Sâmella Raissa 21/03/2015Resenha original para o blog SammySacional
No livro de estreia de Ana Faria, conhecemos dois adolescentes, Christopher e Clara, em seu último ano de Ensino Médio. Ele, o garoto popular do colégio, que atrai a atenção de todas as meninas e, por isso, tem o hábito de ficar com cada uma delas sempre que pode, nunca tendo se apaixonado de verdade. Já ela, recém expulsa de um outro colégio da região, está para completar seus estudos no colégio particular onde o rapaz estuda, já no primeiro dia, porém, alcançando o rótulo de 'esquisita' pelos demais alunos populares do colégio, pela tintura forte de vermelho em seu cabelo e por seu modo mais despojado de se vestir. Por si só, Clara e Chris pareciam completamente opostos e era improvável que sequer uma boa amizade pudesse surgir entre eles, mas à medida em que passam a conhecer um pouco mais sobre o outro em sala de aula, os preconceitos que tinham um com outro anteriormente começam a se desfazerem, e tudo o que resta é um recomeço para os corações de ambos, uma vez marcados por fortes perdas.
Em Um Ano Bom, nos deparamos com uma narrativa leve e fluida, em meio ao cotidiano e aos conflitos internos e externos de dois adolescentes de personalidades e vidas distintas, que mesmo em meio aos problemas, acabam por conseguir identificarem-se um com o outro de alguma forma, e assim construírem uma relação inesperada que surpreende à todos. Mas não é tão fácil superar as dores passadas, e disso Clara entende bem, depois de ter sido abandonada pela mãe quando pequena, e tendo vivido todo esse tempo com o pai, com quem ainda tem suas dificuldades para se relacionar, o que ela mais quer é passar invisível no colégio. No momento em que vira o novo alvo de piadinhas de Jéssica e sua turma, porém, isso começa a ficar cada vez mais impossível, e uma vez que ela não pode revidar um gesto sequer, devido o seu histórico conturbado, a situação fica ainda mais complicada.
“— [...] Eu não sei muita coisa sobre Deus, mas de uma coisa eu tenho certeza, é mais importante agradar a Ele do que aos homens.”
Chris, por outro lado, resguarda um caráter doce e atencioso que, no entanto, tem se mantido apagado em meio à popularidade no colégio, e uma vez que conhece Clara, diferentemente do seu anterior interesse por outras garotas, ele espera aproximar-se de verdade dela, ainda que não reconheça bem seus sentimentos iniciais. Clara não é à favor dessa aproximação e tenta se esquivar, mas após se encontrarem por acaso em um show certa noite, o inesperado acontece e não dá mais para fugirem um do outro. E assim, entre dribles no colégio e encontros distantes, a relação de Clara e Chris vai sendo construída, à medida que ambos conhecem melhor um ao outro e passam a dar chance ao novo sentimento que os cerca. Chris, principalmente, encanta de imediato por sua amabilidade e carinho constante, não apenas com Clara, mas principalmente com sua mãe e irmão, a quem sonhar poder ajudar com as finanças de casa desde a morte prematura do pai, há alguns anos. Dessa forma, é impossível não se encantar pelo personagem e perceber que os seus sentimentos e emoções são tão sinceros e firmes, apesar de alguns deslizes.
Devido ao abandono sofrido no passado, porém, Clara já não enxerga os sentimentos do rapaz com muita segurança. Esse, particularmente, foi um dos pontos que mais me irritou na trama, pois apesar de todas as declarações e pequenas provas de amor por parte de Chris, Clara sempre acabava por chegar a um extremo e devanear que, mais cedo ou mais tarde, ele a largaria por outra e chegava a duvidar, inclusive, do caráter do rapaz, retomando o julgamento de 'garoto popular' e 'playboy do colégio'. Sim, eu sei que ela tem seus motivos para ser insegura dessa forma, e eu até gostei de ver a autora desenvolver personagens que são tão humanos e cometem erros e acertos o tempo inteiro, mas chega a ficar repetitivo os lamentos infundados da personagem nesses momentos. Fora isso, felizmente, a leitura se seguiu tranquila e sem maiores conflitos, e fui ainda mais capaz de me envolver com o jeito companheiro de Chris, que não apenas pelo romance como um todo, acabou por tornar-se mais um dos meus mocinhos preferidos.
“— Não fique pensando no futuro. Acho que você está com medo de sofrer por amor. Mas isso é inevitável. Todo mundo que ama, acaba sofrendo de alguma forma. Mas não podemos nos privar de sermos felizes por causa do medo.”
Porque, apesar dos defeitos e erros constantes dos personagens, afinal, eles são humanos e são jovens, um dos pontos que, por outro lado, se destacam muito positivamente na trama é o amadurecimento dos personagens ao longo do enredo. A comparação entre quem eles eram e quem eles já passam a ser no final do livro é realmente significativa, e mais ainda, por ter sido um crescimento tão gradual, que desenvolveu-se muito bem ao longo dos conflitos vividos por eles, e que definitivamente culminaram na mudança de pensamentos e atitudes até o fim da história. Isso me agradou muito, pois tudo ocorreu muito naturalmente, e era como se eu estivesse assistindo a um filme, de tão fluida que a narrativa se seguia, me levando ao ponto de pausar a leitura apenas quando era realmente necessário, pois não queria largar o livro.
Vale ressaltar que os personagens principais desenvolvem, também, uma relação especial com Deus ao longo do enredo, o que foi um dos pontos com os quais eu particularmente me identifiquei muito, pois sou cristã. No entanto, a autora conduz tudo com tanta leveza, mas ao mesmo tempo tanta sensibilidade, que mesmo para quem não é da mesma religião vai ler com calma e vai gostar da mesma forma. E, no fim das contas, agradeço imensamente à autora pela oportunidade de ter conhecido, lido e me apaixonado por uma história que, apesar de breve, deixa sua marca de forma especial, com uma história que encanta o leitor e deixa boas e significativas mensagens e lições no decorrer de seu desenvolvimento. Eu me envolvi muito com o romance de Clara e Chris e, por muitas vezes, identifiquei-me muito com os personagens, até me ver com um sorriso no rosto após a conclusão da leitura. É um livro que eu certamente recomendo para quem gosta de um romance leve e inspirador, mas não menos intenso e marcante, à seu modo.
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