Paula Juliana 15/09/2014
Resenha: O Artífice - Tony Ferraz
''Agora, nada mais restava, pois seu coração não tinha mais aquela esperança e seus olhos eram cinzas como o mais intenso nublado do céu, e tudo isso porque alcançara a verdade. Agora, ele possuía o maior dos conhecimentos, o conhecimento que lutara muito para alcançar. Ele sabia que o caminho escravizara, mas a verdade dava liberdade e ele estava liberto.''
Estou ainda um pouco chocada com o fim do livro, O Artífice do autor nacional, Tony Ferraz. Optei por vir correndo fazer a resenha, ainda no calor do momento. A mensagem fica cutucando minha mente, e ao mesmo tempo, me questiono, será que entendi mesmo? Ou estou fazendo aqui exatamente o que o livro me diz para não fazer? Eu, aqui, pensando! Tentando entender se eu o compreendi! E não é que o nosso Mestre Budista não estava certo!?! Ele riria da minha cara e me chamaria de Tola!
Devaneios a parte de uma leitora louca! Não é que sábios são mesmo os loucos! Ou os loucos que são sábios?!
''Sábios são os que buscam a sabedoria, loucos são os que já a encontraram.''
Entraram no clima?
Londres! Assassinatos. Um assassino muito inteligente e astuto. Tempestades. O Artífice tem um propósito. E quem será capaz de desvendar essa mente?
Um detetive. Um homem brilhante. Um homem que é realmente bom no que faz. Será que ele conseguirá pegar esse assassino, que constrói as suas próprias armadilhas, Artesão de destinos?
Enquanto Haryel Kitten, o detetive, tenta desvendar essa pilha de corpos macabros, o assassino pinta sua própria tela!
Um caminho sem volta! Um mistério! Sobrenatural?!? Um Serial Killer! Um detetive que quanto mais tenta entender, menos entende nada! Um monge Budista, um mestre! E O Artífice!
''Viva a vida, pois ela é muito preciosa. A verdade é que cem milhões não valem um minuto sobre a terra.''
Nessa resenha venho apresentar um livro incrível. Comecei lendo, O Artífice, pensando que seria mais um dos meus gostosos romances policiais - pois, sim! Eu sou viciada neles! Todo essa atmosfera de desvendar as coisas, ir montando o quebra cabeça na minha mente, e no fim, se tiver sorte e muito atenção, conseguir matar a trama antes do grande mistério ser desvendado, são coisas que me deixam fascinada. Mas essa obra ela vai muito além do simples esquema assassino/policial, ela vem mostrando toda uma filosofia que para mim era até a leitura, desconhecida.
''Aí que está o problema, detetive Kitten: no ''entender o assassino''. Você já começou em uma batalha perdida, se esse homem é como você descreve, nunca vai conseguir vencê-lo, porque ele é liberto e é guiado pelo Tao. Podes lutar como quiseres, tentar entender como quiseres, mas nunca vais dominá-lo, porque ele tem a força do grande todo.''
Como o título mesmo nos conta, temos um assassino, um mestre budista e um detetive. A grande jogada do enredo, e que conhecemos a filosofia Zen, que vai muito além da meditação, é uma visão diferenciada do mundo. E como nós, leigos, vamos entender uma mente assim?! A obra mostra, entre tantas outras coisas que, é aí que está nosso erro. Nós tentamos compreender tudo, pensar em tudo, controlar tudo. E então as coisas nos controlam.Perdemos a essência!
''Para o zen, experimentar a realidade diretamente é experimentar o nirvana. Para experimentar a realidade diretamente, é preciso desapegar-se de palavras, conceitos e discursos. E, para desapegar-se disso, é preciso meditar.''
O Nirvana, é o estado de libertação. Então na obra somos levados a conhecer uma filosofia diferente. É diferente da minha. E por isso eu me pegava, concentrada, lendo e relendo, certos trechos, tentando sentir a palavra e não entende-la. Mas meu cérebro, é muito racional, esse livro foi um desafio novo, foi uma descoberta nova, foi uma agonia boa, no sentido que além de me tirar da minha zona de conforto, me fez querer visualizar a história com vários tipos de olhares.
''Quando um homem que segue o Ch'an está com fome, ele come, quando está com sede, ele bebe, quando quer andar, apenas anda e quando quer dormir, apenas dorme. Agora, vocês, fazem todas as coisas ao mesmo tempo se distanciando cada vez mais da simplicidade, da verdadeira essência das coisas. Quando querem andar, ficam pensando, quando querem escutar, preocupam-se em ver, quando querem conhecer, preocupam-se em entender. Como você quer escutar alguma coisa se preocupando com o que ela aparenta? Como você quer descansar se se concentra mais em pensar? Sendo assim, você, meu amigo, perde o sentido real das coisas, sua essência. Escuta enganado pela orelha, vê enganado pelos olhos, pensa enganado pelo cérebro. Quem faz vinte coisas ao mesmo tempo não faz nenhuma.''
Alguns Personagens:
Paul e Thomas, personagens que gostei muito de conhecer. Paul mesmo, me fez rir, adoro personagens que mesmo em momentos de tensão, conseguem dar um certo equilíbrio ao clima!
Cheung Chizu! O nosso Mestre!
'' - Por que - replicou o velho -, agir com compaixão é minha natureza.''
Ele me ganhou pela sabedoria, pela paciência, pelas muitas metáforas que me deixaram de cabelo em pé e principalmente pela bondade!
O livro é muito maduro, muito bem escrito e muito, muito inteligente. O tipo de livro que você acaba e não deixa você, tenho certeza que essa história foi marcante o bastante para permanecer comigo por muito, muito tempo. É um livro para ler e reler, e reler mais uma vez. E não tentar entende-lo, ou cataloga-lo. Sinta a mensagem, se delicie com o mistério. Pule da cadeira, morra de aflição. Grite e se descabele, porque tem horas que realmente dá tudo errado e fique chocada, lá sentada, olhando para a parede e pensando naquele final!
''Quem te garante que você não poderia matar? Você não se conhece, não sabe do que é capaz. Antes de chegar ao fim do nosso quadro, você vai descobrir o que o seu eu é capaz de fazer e o quanto ele é responsável.''
A alma. O acreditar da nossa mente. O que existe? Tudo? Nada? O vazio? Qual o segredo do Universo?Qual é a verdade?
O se libertar! O não pensar, o simplesmente sentir! A essência das coisas! O homem que só enxerga aquilo que quer ver. O simples '' não ser, calmo e eterno, límpido e plácido''. A FORÇA. A Paz! O Artífice!
''- O que é? Isso foi demais para você? Pra sua força? Você é patético...''
Paula Juliana
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