Lídia
04/01/2015SINOPSE DO LIVRO x SINOPSE DO FILMEExiste um ditado que diz: “Não crie expectativas, crie porcos. Se tudo der errado, pelo menos você vai ter bacon”. Esta máxima, por mais cômica que pareça, serve perfeitamente para Um Conto do Destino.
A primeira vez que vi esse título foi quando vi o trailer (lindíssimo!) do filme, que estreou em Fevereiro de 2014 nos cinemas.
Na época não pude assistir o filme, e lamentei muitíssimo por isso, mas adiei, adiei e adiei e por fim acabei esquecendo e deixando pra lá. Foi quando me deparei com um exemplar do livro e *surtinhos* me empolguei toda pra ler. Comprei numa promoção, mas reneguei Um Conto do Destino para o fim da minha meta de leitura porque estava ansiosa para ler um monte de outras coisas.
Para a minha sorte, em 2014 superei minha média de livros por ano (39, segundo o Skoob, além da releitura da trilogia Jogos Vorazes) e todos com histórias maravilhosas. Então por que não encerrar o ano com um livrão? Comecei a ler Um Conto do Destino no início de Dezembro, não me sentindo nenhum pouco intimidada por suas 720 páginas. Afinal, livros grandes significam histórias mais bem exploradas não é? *sqn
Okay. Esse volume de páginas é muito peso pra carregar na bolsa, mesmo assim lia o livro onde podia (nos terminais de ônibus, no intervalo do almoço no trabalho). E ainda bem que li nesses lugares, porque não conseguia ler em casa de jeito nenhum. E sabe por quê? Sono. Isso mesmo, meus amigos. Depois que a empolgação passou, era tudo isso o que essa história (supostamente maravilhosa, segundo o trailer do filme) conseguia me transmitir. E agora vou explicar o motivo.
SINOPSE DO LIVRO X SINOPSE DO FILME
Como se trata de uma adaptação, eu sei que muitas cenas, diálogos, e personagens se perdem nesse processo. O problema é quando a contracapa DE UM LIVRO vende a sinopse DE UM FILME. Isso mesmo! Se lembra daquele trailer ali em cima? Homem encontra mulher, se apaixonam e pensam que vão viver felizes para sempre até que surge um conflito que os impedem de ficar juntos? Típicas características de uma história romântica, o que, em primeiro lugar, o livro não se propõe a ser.
Só que a sinopse diz isso. Está escrito até na capa com letras garrafais: "Esta não é uma história real. É um amor real." Mas a medida em que fui lendo, fui me perguntando: “Ué? Cadê o romance?”
Numa rápida pesquisa, descobri que Um Conto do Destino foi publicado em 1983 com o título de Winter’s Tale (em tradução livre, “Um Conto de Inverno”). O título original faz mais jus à essência da história porque neve e Inverno é o que não falta nesse livro. A história é dividida em Quatro partes (A Cidade; Quatro Portões Para a Cidade; The Sun… E The Ghost; e Uma Era de Ouro), e a parte equivalente ao filme acaba lá para a página 200. E se você pensa que o romance entre Peter Lake e Beverly é lindamente explorado nesse intervalo, pode ir tirando o Athansor da chuva, meu amigo.
Mark Helprin construiu um Peter Lake interessante e complexo, mas não podemos dizer o mesmo sobre Beverly. Ela não passa de uma garota morrendo de tuberculose extrapulmonar, que filosofa sobre as estrelas e se apaixona por Peter Lake à primeira vista quando encontra este roubando mansão de sua família. O problema nesse romance (além de Beverly sofrer de síndrome de Estocolmo) é que, ao invés de nos convencer que tal amor é tão épico e inabalável quanto nos quer fazer acreditar, o autor preferiu despender páginas e mais páginas descrevendo a cidade de Nova York, as plumas de fumaça que escapam das chaminés, ou a porca do parafuso que prende as pilastras da ponte de não sei das quantas do que desenvolver um relacionamento consistente entre os personagens.
E é quando termina a primeira parte do livro que você percebe que Um Conto do Destino não se propõe a ser uma história romântica. Ele é um romance no sentido de que várias personagens diferentes se cruzam ao longo do livro. Não vou falar de cada parte e nem de todos os personagens importantes (até porque essa resenha já está ficando enorme), nem da explicação das metáforas que existem, porque sinceramente, além de achar que Jackson Mead é um anjo decaído e a cidade Nova York ser a representação da cidade justa e celestial, não entendi mais NADA. Resumindo, a história não funciona como uma história romântica. Não funciona como uma metáfora para o fim do mundo (A Última Batalha de As Crônicas de Nárnia, com sua simplicidade, aborda esse tema com muito mais excelência), muito menos funciona como fantasia. Sim. Fantasia. Porque só isso para explicar a muralha de Névoa que suga pessoas de uma época e as joga em outra, um cavalo voador (sem asas) e um Peter Lake que descobre que, no final da história, consegue fazer seus inimigos levitarem e explodirem no ar por sua pura força de vontade.
Com suas inconsistências e uma narrativa absurdamente descritiva, Um Conto do Destino é um livro cansativo e que dá MUITO sono. Mas não é de todo ruim. Tem partes realmente emocionantes, instigantes e divertidas, que te fazem refletir sobre questões sociais; e por vezes uma escrita linda que te faz ter esperança de que a história vai melhorar, de que vai fazer seu tempo despendido a lê-lo valer a pena. O problema é que toda vez que isso acontece a história perde o ritmo. E é triste perceber que uma história, que tinha tanto potencial, se perde numa lógica confusa e com inúmeras cenas vazias que não contribuem em nada com o enredo.
Concluindo: Um Conto do Destino é um livro difícil (e às vezes insuportável) de ler, mas que traz pequeninas recompensas para os seus leitores. Cabe a cada um decidir se vale a pena ou não. Só vai um conselho: Leia-o apenas quando estiver com muita, muita, MUITA disposição mesmo.
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