Tamirez | @resenhandosonhos 13/08/2018King Of ThornsQuando eu li Prince of Thorns, apesar de ter gostado da história, ainda não havia sido suficiente para que eu me apaixonasse por ela. Jorg não é o típico protagonista e tudo em volta dele cheira a estranhamento. Ele é um garoto jovem mas sanguinário, tem pouca empatia e parece carregar um peso enorme nas costas. E, acima de tudo, busca por vingança. Acho que dentre todos esses aspectos, a idade foi o que mais pesou pra mim num primeiro momento, mesmo sabendo que seria completamente possível.
Em King of Thorns o personagem finalmente me cativou e ganhou a confiança para que eu fosse a frente com essa história. Nesse livro temos a trama acontecendo em duas linhas temporais. A primeira é logo após o fim do primeiro livro com Jorg saindo em uma peregrinação; aqui vários dias e semanas vão se passar e é realmente uma jornada do personagem. Já a segunda acontece 4 anos após sua conquista, no dia do seu casamento e quando o exército de Arrow bate a sua porta. Nessa parte a narrativa se desenvolve em muito pouco tempo.
Além desses dois momentos também temos algumas entradas do diário de Katherine e ele ajuda a dar um tom diferente ao emaranhado de informações. Por vezes receberemos informações no presente que só verdadeiramente se desenrolarão mais ao fim do livro no passado. Ou entradas do diário contando o resultado de coisas que ainda não aconteceram, tecendo algo que o leitor apenas imagina o que possa ter. Eventualmente todos as linhas se encontram e revelam o mix total da história.
“Eu não sou ele porque nós morremos um pouco todo dia e gradualmente nascemos outra vez, homens diferentes, homens mais velhos com as mesmas roupas, com as mesmas cicatrizes.”
Outro ponto diferente desse livro é o próprio Jorg. Ele está mais velho aqui e o peso das coisas que ele fez já lhe cerca, junto com a neuromância que também cobra seu preço. Ele tem momentos de empatia, solidariedade e até paixão, surpreendendo quem aguardava que ele mantivesse o mesmo ar arisco do primeiro livro. A sensação que eu tenho é que ele parece mais confortável “com o leitor” para se abrir e assim é possível que criemos um elo mais forte com ele do que anteriormente. Ele também parece mais cansado, e com um entendimento melhor de que não é somente vontade que é necessária pra vencer.
Achei interessante ver a relação dele aqui com Katherine e como a coisa ficou ainda mais intensa e platônica. Já Miana, a sua noiva, mesmo nova acaba se mostrando bem inteligente e decidida, sendo um par até perfeito para estar ao lado do teimoso e resoluto Ancrath. É certamente uma relação que evolui de forma diferente do que o esperado e não vem a atrapalhar ou tomar o centro da história, mesmo sendo importante para o andamento da coisa. Também conheceremos melhor o fiel escudeiro de Jorg, Makin, o avô e sua importância na trama, outras coisas “mágicas” e a presença da caixa de Pandora.
Algo que eu não tinha reparado com Prince of Thorns é que a história se entrelaça com o nosso mundo antigo, no período da inquisição, e do poderio católico e religioso sobre o mundo. A princípio tinha visto o mundo de Lawrence como algo novo, mas ele recria em cima de algo real, algo pós-apocalíptico, o que também ajuda o leitor a se aproximar mais da trama.
Para quem não tinha se empolgado muito com o primeiro volume, digo que esse segundo realmente vale a pena e segura a história, dando mais profundidade aos personagens e ao mundo que o cerca. Para aqueles que já haviam se apaixonado por Jorg em um primeiro olhar, não há o que temer aqui. Mark Lawrence lapida sua trama e nos entrega algo grandioso e sombrio.
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