Gulag

Gulag Anne Applebaum




Resenhas - Gulag


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Marcos Nandi 18/02/2024

"Em nossos campos, esperava-se não apenas que fossemos trabalhadores escravos, mas que também cantássemos e sorrissemos enquanto trabalhávamos. Não queriam só nos oprimir - queriam que lhes agradecêssemos por isso".

-Bukovsky,2002

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Todo mundo tem uma ideologia. Nenhum estudo ou análise está livre de estar enviesada. E não acho que isso seja um grande problema, desde que não baseado em falácias. Digo isso, pois a autora já na introdução compara Stalin com Hitler e critica de forma bem clara a elite intelectual de esquerda por defender o comunismo e afins.

Autora também faz apanhado sobre a URSS, a Rússia Czarista, guerra fria e segunda guerra mundial.

Ou seja, quem vai ler a partir desta resenha, já sabe o que lhe espera KK

Gulag, inicialmente, eram campos de administração central dos campos. Que depois, começou a se tornar o próprio sistema soviético de trabalho escravo. Nota-se que, já na era czarista havia trabalho escravo na Sibéria. E havia também pena de degrado para povoar o norte da Rússia. O comunismo, segundo a autora, tornou mais rígida às prisões (e com isso: mais cruéis).

Em 1918, o exército branco se reagrupou para combater o exército vermelho, acontecendo embates sangrentos nas regiões rurais da Rússia. Já no ano de 1921, o estado soviético estava em paz.

Nessa violência toda, no ano de 1921, haviam 84 campos de concentração, que na sua maioria, era para reabilitar os "inimigos do povo". Já entre 1929 e 1953, estima-se 476 complexos de campos em Gulag.

A autora assinala que as pessoas eram condenadas não pelo que fizessem, mas pelo que fossem (ou pelo que defendiam). Porém, nem todo criminoso era realmente criminoso e nem todo preso político realmente tinha feito algo contra a URSS.

Já em 1929, Lênin passou a usar da mão de obra escrava para industrializar a URSS e explorar o extremo norte que quase não era habitado.

Nos anos 50, em seu auge, os campos produziam um terço do ouro do país, além do carvão, madeira, etc. Apesar disso, os sucessores de Stalin, viam o gulag como um atraso ao crescimento da URSS. Só em 1987, que começou a ser desmantelado.

Gulag tinha suas próprias leis. Seus próprios costumes, sua própria gíria e moralidade. As prisões eram constantes, as liberdades também. Muitos foram libertados para cuidar de seus parentes, servir no exercício vermelho ou, promovidos a guardas.

Um dado que me assustou, é que segundo a autora, há uma estimativa de cerca de 18 milhões de pessoas que passaram por esse flagelo.

Sabemos que o gulag tinha uma divisão entre criminosos comuns e criminosos políticos. Isso muda depois de um tempo, tornando todos os presos em potencial em trabalhador braçal.

No final dos anos 1920, até os presos socialistas já não tinham status diferenciado, do contrário, se tornaram presos inferiores.

É interessante que em alguns gulags tinha produção cultural como cinema e teatro. O que é contraditório, já que havia trabalho escravo. Um dos piores gulags tinha biblioteca com mais de 30 mil livros e até jardim botânico.

Em relação ao trabalho escravo...meu Deus do céu! Como é agoniante ler a desumanização das pessoas sendo tratadas como lixo. Os mais fortes eram bem alimentados. Os fracos, ficavam sem alimentos, e com isso, ficariam mais fracos ainda e consequentemente, morriam de doenças e de inanição (para mim uma das mortes mais cruéis que existe).

Tenho ojeriza pelo trabalho escravo e nunca o defenderei. Independente de quem for escravizado. Seja de direita ou de esquerda. Não me entra na cabeça a exploração da outra para aumentar o lucro e no caso dos gulags, para sustentar as prisões. Outrossim, as potências europeias e o EUA, fingiam interesse (como sempre) em defender pessoas, mas só estavam interessados no risco econômico pela "concorrência desleal" - a autora tenta justificar a guerra fria como a defesa da humanidade, mas sabemos os verdadeiros motivo dos EUA.

Outro ponto interessante, é que os gulags serviram para levar civilização ao norte da Rússia, pois se construiu estradas e cidades. Mas a que custo..

O grande terror foi um marco na sociedade soviética. Porém, não foram os anos com maior mortalidade e nem houve uma grande expansão dos gulags.

Mas mesmo assim, em 1937, foi um divisor de águas na URSS já que até então, as pessoas morriam por "acidente", a partir do grande terror e do expurgo, os gulags se tornaram em grandes campos de extermínio (principalmente para os presos políticos).

Os gulags não eram lucrativos. Na verdade, davam prejuízos. Até que, houve outra mudança, a mudança dos gulags para uma coisa mais industrial.

Porém, antes dos gulags, os suspeitos passavam por uma investigação horrorosa, com muita tortura (começou a ser proibida a partir de 1939) e eram aprisionados em lugares insalubres, sem comida e água. Além é claro, da transferência entre essas prisões e os gulags própria mente ditos, que era extremamente perigoso.

Não vou transcrever o que acontecia nos barcos que transferiram os presos e as presas da prisão para gulag. É indigesto.

Entre os mais perseguidos, tinha os militantes do PC que foram exterminados durante o grande expurgos, e muitos estrangeiros em especial polacos, baltas e judeus. Qualquer coisa era motivo de prisão. Fazer uma piada de Stalin, se atrasar para o trabalho e por qualquer denúncia vazia realizada por algum vizinho ou parente recalcado.

A autora faz menção que durante o século XX, no terceiro mundo, as prisões também eram horríveis.

Em relação aos guardas, a autora informa a diferença com os guardas nazistas. A princípio, ela informa, que muitos guardas eram ex- prisioneiros e, por isso, às vezes tratavam com benevolência os presos. Além disso, haviam campos com celas limpas, e com administradores bons (principalmente, em relação a seus compatriotas), apesar de ser exceção.

Mas a autora explica também, que por lei os guardas não podiam tratar com violência os presos.

Um relatório constatou o óbvio: quando melhor tratado, o "trabalhador", melhor seria o rendimento.

Achei muito interessante como as religiosas agiam nos gulags. A questão do banho, a questão de achar que Stalin ser o próprio satanás. E ao fim, foram enviadas para um lugar ermo onde fizeram uma greve de fome e morreram. Queria um filme disso hahaha

Toda a parte que envolve crianças, orfanatos, colônias de menores, achei pesadíssimas.

A autora fala também sobre a questão dos doentes. E que havia pessoas que fingiam doenças (até com automutilação - que era proibido). Além disso, a autora fala que era comum ter muitas fugas e greves de fome (e outros motins).

Eu fiquei chocado com as histórias de canibalismo. Misericórdia.

O declínio dos gulags, começou com a rebeldia dos presos políticos e a guerra entre os criminosos, acelerando uma crise maior: os campos eram custosos, corruptos e não dava lucro. E claro, o acesso das drogas e álcool pelos prisioneiros.

Com a morte de Stalin, Beria assumiu o secretariado do Partido Comunista e a URSS, e em pouco tempo já fez mudanças drásticas. Militou a favor de libertar grávidas, doentes, e os presos com sentença com pena inferior a cinco anos, nisso, houve a anistia de um milhão de pessoas.

Além disso, proibiu o uso da tortura contra os presos. E ainda, declarou querer acabar com o trabalho forçado. Porém, isso durou pouco, já que Beria foi preso e executado.

A morte de Stalin sinalizou o fim do trabalho escravo, porém, a partir de sua morte as prisões começaram a ser mais sistemáticas, os presos políticos agora sabiam os motivos da prisão. Os chamados dissidentes (intelectuais e presos políticos) considerados inimigos do povo, que ajudaram a derrubar a URSS, foram internados em hospitais psiquiátricos diagnosticados com esquizofrenia. E óbvio, tendo muita tortura e abuso psiquiátrico.

Enfim, um livro interessante e com muitas informações.
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