Marafa 07/05/2022
Esse livro é muito bom e traz diversos métodos de estudo que podem ser úteis para aqueles que pretendem estudar pra um concurso, prova ou vestibular. O primeiro volume da coleção também traz dicas valiosas, mas mais voltadas ao estudo em geral. Além disso, o autor fundou a Editora Aleph, que, para mim, é a melhor do Brasil, e que realmente busca fornecer literatura de qualidade, que possa agregar conhecimentos e também despertar a curiosidade e o interesse pela leitura. Gosto da escrita do autor, fácil e rápida, recheada de desenhos e exemplos, e todos os métodos de estudo que eu "aprendi" com ele, como estudar ouvindo música instrumental, funcionaram para mim. Além disso, sempre fui um grande entusiasta da leitura, e o autor fala sobre a importância da leitura para os estudos, coisa que eu já praticava antes de ler o livro e posso atestar que funciona tanto quanto ele ressalta. Acho importante o incentivo à leitura por prazer, em grande quantidade e substituindo outras coisas, como redes sociais e televisão. Acredito muito que a leitura é a grande chave para o aumento da inteligência. Gostei também dos vários "problemas" apresentados ao longo do livro, bem como de sua resolução. Enfim, por vários motivos, considero esse livro muito bom e cheio de bons ensinamentos, que podem ser muito úteis para a preparação do estudante. Além disso, como o autor, sempre critiquei e achei errado esse estudo voltado para vestibulares, nas escolas, ou para, por exemplo, a prova da OAB, nas faculdades de Direito. Existem coisas que devem ser dominadas pelo estudante, independente de seu aparecimento em uma prova, e que devem ser entendidas, não somente decoradas, pois não geram nenhuma fixação do entendimento da matéria. São muito boas, também, as explicações científicas sobre o motivo pelo qual se aprende mais escrevendo com as mãos do que no computador, sobre o motivo pelo qual a televisão nos torna entorpecidos e prejudica nosso cérebro, assim como os celulares, as redes sociais, etc, e sobre como funciona a aquisição e fixação de novos conhecimentos. Tudo isso é de extrema importância para aqueles que querem estudar, e funcionaram muito bem para mim.
Existem, entretanto, alguns pontos da obra que eu considerei negativos. Primeiro, uma excessiva repetição de certas coisas, como as críticas aos métodos de estudo diferentes, ou aos profissionais que aplicam métodos diferentes. Nunca vi com bons olhos sair por aí chamando os outros de burros e incompetentes porque não fazem as coisas como nós, ainda que tenhamos certeza que estejamos certos. Depois, parece haver no autor um certo conflito de gerações, uma tentativa de provar que a geração dele é melhor, mais inteligente e tudo mais de bom que a geração dos atuais jovens (ou dos que eram jovens na época do livro). Várias e várias vezes o autor parece querer se reafirmar, dizendo que é uma grande mentira que as novas gerações são mais inteligentes que as antigas. Isso pode até ser fato mesmo, mas é até estranho o tanto de vezes que isso se repete. Dois exemplos são curiosos: o primeiro onde ele explica a prova que fez para passar da 3ª para a 4ª fase, uma questão matemática que muitas pessoas bem mais velhas não sabem fazer nos dias de hoje. Acredito nisso, porque o estudo antigamente (na década de 50 e 60 no Brasil, mas o autor fez esse período da escola na Itália), era voltado a outras questões, e realmente valorizava este tipo de conhecimento. Não discordo que os jovens de hoje não saibam resolver a questão (eu não soube), mas isso não necessariamente implica em menos inteligência, até porque é importante notar que as próprias expectativas e os objetivos do sistema educacional mudaram (e isso é uma realidade do próprio sistema em que se vive, onde a escola é uma preparação para o mercado de trabalho, e muitas vezes é apenas isso). Outra "prova" dada pelo autor para dizer que a geração dele é melhor que a atual, é ressaltar que ele, antes dos 12 anos, havia lido, nas palavras dele, todas as peças teatrais de Shakespeare, todas as comédias de Molière, todos os romances de Julio Verne, Victor Hugo, Alexandre Dumas, os livros do Isaac Asimov, Arthur Clarke, Moby Dick, Ilíada e Odisseia e tantos outros. E aí vem o arremate: "Hoje, quantas crianças de 12 anos você conhece que tenham lido, não digo tudo isso, mas a metade, ou um quarto disso que seja? E ainda tem-se coragem de dizer que as crianças de hoje são mais inteligentes?". Bom, eu não conheço absolutamente nenhuma criança hoje que tenha lido metade disso, mas tampouco conheço criança daquela época que tenha lido qualquer um desses livros. Pode ser que essa fosse a realidade social da Itália dos anos 50, que toda criança lesse tudo isso (e entendesse, talvez), mas isso não prova nada em termos de inteligência geracional, mas sim da do próprio autor e nada mais. Conheço várias pessoas nascidas na década de 30 ou 40 (como ele), e nenhuma delas leu esses livros nem antes dos 12 nem depois. Uma pequena parcela leu alguns deles muito depois. Aliás, não só isso, mas vários deles eram iletrados ou alfabetizados muito precariamente. Essa é a realidade brasileira, que parece ter tido uma leve melhora, já que hoje é muito raro encontrar alguém analfabeto, especialmente uma pessoa jovem. Claro que isso é só um pequeno passo, já que falta muito para que se possa ler e entender (ou seja, o fim do analfabetismo funcional), mas, de qualquer forma, não é essa a prova para se dizer que a geração nascida na década de 40 seja tão mais inteligente assim que a juventude atual. Além disso, em um trecho, o autor cita a lista de obras mais vendidas do Brasil, que continha, à epoca, pessoas como Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Jorge Amado, dizendo que essa lista prova a incapacidade intelectual do brasileiro. Discordo muito disso. Achei ali vários autores de alto calibre e obras de muita qualidade, as quais eu já li. Não acho de maneira nenhuma que seja uma lista de baixa qualidade. Acho, sim, quase um menosprezo à cultura brasileira, que produziu grandes autores (Lygia Fagundes Telles, por ex, deveria ter ganhado um Nobel de Literatura, o qual foi vergonhosamente dado ao Bob Dylan). Além disso, para "contrastar", ele cita várias obras estrangeiras de muita qualidade, com o que eu concordo, mas não acho necessário dizer que as obras brasileiras da lista sejam ruins. Fora que, destacando um autor para manifestar o repúdio, escolheu justamente aquele que falou sobre o nordeste (Euclides da Cunha), que estava pra lá do 10º lugar. Citando:
"Essa lista é a demonstração insofismável da mediocridade que reina em nossas faculdades de letras. E o pior é que os que indicam essas obras se acham cultos! São verdadeiros parvos intelectualmente limítrofes que ignoram completamente a existência de Orwell, Melville, Clarke, Somerset Maugham, Asimov, Bradbury, Aldiss, Huxley, Eco, Pirandello, Rosny aîné, Verne, Dostoievski e tantos outros gênios da literatura mundial. Eclipsados
por quem? Euclides da Cunha! Pelo amor de Deus!"
Acho isso desnecessário e elitista. Eu li livros do "grande" Pirandello e achei ruim e muito inferior à várias obras da lista. Nem por isso me considero mais medíocre que o autor. Além disso, devo ao Jorge Amado um redescobrimento da paixão pela leitura, lendo País do Carnaval, em 2015. O autor frisa tanto que devemos encontrar aquele livro que nos encanta, mas não titubeia em menosprezar certos livros (que são bons). Vai entender.
Por fim, em alguns pontos, existem umas falas que eu acho desnecessárias, por serem elitistas. O autor fala, por exemplo, da apreciação de boas músicas (no caso, música clássica, erudita), que isso requer tempo, etc, o que eu acho verdadeiro. Aí, fala que leva tempo pra alguém sair de Zeca Pagodinho para sei lá que compositor. Isso é uma grande bobagem. Gostar de música clássica não é sinal de superioridade, e isso, pra mim, demonstra uma falta de conhecimento de algumas coisas. Dá impressão, pelo livro, que várias coisas populares, do povo, são ruins, e isso não é verdade. Zeca Pagodinho, por exemplo, é um grande artista, com músicas excelentes e profundas, e uma grande pessoa. Admiro muito ele e gosto muito de várias músicas dele, que eu considero sublimes de tão bonitas. Nem por isso deixo de ouvir músicas eruditas e apreciar a obra, sentir prazer ouvindo a música (sempre gostei de Tchaikovsky, por exemplo). Não considero que exista uma dicotomia entre os artistas, como se ouvir Zeca Pagodinho fosse sinal de inferioridade intelectual ou cultural. Parece puro elitismo.
A maioria dessas críticas, entretanto, não tira a qualidade da obra, pois representam somente passagens, desvinculadas, na sua maioria, do objetivo da obra, que é trazer dicas e ensinamentos para aquele que pretende estudar pra um concurso. Tirando essas partes criticadas, que eu considero que não precisariam constar no livro, achei a obra excelente para os estudos, e vou seguir aplicando vários métodos indicados por ele em meus próprios estudos.