Carla.Parreira 31/03/2024
Doze Anos de Escravidao (Solomon Northup). É um livro impactante, realista e emocionante. A história tem o poder de nos indignar e fazer refletir sobre um período sombrio da história em que a escravidão era uma prática cruel e cotidiana na sociedade. O livro narra a história verídica de Solomon Northup, um homem livre que tinha uma vida estável, uma família e era apaixonado por leitura e música. No entanto, ele foi sequestrado e passou 12 anos como escravo. A narrativa é em primeira pessoa e foi escrita pelo próprio Solomon em 1853. Solomon foi contrabandeado para a Louisiana e passou mais de uma década trabalhando ininterruptamente em diferentes fazendas de plantações. Através de seu relato, ele descreve as atrocidades cometidas pelos "donos" e as terríveis condições enfrentadas pelos escravos, incluindo mulheres e crianças. É uma história triste, repleta de sofrimento e angústia de um homem que lutou diariamente pela sua sobrevivência após ter sua liberdade tirada. Ele enfrentou doenças, ameaças de morte e violência física e moral. O relato é excepcionalmente bem escrito e nos transporta para a terrível realidade da escravidão. Solomon resgata os sentimentos mais profundos que permearam sua vida naquele período. É emocionante ver o resgate histórico que ele faz e a atenção aos detalhes mais chocantes de sua vida como escravo. Para aqueles que se interessarem, o livro também foi adaptado para o cinema e recebeu nove indicações ao Oscar.
Melhores trechos: "...Embora nascido escravo e tendo trabalhado sob as desvantagens às quais minha infeliz raça é submetida, meu pai era um homem respeitado por sua engenhosidade e integridade, conforme muitos que ainda vivem e que bem dele lembram estão dispostos a testemunhar. Toda sua vida foi passada no cultivo pacífico da agricultura, sem jamais buscar trabalho naquelas vagas mais braçais que parecem ser especialmente reservadas aos filhos da África... Não conseguia entender a moral da lei, ou da religião, que sustenta e reconhece o princípio da Escravidão; nem mesmo uma única vez, regozijo-me em dizer, deixei de aconselhar qualquer um que viesse a mim a procurar uma oportunidade e se lançar à liberdade... Agucei os ouvidos, tentando captar algum som ou sinal de vida, mas nada rompia o opressivo silêncio – a não ser o tilintar dos elos das correntes que me prendiam, que soava ao menor movimento que eu fizesse. Proferi algumas palavras em voz alta e assustei-me com o som da minha própria voz. Tateei meus bolsos, tanto quanto as correntes permitiam meus movimentos, e, vasculhando-os, dei-me conta de que eu fora despojado da minha liberdade, mas, também, de todo o dinheiro e dos documentos que possuía. Então, começou a forma-se em minha mente a ideia – a principio confusa e vaga – de que eu tivesse sido sequestrado. Contudo, tal pensamento me parecia inacreditável... Cheguei a pensar que morreria sob o açoite daquele amaldiçoado bruto. Ainda agora minha carne estremece sobre os ossos quando me recordo daquela cena. Eu me sentia inflamar, e meu sofrimento não poderia ser comparado a nada menos do que as abrasadoras agonias do Inferno!... Ao chegar ao barco a vapor, fomos rapidamente precipitados para o compartimento de carga, entre barris e caixotes de mercadorias. Um criado de cor trouxe uma lâmpada, o sino dobrou e logo a embarcação começou a descer o Potomac, levando-nos para Deus sabe onde. Os sinos dobraram quando passamos pelo túmulo de Washington! Burch, é claro, tirando o chapéu da cabeça, inclinou-se de forma reverente diante das cinzas sagradas do homem que dedicou sua ilustre vida à liberdade de seu país... Lá ainda estava eu, sob o sol da tarde, gemendo de dor. Não comia nada desde bem antes de o sol raiar. Estava ficando tonto de dor, sede e fome. Apenas uma vez, na parte mais quente do dia, Rachel, meio temerosa que estivesse agindo contra o desejo do feitor, se arriscou a chegar até mim e segurou uma xícara de água junto a meus lábios. A pobre criatura nunca soube, nem teria compreendido se as tivesse escutado, as bênçãos que invoquei sobre ela, por aquele gole balsâmico... Naquela noite, mais uma vez, eles se juntaram na cabana para ouvir a história de minha aventura. Imaginavam que eu seria açoitado e que a coisa seria grave, já que a penalidade por fugir era de quinhentas chibatadas... Quando o escravo para de respirar, como costuma fazer quando sobrecarregado para além de suas forças, ele cai no chão e se torna totalmente inofensivo. É então dever do capataz arrastá-lo para a sombra do arbusto de algodão ou da cana, ou então de uma árvore das redondezas, onde joga baldes de água sobre ele e usa outros métodos para fazê-lo voltar a respirar, quando então ele é mandado de volta a seu lugar e impelido a continuar seu trabalho... Após pesquisar, esse cavalheiro encontrou entre os estatutos do Estado uma lei que garante que cidadãos livres sejam resgatados da escravidão. Fora aprovada em 14 de maio de 1840 e é chamada de 'Uma lei para proteger mais efetivamente os cidadãos livres deste estado de serem sequestrados ou submetidos à escravidão'. Determina que é dever do governador, uma vez tendo recebido informação satisfatória de que qualquer cidadão livre ou habitante deste estado é injustamente mantido como escravo em outro estado ou território dos Estados Unidos, mediante alegação ou mentira de que tal pessoa seja um escravo, ou que pelo costume da cor ou pela regra da lei seja considerado ou tomado por um escravo, tomar tais medidas que garantam a restauração de tal pessoa à liberdade, conforme ele julgar necessário. E para esse fim ele é autorizado a designar e empregar um agente, e é orientado a fornecer a este credenciais e instruções tais que possibilitem o cumprimento do objetivo de sua nomeação. Determina também que o agente assim designado colete provas adequadas a fim de estabelecer o direito de tal pessoa à liberdade; que faça tais jornadas, tome tais medidas, institua procedimentos legais etc. necessários para devolver essa pessoa a seu estado e se incumba de todas as despesas necessárias ao cumprimento desta lei com verbas do Tesouro destinadas para este fim específico..."