spoiler visualizarBia 21/12/2014
Um livro interessante para aqueles que não se incomodam com muita violência
Por algum motivo, desde o primeiro que soube do lançamento de Endgame fiquei interessada em lê-lo. Ainda não conhecia os autores, nem tinha ouvido nenhum elogio para a trilogia. Eu simplesmente, assim que acabei de ler a sinopse, quis obtê-lo. Ele me parecia misterioso, aventureiro e emocionante- tudo o que um livro precisa ter para ser incrível. Assim sendo, na primeira oportunidade iniciei sua leitura. Sou obrigada a afirmar que o livro é bem diferente do que eu esperava, mas que isso não o torna pior ou melhor. Ele é um desses livros que nós gostamos, mas não nos apaixonamos perdidamente. De fato, a obra não carece em aventura e mistérios, além de contar com uma quantidade exorbitante de ação (e ação sangrenta, daquelas que cabeças, braços e pernas rolam). Contudo a parte da “emoção” foi (pelo menos para mim) inexistente, de modo que por mais a história em si esteja muito boa, eu não conseguia sentir animação, tristeza, alegria, surpresa e suspense que ela pretendia expor.
De modo geral, a trama se passa numa Terra onde, anos atrás, Eles (por favor, não pergunte) desceram dos céus e criaram a humanidade. Entretanto, afirmaram que voltariam e quando esse dia chegasse, estaria iniciado o Endgame, um jogo que extinguiria grande parte da população mundial. Esse jogo se baseia na procura por doze linhagens ancestrais de três chaves escondidas ao redor do mundo. Os Jogadores (que têm de 13 a 20 anos) são treinados desde criança para matarem uns aos outros e vencerem o Jogo. Vencê-lo é tão importante porque os perdedores terão suas linhagens destruídas no Evento. E é nesse mundo onde conhecemos nossos 12 Jogadores: Kala, Marcus, Maccabee, Jaco, Sarah, Baitsakhan, Chioyoko, Alice, Aisiling, An, Shari e Hilal (é cada nome! E isso é porque não coloquei os sobrenomes. Passei uma vida para decorá-los). Suas características? Cruéis, manipuladores, mentirosos, assassinos, impiedosos, sagazes, violentos, inteligentes e sanguinários. Digo isso em relação a maioria. Na verdade, todos são treinados para serem assim, contudo existem Jogadores que decidiram seguir outro caminho (falarei disso mais tarde). Nesse contexto, dá para se imaginar o que acontece quando todo esse pessoal malvado é Chamado para lutar a favor de sua linhagem no Endgame, não é? O livro COM CERTEZA não é para aqueles de estômago fraco. Quando vários meteoros começam a cair ao redor do mundo, os Jogadores devem seguir para a China para O Chamado, onde conhecerão uns aos outros e cada um receberá um pista para iniciar o Jogo. Então a aventura começa.
Logo no inicio da história, podemos perceber qual é o rumo que Endgame vai levar: violência. Eu não sou uma menina fraca nesse quesito. Eu gosto de ação e de uma boa batalha sangrenta. Contudo, a trama possui MUITAS mortes desnecessárias e trata com barbaridade e vulgaridade o bem estar e a vida humanos. Cenas de tortura, morte por decapitação, bombas e fogo, mutilação, são coisas que você não deve ter medo se pretende ler Endgame. Já me disseram que eu gosto muito de finais trágicos, com mortes. Na verdade, eu gosto de finais chocantes e a tragédia é o que normalmente mais me surpreende. (MEIO-SPOILER) Entretanto, nessa obra, ocorre a morte de relativamente muitas personagens principais para um primeiro volume de trilogia. Além do mais, deve-se considerar que com a morte de um dos 12, TODA A SUA LINHAGEM, ou seja boa parte da Terra, morre junto. Não podemos esquecer também, de quantas pessoas inocentes nossos “heróis” não mataram. Como disse, a maneira como a qual os autores tratam a vida humana já não é simplesmente trágica: é ridícula.
Por outro lado, desconsiderando esse fato, é muito curiosa a maneira como as personagens foram desenvolvidas. Não irei comentar todas elas aqui porque, poxa, são 12 e muitas delas não são assim tão memoráveis. Mas, Chiyoko, Shari, Sarah, Jaco, Christopher e Batsakhan não pertencem a esse grupo. A primeira é, talvez atrás apenas da que a segue, a personagem que eu mais admirei e gostei. Por mais que ela seja contraditória no fato de dizer que “não pretende matar futilmente”, sua inteligência e seu jeito sagaz de seguir os outros e conseguir o que quer é... interessante e nos faz adquirir uma admiração especial a ela. Isso sem falar de que ela é uma ótima lutadora. Entretanto, pelo ponto de vista moral, foi interessante os autores apresentarem personagens com deficiência (ela é muda e outro Jogador, An, que tem um problema de tremedeira) tão ou mais letais do que os outros, considerando que muitos quase nunca o fazem. Shari, eu espero que não esteja enganada, é a única personagem nesse livro que parece ter alguma noção e atitude do que é certo e o que é errado. Admirei-a no primeiro capítulo narrado por ela. Uma curiosidade a seu respeito é o fato de que, mesmo tendo apenas 17 anos, tem uma filha (é importante lembrar que ela vive em algum lugar no Oriente, onde a cultura é bem diferente da nossa). Acredito que esse seja o motivo dela aparentar ainda ter alguma humanidade dentro de si. Sarah e Jaco, acho mais adequado falar deles como um só, por mais que tenham tido muito destaque no livro (narraram uns 40% da trama), não têm muitos atributos que me permitam diferencia-los de tantos outros que já li. Sarah é a típica garota americana que se apaixona por dois garotos e parece ser inofensiva e perfeita, mas prova não sê-la. Com absoluta certeza, Sarah é uma das menos violentas do grupo, mas é esperta e, diferentemente de Chiyoko, valoriza a vida das pessoas (na maioria das vezes). Christopher era seu namorado, seu louco namorado que (SPOILER) a segue ao redor do mundo para salva–la, mas acaba se provando um grande inconsequente. Para todos os defeitos (burrice, ingenuidade, pouca ação) o seu amor por Sarah é muito bonito. Infelizmente, eu não acredito que ela o retribuísse na mesma intensidade. O último da lista, o mais novo, o mais cruel: apresento, Batsakhan, o verdadeiro monstrinho na Terra. Ele comete barbaridades e se por um segundo pensamos no começo que ele seria inofensivo, abandonamos esse pensamento ao longo da trama.
O romance está longe de ser muito importante na história –SPOILER- (com exceção talvez do caso de Christopher). Esse fato fica muito perceptível no forçado amor de Chiyoko e An. Os dois mal de conhecem e já se amam! Mesmo que eu tenha torcido pelos dois juntos, foi um dos romances mais mal construídos (e estranhos) que eu já vi. O mesmo pode ser dito do “pré-amor” de Sarah e Jaco.
Em relação o mistério do enredo, posso dizer que ele é pouco perceptível, pois ele só aparece da metade para o fim, de modo que por muito tempo eu acreditei que fosse ser resolvido neste. Ou seja, de cara, se você não soubesse que o livro tem mistérios, provavelmente demoraria um tempo para reconhece-los . Contudo quando o encontramos, ele se mostra realmente intrigante e com uma base magnífica para a conclusão da série. Resta aos autores apenas saber desenvolve-la. Outra coisa excêntrica de Endgame é o fato de que ele propõe aos seus leitores tentar resolver o enigma antes dele ser de fato publicado por meio de diversas pistas (que não fazem o menor sentido) no fim de cada capítulo. Isso também permite a maior inserção dos leitores na trama.
Inicialmente, temi que a narração da história por vários pontos de vista diferentes fizesse com que as personagens fossem mal desenvolvidas. Por mais que eu tenha lamentado a irregularidade com as quais os capítulos eram narrados (Aparentemente 40% Jaco e Sarah, 10% Chiyoko e 50% para os outros 8), foi uma maneira muito boa para ficarmos a par das ocorrências, aventuras e revelações de todos os Jogadores. Infelizmente, o livro possui quase nenhuma personagem secundária ou que não seja Jogador. Ainda relacionado a narração, os autores tiveram certo problema em descrever os cenários e as situações, já que o ponto de vista estava sempre mudando. Isso deixou a leitura um pouco mais difícil e confusa.
Agradou-me também o fato da maior parte da história se passar no Oriente, enquanto muitos dos livros atuais acontecem no Ocidente. As diferentes personalidades e nacionalidades das personagens garantiram uma experiência peculiar a leitura.
Por fim, Endgame é um livro, que mesmo que tenha seus momentos tensos e violentos, merece ser lido devido a sua peculiaridade nas personagens e cenário e a capacidade que ele possui de envolver seus leitores até o fim. Para todos os defeitos, fiquei viciada na trama até a última página.