Resenhas - Curso de filosofia grega


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Fabio Shiva 02/01/2014

“pacote turístico-filosófico”
Desde que comecei a me interessar por filosofia, devo ter feito já uma meia dúzia de vezes essa fascinante viagem, espécie de “pacote turístico-filosófico”, que também poderia ser chamada “Dos pré-socráticos aos neoplatônicos”. E a cada vez, exatamente como se fosse uma jornada física, fiz uma viagem diferente, pois ainda que os cenários e paisagens fossem os mesmos, mudou a cada vez o olhar do viajante...

Raras vezes a aventura do espírito humano é expressa de forma tão eloquente quanto na odisseia dos filósofos gregos. Sublime aventura! Dá gosto em pertencer à espécie humana conhecer os clássicos gregos.

O professor John Victor Luce, guia neste passeio histórico e filosófico delimitado entre o século VI a. C. e o século III d. C., é um erudito especializado e competente, e creio que seu “Curso de Filosofia Grega” pode figurar com honra na bibliografia de qualquer curso introdutório.

Só que não.

Nesse momento de minha própria jornada, detectei o que considero duas falhas graves na obra, a ponto de me sentir na obrigação de denunciá-las. Não são erros do autor propriamente, mas deficiências do próprio sistema de produção do conhecimento no meio acadêmico, a meu ver.

O primeiro erro decorre da praga conhecida como “evolucionismo cultural”, que foi uma adaptação extremamente bem sucedida da teoria da evolução de Darwin para o âmbito da história. Digo bem sucedida porque, apesar de já ter sido demonstrado cabalmente se tratar de uma teoria falha, o evolucionismo cultural continua influenciando perniciosamente o pensamento científico, contaminando-o com preconceitos e suposições infundadas.

Por exemplo, logo no começo do livro, tive que parar ao ler o trecho:

“(...) Tales trouxe a geometria do Egito para a Grécia. Os sacerdotes e os escribas do antigo Egito demonstraram alguma proficiência em triangulação elementar numa época muito mais antiga que a de Tales, e puseram seu conhecimento em prática ao calcular os ângulos na construção das pirâmides (...).”

Quer dizer que os egípcios construíram as pirâmides com apenas um conhecimento de “triangulação elementar”???? RARARARARARARA Peraí, deixa eu rir um pouco mais: RARARARARARARARA

Seria cômico, se não fosse trágico! Por que o evolucionismo cultural é tão nocivo? É porque nesta obstinada recusa em reconhecer nas pirâmides, por exemplo, o produto de uma cultura “superior” até mesmo à nossa de hoje (ao menos em termos de conhecimentos técnicos), aprendemos uma história totalmente deturpada e, em uma palavra, falsa.

E a história da filosofia não é menos vitimizada pelo evolucionismo cultural. Seguindo o mesmo exemplo de Tales: se consideramos os egípcios e babilônios povos “primitivos” e “atrasados”, ao saber que Tales, o primeiro filósofo grego, instruiu-se com egípcios e babilônios, não consideramos esse fato de grande importância, e avaliamos o pensamento de Tales com a mesma condescendência que tratamos de modo geral os pré-socráticos, algo tipo: “eles são tão bonitinhos, mas tão bobinhos! Imagine, pensar que tudo é feito de água, ou de ar, ou de fogo!”

Está aí o colossal tamanho do erro gerado pelo evolucionismo cultural. Pois se enxergamos, como inúmeras evidências demonstram, que os povos antigos conheciam coisas que não conhecemos hoje, perceberemos que os pré-socráticos tiveram talvez acesso a esses conhecimentos que não chegaram até nós, e que em sua linguagem simbólica estavam tentando expressar algo desses mesmos conhecimentos de forma a serem compreendidos por seus pares.

Essa busca da physis mesmo, é gritante como expressa a busca de uma realidade Una por trás do véu ilusório das aparências. Nada muito diferente do que é professado pela antiquíssima filosofia Sankhya da Índia, nada muito diferente do que atualmente estão afirmando os próprios cientistas quânticos!

Esse trecho de Heráclito, por exemplo:

“Todas as coisas são uma mudança para fogo, e de fogo para todas as coisas, como mercadorias por ouro e ouro por mercadorias.”

Se entendemos o “fogo” de Heráclito como “luz”, não será difícil entender como o “fogo” se transforma em todas as coisas aplicando-se a famosa fórmula de Einstein, E = mc2.

Pena que é muito assunto pra pouco espaço de resenha! Pois ainda nem falei da segunda grande falha do sistema acadêmico de produção do conhecimento, que está presente também nesse livro. Trata-se da cegueira espiritual que infelizmente ainda acomete a maior parte dos eruditos, que tendem a descartar como irrelevante ou falso todas as informações que estejam relacionadas com o sentimento do maravilhoso e da sacralidade da vida. Quanta pobreza, que desperdício! Desejo que esse atual embotamento espiritual de nossos sábios seja superado o quanto antes, para grande benefício da humanidade.

No caso particular desse “Curso de Filosofia Grega”, é patente que o autor trata com ironia ou com o pejorativo termo de “teologia” toda a parte da filosofia grega voltada para a espiritualidade. É uma pena mesmo que isso ainda ocorra! Precisamos de eruditos holísticos, precisamos dos sábios da nova era!

Típico exemplo dessa deficiência perceptiva foi tratar com deboche a afirmação de Pitágoras de que ele seria capaz de recordar de suas encarnações anteriores, chegando ao ponto de enxergar apenas ironia nesse tocante relato de Xenófanes, contemporâneo do grande filósofo:

“Certa vez ele [Pitágoras] caminhava quando viu um homem batendo num cão, e dizem que teve pena do animal e falou: ‘Parem de bater nele! Na realidade, ele tem a alma de um amigo meu. Reconheci-o quando ouvi a sua voz.’”

Fiquei eletrizado ao ler esse trecho, pois certa vez eu também reconheci no triste olhar de um cachorro de rua a essência de um amigo de outra vida, que certamente aprontou muito para ser rebaixado a tão triste condição. Fiquei muito feliz e satisfeito ao saber que Pitágoras teve uma experiência semelhante! E não dou a mínima se os eruditos de plantão consideram isso farsa ou loucura. Prefiro estar na companhia de Pitágoras, que na de seus críticos!

(30/12/13)

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Conheça O SINCRONICÍDIO:
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