Descontrolados 25/04/2014
Conhecendo um clássico
Primeiramente, devo dizer que ler este livro foi um grande desafio para mim. Não que o livro não seja interessante, pelo contrário, mas pelo fato de ser um e-book. Sou daqueles que ainda preferem ler da forma tradicional, com o livro impresso; mas devo admitir, é tentador ter em suas mãos, em um único dispositivo eletrônico, toda uma biblioteca. Sem contar a facilidade de poder ler em qualquer lugar, a qualquer momento e de forma bem discreta. Começo aqui a primeira resenha que já fiz, de um e-book!
Devo destacar que O Arqueiro e a Feiticeira não é uma obra qualquer. Trata-se de um marco da literatura fantástica nacional, o primeiro livro de fantasia já publicado por um escritor brasileiro dentro do seguimento, conforme narra Raphael Draccon no prefácio. Esse mérito, pertence à jornalista, professora e e escritora Helena Gomes, responsável por criar esta que foi a primeira saga de literatura fantástica brasileira: A Caverna de Cristais.
Thomas é um garoto curioso e esperto que vive às margens da corte do Rei Arnon com um grupo de andarilhos. Apesar de ser bondoso e caridoso com todos que o cercam, o garoto se sente cercado por olhares de reprovação de pessoas que acham que ele não é uma criança normal. De certa forma, essas pessoas estão certas: ele não é uma criança comum. O que elas não sabem é que o garoto é realmente especial. Na verdade, nem ele mesmo sabe, mas está prestes a descobrir. Sem aviso ou escolha, Thomas embarcará em aventuras incríveis que revelarão segredos surpreendentes sobre o seu passado e o futuro da humanidade.
A primeira coisa que preciso destacar são as homenagens e referências nítidas à obras da literatura fantástica internacional e filmes de ficção científica, em especial, Star Wars, a lenda de Rei Arthur e a obra de J.R.R. Tolkien. São, em grade parte, homenagens sutis, que levam ao leitor a relembrar estas outras grandes obras que influenciaram toda uma geração de escritores do seguimento fantasia.
No que diz respeito a obra por um todo, podemos notar diversos pontos clichês na história criada por Helena Gomes. Na verdade, não sei se era intenção da autora fazer algum suspense sobre as ligações existentes entre alguns personagens, bem como os seus destinos, mas para um leitor mais acostumado à esse tipo de literatura, facilmente irá identificar esses pontos e confirmá-los no decorrer da leitura.
Entretanto, os clichês são facilmente ofuscados pela rica construção desenvolvida por Gomes neste livro. Estamos diante de uma obra extremamente original, que mistura história medieval e ficção científica. Pode parecer até estranho, mas lhes garanto que a mistura não apenas combina, mas produz um efeito interessante, não somente sob o ponto de vista literário, mas também no aspecto reflexivo, fazendo o leitor questionar os caminhos traçados pela atual forma de sociedade e seu futuro.
No começo, o leitor poderá se sentir perdido, pois o prólogo da primeira parte do livro já nos introduz um trecho da história que só começará a fazer sentido no decorrer da trama. O desenrolar da obra é feito de forma gradual e muito agradável ao leitor, onde Helena Gomes teve um minucioso cuidado de construção da história e dos personagens.
O livro, aliás, é dividido em duas partes. A primeira, intitulada Quarta Era, nos apresenta a maioria dos personagens e desenvolve a história do personagem central, Thomas. A segunda parte, intitulada Traidor, se dedica ao clímax da trama e o desenrolar das descobertas de Thomas e do futuro da humanidade.
Algo que me chamou a atenção neste livro foi a peculiar escolha de narrativa feita por Helena Gomes. De um modo geral, estamos acostumados com leituras que abusam muito de narrativas na primeira e terceira pessoas; entretanto, Gomes optou por misturar uma narrativa arcaica, na segunda pessoa, presente nas falas dos personagens, à uma narrativa contemporânea, em sua voz ativa. Achei a ideia bem criativa e uma escolha muito feliz, em vista do período retratado no livro.
Não poderia deixar de comentar sobre a belíssima capa desenvolvida por Guilherme Rodrigues para esta edição digital do livro. Na minha humilde opinião, esta é a mais bela capa que essa preciosidade da literatura nacional já teve algum dia. Créditos também devem ser dados à editora Rocco, pela excelente diagramação e a escolha da fonte utilizada no texto.
Com uma construção impecável de personagens e cenários, uma trama que obriga o leitor a continuar compulsivamente a história, página após página e uma gama de referências à filmes e livros do gênero fantasia de grande sucesso entre nos anos 80 e 90, O Arqueiro e a Feiticeira é no fim um livro para todas as idades, pois agrada desde os mais jovens, fãs de livros de aventuras, até os mais velhos, que terão um grande sensação de nostalgia ao se deparar com as referências que constroem esse livro.
Ao final, o leitor terá duas reações: a de desejar desesperadamente ler a continuação da história e a de pensar seriamente em jogar RPG, pois a trama inspira uma boa partida!
Por Diego Cardoso
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