A origem do mundo

A origem do mundo Jorge Edwards




Resenhas - A Origem do Mundo


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jota 15/09/2020

Avaliação da leitura: 4,5/50 – MUITO BOM (vale a pena conhecer a literatura de Jorge Edwards)

Lê-se rapidamente A Origem do Mundo, não apenas porque é uma história curta e muito bem escrita, mas pelo fato de o chileno Jorge Edwards envolver profundamente o leitor numa investigação gerada a partir da desconfiança e ciúmes conjugais. Que resultou numa peça literária merecedora de elogios de Mario Vargas Llosa, autor do posfácio da obra. Para ele, a história criada por Edwards é divertida, inesperada e muito bem construída. De fato, é isso mesmo, uma leitura que vale a pena, além da oportunidade de se conhecer um autor sul-americano pouco difundido no Brasil.

O título atribuído ao livro é o mesmo de um famoso quadro de 1866, pintado pelo francês Gustave Courbet, mencionado inúmeras vezes por Edwards. Em vez de quadro (que é reproduzido no final do livro em branco e preto) temos a (descrição da) fotografia de uma mulher posando de modo praticamente idêntico ao da modelo da pintura. A foto foi encontrada no meio de tantas outras fotos de mulheres no apartamento parisiense de um dos personagens principais do romance, o boêmio Felipe Diaz. Todas as fotografadas teriam passado por sua cama: isso vai ser a origem dos tormentos de outro personagem, esse que encontrou as fotos...

Como muitos chilenos dos tempos da sangrenta ditadura de Augusto Pinochet, Diaz, por motivos políticos, refugiou-se em Paris, cidade de artistas, intelectuais, boêmios, refugiados. O mesmo fizeram alguns de seus amigos, como o médico Patrício Illanes e sua mulher Silvia. Apesar da amizade, Patricio Illanez e Felipe Dias têm algumas diferenças: o médico já passou dos setenta e Diaz tem pouco mais de cinqüenta, mesma idade de Silvia. E Diaz é culto, sedutor, mulherengo, bebe muito etc., enquanto Illanez (ou Patito, como lhe chama a mulher) é um marido sério, defensor da vida saudável, um senhor certinho etc. Mas que vai se revelar um homem extremamente ciumento e contraditório quando começa a duvidar da fidelidade da mulher.

Ele supõe, passa a acreditar que Silvia tenha sido amante do sedutor Diaz e que naquela foto que imita a mesma pose da modelo do quadro é ela que está ali a exibir despudoradamente seu sexo (nem no quadro nem na foto se mostra o rosto da modelo), a origem de tudo, a origem do mundo, segundo Coubert. A foto agora será a origem da desconfiança e do sofrimento de Patricio Illanez. Inicia então uma investigação quase policial para apurar os fatos, eliminar suas dúvidas, sossegá-lo ou acabar de vez com o casamento que já dura cerca de trinta anos. Acompanhamos tudo com bastante interesse, e é somente no último capítulo, narrado por Silvia, que temos o desfecho dessa envolvente história de Jorge Edwards. Ela conta tudo e então algo acontece...

Lido entre 10 e 13/09/2020.
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Karamaru 19/05/2019

CIÚME, INVEJA E SEXUALIDADE
Pouco conhecido no Brasil (infelizmente), Jorge Edwards é um dos expoentes da literatura chilena, reverenciado como um dos maiores prosadores contemporâneos de língua espanhola.

O curto romance “A origem do mundo” narra a tragicômica história de Patricio Illanes, o “Patito”, médico na casa dos setenta, que se vê envolto numa crise incontrolável de ciúmes, após desconfiar, no dia do velório de seu melhor amigo (o incorrigível Felipe Díaz), que sua esposa mantivera um "affair" com este.

Apesar de breve, o romance é desafiador, pois não se encerra numa única camada apenas. O ciúme – tema sempre caro às letras – é o que move a trama, mas não é apenas por meio dele que se pode entender as motivações das personagens, por exemplo.

O livro permite uma leitura política – são bem pontuais e ácidas as referências e críticas ao regime ditadorial de Pinochet, e, como bem pontua Llosa, no posfácio, as personagens sofrem uma “desilusão socialista” e, por isso, parecem tramitar deslocadas num mundo que já não lhes pertence mais.

É possível também uma leitura sob o ponto de vista da senilidade e da sexualidade: até que ponto a virilidade é, quando chega o peso da idade, uma condição necessária para reafirmação de si, enquanto ser humano que não só sofre, mas que também pode dar e sentir prazer?

É notável a descrição psicológica das personagens, sobretudo do protagonista, triste, trágico e cômico ao mesmo tempo. Interessante também a esposa de Illanes, Silvia, que assume relevo considerável nas páginas finais.

Edwards oferece um livro forte aos leitores, um “tour-de-force” erótico, provocativo como o quadro de Coubert, “A origem do mundo” (1866), que inclusive é o que justifica o título homônimo.

Uma pequena grande obra.
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Christiane 24/07/2021

Gustave Courbet pintou em 1866 o quadro "A origem do mundo", uma mulher com o rosto velado, de pernas abertas com sua vulva aparecendo. O quadro foi encomendado por um bei da Turquia. Pertenceu a Jacques Lacan, o psicanalista francês, e depois foi exposto no Musée D'Orsay em Paris.

A história começa quando o médico setentão Patrício Illanes e sua mulher Silvia, ambos exilados do Chile, vão à esta exposição e diante do quadro Patrício, ou Patito, como era seu apelido chileno, pensa que o mesmo parece muito com sua mulher. Na sequência dos acontecimentos temos o suicídio de Felipe Díaz, outro exilado, mas não sem antes haver um encontro entre este e Patito num café onde Felipe lhe fala de uma mulher filósofa, mexicana-japonesa, e de que acabou trocando um garrafa por uma mulher. Felipe bebia muito. Quando Silvia vê Felipe morto tem uma reação histérica que surpreende Patito e parece lhe confirmar suas suspeitas de que ambos eram amantes. A partir daí temos o relato neurótico de Patito em busca das provas desta traição.

É um retrato belo e cru do que o ciúme é capaz de fazer. Até que ponto chega a imaginação e o que passa a acreditar alguém que está submerso no ciúme, na paixão, na dúvida. Nada fara com que ele deixe de pensar que tem razão. Vai buscar as provas de forma patética, ridícula até, perguntando a todos que conheceram Felipe e pedindo que sejam generosos e lhe contem a verdade, pois somente assim poderá se curar do que tem consciência ser uma doença. Mas de nada adianta todos dizerem que isto é um total absurdo, que nunca viram ou ouviram nada, pois na mente delirante de Patito, eles estão com pena dele, ou querem poupá-lo, ou protegem, ou acham melhor mentir para preservar o casamento dele com Silvia.

Mas esta história vai muito além do ciúme, é uma história sobre a velhice, como o personagem de Memória de minhas putas tristes de Gabriel García Marquéz, que ao completar noventa anos deseja uma virgem, pois o sexo e a paixão fazem viver.

Quando Patito vê o quadro algo deve ter despertado dentro dele sem que o mesmo tivesse consciência disto. Sua vida sexual já não era como quando era jovem, e no seu entender, por ouvir tantas histórias de Felipe sobre mulheres, talvez pensasse que este devia ter uma vida sexual gloriosa, e que justamente chegava ao fim, quando escolhe a garrafa ao invés da mulher. Mas isto não descarta que antes disto teria sido amante de Silvia. E a imaginação é cruel neste momento, fazendo-o imaginar os dois juntos, o que o exasperava mais ainda.

Ao final de sua patética busca ele se volta para Silvia e lhe pergunta. Esta é de uma sensibilidade espantosa, pois acaba por compreender o que se passa. E lhe diz que sim, que foi amante de Felipe e lhe conta detalhes, o que desperta a sexualidade de Patito levando-o a ter uma relação sexual com ela que havia muito tempo não tinham.

A fantasia inconsciente, o desejo, a paixão, o sexo e o erotismo, a fantasmagoria, tudo isto está neste livro e descrito de uma maneira esplêndida. O quadro A origem do mundo também pode ser interpretado como de onde nascemos, de onde viemos, e a velhice é o fim, e não é um retorno ao paraíso, mas é o nada, o vazio, o não conhecido que assusta. Somente com a ficção ou a fantasia, ou a imaginação, se pode lidar com a morte, e a velhice é o momento onde isto vai surgir fortemente, este medo da morte e a consciência que estamos muito longe desta origem. Patito prefere a ilusão do que a morte, prefere o amor-paixão que reaviva o desejo, e o que mais é a vida do que o desejo? ele nos movimenta. Quando o desejo cessa, estamos mortos.

Felipe Díaz não suportou e preferiu morrer, Patito optou pela vida, mesmo que sofrendo, mas quem sofre está vivo. Ambos sofreram a frustração de seus ideais políticos, ambos tiveram que sair de seu país e se exilarem, e sabiam que mesmo depois de tudo ter passado, não seria mais possível voltar ao seu país, não se identificariam mais com este lugar que ficou no passado. Se esta origem não lhes permitia viver, então porque não a origem da vida? o sexo e todo seu lado erótico.

Na velhice o erótico já não é como antes, e para não cair num sexo carne, animal, a fantasia e a ficção vem para sanar isto. Não é mais o belo corpo, mas a fantasia.
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@bibipinheiro 26/12/2022

Fluido e divertido
O livro conta a história de um senhor ciumento que começa uma investigação para saber se sua jovem esposa era amante do seu falecido amigo boêmio e mulherengo.
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Karina 05/01/2016

É maluco... muito estranho...
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André Foltran 09/03/2019

Invenção da realidade
No princípio era a Vulva. Aos 70, vendo a tela de Courbet, Patrício teve certeza: era Silvia. Sua esposa, a desconhecida vinte anos mais jovem com quem era casado há trinta, o traiu com seu melhor amigo, o Don Juan inveterado, o intelectual fracassado, o ex-comunista, o suicida Felipe Díaz. Qual Capitu, a traição estava estampada nos olhos da mulher quando encarou o cadáver. Estava impressa em seu estranho grito. E sobretudo, comprovada na foto encontrada por Patrício junto às coisas do amigo: a foto de uma mulher nua, imitação caseira do quadro L'Origine du monde, onde Silvia, só podia ser ela, como podia ser qualquer outra, uma vez que um véu cobria seu rosto, uma vez que uma mulher é todas as mulheres e uma vulva todas as vulvas, abria as pernas para o fotógrafo exibindo a origem de tudo.

Aos 70, Patrício, exilado em Paris, uma vida inteira dedicada ao seu Partido, precisa se agarrar a uma nova ficção para permanecer jovem, para estar vivo. Num ciúme tardio e infundado, numa investigação estúpida, vai reinventado o passado. Porque o passado era fluido, feito de uma matéria moldável, fácil de manipular. Se já era possível provar qualquer coisa por meio da lógica, desde que se partisse dos postulados adequados, o que não se podia com a imaginação?

"Quem entende as mulheres?, eu me perguntava depois, enquanto viajava de metrô rumo aos altos de Montmartre, quem entende os seres humanos e como se pode saber a verdade, ou ao menos chegar perto disso que chamam de realidade e que nos escorre por todos os lados? Eu me fazia essas perguntas em voz baixa, com os olhos perdidos na névoa, e minha vizinha de banco, que tinha na cabeça um lenço branco de procedência turca ou árabe, me olhava pelo rabo dos olhos." (p. 114-115)

Um homem de 70 anos, como um menino de sete, não pode escapar de uma visão fictícia da vida. Só é capaz de enxergar alguns detalhes do todo, uma quantidade limitada de cores, segundo sua própria miopia. Só tem acesso a uma parte muito pequena da verdade, todo o resto é preciso inventar. Então Patrício vai inventando a traição e é inevitável que, em alguma versão da realidade, ela acabe se concretizando de fato.
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Lusia.Nicolino 09/01/2020

De leitura fácil e rápida, mas com uma carga histórica pesada
De leitura fácil e rápida, mas com uma carga histórica pesada, A Origem do Mundo está ambientada em uma Paris de calor implacável, logo depois da queda de Pinochet. E é aí, entre uma sesta e outra, que vamos conhecer Patrício Illanes, nosso personagem central, um médico chileno que se exilou na cidade luz com sua mulher Silvia.
Com mais de setenta anos, ex-membro do Partido Comunista Chileno, já não defende com o mesmo ímpeto os governos de Cuba e da União Soviética.

A sua obsessão agora é descobrir se a mulher nua, mas com o rosto encoberto, na foto encontrada no apartamento do amigo que morreu, é sua querida Silvia. Ele vai viver uma peripécia para descobrir. Será que descobre?
Edwards nunca escondeu sua paixão e interesse por nosso amado Machado de Assis – sobre quem escreveu um ensaio – e é possível identificar nas nuances da narrativa sofisticada e no tom do humor a sutil influência desse mestre.

Quote: “...fim de semana de merda! Porque tinha perdido seu melhor amigo, e o tinha perdido para o futuro, para os poucos anos ou meses que lhe restavam, que agora via mais breves, mais sombrios, e para o passado, para a memória...”

site: https://www.facebook.com/lunicolinole
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Ariana Pereira 02/09/2020

Envolvente
Obcecado por uma suposta traição, o personagem busca respostas, e a gte segue atrás dele. É aquele drama do Bentinho com a Capitu, mas mais rápido e com uma linguagem mais simples. Gostei, mas acho que esperava mais...
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