Andre.Crespo 22/12/2009
Sarcástico, irônico e completamente amoral
Penso que as palavras acima definem melhor o que esse livro foi para mim. Não que eu não tenha gostado; pois gostei muito! Não foi aquele sadismo todo que aguardava ansiosamente, mesmo assim, dei boas risadas com algumas coisas, além de ter apreciado a forma livre e sem enrolações com que o Marquês escreve.
Logo no primeiro conto, levei um susto com a maneira simples, rude e direta com que Sade me contava a história. Depois de recomposto, me acostumei às suas narrativas, secas em si, e sem nenhuma pomposidade. Esperava algo mais trabalhado, e encontrei, surpreendetemente, histórias cheias de humor sagaz, uma ironia que não poupava a ninguém e um sarcasmo divertido.
Penso que seu ponto alto foi o conto "O Presidente Ludibriado". Cheguei a dar tantas risadas, a ponto de sair do lugar onde estava lendo para não me acharem louco. Sade fala da história de um juiz que se casa com uma linda e rica senhorita. Como esta não gostou nem um pouco dessa união, fará de tudo - com a ajuda da irmã e cunhado - para que o casamento acabe. É hilário como ele se dá mal todas as vezes que tenta fazer valer sua "masculinidade" com sua mulher. Nunca vi alguém se dar tão mal, ser tão sem sorte como ele o foi! Se se quer dar risada, é obrigatória a leitura desse conto.
Outros que gostei muito foram "Vai assim mesmo", "Os Oradores Provençais", "A Flor do Castanheiro", além do já citado acima. Nestes, Sade não perdoa ninguém, desde juízes a padres, principalmente este último, o qual ele adora ridicularizar. Principalmente seu "mui" prezado gosto por meninas e meninos "na flor da idade".
Quem se acha politicamente correto - leia-se puritano - nem chegue perto desse autor totalmente desavergonhado, que coloca a moral no lugar mais longe possível. Agora, se é daqueles que gosta de ler coisas diferentes e não tem preconceito a nenhum tipo de leitura, pode ler que se divertirá muito!
Agora, uma das partes hilárias desse ótimo livro:
"Mas conheço esse cheiro, mamãe. Seu abade, me diga, que mal há em afirmar que eu o conheço?
Srta. - intervém o abade, arrumando a gola e aflautando a voz - , por certo o mal em si mesmo é pouca coisa, mas acontece que estamos embaixo de castanheiras, e que nós, interessados em botânica, admitimos que a flor de castanheiro...
Sim, a flor do castanheiro...
Bem, srta., é que ela cheira a esperma. ("A Flor do Castanheiro")
"Na verdade não maior que o meu - diz Franville, com profundo desprezo. Uso um disfarce que pode seduzir os homens, de que gosto e ando atrás, e não encontro senão uma puta.
Puta não - diz amarga Augustina. - Nunca fui na vida. Quando se detesta os homens, não se pode ser chamada assim.
Como, é mulher e detesta os homens?
E pela mesma razão que você é homem e aborrece as mulheres". (Augustina de Vileeblanche ou O Estratagema do Amor".