Cassia 10/01/2019
Não é um livro de todo ruim, mas não entrega o que promete
Um repórter morreu após ser atropelado, num acidente que ninguém conseguiu ver. Anikka Bengtzon, uma repórter que estava justamente indo entrevistar este colega, decide investigar a história e, aos poucos, vai descobrindo que há muita coisa pesada relacionada a este evento, principalmente uma série de crimes cometidos por um serial killer. Ao mesmo tempo em que lida com a investigação, tem que lidar com dilemas pessoais envolvendo a si mesma e as pessoas com quem convive e trabalha.
Este é um livro escrito pela escritora sueca Liza Marklund. E, como é típico dos livros de autores suecos que têm sido lançados no mercado nos últimos anos, os personagens têm personalidades complexas, e padecem de dilemas e dúvidas pesados. Esse é um dos traços que me faz gostar dessa literatura sueca: os personagens não são super-heróis indestrutíveis, que salvam o mundo e não ficam com um fio de cabelo fora do lugar - ao contrário, são pessoas que fazem ao seu melhor enquanto se preocupam com os boletos para pagar, o relacionamento amoroso enfrentando dificuldades, entre outras coisas do tipo.
Ao mesmo tempo em que esse é um ponto legal da história, ao mesmo tempo, é seu ponto mais fraco: o romance não diz exatamente a que veio.
Começa como um romance de suspense, mistério e investigação. Depois, somos apresentados a dificuldades enfrentadas por Annika após um evento forte que marcou sua vida. Depois, passa para os problemas de seus amigos e colegas de trabalho. Aí, retoma a investigação, seguido da retomada do drama humano – e por aí vai.
Isso não seria um problema se a escritora não usasse uma mão tão pesada. Querendo dar mais profundidade e dimensionalidade a seus personagens, por vezes ela pesa demais na mão, por vezes dando à narrativa uma pegada tediosa e dispersiva. Tem momentos em que os dramas de Annika e Cia se tornam tão grandes que, quando ela resolve retomar a investigação, fica na gente a sensação de “Ah, é mesmo! Ela estava investigando um crime!”. E momentos em que, quando você está completamente envolvido pela investigação, esperando qual vai ser a próxima reviravolta, recai num drama que não consegue te fazer simpatizar com ele. Sim, porque Annika não é dessas personagens que vai te cativando logo de cara, custa um pouco a simpatizar com ela.
Isso fica muito evidente na parte final do romance, onde esperamos uma conclusão, e várias coisas que foram aparecendo ao longo de toda obra ou se fecham de qualquer jeito, ou ficam em aberto, mas de modo desleixado ou apressado, meio que dando a impressão de que a própria autora já estava cansada da história.
Não é um livro de todo ruim, mas não entrega tudo o que promete (pelo menos, para quem é fã de narrativas mais tradicionais e mais “retas”). É uma leitura a ser feita sem muita expectativa.