Kenia 25/04/2020Nosso narrador, D-503, é um número nesse estado utópico. Ele é o Construtor Chefe da Integral, um foguete que deve ser enviado para o universo, trazendo uniformidade e felicidade para todas as espécies alienígenas que podem estar lá fora ainda vivendo em livre arbítrio. Todos os números foram encorajados a preparar algo para a inclusão na missão – poemas de louvor ao Benfeitor que serve como substituto de Deus nesta sociedade. D-503 decide manter um diário de seu cotidiano – este diário que estamos lendo – como sua contribuição.
D-503 está entre os milhares de outros números que vivem no Estado Único e foram criados, geração após geração, para acreditar que são apenas engrenagens dispensáveis dentro da grande máquina comunitária que é sua sociedade utópica. Para D-503, por ser engenheiro, ele tem a necessidade embutida de analisar tudo o que vê e todos que encontra, encaixando-os em fórmulas e equações, dividindo-os em elementos para entendê-los, porque essa é simplesmente a única maneira que ele sabe de processar informações.
A civilização do Estado Único é cercada de vidro. A maioria dos edifícios é feito de vidro, permitindo que os números vejam o que outros números estão fazendo. A civilização em si é cercada por uma parede de vidro que filtra o sol e bloqueia o mau tempo. A questão é: tudo é previsto e prescrito. Os números têm uma tabela que lhes diz o que devem fazer a cada hora do dia. Durante o tempo prescrito para caminhar, eles caminham lado a lado — como robôs. Todos se levantam da cama no mesmo horário e ao mesmo tempo todos os dias, comem ao mesmo tempo, trabalham ao mesmo tempo e vão dormir, todos ao mesmo tempo. Cada um mastiga a comida exatamente 50 vezes, ao mesmo tempo em que todos os outros no local que estiverem. Como explica D-503, essa rendição da liberdade levou à felicidade universal, eliminando todas as escolhas difíceis, todas as discordâncias e todas as lutas pelo auto aperfeiçoamento. Porém, duas horas por dia, os números são autorizados a ter um gostinho de independência: eles têm direito a uma hora pessoal antes do jantar e uma hora antes de dormir, que eles podem ficar em suas casas ou andar pelas ruas imaculadas com milhares de outros carecas vestindo uniformes azuis, marchando ao ritmo do hino do Estado Único. Eles têm parceiros sexuais 'atribuídos' a eles, e têm que comprar ingressos para fazer sexo com eles — ou para fazer sexo com qualquer outro número que escolherem — com antecedência ao "dia do sexo", o dia em que os "números" são autorizados a baixar as cortinas de seus apartamentos de vidro durante a hora pessoal.
Então D-503 conhece I-330, e seu mundo vira de ponta cabeça. Ele encontra nela uma mulher que desafia o Estado Único, entregando-se aos vícios de beber, fumar e fazer sexo fora da rotina. Por mais indignado que esteja com suas atitudes, algo o obriga a procurá-la. Ele então descobre que ela não está sozinha, que uma revolução está se formando para derrubar o Estado Único. Seu primeiro passo é roubar o foguete Integral, no qual envolveu muita dedicação por sua parte. Ele enfrenta então um dilema ético - o primeiro de sua vida. Durante esse dilema, ele é diagnosticado com um distúrbio chamado imaginação, que pode levar a algo ainda pior: possuir uma alma. À medida que o momento da revolução se aproxima, o Estado Único anuncia que encontrou uma maneira de remover cirurgicamente a imaginação e ordena que todos os cidadãos se submetam imediatamente à cirurgia.
Eu li esse livro como parte da minha paixão por distopias e minha infinita tbr, mas preciso confessar que não me engajei muito na leitura. A culpa maior foi a questão dos números, da matemática que envolve essa sociedade utópica. O protagonista divaga sobre tantos aspectos, que me perdi em algumas partes da história. Também posso dizer que li antes e adorei 1984, e Nós é quase igual, tirando que Orwell se inspirou no livro de Zamyatin para escrever 1984. Mas no geral, eu recomendo a leitura, acho bacana ter como modelo diferentes organizações de sociedades, que eu torço para que não se torne real nos dias atuais.