PorEssasPáginas 30/10/2014
Uma vez, uma pessoa que é muito dada à filosofia de para-choque de caminhão, posta no facebook que deveríamos todos agir e pensar como as crianças, porque as crianças são sinceras, não são cruéis como os adultos, são inocentes Bem, fora a vontade de vomitar tendo em vista o tom meloso da mensagem (sério, a pessoa posta e parece que a estou vendo fazendo uma voz mais etérea, de quem é super sábia), eu tive vontade de rir. Uma criança pode ser inocente e sincera. Mas consequentemente e, mesmo sem saber, ela acaba sendo cruel porque sua sinceridade é tão pura que ela não sabe ainda medir as palavras para não ferir os outros.
Em outros casos, a criança pode ter uma leve (ou até completa) noção do que pode ser errado, mas não considera cruel se o que ela disser fizer os outros rirem. Como chamar alguém que usa aparelho de ferrovia, ou pessoas que usam óculos de quatro olhos. Ou de monstro Ainda mais se a pessoa em questão que está sendo xingada não souber do que está sendo chamado. Afinal de contas, nada foi dito diretamente para ele e é tudo uma grande brincadeira!
as pessoas têm que começar a ser um pouco menos sensíveis! É só uma piada, gente! Não me levem tão a sério! Não estou sendo cruel. Só engraçado.
Pois bem, é aí que Julian se enquadra. Ele nunca pensou que suas brincadeiras pudessem ter consequências desastrosas para Auggie e para a construção de seu próprio caráter. E o pior é que todas essas ações eram simplesmente porque Julian tinha medo de Auggie. As brincadeiras nada mais eram que uma rota de fuga para Julian. Já ouviram falar que nós temos tendência a não gostar do desconhecido, a ter medo do que não conhecemos? Pois bem: Julian tinha medo de Auggie a ponto de ter pesadelos.
No entanto, o medo não justifica as brincadeiras de Julian. A verdade é que Julian mal se dava conta de que suas ações pioravam. Não eram mais apenas os cochichos maldosos entre os mais chegados, eram brincadeiras mais cruéis, como a peste e também o isolamento social que ele fez com que Jack passasse.
Então, começaram os bilhetes. Como a ofensiva de Julian não cessava, só piorava cada vez mais, a diretoria da escola resolveu intervir e Julian finalmente foi punido. Nem ele, nem os pais dele aceitaram de muito bom grado a punição, principalmente porque os pais tentavam justificar as atitudes de Julian.
Aqui cabe falar que o livro não trata especificamente de julgar e condenar Julian por ele ser um bully. Como eu disse antes, ele não considerava seus próprios atos tão ofensivos assim, embora concordasse que não eram brincadeiras muito legais. O livro é uma forma de primeiro entender o que se passava na cabeça de Julian, o que o motivou a fazer o que fez, e também acompanhar o crescimento desse personagem e suas atitudes posteriores. O que ele fez foi errado, mas isso faz dele uma pessoa tão desprezível assim? Um menino de 11 anos que não aprendeu ainda o que é empatia porque não viu nenhum exemplo disso em casa? Sério mesmo que ele merece tantas pedradas assim?
Bem, toda ação tem uma reação. Todo ato tem suas consequências e Julian aprendeu isso de uma forma bem difícil para uma criança. Confesso que ele teve sorte, tem pessoas que só aprendem depois de muito, muito, muito tempo agindo errado. Outras, então, nem aprendem.
Um novo começo nos dá a chance de refletir sobre o passado, pesar as coisas que fizemos e aplicar aquilo que aprendemos com isso em nosso novo caminho. Se não examinarmos o passado, não aprendemos com ele.
Com sua suspensão e, posteriormente, viagem de férias, Julian teve a oportunidade de refletir sobre o que fez, inclusive recebendo conselhos de seu professor favorito, o Sr. Browne (para quem não sabe, o Sr. Browne pedia aos alunos para escreverem preceitos inclusive, teremos um livro de preceitos em breve!) e conhecer a história de sua avó, que foi muito emocionante e decisiva para Julian.
Você sabe que as coisas que fez não estavam certas. Mas isso não significa que você não seja capaz de fazer o que é certo. Significa apenas que escolheu o caminho errado.
O livro é todo narrado por Julian e é dividido em duas partes: Antes e Depois. O Antes, narrado enquanto estava em período de aula, mostra como Julian pensava e como agia com Auggie. Já no Depois, mostra Julian de férias, na casa da avó. Quando Julian começou a descrevê-la, eu achei que ela seria tão superficial quanto a mãe de Julian era, mas depois você simplesmente tem vontade de dar um abraço bem grande nessa senhora por tudo o que ela passou. Foi graças a ela e também ao Sr. Browne que Julian pôde refletir verdadeiramente sobre o que estava fazendo.
Mas o bom da vida, Julian, é que às vezes podemos consertar nossos erros. Aprendemos com eles. () Um erro não define quem você é (). Você pode simplesmente fazer a coisa certa da próxima vez.
tudo o que importa é que você se perdoe.
Não tem como não gostar desse livro. Embora na maior parte do tempo, principalmente no Antes você queira dar um puxão de orelha no Julian e uns bons tabefes na mãe dele, você passa a entender melhor o que motivou Julian e passa a torcer para que ele consiga enxergar todas as coisas que fez de errado. No final, até a mãe dele passa a ser menos pior aos olhos de quem lê. Super recomendo a leitura e se vocês não leram Extraordinário, leiam! Prometo que não vão se arrepender.
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