de Paula 07/02/2022
Torre de Babel para o espaço
Eu adoro Arthur C. Clarke, tenho certeza que é meu autor de ficção científica favorito, mesmo adorando Burgess. A questão é que não me canso de ler os livros dele, com suas tramas intrincadas e o desespero de passar situações completamente humanas no contexto espacial, para piorar a situação. Fui com uma expectativa muito alta neste livro e tenho que confessar que não foi a melhor experiência.
Começa com o fato de desencontros históricos, além de referências errôneas, como falar que a Torre de Babel, construída por Ninrode, está em Gênesis 2. Não têm como, já que ele foi bisneto de Noé, cujo dilúvio é narrado pós morte de Abel. Sendo assim, no mínimo um capítulo 10. Se ocorreu esta discrepância com algo tão óbvio, quem garante que não houveram equívocos na descrição do Sri Lanka e até nos conceitos científicos e de engenharia?
Outra coisa que me frustrou foi o início de várias narrativas que não se encaixam e o final é feito de forma muito jogada. Fala-se sobre a visita de extraterrestres por uma nave que colocou em xeque todas as religiões e as extinguiu. Porém, não sabemos o que aconteceu de fato. Kalidassa tem seu protagonismo nos primeiros capítulos e desaparece. O conceito das fontes do paraíso não se conecta com a construção da torre, a não ser pelo fato das águas serem arremessadas, numa época rústica e sem recursos. Tem o clímax em um acidente, que não faria a menor diferença, além das resoluções serem muito bobas, como as borboletas e o sino. Morgan procurando o diplomata não serviu de muita coisa, assim como Maxine e o professor. Este ponto, no entanto, deixo passar porque sinto uma vibe autobiográfica.
Nos demais livros que li, tudo se encaixa, os problemas podem ser resolvidos com facilidade, mas fazem sentido e por isso a decepção. Valeu a pena, com oda a certeza, acompanhar Morgan e sei sonho de construir a torre para o espaço, sua obstinação e competência. Se o foco tivesse sido só neste aspecto, com certeza a história seria melhor. Pensar na possibilidade de construir um elevador para fora do planeta é curioso e instigante, além do apelo judaico-cristão, fazem com que nos envolvamos no suspense e ação.
Não recomendo como um dos melhores livros do autor, mas dá para refletir sobre a vida, o universo e tudo o mais. Acho que se não tivessem sido trabalhados tantos pontos, a história mais concisa seria incrível. Clarke errou pelo excesso, mas não deixa de emocionar e aproximar o leitor da obra.