Aione 07/05/2014Admito que não esperava muito de Jeremy Fink e o Sentido Da Vida. Aliás, seria mais correto dizer que não esperava praticamente nada além de uma história gostosa de ser acompanhada, que cumpriria bem seu papel como literatura infanto-juvenil. Eu simplesmente não estava preparada para saber que seria essa, até o momento, minha melhor leitura do ano.
Foram tantos os elementos capazes de me levar àquele êxtase literário que não sei por onde ou como devo começar. É comum me encontrar sem palavras quando sou tomada por fortes emoções, e foi isso o que experimentei com esse livro.
Talvez, para começar, deva me referir aos interessantíssimos personagens criados por Wendy Mass. Os protagonistas, Jeremy e Lizzy, são ao mesmo tempo peculiares e cheios de vida. A autora soube como torná-los interessantes e apresentá-los sempre em meio a um gostoso humor, ao mesmo tempo em que os dosava com características que os tornavam mais reais. Jeremy, apesar de jovem, é extramente curioso e aficionado pela ciência, buscando sempre respostas e fatos curiosos. Também, é alguém que busca o conforto e a segurança e detesta, por exemplo, andar sozinho além dos limites de sua casa, já que isso o faz sair de sua zona de conforto. Lizzy, por outro lado, é aventureira e espevitada, e em muitos momentos tenta esconder seus próprios sentimentos, mesmo que nem sempre consiga.
"Não gosto de surpresas. Não assisto a filmes de terror. Não atendo o telefone se não puder ver quem está ligando pelo identificador de chamadas. Eu nem gosto quando alguém diz "Adivinha?" e fica esperando você adivinhar. Surpresas me deixam nervoso. Depois que você tem uma surpresa de verdade, aquela que tira o seu fôlego e muda a sua vida, todas as pequenas surpresas fazem você pensar na grande."
página 44
Um dos pontos que mais gostei foi o fato de ambos serem colecionadores e as próprias coleções de cada um: Jeremy, entre outras coisas, coleciona doces anômalos – como um M&M do tamanho da ponta de um dedo -, enquanto Lizzy deseja completar um baralho apenas com cartas encontradas ao acaso. Tais pontos, além de tornarem as personagens mais cativantes e interessantes, demonstram toda a criatividade por detrás da mente da autora.
Não apenas os protagonistas, a gama de personagens com que Wendy Mass nos presenteia é imensa e notável. Juntos, os amigos conhecem as mais diversas pessoas e, com cada uma delas, aprendem algo diferente, ensinando, também, o leitor que os acompanha. E talvez tenha sido esse o ponto que tanto me agradou nessa especial leitura.
"- Antes de uma semente de maçã ser plantada, ninguém pode saber quantas maçãs um dia vão brotar dela. Tudo tem a ver com o potencial, e o potencial está escondido de todos nós até o abraçarmos, encontrarmos nosso motivo, plantarmos a nós mesmos para podermos crescer. Tenho certeza de que você vai encontrar o que procura, Jeremy."
página 206
O livro, sem dúvida alguma, foi muito mais profundo do que eu imaginava. A começar pelas próprias reflexões de Jeremy pelo fato de ter perdido seu pai, há cinco anos. Depois, enquanto buscam as chaves para abrir a caixa que promete conter, em seu interior, o sentido da vida, aos poucos vão tendo a consciência de que, nessa jornada, estão sendo apresentados a ele a todo instante. E o mais interessante era acompanhar os pensamentos tidos por Jeremy logo após um significativo momento: normalmente, uma fala cheia de humor e digna de uma personagem de sua idade, que me fazia rir e sentir aumentar ainda mais meu carinho por ele.
"(...) 6. Deve haver dois tipos de escolha. Aquelas que você faz e que parecem inofensivas, mas podem levar à morte do pai de alguém, como resolver tomar mais uma xícara, de café de modo que você precisou sair para comprar mais naquela manhã e atravessou a rua sem olhar e fez um carro que estava vindo desviar e bater em um orelhão para não atropelar você. E do outro tipo, quando você sabe que aquilo que está fazendo vai levar a algo ruim ou bom. (...)
7. Ainda bem que tomo poucas decisões na vida. E se um dia eu resolvesse comer três canudinhos de chocolate em vez de dois, e isso levasse a uma guerra no Canadá?"
página 172
Reflexões e sentimentos a parte, a autora soube, com maestria, como embutir tudo isso em uma história interessante, divertida e que, certamente, aguça a curiosidade do leitor a cada página. Foi impossível não me envolver com as personagens e não desejar, junto delas, resolver todos os mistérios envolvendo a caixa recebida por Jeremy. E não bastasse ter desenvolvido muitíssimo bem toda a trama, Wendy Mass soube como finalizá-la de forma ainda melhor, não apenas respondendo todas as perguntas e amarrando possíveis pontas da trama, como também nos presenteando com a deliciosa sensação de magia mesmo que o livro nada tenha de fantasioso. Afinal, sua maior magia está contida no simples fato de falar sobre a mágica de se viver e de se estar vivo.
Talvez eu possa me estender e escrever linhas e mais linhas sobre o quão incrível eu achei essa leitura e o quanto ela me tocou, mas nada disso seria próximo o suficiente do que ela me fez sentir e de como pode ser essa experiência para cada um que resolver dar uma chance a um livro que, provavelmente, não chame a atenção. Bem, as maiores surpresas acontecem exatamente assim, quando nada esperamos de algo.
Então leiam, simplesmente leiam.
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http://minhavidaliteraria.com.br/2014/05/06/resenha-jeremy-fink-e-o-sentido-da-vida-wendy-mass/