Andre Fiks 10/02/2023
Muito interessante e positivo, mas de um jeito datado?
Em 2023, esse livro é uma relíquia recente. Recente porque a história tem pouco mais de uma década. Relíquia por conta das rápidas, drásticas e positivas mudanças trazidas pelos movimentos sociais que apoiam identidades historicamente oprimidas e ajudaram a desmistificar o sexo, o trabalho com sexo, a diversidade LGBTQI+ e a adolescência. Provavelmente a popularização da internet ajudou nesse processo. O que era, na época, uma história envolvente de escândalo e fofoca sobre as margens da classe alta difícil de acreditar, hoje me parece um conto de moralidade tão ingênua quanto a menina rica que virou puta aos 17 anos. A primeira ingenuidade vem dessa descrição de classe, aliás, a família de Rachel paga o colégio Bandeirantes, tem mãe que não trabalha por opção, três filhas, chácara em Sorocaba, casa no Guarujá e apartamento com empregada na Vila Mariana. Isso é rico. Rachel descrever como "classe média" demonstra uma alienação de classe e falsa humildade que hoje é difícil de achar. Prova disso é que sua família se assusta com seu namoradinho motoboy. Os tempos mudaram também para a sexualidade dos adolescentes e das mulheres. Claro que há os retardatários, mas me orgulho de ver que avançamos um pouco contra a repressão violenta e contraproducente de tudo que não é família branca monogâmica cristã. Se vivesse 10 anos depois, Bruna talvez não tivesse experimentado tanto estigma. Talvez Rachel nem tivesse virado puta. E se tivesse, talvez essa história pouco assustadora não teria vendido tantas cópias de curiosos nem virado filme.