Trasgo #01

Trasgo #01 Karen Alvares
Melissa de Sá
Claudia Dugim




Resenhas - Trasgo #01


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Daniel 22/01/2014

Ótimo material
Iniciativa louvável do Rodrigo van Kampen para a disseminação da leitura de ficção, mas não é isolada; vários projetos parecidos estão surgindo concomitantemente - como a Pulp Feek - o que é excelente para o cenário de fantasia e ficção científica nacional. Friso bem "fantasia nacional" pela riqueza da mesma, que abrange não só a fantasia internacional, da qual somos consumidores, como também a criação de histórias originais pautadas em uma vivência local dos autores e a utilização do nosso folclore como fonte de idéias. A Trasgo reflete bem essa mistura e abundância de conteúdo heterogêneo. Achei pouquíssimos erros, alguns claramente de digitação, e a edição foi excelente, uma grata surpresa para mim no kindle - ambiente em que até os ebooks profissionais podem ter uma diagramação fraca. Como são poucos contos, comentarei cada um individualmente.







Ventania, de Hális Alves, traz um conceito interessante, um tipo de Mad Max nordestino. Somos apresentados a um cenário pós-apocalíptico bem interessante, onde Ventania é um reduto autosuficiente na forma de uma fortaleza/moinho-de-vento. A escrita da parte de ação no final do conto me pareceu muito confusa, não sei se foi intencional pela cena, mas não curti. Espero ver mais alguma coisa do autor neste universo, que achei bem promissor.



Azul, da Karen Alavars, eu pulei, pois já tinha lido anteriormente. Procurei minha opinião sobre o conto e não lembro aonde postei, mas em poucas palavras, é um conto de terror psicológico bastante abstrato (característica que adoro e uso bastante) e se encaixa muito bem no gênero horror. Só lendo para sentir, e só depois, entender.



Náufrago, de Marcelo Porto, é meu conto favorito. Talvez por eu ter andado tanto de ferry boat em Salvador, me identifiquei com muita facilidade, e mesmo sendo minuciosamente crítico com viagens temporais, neste caso não me senti incomodado. Parabéns ao Marcelo.



Em Gente é tão bom, de Claudia Dugim, encontrei um conto de um humor "cinzento", quase negro, algo que gostei logo de cara. A autora fez uma caracterização muito boa da personagem egoísta, gananciosa e até sádica. Não me tirou risadas, mas me prendeu e conquistou o meu ódio para com a repulsiva personagem principal.


Sobre A torre e o dragão, de Melissa de Sá, acho que é o conto mais longo da revista. Uma fantasia tradicional vista por uma ótica diferente. Gostei do estilo da Melissa de Sá; não é uma escrita densa nem leve, é um meio termo saudável que consegue agradar aos dois públicos. Conta a clássica história da donzela raptada, reestruturada neste conto de final surpreendente.

site: http://t.co/VpuV3EDyhP
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Bruno Eleres 25/01/2014

Un Café à Clichy
"Gente é tão bom me divertiu do início ao fim. Foi um prazer indescritível ler a narrativa irônica e recheada de humor negro de Claudia Dugim. Seu estilo é direto, mas está longe de ser simples. A personagem principal é uma antiheroína que se vê numa situação surreal e apresenta opiniões mais surreais ainda, mas divertidas para observadores externos e que vão direto ao ponto crítico."

Texto completo no blog: Un Café à Clichy

site: http://www.un-cafe-a-clichy.blogspot.com.br/2014/01/resenha-trasgo-0.html
Claudia Du 21/06/2015minha estante
Obrigado Bruno. Acho que na época do seu comentário rebloguei a sua resenha, mas como não costumo entrar no skoob, demorei a agradecê-la.




PorEssasPáginas 17/12/2013

A Cuca Recomenda Revista Trasgo Edição #01 - Piloto - Por Essas Páginas
E aí, pessoal?! Que tal uma recomendação quente da Cuca em outras páginas, mas ainda sobre literatura? A revista Trasgo, projeto do editor da revista Rodrigo van Kampen, foi lançada na sexta-feira passada, em versões on-line e em e-book, gratuitamente! Isso mesmo, pessoal, bom conteúdo em literatura fantástica nacional e ainda por cima de graça! ‘Bora lá saber o que vem nessa edição piloto da revista?

“A revista Trasgo é uma revista de ficção científica e fantasia brasileira, editada trimestralmente.

A Trasgo surge no mercado para preencher a lacuna deixada por uma série de revistas de contos que popularam o imaginário da ficção científica brasileira nas décadas de 70 e 80. Se hoje é possível criar uma revista sem os altos custos de impressão e logística, por outro lado é necessário um material de qualidade para se diferenciar no mar de sites e comunidades de contistas.

Esse é o objetivo desta revista. Em vez de concorrer com os fóruns, é um complemento, um espaço com curadoria forte para que os autores brasileiros e portugueses possam atingir um público além. E se a produção nacional de fantasia vem ganhando terreno nestes últimos anos, é hora de mostrar que também a ficção científica tem ótimos autores em língua portuguesa.”

Segundo o editorial acima, a Trasgo vem para oferecer ao público que curte fantasia e ficção científica uma revista de contos brasileríssimos. A cada edição, novos contos, inclusive enviados pelo público, ou seja, escritores, fiquem de olho e enviem seu material! No entanto, a revista não tem apenas contos, mas também entrevistas e uma galeria incrível de ilustrações.

O conto que abre a revista é Ventania, de Hális Alves. Ele fala sobre um grupo de pessoas em um nordeste distópico que acabam encurraladas em uma torre enorme e sinistra, seu último refúgio contra seres bizarros e perigosos. É quase um Mad Max brasileiro, segundo as palavras do próprio editor. É um conto com bastante descrições e um final de tirar o fôlego.

A seguir, um conto de minha autoria! Azul, um conto de fantasia urbana com elementos de terror. Não vou resenhá-lo, já que é um conto meu, mas posso dizer um pouco sobre a história. Em uma noite tenebrosa, uma jovem esbarra em um ônibus com um homem completamente azul que lhe presenteia com uma maldição. Aos poucos, todo seu mundo se torna dessa cor. Dividida entre o desespero e a consciência, até onde ela poderá chegar para escapar dessa situação apavorante?

O terceiro conto foi o meu preferido da revista. Náufrago, do autor Marcelo Porto. É sobre um historiador que está atravessando o mar em uma balsa, em Salvador, porém algo surpreendente e perigoso acontece, interrompendo a travessia. O conto mistura fantasia histórica e aventura e tem um final incrível e surpreendente. Com certeza vou procurar mais sobre esse autor!

Logo depois vem o conto de Claudia Dugim, Gente é tão bom, um texto delicioso repleto de crítica social, humor negro e sarcasmo. A história fala de uma mulher que não está no seu melhor dia e trabalha em uma fábrica de alimentos de origem animal (sim, parece mesmo a que você está pensando! rs). Porém, coisas estranhas e bizarras acontecem no seu caminho para o trabalho. É um conto que a gente se pega rindo e refletindo ao mesmo tempo.

O conto que fecha a revista é da Melissa de Sá, um texto que tive o prazer de ser a primeira a ler e revisar há algum tempo. A Torre e o Dragão, um conto de fantasia que desconstrói os clichês e a imagem de contos de fadas, ironizando de maneira deliciosa e envolvente o clássico da princesa encerrada em uma torre e o dragão que a guarda. É um conto sensível, trágico e repleto de surpresas.

Em tempo, a revista ainda conta com entrevistas e com a bela galeria do ilustrador Filipe Pagliuso, que também fez a capa da Trasgo.

Revista recomendadíssima. Se eu fosse vocês, corria lá no site para baixar. É possível ler a revista completa on-line, através do próprio site, ou ainda baixá-la para e-book, em diversos formatos e ler no seu e-reader favorito. Tudo gratuito. Amantes de fantasia e ficção científica não podem perder essa!

site: http://poressaspaginas.com/a-cuca-recomenda-em-outras-paginas-revista-trasgo-piloto
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neo 07/01/2014

A Revista Trasgo é a mais nova revista de contos de fantasia e ficção científica brasileira. De graça (pelo menos por enquanto) e digital, fica bem fácil colocar no celular e ler sempre que aparecer um tempinho livre. E, bem, foi isso que eu fiz.

A Trasgo é composta por cinco contos, todos de temas diferentes (dentro, é claro, dos gêneros de fantasia e ficção científica). Abaixo está minha opinião sobre cada um deles.

Ventania: escrito por Hális Alves, Ventania é um conto distópico que se passa no litoral nordestino. Não quero falar muito do enredo para não estragar a história, mas eu gostei bastante do worldbuilding feito pelo autor para esse conto. A coisa toda ficou verossímil e bem estruturada, o que me deixou confortável para seguir com a leitura sem trancos ou barrancos. As únicas coisas que me incomodaram foi: 1) o final ficou um pouco corrido; Ventania se daria melhor como uma curta do que como um conto e 2) diálogos me incomodaram em alguns momentos, mas nada grave. De resto, está muito bom.
Azul: quem me conhece sabe que sou meio medrosa e fujo de qualquer coisa que envolva terror, mas o conto escrito por Karen Alvares me conquistou pela ideia original. Mais uma vez o final ficou meio corrido, mas a ideia foi tão boa que isso nem incomodou muito. Azul conta a história de Nora, que tem um encontro macabro ao voltar para casa
Náufrago: outro conto ambientado no nordeste (dessa vez na minha cidade, Salvador), escrito por Marcelo Porto, conta a história de Diogo, um homem que acaba no meio de uma enorme confusão no tempo enquanto atravessava a Baía de Todos os Santos a trabalho. Conto no geral bom; a escrita/os diálogos me incomodaram várias vezes, mas eu gostei.
Gente é tão bom: sinceramente não sei o que dizer desse conto. Acredito que seja uma espécie de crítica a nossa sociedade consumista de produtos industrializados, mas acho que a coisa toda ficou corrida demais para ter um bom efeito. No geral, regular. Escrito por Claudia Dugim.
A Torre e o Dragão: melhor conto dessa edição. Sinceramente, eu o adorei. Adorei tudo, desde a escrita até o enredo. Perfeito, sem mais. Se a autora, Melissa de Sá, fizesse um livro com esse plot eu compraria sem pensar duas vezes. O final foi muito bom, (e sim, agora vou dar uma stalkeada básica na escritora pra ver se acho mais trabalhos dela).

Além dos cinco contos, a Trasgo conta também com uma galeria de imagens, que muda a cada edição. Dessa vez o artista foi o Filipe Pagliuso, e vale a pena dar uma olhada nos trabalhos dele, que são ótimos (a capa da edição ficou perfeita).

Talvez, em um futuro distante, eu tente enviar um conto meu para a Trasgo, mas bem, primeiro eu preciso de uma ideia, né? Por enquanto vou me contentar em esperar as próximas edições.

Enfim, três estrelas para a edição piloto da Trasgo.

site: http://lynxvlaurent.blogspot.com.br/
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Enio Myrddin 22/11/2014

Tem contos bem legais de vários estilos, mas o Gente é Tão Bom, da Claudia Digum, um conto curto e cheio de humor negro, foi meu favorito.
Claudia Du 21/06/2015minha estante
Obrigado Enio




Laís Helena 22/06/2015

Resenha do blog "Sonhos, Imaginação & Fantasia"
A Revista Trasgo tem publicação trimestral e reúne contos de diversos autores, com temas voltados para fantasia e ficção científica. Hoje trago a resenha dos contos da primeira edição, que foi uma edição piloto com contos de escritores convidados.

Nesta resenha, falarei um pouco sobre cada um dos 5 contos:

Ventania (Hális Alves)

Ventania nos apresenta um mundo futurista e pós-apocalíptico, em que os pouquíssimos sobreviventes lutam para conter os bandos, grupos formados por humanos afetados pela radioatividade e que devido a isso perderam qualquer tipo de empatia.

Foi o meu favorito da coletânea. O autor apresenta uma narrativa interessante e envolvente, introduzindo o leitor aos poucos neste mundo que ele criou, que foi muito bem estruturado. As reviravoltas são interessantes, com cenas bem escritas que não decepcionam o leitor, e a alternância de pontos de vista só acrescenta mais tensão. O único ponto negativo é que há muitos personagens, e exceto pelos principais, fica fácil esquecer quem é quem.

Azul (Karen Alvares)

Nora bebeu demais na festa e, ao encontrar um homem azul no ônibus, acredita que é sua mente alcoolizada pregando peças. Esse conto, apesar de curto, é muito interessante. Gostei muito de como a autora mostrou as mudanças de Nora e como conseguiu passar para o leitor o clima de medo e tensão, deixando um final em aberto.

Náufrago (Marcelo Porto)

Narrado em primeira pessoa por Diogo, um professor de história a caminho para sua palestra, este conto se passa, em sua maior parte, em um ferry boat que sofreu uma pane e está à deriva. Em meio a isso, surge uma tempestade repentina.

Trabalhando com viagem no tempo, esse conto foi muito interessante, embora eu tenha sentido falta de uma dose a mais de tensão nas cenas em que a ação começa a aparecer. Porém, o protagonista nos apresenta ao contexto histórico do local (a Bahia), e isso adicionou um toque a mais ao conto.

Gente é tão Bom (Cláudia Dugim)

Esse conto nos apresenta uma protagonista não tão convencional, que odeia pessoas e seu emprego e não hesita em deixar isso claro. Naquela manhã isto não é diferente, até que um estranho acidente ocorre a caminho do trabalho: pessoas estão se metamorfoseando em frangos. Apesar de eu ter gostado da narrativa, o acontecimento não me convenceu muito. A ideia era, provavelmente, chocar, mas de alguma forma isso não pareceu convincente no ambiente criado pela autora.

A Torre e o Dragão (Melissa de Sá)

Esse foi também um dos que mais gostei. Uma princesa está presa na torre, protegida por um dragão, e isso há tanto tempo que ela sequer se lembra da vida que teve antes. Há o príncipe que veio para salvá-la, mas essa história não segue o caminho convencional.

O que mais gostei nesse conto foi a maneira como o mundo em que a Princesa vive, que se resume à Torre, foi construído. Interessante também é a maneira como o relacionamento com Tristam, o Príncipe, foi desenvolvido: no início havia apenas fascínio, que aos poucos se transformou em afeto. O final apresenta os fatos de maneira bem sutil, deixando para o leitor algumas pistas do que realmente aconteceu à Princesa.

site: http://contosdemisterioeterror.blogspot.com.br/2015/06/resenha49.html
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Paulo 10/09/2017

1 - Ventania (Hális Alves) - 2 corujas

Esse é um conto que se passa em um Brasil pós-apocalíptico no qual nossos personagens estão em um prédio muito grande próximo a um farol. Eles tentam a todo custo sobreviver às intempéries de um mundo cruel e à violência que assola os grandes campos. A proposta pós-apocalíptica quando bem trabalhada sempre gera boas histórias e é isso o que vemos aqui.

Não sabemos ao certo o que aconteceu ao mundo e isso talvez nem seja o mais importante na história. Mas, de toda forma o autor apresenta pequenas pistas do que pode ter ocorrido. Sabemos que os campos foram tomados por algum tipo de radiação que afetou alguns grupos humanos de maneira irreversível. E acho que essa maneira de escrever é muito interessante porque ao mesmo tempo em que ele não diz muito, ele fala bastante ao leitor. Somos capazes de construir a imagem acerca do que aconteceu em nossas mentes. Seja a devastação ou o que sobrou dos lugares.

O conto trabalha muito com a psiquê dos personagens. Mostram como é o sentimento de cada um deles diante de um mundo devastado pelo próprio homem. Alguns que perderam entes queridos, outros que estão solitários, outros que não veem a possibilidade de um mundo melhor e alguns poucos que já perderam a esperança. Nesse sentido me lembrou muito o espírito por trás da escrita de A Estrada de Cormac McCarthy (claro, dadas as devidas diferenças estéticas e de escrita). Os personagens são bem redondinhos e muito bem trabalhados pelo autor. Chega um momento em que somos capazes de diferenciar as diversas vozes presentes na narrativa.

A narrativa é escrita em terceira pessoa, acompanhando esse grupo de sobreviventes. O cenário é esse imenso edifício. Acho que até daria uma história legal saber como esse grupo vivia nesse prédio, se haviam divisões sociais. Sei que isso já foi abordado por Hugh Howey em Silo, mas eu acho um tema tão legal e diferente. E saber que temos um autor com uma escrita muito boa e com uma pegada nesse gênero é legal. Mas, infelizmente a história acabou não me comprando completamente. Senti um pouco de peso na narrativa da metade para o final. Como se o autor quisesse explorar mais, mas precisasse encontrar alguma forma de encerrar o conto ou passaria demais dos limites impostos pelo gênero proposto. Achei até que o clímax foi um pouco corrido demais e subitamente a história se encerra. Para o Hális, fica a dica de ampliar o escopo do conto. Daria um ótimo romance.

2 - Azul (Karen Álvares) - 3 corujas

Azul é uma releitura para mim. Este é um conto presente na coletânea Horror em Gotas da autora. Por isso, adorei rever este conto até porque eu sou um aficcionado pelas histórias de terror da Karen. Já brinquei com ela dizendo que ela deveria publicar só terror. Isso porque ela tem uma sensibilidade única para este tipo de narrativa, sabe fazer o crescendo e manter a tensão do leitor.

É inacreditável o talento da Karen para compor histórias. Aqui nós temos uma narrativa com apenas uma personagem, Nora. Ela está voltando de uma noitada e se depara com um estranho homem todo azul dentro do ônibus. Nora faz o possível para se desvencilhar do ônibus, mas ele de alguma forma a alcança. Quando ela acorda no dia seguinte ela descobre que ela mesma está toda azul, só consegue enxergar ou tocar coisas azuis. Entre outras coisinhas mais.

O legal na história é como a Karen consegue compor as cenas. Você compra a tensão subjacente na história. Tudo acontece de maneira orgânica e as reações da protagonista são inteiramente verossímeis. Mesmo com o elemento fantástico presente na história, somos colocados de uma tal maneira que passamos a acreditar que aquele terror é real. Os grandes autores de terror são aqueles que conseguem assustar o leitor com coisas simples. Não há invencionices ou firulas presentes aqui. Apenas boa escrita. Então, meus caros, minha recomendação é: leiam Karen Alvares. Não vão se arrepender.

3 - Náufrago (Marcelo Porto) - 1 coruja

Um conto tem o poder de criar uma tirada curta capaz de te surpreender, te fazer refletir ou apenas brincar com um conceito. É isso o que Marcelo Porto faz ao nos colocar no papel de um professor de História que estava em um catamarã (?) chegando em Porto Seguro. Para alegrar o passeio de uma menininha ele comenta alguns aspectos históricos de paisagens urbanas que há muito tempo atrás representavam coisas completamente diferentes. Mal sabe ele que sua vida irá mudar quando o navio é arrastado através de um vórtice para o que parece ser o passado.

Eu entendi aonde o autor quis chegar e isso fica claro no final da história, mas mesmo assim a história não me convenceu. Achei legal a proposta, mas por que ali naquele lugar ou naquele momento? Existia alguma lenda nas redondezas sobre fenômenos parecidos? Me pareceu muito mais um efeito narrativo para que esta seguisse adiante. Em alguns momentos a história me pareceu bastante divertida e interessante, mas no cômputo geral eu acabei não curtindo. Achei a situação toda muito forçada somente para brincar com o leitor no final. Por exemplo, no conto que eu vou comentar a seguir da Cláudia Dugim, a ideia dela era fazer uma sátira ou até uma crítica à toda a questão da TPM. O leitor percebe que a autora está brincando em toda a narrativa. Aqui a construção toda era para ser uma história com seriedade.

Gostei da maneira como o autor buscou tornar a disciplina História interessante na narrativa. Esse foi um dos efeitos mais positivos do que eu li. A abordagem tranquilo, o uso de imagens reais (o leitor consegue se localizar espacialmente), todos são elementos que contribuem para uma fácil compreensão da história. A escrita do autor também é muito boa, não apresentando palavras difíceis ou diálogos chatos. O que realmente me incomodou foram as condições para que a história acontecesse. Não tenho muito mais o que comentar a respeito porque a proposta era um plot twist no final que se eu mencionar pode estragar toda a graça. Mas, assim, por ser um conto rápido e divertido, recomendo pelo menos que vocês passem os olhos e conheçam um pouco mais sobre o autor.

4 - Gente É Tão Bom (Cláudia Dugim) - 3 corujas

A Cláudia conseguiu criar cenas dignas de Um Dia de Fúria nesse conto. Como eu curti a acidez da protagonista. A narrativa é contada em primeira pessoa por uma mulher claramente com TPM que acorda extremamente mal humorada. Nesse dia parece que tudo dá errado para ela: mulheres que a irritam, motoristas idiotas que a cortam, e um homem que acaba botando um ovo. Hein? Como assim? É isso aí: um cara botando um ovo dentro do carro.

Essa é uma daquelas histórias que quanto mais você reflete a respeito, mais camadas você enxerga na mesma. Aparentemente a autora faz uma sátira a esse momento de fragilidade ou destemperança feminina. Mas, tem muito mais escondido no meio do texto: uma crítica às experiências de indústrias alimentícias, a maneira como as grandes empresas colocam as burradas que fazem para debaixo do tapete. Esse conto é como uma cebola que você vai tirando camada por camada e vai encontrando uma riqueza cada vez maior em sua essência.

A personagem é qualquer coisa menos uma heroína: desbocada, maluca e que pensa apenas nela mesma. Quando lhe oferecem uma mamata no final da história, ela pega numa boa. Eu dava risadas altas com as frases dela. Não sei como foi o processo de criação desse conto, mas eu tenho certeza que a autora ou se divertiu muito nesse dia ou ela estava realmente irritada. Em todo caso, Cláudia, por favor, traga mais dessa acidez. O mundo precisa um pouquinho desse Um dia de fúria.

Não preciso dizer que esse conto é recomendadíssimo. E cuidado para não lê-lo em um ambiente com muitas pessoas. É arriscado de você dar altas gargalhadas.

5 - A Torre e o Dragão (Melissa de Sá) - 3 corujas

Contos de fadas são sempre histórias imortais. Muitas delas já sofreram inúmeras releituras. E aqui Melissa de Sá pega uma delas, que é a história da princesa refém de um dragão no alto de uma torre, e dá uma releitura mudando detalhes aqui ou ali. Particularmente eu gostei muito da escrita e da maneira como a autora deu o seu toque na história.

Aqui temos a história da Princesa que está no alto da torre e um Dragão a guarda contra invasores. Até que um dia um intrépido cavaleiro chamado Tristam escala a torre para poder salvá-la. Só que ele acaba permanecendo na torre porque a Princesa tem medo de o Dragão fazer algum mal a Tristam. Os dias se passam e eles acabam precisando conviver juntos até encontrar uma forma de ela sair da torre.

A escrita da Melissa tem muito do estilo de contos de fadas. O estilo majestático na fala, a maneira como as situações se sucedem e até a sua metade correm como seria de esperar em uma narrativa do gênero. Só que ela dá alguns twists. Por exemplo, Tristam cria uma história para tentar entender a história da princesa antes de chegar na torre. O mesmo faz a princesa a respeito de Tristam. Ou seja, vemos um pouco mais de profundidade nos personagens o que não é muito normal em histórias desse estilo. Outra coisa muito legal foi essa quebra narrativa no meio da história para contar algo sobre os personagens. Melissa deu um efeito metanarrativo na maneira como esta foi apresentada. Outro detalhe pequeno e que poucos leitores se deram conta é de que só existe um personagem com nome na história: Tristam. A princesa é sempre referida como a Princesa e o dragão como o Dragão. Outro efeito típico de contos de fada.

Posso estar enganado, mas a narrativa seria em segunda pessoa? Me pareceu que a Princesa está contando a história para o príncipe, como se ela estivesse contando coisas que já se sucederam (ah.... não quero dar spoiler... tenho que me segurar aqui). Ou a narradora é alguém que conhecia a Princesa e Tristam e se referia a ele após saber dos acontecimentos. Essa parte não ficou inteiramente clara para mim. Mas, o efeito narrativo que isso dá a como entramos na história é bem diferente. Fora que existe uma boa divisão entre início, desenvolvimento e conclusão. Isso é perceptível a partir de leves divisões dos fatos: a chegada do príncipe na Torre, a convivência entre Tristam e a Princesa e o fechamento. A mudança no gênero narrativo para o plot twist que a autora quis fazer acontece no clímax da história, entre o desenvolvimento e a conclusão. Ali, a autora muda bastante o approach da história.

Uma coisa muito bacana destacado na entrevista da autora ao final da revista é a convivência entre os personagens que é algo não visto em contos de fada. Geralmente o príncipe aparece e faz o seu papel dentro da história. Não há tempo para que os personagens possam interagir. A autora também tenta tornar os personagens mais complexos ao apresentar um pano de fundo para eles. No geral, a história já é muito boa ao fazer uma releitura sobre histórias clássicas. Mas, na minha opinião, e é o que vale as três corujinhas, são os pequenos detalhes aqui e ali que fizeram da história única. É o estilo Melissa de contar histórias. Ou seja, recomendo fortemente a leitura.

site: www.ficcoeshumanas.com
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