spoiler visualizarAlan Roger 17/07/2014
Miserere Nobis
Nesta tarde de maio, me deito, me entregando ao sono que sucede uma boa refeição. Comi poesia. Comi versos que me comoveram, e me prostraram de belos que eram. Beleza captada e transmitida com honestidade, sem o ópio de um lirismo plástico, e sim, rodeada de uma consciência humana e divina, que por ser honesta, nem sempre é harmonia, mas indiscutivelmente bela. Adélia suga das experiências cotidianas o mel poético do qual Deus revestiu tudo o que existe. Tudo; o que é bom e o que é ruim. É a percepção e aceitação das contradições de ser humano que me comove, em seus versos. "Sou curva, mista e quebrada, sou humana. Como doido, bato a cabeça só pra gozar a delícia de ver a dor sumir quando sossega", finda o poema que abre o livro. E essa linha poética, sobre a qual trilha o livro Miserere, poderia ser, em alguma escala, resumida no conteúdo do poema intitulado Jó Consolado, no qual a autora num movimento surpreendente, louva, no lugar de se queixar da "vergonha de ser homem", com os olhos numa esperança que torna toda a experiência vivida válida. O mesmo se comprova no último poema, um dos mais belos, "Qualquer Coisa que Brilhe", no qual a beleza brotada das coisas absurdamente normais, nos alcança a alma e toca, quando nos leva do seu microcosmo mineiro ante a face do Criador, e, neste ponto, já não há outra reação, senão clamar "Abba! Abba!", como se entregasse de volta à Deus toda descoberta, toda experiência, toda sua poesia, concluindo "Vivo do que não é meu. Tome pois minha vida e não me prives mais desta nova inocência que me infundes."