Alle_Marques 24/12/2023
... nada em casa voltaria a ser como antes.
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[...] Olhei de novo para o prato e balancei a cabeça. Comecei então a contar mentalmente de um a dez, o mais rápido possível, porque já começava a sentir as lágrimas se acumulando nos meus olhos e sabia que logo, logo começaria a chorar. [...]
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A ideia foi boa e gosto da escrita do John Boyne, mas acho que aqui ele perdeu a mão.
Começa bem, o início é tenso e a forma como o Danny parece estar sempre sendo deixado de lado pelos adultos incomoda bastante, nos deixa desconfortáveis, mas que funciona para ajudar a simpatizar com o menino e entender seu lado, Boyne demonstra bem o quão prejudicial é para alguém tão jovem ser deixado ‘as cegas’, o quão prejudicial pode ser para uma criança, um pré-adolescente, quando seus adultos responsáveis não são abertos com ela, não por mentirem, mas simplesmente por não conseguirem conversar direito, explicar as situações, assim como o quão prejudicial é quando tais adultos não parecem enxergar ela, não a “considera” na hora de tomar decisões importantes e muito menos se esforçam para entender seu lado. As reações do pai do Danny com qualquer coisinha que o filho faça é um bom exemplo disso, tipo brigar sem ao menos perguntar o que aconteceu e apenas explicar as coisas sem nunca acolher o menino, assim como a reação da mãe que parece que esquece que tem filhos, ainda mais um filho tão jovem e que ainda precisa tanto dela, não só fisicamente, mas também emocionalmente. Danny é SÓ um garoto de doze anos na maior parte da história, ele ainda é praticamente uma criança, jovem demais para passar por qualquer grande provação sozinho e sofrendo por isso, não só pela provação em si, mas principalmente por estar sozinho nessa, e abordando isso Boyne trabalha bem.
Mas se ele tivesse se mantido apenas nisso, explorando esse contexto, os traumas, a negligencia, os sentimentos conflituosos e a invisibilidade da infância e da juventude, o livro teria sido bem melhor e bem mais impactante, poderia entregar uma história sensível, profunda e tocante, mas ao contrário disso, e conforme a história avança, parece que ele se perde, que esquece seu objetivo, a trama fica cada veze mais superficial, rasa e sem emoção, fora que muitas reações dos personagens são incoerentes com a gravidade da situação, além de serem bem descartáveis também. Considerando o quão tenso foi o “problema” causado pela mãe dele e os resultados disso, o autor tinha matéria para entregar um tramalho visceral, chocante e extremamente emocionante, mas ao invés disso ele parece se contentar com um romance genérico e superficial de amadurecimento.
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[...] Eu virei para cima e dei de cara com o teto, que estava coberto de centenas de adesivos de estrelinha que brilhavam no escuro. Era assim que eu imaginava como seria dormir no topo de uma montanha. Estendi o braço para tocar nelas, mas meus dedos não conseguiam alcançá-las.
— O que é que está acontecendo na sua casa? — Luke perguntou depois de um tempinho.
— Nada. [...]
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41° Livro de 2023, 53ª Resenha de 2023
Desafio Skoob 2023