Arca Literária 03/05/2014
Um Conto do Destino
Engrenagens da Vida.........
O barulho do interruptor pressionado. Em uma sequência cadenciada, várias lâmpadas irradiam luz e uma sala é revelada: as contrações começaram, o visitante esperado se aproxima;
A máquina fria é ligada, e aos poucos, a repetição de seus movimentos ganha velocidade, no ritmo frenético de uma música ensurdecedora: O grito de uma nova vida rasgando o véu do mundo;
Incansavelmente, uma roda dando lugar à outra, com passos marcados: o tempo silencioso dando curso a sua passagem;
Com formas a se completar, as peças se ajustam perfeitamente ao mecanismo complexo: o destino escreveu- sua alma encontra a dela e as duas se preenchem;
Não podendo parar, as pernas do motor se alimentam de combustível: a luta é travada e só o amor poderá atrasar a partida da alma;
Se o tempo não toca a alma que se faz de eterna, poderá o amor que a prende enganar a morte e seguir ao seu lado como imortal?
A máquina ficou obsoleta e foi substituída: o velho dá espaço ao novo, como os instrumentos de uma orquestra que vão se revezando.
Qual o sentido dessa estrada? Um show improvisado? Um concerto ensaiado?
Resenha:
Muitos de vocês devem ter visto o trailer da adaptação desse livro para o cinema, ou talvez, tenham até visto o filme. Eu ainda não vi. Mas posso lhes assegurar: o filme traz como foco o romance. O que é um engano, pois o livro não é sobre o amor entre dois personagens.
Esse autor é um gênio!!!!!!!
Esse é um daqueles livros que deveria ser discutido em todas as salas de aula. Publicado originalmente em 1983, não sei como ainda não se tornou um clássico da literatura, pois ele de fato o é!!!!!!!
Leitores, vocês precisam ler com a mente e o coração abertos. Procurem pelas respostas durante a leitura, questionem as maravilhas que o autor irá colocar diante de seus olhos, o livro é permeado de sobrenatural, mas não se enganem, é o sobrenatural mais real que já tive a oportunidade de conhecer.
Ele fez uso de uma cortina de nuvens, de um lugar intocável, de coisas impossíveis de acontecer, de pessoas que talvez não existam, para incomodar você, para você se questionar sobre o sentido da vida, sobre os milagres. Serão realmente milagres, ou uma compensação do passado? Ele brinca com o tempo: passado, presente e futuro se fundem em uma só existência para provar sua teoria da verdadeira Justiça, da Era de Ouro!!!!!!!
Será que o tempo é real? Será que existe o eterno que é atemporal? O amor seria um exemplo desse eterno? Poderia um amor proteger seu amado ou mantê-lo vivo com um propósito maior?
Esse autor é um visionário, um religioso, um teólogo, um físico, um metafísico, um artista, um arquiteto, um artesão, um filósofo!!!!!
Sobre o que é o livro?
A tela nunca pintada, a música nunca tocada, a ponte não construída, a criança que nunca nasceu, o livro que nunca foi escrito, a palavra não dita, o adeus que você nunca deu, a prédio que nunca saiu da planta.
Porque digo isso?
Posso estar enganada, mas acredito que o autor se baseou na teoria política de Platão no que se refere ao conceito de Justiça: o autor, como Platão, chama nossa atenção para o fato de que há algo lá fora (no livro esse “lá fora” é a Muralha das Nuvens), um mundo ideal, que no livro ele chama de “A Era de Ouro”.
E da mesma forma que Platão, ele vai além e diz que é privilégio de poucos a percepção de sua existência. E aqueles que são tocados com essa verdade, a verdade que está lá fora, fora do alcance dos nossos olhos e mãos, apenas disponíveis para nossos espíritos e para aquelas mentes que se desprenderem do falso real que nos comanda, finalmente entenderão:
Que a tela que nunca foi pintada, que a música que nunca foi tocada, que a ponte que nunca foi construída, que a criança que nunca nasceu, que o livro que nunca foi escrito, que a palavra que nunca foi dita, que o adeus que você nunca deu e que o prédio que nunca saiu da planta, são a resposta para o que é a vida, para o porquê de uma peça se encaixar perfeitamente em uma máquina e não funcionar em outra.
E somente essas pessoas, seriam capazes de reconstruir a cidade e prepará-la para a ERA DE OURO que virá com o novo milênio. Eis que surge no livro o personagem Praeger de Pinto, com a responsabilidade de governar essa nova era.
E Hardesty Marrata e Virginia Gamely, os pilares das virtudes necessárias para a construção dessa nova era.
Durante todo o livro, o autor brinca com os conceitos de destino e de amor e aborda a influência do tempo sobre eles:
Ficará a cargo do leitor acreditar que a explicação para tudo foi o amor, pois não existe tempo quando falamos de amor, que sua força atravessa os séculos; ou a explicação para tudo foi o destino, pois algumas coisas precisam simplesmente acontecer para se manter o equilíbrio do universo, e para isso, o passado invade o presente, para que o futuro seja garantido.
Mas na minha humilde opinião, o autor foi além e colocou os três conceitos coexistindo harmonicamente, dentro da ideia central: a verdadeira Era da Justiça, a ERA DE OURO.
A contribuição religiosa para essa teoria, que se firma na ideia de equilíbrio, está presente em três personagens enigmáticos: Jackson Mead, Reverendo Mootfowl e Cecil Mature.
Jackson Mead é o arquiteto de Deus, na minha equivocada interpretação, digo isso, pois o sentido dele no livro é muito maior do que eu, assim confesso que não consegui entender toda a sua complexidade. Ele vem construindo ao longo dos séculos as suas “pontes”, até chegar o dia em que irá presentear o homem com aquela “ponte”, que libertará o homem através do conhecimento daquilo que buscamos como “verdade”, aquela que revelará à humanidade a ERA DE OURO. E nesse dia glorioso, o homem vislumbrará a face de DEUS!!!!!!!!!
Reverendo Mootfowl representa exatamente um visionário, aquele que está a frente do seu tempo, que é incompreendido. E como Deus se cerca dos bons, Jackson Mead o recruta, de forma sobrenatural, característica encontrada em todo o livro.
Cecil Mature, com certeza o personagem mais carismático do livro, aquele que me arrancou lágrimas, aquele que fez meu coração ficar apertado com tamanha pureza, inocência, lealdade, amizade. Seu amor era tão grande, que a ele foi dado aquele momento que ele perdeu, que ele não teve a chance de viver no passado.
O personagem Pearly Soames é a outra ponta para manter o mundo em equilíbrio. Ele é necessário. Não o vi como uma pessoa em si, e sim como a personalização do que em todos os séculos precisamos ter para a balança não pender para nenhum lado, e sim, se sustentar no meio.
E o meio seria realmente o justo? Você não gostaria que o justo fosse ela pender para o lado do bem? Quem disse que o justo é o bem e o mal serem iguais? Mas se o mal não existisse, como saberíamos o que é o bem? O que é o certo? Talvez aí resida o motivo para a balança ficar no meio.
Mas a balança ficar no meio não seria um ideal, uma utopia? Pois infelizmente às vezes ela pende mais para o lado do mal.
Mas tem mais, muito mais!!!!
Com uma linguagem marcada por metáforas, a mensagem do livro só é alcançada com a interpretação do subtexto dessa rica obra de arte!!!!!!!!
Por isso, eu tive que pesquisar, pois durante toda a leitura, eu me perguntava o que ele quis dizer com a terceira canção: o cavalo branco? Qual foi a função dele na história? E eu achei!!!!!!!!! Olha como o autor foi longe:
O autor usou de um artifício chamado “Deus ex-machina”, ao introduzir na história em momentos estratégicos, o lendário cavalo branco chamado Athansor:
“Expressão latina Deus ex-machina cuja tradução é origem grega “apó mechanés theós” , e em português significa “Deus surgido da máquina” ou “Deus de dentro da máquina”. Um instrumento dramático utilizado na tragédia clássica e que permite que algo superior como uma divindade ou ser sobrenatural apareça no meio de uma história, desça no palco para dar um novo sentido na narrativa apresentada.
O “Deus ex-machina” tem sua origem no teatro grego, quando uma história não tinha uma solução natural perante o andamento dos fatos, o artifício do “Deus ex-machina” era utilizado de forma inesperada e artificial para resolver o andamento da história. Muitas peças gregas eram finalizadas com uma intromissão de uma luz, de um relâmpago, de uma voz superior ou de um personagem que se travestia de sobrenatural pendurado numa corda ou guindaste.” ( http://www.infoescola.com/teatro/deus-ex-machina/ )
Meu personagem preferido foi Henry Penn.
Henry Penn, o que falar sobre ele? Foi outro que me arrancou lágrimas. Passou o livro todo como se restasse alguma missão para ele cumprir. Eu aguardava junto com ele o momento, a hora, o segundo em que ele seria convocado para representar seu papel na engrenagem da vida.
E no instante em que ela bateu a sua porta, a emoção tomou conta da cena: foi como se um louco recuperasse a lucidez, um cego a visão, um mudo a fala e um surdo a audição. Realmente, uma das cenas mais fortes do livro.
Não sei se ele ganhou um papel no filme, mas se eu fosse um ator, escolheria ser Henry Penn!!!!!!!
Eu estou com a sensação de que não alcancei nem um terço do que o autor quis passar com essa obra de arte que é o seu livro. Estou me sentindo limitada intelectualmente.
Como gostaria de estar em uma sala de aula agora, para que um professor dissecasse todo o conhecimento desse livro!!!! Não, como eu gostaria de estar em frente ao próprio autor, para que ele fizesse meus olhos se voltarem para o mundo que ele tem para me mostrar.
Tem um filme do Tom Cruise com a Penélope Cruz (infelizmente não lembro o nome) que começa e termina assim:
“Abra os olhos”!!!!!!!!!!
Amigos, eu digo o mesmo para vocês: Abram os olhos!!!!!
Atipicamente, pois vocês sabem que eu não tenho o costume de colocar trechos dos livros nas minhas resenhas, vou colocar dois que conseguem traduzir um pouco do que o autor está falando, sem revelar nada da história:
“Quatro portões da cidade: são mais difíceis de encontrar do que seus predecessores sólidos, pois são testes, mecanismos, aparelhos e implementações da justiça: o portão leste era o da aceitação de responsabilidade; o portão sul, o do desejo de explorar; o portão oeste, o da devoção à beleza e o portão norte, o do amor incondicional. Mas ninguém acreditava, dizia-se que uma cidade com portões como esses não poderia existir, pois seria maravilhosa demais”.
“Por aquilo que pode ser imaginado mais belo do que a visão de uma cidade perfeitamente justa regozijando-se apenas na justiça”.
A cidade e as máquinas são personagens vivos!!!!!!! Através dos olhos do autor, veremos o brilho, as cores, o aroma, os sons, o progresso, o aço sendo erguido e depois renascendo na promessa da verdadeira Justiça!!!!!
Com mais uma metáfora, o autor encerra a história: as máquinas cumpriram seu papel apesar de toda adversidade: A Esperança não desistiu de nós!!!!
Estaremos vivos para ver a Era de Ouro? Seremos merecedores? Eu gostaria muito de estar entre os escolhidos!!!!!!!
Resumindo esse livro em três palavras:
Uma História Extraordinária!!!!!!!!
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Resenha por cila-leitora voraz, blog Cantinho para Leitura
site: http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/