Leonardo1245 27/02/2024
Professores, conheçam Makarenko!
Sempre me considerei um professor muito deficiente no que tange às minhas leituras sobre educação. Sobre o ensino da minha disciplina específica, eu tenho listas de referências, autores e PDFs pra consultar a qualquer minuto de qualquer dia, mas, quanto à educação no sentido mais amplo, educação enquanto problemática social, li muito pouco. Trechos perdidos de Paulo Freire, lembranças vagas das disciplinas universais às licenciaturas na época da faculdade e só. Durante a leitura do "Poema", se acendeu a vontade de conhecer mais a fundo a literatura da área com a qual eu lido todos os dias, e, só por isso, essa leitura já valeu demais!
No "Poema Pedagógico", temos Anton Makarenko, um professor soviético que, na época do pós-revolução comunista na URSS, se viu encarregado de administrar uma colônia de menores infratores, crianças e jovens que, por razão de furtos e crimes pequenos, foram presos, estigmatizados e marginalizados. O livro traz uma narração literária, com início, meio e fim, mas sim um relato do dia a dia na Colônia Górki, os problemas que iam surgindo e como iam sendo solucionados.
Nas primeiras semanas na Colônia, Makarenko faz a descoberta que choca todo professor que chega numa sala de aula pela primeira vez: que não existe teoria, esquema nem fórmula mágica. Que a prática pedagógica e a construção do coletivo - tema caro ao autor - se constroem ao longo do tempo, são produto das relações entre as pessoas e entre elas e o trabalho.
Podemos ver como Makarenko pegou um casebre abandonado e criou: um coletivo auto-regido; um sistema pedagógico que, ainda que não imune a críticas, merece muito reconhecimento pela eficiência; e vários jovens que saíram dos reformatórios para virarem engenheiros, médicos, generais e autênticos cidadãos soviéticos. E, justamente por passar mais de 600 páginas acompanhando essa construção tão bonita, é MUITO triste ver a forma fria como, duma hora pra outra, Makarenko é arrancado desse projeto ao qual ele deu a vida. De certa forma, foi até um favor ao leitor que o autor fez, dedicando só 3% do livro a esse fim tão bruto e nos presentear com essa obra homérica.
O posfácio nos faz pensar a quantas anda a educação no Brasil. Nesse país em que a criança não é priorizada pelo Estado, em que a educação é tratada como produto e professor como inimigo, pensa-se se a gente tá criando um cidadão crítico ou só preparando ele pro mercado de trabalho. Nessa conversa de "novo ensino médio", nessa presepada de "ensinar a empreender", não estamos só apagando do horizonte do educando o sonho de ir além dos limites do seu local de origem? Os alunos ainda sonham em ir além? Hoje sou professor de rede privada, lido com realidades muito privilegiadas, mas, filho da educação pública que sou, sonho muito junto com o Makarenko!
Qualquer professor vai se engrandecer com essa leitura! Vale o esforço pra enfrentar alguns capítulos monótonos pra chegar no final e ver como a nossa esperança na educação vai crescendo junto com a colônia!